terça-feira, 27 de setembro de 2011

Mania de perfeição


Prof. Jackislandy Meira de Medeiros Silva

Sofremos de uma certa síndrome da perfeição. Tal síndrome é responsável por nos levar a criar mil e uma justificativas para os nossos defeitos. Vez ou outra somos pegos de surpresa com inúmeras justificativas por que não se fez isso, não se fez aquilo, enfim... Racionalizamos demais a vida! Não temos vergonha de afirmar: “Sou perfeccionista, gosto das coisas certas”. Mentira! Ninguém é perfeccionista! Porém, quem se importa neste mundo com suas pretensões perfeccionistas? Não seria a vida tão mais interessante do que nossa teimosia por perfeição? A vida tem as suas próprias dobras e “dobradiças” de contradição. Poucas vezes reconhecemos isso e criamos nossas manias de perfeição.

Influenciados pela maneira de ver o mundo de um ângulo judaico-cristão, tendemos a exigir muito mais das pessoas do que elas podem dar. É uma tolice, porque nos esquecemos de que elas são limitadas. As pessoas nunca serão o que queremos que elas sejam. Elas são o que são e pronto. Cada um tem necessidades, valores e circunstâncias muito próprias que nos impedem de julgá-las, até porque essa não é a nossa função. Não sejamos reféns das nossas pretensões de perfeição, mas da vida com toda a sua beleza! Se a vida é doença, que seja bela mesmo assim. Se a vida é um fracasso que seja boa assim mesmo. Se a vida é dor, aprendamos mais com ela. Se a vida é pobreza, mesmo assim agradeçamos para espantar a ingratidão de muitos que sobejam da mesa dos ricos. 

Queremos ser melhores custe o que custar. Da síndrome da perfeição migramos para a síndrome da evolução. Queremos sempre melhorar, melhorar, melhorar e melhorar ansiosamente. Se pensarmos bem, na linha da vontade infinita que há em nós ocorre, decerto, uma tola ambição de lutar incansavelmente para, depois, nos depararmos com um dado inevitável que não nos escapa, a imperfeição. 

A sede de perfeição parece nos anestesiar do peso da realidade. Talvez por isso a busquemos demasiadamente. Mas, é um fato: Somos imperfeitos. Erramos e cometemos equívocos. Somos programados para não errar, mas erramos. Estamos vivos e cheios de vontade. Nesse norte de reflexão, permitam-me usar aqui as palavras de Dostoiévski, o qual traz a filigrana da vida de modo impressionante em sua obra “Notas do subsolo”: 

“Pois é, senhores... Justamente neste ponto é que eu me enrasquei! Perdoem-me por ter filosofado dessa maneira, mas foram quarenta anos de subsolo! Permitam-me fantasiar um pouco. Vejam os senhores: a razão é uma coisa boa, sem dúvida, mas a razão é apenas razão e satisfaz apenas a capacidade racional do homem; já a vontade, esta é a manifestação da vida como um todo, ou melhor, de toda a vida humana, aí incluindo-se a razão e todas as formas de coçar. E, mesmo que a nossa vida pareça às vezes bem ruinzinha(...), ela é vida, apesar de tudo, e não apenas a extração de uma raiz quadrada. Eu, por exemplo, naturalmente quero viver para satisfazer apenas minha capacidade racional, ou seja, talvez a vigésima parte de toda a minha capacidade de viver. Que sabe a razão?”
(DOSTOIÉVSKI, Fiódor. Notas do subsolo. Porto Alegre, RS: L&PM, 2009. p. 38-39)

Tamanha obsessão pela perfeição pode nos levar a caminhos de sujeição ao ritmo frenético de sociedade que temos hoje. Uma sociedade exigente e competitiva, descontrolada e racionalista está criando, também, pessoas descontroladas e racionalistas sem olhar os acontecimentos simples e importantes da vida. Estamos sendo, com isso, programados para atingir metas, objetivos... Esquecemos, ou não estamos nem aí para o que realmente importa,(se bem que sabemos o que de fato importa) e quando menos esperamos, estamos sendo levados pela ventania alucinada de uma vida sem sentido.

