quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

A GRADE

Daqui de onde descanso após o almoço, minha imaginação voa nas asas do espaço-tempo, numa relatividade sem fim.

Após ler um texto pedagógico, o qual analisa o planejamento escolar para o ano de 2003; por repetidas vezes, li o vocábulo GRADE CURRICULAR, então uma tristeza me invade e dela nasce uma profunda reflexão sobre a  palavra GRADE.

Penso nas GRADES colocadas em cada porta e janela dos lares brasileiros, para nos dar segurança, contra os excluídos............

Penso nas GRADES colocadas nos veículos, para evitar que sejam furtados, pelos excluídos...............

Penso nas GRADES postas nos jardins e monumentos das praças, com o intuito de protegê-las de nossas insanidades, contrariando nosso querido poeta Castro Alves, que disse: “A praça é do povo assim como o céu é do Condor”................

Penso nas GRADES das FEBEM’s onde crianças, adolescentes e jovens são seviciados, torturados e humilhados, onde suas integridades físicas, psíquicas  e cidadanias, não possuem nenhum valor para o Estado Brasileiro............

Penso nas GRADES das delegacias e penitenciárias, as quais detêm os outrora excluídos do sistema educacional, pela incompetência dos pais, do Estado, da sociedade e dos educadores.............

Penso na GRADE CURRICULAR, vocábulo agressivo, castrador, cujo sentido talvez, seja o mesmo das outras GRADES; dar uma pseudo segurança  e sufocar a liberdade: de imaginar, de pensar, de criar, de sonhar, de dialogar, de transdisciplinar, de politizar, de coletivizar, de amar, de pacificar................



Carlos Rosa
Carlos Antônio Gonçalves da Rosa
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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Neoconservadorismo e consenso educacional

Jéferson Dantas 1

As recentes reformas educacionais oficiais em nosso país nas duas últimas décadas, notadamente no campo curricular e no processo de formação docente, têm demonstrado a permanência de um modelo escolarizado público profundamente enraizado no etnocentrismo, ‘branquidade’ e sexismo, conforme estudos do teórico crítico estadunidense Michael Apple. Além disso, os sistemas públicos de ensino estão nas mãos de sujeitos pouco afeitos ao diálogo e, sobretudo, comprometidos com suas alianças partidárias. Em outras palavras – e Santa Catarina não foge à regra –, impera o fisiologismo político num setor que necessita de mudanças efetivamente estruturais.

Não é segredo para ninguém os lamentáveis índices de reprovação e de evasão em unidades de ensino em que boa parte de seu público escolar é proveniente das camadas sociais mais pobres. O desequilíbrio de capital escolar e de transmissão de bens culturais ou simbólicos para crianças e jovens em tal contexto é resultado de uma prática recorrente, i.e., em tais ambientes de aprendizagem estão concentrados/as os/as educadores/as mais despreparados/as para enfrentar tal realidade, não sendo raro o absenteísmo docente; produtividade escolar pífia; ausência de critérios de avaliação coadunados com uma prática educativa emancipatória e, fundamentalmente, pouquíssima valorização salarial da classe docente. Para os neoconservadores, é mais importante que as escolas assumam currículos desprovidos de dissenso e que a reprodução dos valores hegemônicos continue fazendo parte do desalentador cenário escolar que temos em nosso país.

O recente resultado do ENEM (Exame nacional do Ensino Médio) demonstrou mais uma vez que em tal ‘lógica de ranqueamento’ as escolas públicas quase sempre levam a pior. Isto não significa que os/as educadores/as não se esforçam, muito menos os/as estudantes. Todavia, não se pode ter uma educação de qualidade sem que outras questões sociais fiquem em segundo plano. Uma criança ou jovem desprovida de capital econômico e cultural é a que mais necessita do capital escolar. Mas, não por acaso é a que mais abandona a escola e a que mais tarde terá maiores dificuldades de empregabilidade. Nesta direção, o consenso educacional defendido pelos neoconservadores procura imprimir uma marca indistinta no que compreendem ser os ‘verdadeiros valores’ a serem ensinados, prescindindo as comunidades escolar e local de suas próprias escolhas teórico-metodológicas. Como nos ensina Apple, faz sentido um currículo oficial nacional num país de dimensões continentais como é o caso do Brasil? Ou melhor: faz sentido uma escola burocratizada, hierarquizada, verticalizada e usada como moeda de troca em conchavos eleitorais?
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[1] Historiador e Doutorando em Educação (UFSC). E-mail: clioinsone@gmail.com



Jéferson Dantas também é um dos autores
do SER - Sistema de Ensino Reflexivo,
pela Editora Sophos.