Parece até que somos um tema de projeto programado para se realizar. Estamos sendo tratados, diga-se de passagem, como peças de controle de uma sociedade que responde a estímulos de consumo, de mercado, de posse, de riqueza, de ambição, de avareza, de corrupção... Toda essa avalanche invade a vida de qualquer um, quebrando valores dantes vistos como irretocáveis e insubstituíveis. Todavia, por não sermos suficientes é que se abre aqui uma porta para admitirmos um olhar mais sensível, flexível, tolerante e amável para os que não conseguem ser menos imperfeitos. 

Portanto, seria imprescindível passarmos pela Escola da vida e aprendermos algumas lições, a saber: bondade, tolerância, responsabilidade, respeito, justiça, honestidade, liberdade...De modo que essa não seria mais uma alternativa de controle ideológico de fora para dentro, nem de cima para baixo, até porque ninguém muda ninguém, ninguém constrói ninguém. As pessoas se mudam e se constroem a si próprias, livres e distintamente. Por isso, não pensem que estou certo, pois não quero estar certo, apenas quero que vejam a possibilidade que há em mim de expressar livremente o que penso.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Livro uma proposta solidária

Prof. Ms. Marney Ferreira Cruz
UFC e FGF

Aos 13 anos tive a sorte de ter uma professora maravilhosa que me despertou o prazer pela leitura através da sugestão, quase imposta, do livro "Dom Casmurro", de Machado de Assis, que me garantiu aprovação na 7ª série (hoje 8º ano).

Por vias do destino mexia nos livros dos meus irmãos e, garimpando, me deparei com jóias do tipo "A Metamorfose", de Kafka e o Anti-Cristo de Nietszche que me transformaram em um dependente buscador pelo saber. Daquela época até hoje se passaram 19 anos onde milhares de títulos passaram por minhas mãos e alimentaram minha alma e espírito crítico.

Desperto por um universo de grandes intelectuais ainda me espanto com várias intrigantes questões. Como me tornei um crítico algoz de uma sociedade de consumo e egoísmo que não se preocupa com o outro?

Outro dia observava, em um semáforo, um pedinte e busquei repostas para a seguinte questão: Como seria nossa sociedade se esses cidadãos de direito pedissem além de trocados, um livro que alimentasse suas mentes nas noites frias e vazias até que a fome passasse?
Não encontrei a resposta, mas dôo livros sempre que posso na esperança de um futuro melhor, mesmo que só para aquele que lê.

À anos que não passo um dia sequer sem ler algumas ou muitas páginas e, mesmo que isso raramente aconteça, sinto uma ânsia e vontade, que falta de comida ou vontade de comer nunca produziram em mim.

Vários foram os poetas e escritores que, mesmo aprisionados, pediam, ao invés de comida, livros, muitos livros, como no caso de Bertold Brecht, Dostoieviski e Gramsci que enquanto seus corpos estavam presos, seus espíritos viajavam até o mais distante e maravilhoso rincão.

Mas mesmo distante das pessoas amadas, estando aprisionado, faminto ou distante do leito materno, o amante do saber, busca nos livros algo que sustente seus sonhos e situação humana.

Caso semelhante aconteceu comigo, quando residi em Brasília, por seis anos. Lá encontrei a possibilidade de retornar à terra-natal, em uma parada de ônibus repleta de livros, para quem ouse pegá-los.

Deparei-me assim, na situação, com o livro Iracema de José de Alencar, ali na minha frente, em uma prateleira ricamente adornada com um dos bens mais preciosos do homem: os livros.
Os usuários dos famigerados transportes coletivos do Distrito Federal, que já foi considerado como um dos piores sistemas de transportes do Brasil, têm a oportunidade de pegar livros e de devolverem quando quiserem, graças a iniciativa do proprietário de um açougue, (pasmem!) um açougue, que recebe doações de livros e dispõem em dezenas de paradas no Plano Piloto de Brasília.

Dessa forma lanço uma proposta solidária que muitos já a exercitam: após lerem um livro, deixem-no em alguma parada de ônibus, para que outro possa voar e desfrutar do prazer que você sentiu.
Esse ato de Amor, palavra essa que tem sentido para muitos como Frederico Garcia Lorca, que equivale a livro, isso mesmo “Amor=Livro”.
Como o Amor, o livro deveria ser mais dado e recebido.

PS: Minha homenagem a todos que tanto precisam de alimento e saber.



quinta-feira, 15 de setembro de 2011

De uma presença ausente


Prof. Nei Alberto Pies*

“Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma... Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa... por isso sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas; pode ser a última vez que as vejamos”. (Mensagem - Depois de algum tempo, autor desconhecido)

            A lacuna da morte de alguém muito próximo da gente como nosso pai, nossa mãe, nosso irmão ou irmã, nosso amigo ou amiga, nosso avô ou avó sempre nos remete a um dos mais difíceis aprendizados da vida humana: conviver com a presença ausente. O desafio que se coloca a todos é reconhecer sentido para a nossa existência, pois a morte de alguém sempre deve nos remeter para a pergunta sobre o tipo de vida e de relações que construímos de forma individual e coletiva.

            Cada um de nós carrega de sentido a sua existência através das relações interpessoais pelas quais nos “fazemos gente”. Por mais que tentemos, ninguém consegue sobreviver e, quiçá, ser feliz sozinho. Esta característica da interdependência é também, de certeza, um dos maiores desafios de nossa própria humanização, pois conceber-se integrado e conectado com os outros exige que saibamos lidar com a superação dos próprios egoísmos.

            A vida comunitária, herança de nossas primeiras e mais primitivas comunidades, re-significa o sentido da morte de uma pessoa. As comunidades religiosas são, sobretudo, o lugar onde fazemos a memória de nossos mortos, buscando apreender de seus ensinamentos, exemplos e virtudes. 

  Na comunidade somos reconhecidos por nossos feitos e desfeitos. São muito mais felizes aqueles que podem desfrutar durante a vida, e no momento de sua morte, dos valores comunitários. Quem tem uma comunidade e leva uma vida comunitária vive mais feliz e poderá morrer mais feliz ainda. A comunidade é também o lugar onde damos vazão aos nossos medos, fantasmas e incompreensões, refazendo-nos permanentemente. Por isso mesmo, cada um deve ser reconhecido e tratado com dignidade, pois é a referência de si mesmo (alteridade). A comunidade, por sua vez, é o espaço em que lapidamos o nosso ser pessoal e social, onde ousamos viver a nossa subjetividade, buscando o reconhecimento.

Um dos grandes ensinamentos de meu querido e saudoso pai foi ter-me ensinado que para sobreviver precisamos de muitas poucas coisas, mas que precisamos nos apegar ao que é fundamental: a família e a comunidade. Ensinou-me ainda, que é preciso amar as crianças e os mais velhos porque estes são os sujeitos da comunidade que mais precisam de nossa ajuda e proteção. Meu pai também comprovou, a si mesmo e aos outros, que sempre é bom e necessário reconciliar-se com os outros para reconciliar-se consigo mesmo. Ensinou-me tantas coisas, demonstrando especial atenção aos valores do trabalho, do amor e a da fé. Como a maior parte dos pais, soube valorizar as conquistas de seus filhos como se fossem também as suas. Soube apontar, na medida do seu universo, os caminhos que seus filhos poderiam trilhar. Soube constituir-se sujeito, a partir da comunidade.

Conviver com a presença ausente é deparar-se com os interstícios entre as palavras, as ações, os gestos e os exemplos de nossos entes queridos. As lembranças se encarregam de re-colocar, permanentemente, que cada pessoa tem algo a nos ensinar porque é única, sagrada, genuína. A presença ausente é, também, prova de que a vida se faz na experiência compartilhada, nas memórias e nas histórias de todos os que na comunidade se fazem protagonistas.
 *professor e ativista de direitos humanos.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Responsabilidade

Prof. Jackislandy Meira de M. Silva*

Você já se deu conta da responsabilidade em sua vida? Melhor dizendo: Você se acha responsável? Repare bem. Há algum rastro de responsabilidade em sua existência? Não seja tão rápido assim ao responder. Pense bem ou espere até ler esse texto. Você vai ver que não é tão responsável quanto pensava ser.