Clique AQUI
para conhecer mais sobre o livro
Dialogando com a História
(Coleção Didáticos Reflexivos do SER).

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

O Dia D Especial - Lançamento: GEOGRAFIA, NOSSO ESPAÇO GEOGRÁFICO - 6o. ano


A Editora Sophos e o Centro de Filosofia Educação para o Pensar, através do S.E.R. - Sistema de Ensino Reflexivo, tem a honra de apresentar seu novo lançamento (das coleções de livros didático-reflexivos do SER):

GEOGRAFIA, NOSSO ESPAÇO GEOGRÁFICO
- 6o. ano (Coleção Investigação e Reflexão)

Apresentação
...nosso material didático convida professores e estudantes a mudarem de perspectiva em relação ao processo de aprendizagem, passando de uma pedagogia da dependência para uma pedagogia da autonomia. Cabe ao professor no Ensino Reflexivo a tarefa de criar, organizar e coordenar dinamicamente as atividades, estimulando a elaboração de conhecimento por parte dos alunos e o desenvolvimento da autoconfiança desses em suas competências, favorecendo seu processo de humanização, de crescimento pessoal e de socialização.
Gígi Anne Horbatiuk Sedor
Coordenação Pedagógica do S.E.R.

Autores: Ana Lúcia Taborda Beckert e Eloísa Barreto Klein


PRIMEIRO CAPÍTULO DISPONÍVEL ONLINE:

A Editora Sophos oferece online o 1o. capítulo do livro, para você acessar e conferir quando quiser este excelente material!

Também é possível compartilhar esta dica com amigos, postar comentários e conhecer outras obras e coleções. Basta entrar no blog especial do livro!

Clique AQUI para acessá-lo! 



Clique AQUI e conheça uma das autoras do livro, na Comunidade Escola de Pais do SER:


quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

MARCUSE: A REPRESSÃO DO SÉCULO XX.

Autor: Matheus Arcaro
(fonte no final do texto)

O século XX e seus fenômenos históricos tais como o fracasso do socialismo real e as duas grandes guerras, impuseram difíceis questões aos pensadores, em especial, aos marxistas. A principal: deve-se abandonar o projeto comunista ou preservar o potencial crítico da teoria de Marx?

Nesse contexto de incertezas, funda-se, em 1923, a Escola de Frankfurt. Com inspiração inicial marxista, incorporou diversas contribuições filosóficas, sociológicas e psicanalíticas para construir sua teoria crítica. Das questões atinentes ao seu tempo, uma em especial inquietava a esses filósofos: por que não se cumpriu a expectativa iluminista de emancipação da humanidade pela razão?

Hebert Marcuse (1898-1979) foi figura central de Frankfurt. O cerne de sua principal obra “Eros e Civilização” é também uma pergunta: seria possível uma sociedade não-repressiva?
Para responder a isso, Marcuse recorreu a dois autores de peso: fez a intersecção dos conceitos freudianos com aspectos da teoria marxista, a saber, interpretou filosoficamente “A Civilização e seus Descontentes” de Freud e a confrontou com a sociedade capitalista contemporânea.

Vamos a ela: o homem é constituído, basicamente, por dois instintos primários: Eros e Thânatos. Eros é a energia libidinal, o princípio de prazer. Thânatos é a inclinação à destrutividade, pulsão de domínio, de morte. Apesar de opostos, ambos têm procedência comum: o desejo de eliminação da tensão; a vontade de retroagir ao estado inorgânico, anterior à vida.

O aparelho mental humano (estrutura psíquica) é dividido em: ID,EGO e o SUPEREGO. O ID corresponde àquilo que é mais primário no ser humano; domínio do inconsciente, das pulsões, das gratificações. EGO é o mediador entre o ID e o mundo exterior; a percepção da diferença entre o EU e o mundo. Por fim, o SUPEREGO é a interiorização da repressão inicialmente personificada na figura paterna. É responsável pela renúncia de alguns desejos.