A responsabilidade é uma expressão muito usual, demasiadamente corrente e recorrente em nossas vidas, talvez por essa razão estejamos dando pouca importância ao que ela realmente é ou dizem dela ser o que é. Da antiguidade ao existencialismo, o homem vem se debruçando sobre esta problemática ética, e por mais que queira, não conseguiu de todo se afastar de uma exigência tão cara à voz e ao coração do outro. Pois, contrariamente ao que achamos, a responsabilidade não nasce de mim, mas do outro. “A responsabilidade não nasce de uma boa vontade, de um sujeito autônomo que quer livremente se comprometer com o outro ser. Ela nasce como resposta a um chamado”(KUIAVA, Evaldo Antônio. A responsabilidade como princípio ético em H. Jonas e E. Lévinas: Uma aproximação. Porto Alegre, RS. Veritas, v. 51, nº 2, junho, 2006, p. 55-60). Não vem de mim, mas do outro. Não é uma exigência da liberdade, mas uma exigência do outro. É por isso que muitas vezes, sem explicação alguma, contrariando toda lógica, liberamos o bem a quem não nos quer bem, agimos em direção ao outro contra nossa própria vontade. A responsabilidade, segundo E. Lévinas, filósofo lituano de nacionalidade francesa, é anterior à minha consciência, aos meus interesses e às minhas mesquinhas intenções.

Quem não contrariou a si próprio por causa de um chamado, de um clamor, de uma voz, de uma necessidade sem voz, não experimentou o sabor da responsabilidade. Quem não renunciou a si mesmo, às suas intenções e à sua consciência, para atender a um chamado, ainda não é digno de responsabilidade. Os que cumprem horários rigorosamente pensando que, só por isso, estão agindo de modo responsável, precisam se abrir a algo muito maior descoberto por Lévinas. Aqueles que se esmeram em cumprir suas responsabilidades cheias de boas intenções, ainda não imaginam que há uma responsabilidade que ultrapassa os limites da liberdade de decidir ou não por uma outra pessoa. E aqui se encontra a guinada da Filosofia de Lévinas que põe a Responsabilidade acima da sua e da minha liberdade, porque só somos livres, se formos de fato responsáveis. Não é aquela responsabilidade das empresas, nem tampouco a do cotidiano como varrer uma casa, fazer compras, ir à escola, não faltar ao trabalho, ir à igreja a que se refere Lévinas, mas uma responsabilidade impregnada de desprendimento pelo outro em que o sujeito não se afasta do olhar do outro. Uma responsabilidade ilimitada que se oponha a uma outra que se mede pelos compromissos livres de uma consciência egoísta e gananciosa.

A responsabilidade como “ética da ética”, conforme apontam alguns estudiosos na Filosofia de Lévinas, vem compreendida a partir de uma frase conhecidíssima de Dostoievsky: “Somos todos culpados de tudo e de todos perante todos, e eu mais do que os outros”(EI 105). A responsabilidade do eu é infinita. Ele é responsável, não só pelos atos ilícitos que comete, mas também por aqueles que não são de sua autoria, e até mesmo pelas perseguições que sofre. Como justificar tal concepção utópica? Não seria ela inumana? Eis a resposta de Levinas: “Ser humano significa: viver como se não se fosse um ser entre os seres. Como se, pela espiritualidade humana, se invertessem as categorias do ser, em um ‘de outro modo que ser’” (EI 107). O humano emerge, quando o eu, ao invés de procurar satisfazer seus interesses, estende a mão a outrem, carregando o peso do mundo nos seus próprios ombros(Cf. KUIAVA, Evaldo Antônio. A responsabilidade como princípio ético em H. Jonas e E. Lévinas: Uma aproximação. Porto Alegre, RS. Veritas, v. 51, nº 2, junho, 2006, p. 55-60).

Após esse breve estranhamento acerca da responsabilidade, que é o ponto de discussão sobre as respostas éticas de Lévinas, observamos não ser tão simples assim ser responsável nesse contexto, uma vez que o humano está cercado de pretensões que o impedem de viver saindo de si em direção a outrem, numa espécie de obediência acolhedora da face do outro. Que possamos responder a essa RESPONSABILIDADE!

*Especialista em Filosofia, Bacharel em Teologia e Licenciado em Filosofia

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Professores ‘descobrem’ as redes sociais virtuais*

Jéferson Dantas1


A década de 1990 no Brasil foi marcada por um processo de legalização e expansão de iniciativas de oferta de Educação a Distância (EaD) em todas as modalidades de educação. No ensino superior, tal expansão além de aumentar o número de cursos de graduação a distância, tem implicado em novas maneiras de produzir e pensar a educação, com grande ênfase no discurso sobre o potencial das tecnologias da informação e comunicação (TICs) e da necessidade de formação continuada para a atuação docente, no âmbito do ensino público e privado. Contudo, descartamos a priori a ideia subjacente de que a EaD é uma modalidade à parte no processo educacional de formação de professores e professoras. Este alerta reside, sobretudo, na aposta dicotômica de que educação presencial e educação a distância são fenômenos educativos completamente díspares no que concerne à avaliação discente, docente e institucional. Evidentemente que existem diferenças nos dois processos, mas os desafios e as dificuldades metodológicas no ensino e na aprendizagem encontram-se tanto nas mídias ditas tradicionais como nas novas tecnologias de informação e comunicação. 
 
Destarte, a mera transposição do modelo de educação presencial para o modelo de educação a distância continuará sendo um impeditivo na mudança dos pressupostos teórico-metodológicos exigidos para este tipo de formação. E esta parece ser a grande questão a ser debatida: até que ponto a cultura falida do modelo tradicional presencial está presente no modelo a distância? Há uma reprodução ipso facto das hierarquias sedimentadas na educação básica para o modelo a distância? Por outro lado, não se pode esquecer ainda que a reestruturação produtiva do capital afeta diretamente os processos educativos formais, alterando a força de trabalho requerida para um mercado cada vez mais polivalente, multifuncional e flexível. Contudo, tal reestruturação exige aumento da carga horária de trabalho e a intensificação das tecnologias, modificando as habilidades e as competências requeridas para os/as trabalhadores/as em geral. O que poderia significar redução da intensividade e exploração da força de trabalho num mundo tangido pelas novas TICs, sobretudo no território escolar, representa efetivamente um sobretrabalho. As exigências do capital são incompatíveis com o modelo educativo tradicional, mas isto não quer dizer que os futuros trabalhadores formados neste modelo sejam descartados. Pelo contrário. Tal massa de trabalhadores é necessária desde que se submetam a uma superexploração de sua força de trabalho, tendo em vista as reduzidas possibilidades de empregabilidade no mundo atual.

Para os/as trabalhadores/as em educação, há uma exigência permanente de que sejam responsáveis pela sua própria formação e que se por acaso suas práticas pedagógicas são inadequadas para o ‘mundo globalizado’, isto se deve à individualização de seu fracasso. Não por acaso, dadas as precárias condições materiais dos docentes e os improvisos pedagógicos tão comuns na educação, de um modo geral, o magistério é encarado muitas vezes como uma subprofissão. Isto é, as exigências para o trabalho docente são pouco criteriosas, permitindo excrescências pedagógicas preocupantes, principalmente em etapas de formação escolarizada que necessitam de profissionais extremamente bem preparados/as. E ainda, o seu status social é pouco reconhecido pelas políticas públicas educacionais. 
 
Sistemas educacionais, modelos formacionais e utilização de mídias educativas quando tratadas de maneira estandardizada, perdem boa parte do seu poder revolucionário ou transgressor. De acordo com Blikstein e Zuffo “quando um sistema já nos apresenta [...] coisas enquadradas e padronizadas, [...] passamos a pensar em termos das quatro operações: adição de conteúdos, redução de custos, multiplicação de alunos, divisão do número de professores”. Por outro lado, os/as professores/as têm descoberto recentemente as redes sociais virtuais para demandarem suas principais reivindicações: melhores salários, planos de carreira dignos, condições de trabalho adequadas, etc.. Nestas redes sociais postam documentos, problematizam suas práticas educativas, elaboram textos coletivos e se reconhecem como classe. Não seria essa uma das formas da classe docente mobilizar conhecimentos como se estivessem, efetivamente, em ambientes de aprendizagem virtual? 

 
*Em colaboração com as Mestras em Educação Aline Santana Martins (UFSC) e Andrea Nakayama (UFSC).
1 Historiador e Doutorando em Educação (UFSC). Secretário-Geral da Associação de Professores de História – Seção Santa Catarina (ANPUH/SC). E-mail: clioinsone@gmail.com.