Cabe- nos, então, mostrar como Freud faz a “passagem” do Pai ao Superego (assumida de um ponto de vista simbólico). No princípio das civilizações, o comando era exercido por um Pai Primordial. Este detinha o monopólio das mulheres do grupo e impunha o trabalho aos filhos. Os filhos nutriam um sentimento ambivalente pelo pai: ora afeto, já que a sua presença promovia unidade e segurança ao grupo, ora revolta, pela imposição das restrições. Aqueles que ameaçassem a soberania despótica eram excluídos. Em dada passagem, os filhos exilados se rebelam, assassinam o pai e o devoram. O poder, então, é assumido pelo clã de irmãos. Entretanto, o pai é divinizado e interioriza-se o tabu. Surge o sentimento de culpa. Eis o superego; eis a repressão.

Marcuse parte da repressão freudiana para fazer o apontamento de seu conceito de mais-repressão da sociedade contemporânea. Como o próprio nome indica, mais-repressão é a repressão adicional, que excede o necessário à civilização e é ensejada pela dominação de alguns homens sobre outros. Nas sociedades primitivas era preciso a repressão devido à carência tecnológica. Como observa Freud, se não houvesse repressão, a vida não seria possível, já que os homens, entregues ao princípio de prazer, matariam uns aos outros. Mas o que Freud não observou, segundo Marcuse, é a repressão social (mais-repressão). Na sociedade contemporânea capitalista, na qual a abundância tecnológica dispensa a repressão originária, emerge a mais- repressão, fundada no trabalho alienado. A dominação não é mais do pai primordial, mas sim impessoal e objetiva concretizada no Principio de Desempenho (que passa a ser o Princípio de Realidade). Os homens são concebidos por suas funções econômicas. As posições sociais são definidas pelo desempenho. As preocupações contemporâneas (como por exemplo, reconhecimento social) nada têm a ver com o Ser do homem.

O controle, a repressão, desloca-se do campo instintual para ocontrole da consciência e é de tal força que o indivíduo e o todo são a mesma coisa. O superego é automatizado com a substituição das relações clássicas com os pais pelas agências extra-familiares de socialização, como os meios de comunicação de massa. Substitui-se o patrão pela dominação impessoal. Mesmo quem “manda”, obedece às regras do sistema.

Controle há também sobre o tempo liberado (não existe tempo livre) com a imposição do Principio de Desempenho mesmo nos momentos de lazer. Não há a possibilidade de o individuo entregar-se a si próprio ou retirar-se para um mundo diferente. O repertório de escolhas é superficial, restrito a opções de consumo. A liberação da sexualidade (visto como avanço por alguns) é somente aparente, circunscrita ao universo do consumo. À velhice cabe a mesma análise: é “redescoberta” em suas possibilidades mercadológicas.
Enfim, a civilização contemporânea é a consumação plena do trabalho alienado e da negação humana. Tudo é mercadoria, inclusive o homem e suas relações.

Diante de um quadro tão desolador, como fica a pergunta que norteia a obra de Marcuse? E então, é possível uma sociedade não-repressiva?

Ele diz que sim.

Recapitulando: para Freud, a ausência de repressão é uma impossibilidade para a vida social, pois implicaria na desorganização da produção econômica e na renúncia à cultura, já que os homens viveriam numa busca desenfreada pelo prazer, destruindo uns aos outros.

Marcuse, no entanto, observa que a repressão instintiva é exógena, ou seja, é exterior ao homem. Assim, modificados os moldes (a realidade empírica), é possível suprimir a repressão.

Mas, como mudar tais moldes?

Reconciliando o Princípio de Prazer com o Principio de Realidade, na erotização das relações sociais, morais e na erotização da razão. A tecnologia avançada propicia a redução do tempo destinado ao trabalho. Obviamente, haveria uma queda nas opções (não se poderia escolher entre 40 modelos de carros, por exemplo). Mas a ampliação das gratificações psíquicas seria inestimável. Instinto sensual transformado em Eros de uma civilização não repressiva.

E quanto ao instinto de morte?
Seria neutralizado visto que se origina de uma vida desagradável. Com a preponderância do Princípio de Prazer ao Princípio de Realidade, a pulsão de morte seria suprimida.

“Eros e Civilização” data de 1955. O próprio Marcuse, em obras posteriores, não se mostra tão otimista. Se vivesse no século XXI, creio que sequer escreveria.


Fonte: http://oqueinspira.blogspot.com
Publicado e divulgado sob autorização do autor.
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