quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

O REINÍCIO DAS AULAS



Jéferson Dantas

Fim das férias. Crianças e jovens reencontram colegas, amigos e professores. O que lhes aguarda depois de tantos dias? Novas amizades, uma nova paquera? A ansiedade do último ano do ensino médio e as provas do vestibular?  O que lhes reserva aqueles prédios, muitas vezes vetustos e opressores ou coloridos e libertadores?  O que os professores planejaram para estes estudantes? Seriam as escolas, efetivamente, espaços de esperança?

A cada ano letivo que passa os desafios da escola pública se ampliam, seja pela dramática situação de abandono dos prédios escolares em Santa Catarina, seja pelo desestímulo dos educadores. Por mais ingênuo que possa parecer muitos destes professores enfrentam tais fatalismos com esperança, luta política e criatividade. Reconhecem o seu compromisso social com os filhos da classe trabalhadora e se negam a desistir do magistério. E não podemos esquecer que várias escolas públicas foram fechadas ao longo destes últimos anos em nosso estado, fazendo com que crianças e jovens ficassem sem o direito constitucional de estudar e de se apropriar do conhecimento produzido pela humanidade.

O dilema se dá, justamente, no tipo de educação oferecido aos filhos da classe trabalhadora e aos filhos das classes dirigentes. Interessa-nos o primeiro caso, responsabilidade do poder público. O parque educacional catarinense sob o encargo do estado concentra um número bastante elevado de professores temporários, vítimas de contratos trabalhistas precários; em variados casos, acabam tendo vínculos muito frágeis com o público escolar, pois a cada ano são obrigados a mudar de unidade de ensino. A itinerância destes educadores promove toda a sorte de descontinuidade pedagógica, pois em muitas escolas o número de professores temporários é superior ao número de professores efetivos. Literalmente, cada ano letivo é um recomeço, tanto para os estudantes quanto para os educadores.

Enfim, respondendo à indagação do primeiro parágrafo, a escola pode ser um ‘espaço de esperança’, desde que se reconheça como tal e enfrente coletivamente (professores, estudantes, sindicatos e familiares) os abusos e arbitrariedades do poder estatal. E, quem sabe, o brilho no olhar das crianças e jovens volte a aparecer quando adentrarem os espaços educativos, resgatando o vínculo do conhecimento com a participação social ativa.


quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Sonho social



Armando Correa de Siqueira Neto*


O sonho de conquista social pode ser o resultado direto dos desejos que se formam em um dado momento da vida. Por razões extremamente particulares, o ser humano é capaz de buscar sensações agradáveis no convívio através da realização de metas estabelecidas, as quais podem ser chamadas de sonhos. Motivos são importantes na vida de uma pessoa em razão da ocupação que demandam, permitindo que o tempo seja preenchido de alguma forma. No entanto, emerge uma pergunta fundamental: será que nos conhecemos o suficiente para definir mais adequadamente os tipos de sonho que devemos estabelecer?

Será que dispomos de suficiente autoconhecimento sobre as reais necessidades pessoais para alinhá-las aos sonhos por nós projetados? Criamos sonhos que na verdade não passam de desnecessários pesadelos (determinada carreira profissional, um dado relacionamento, posse de certos bens)? Alerta: muitos pais, ignorando o autoengano, estimulam seus filhos a perseguir o que, à luz da razão, causaria desestímulo? Mais: mesmo sob o torturante erro causado por objetivos irrefletidos, é possível manter-se crente de que é correto o caminho e persistir em tal desatino por tempo indeterminado? Quem sabe a hora de parar e rever a trajetória? Quem quer enxergar isso?

O sonho de sucesso social faz parte da nossa convivência há considerável tempo; em muitas culturas é possível localizá-lo facilmente. O sonho da glória social parece tão natural quanto necessário, haja vista ele surgir com veemência em diferentes pessoas, nas variadas classes sociais, notadamente desde a origem da civilização, além de se sofisticar gradualmente com a evolução tecnológica. No entanto, é devido questionar: se a grossa maioria das pessoas não realizou esse tipo de sonho ao longo da história, mas sobreviveu normalmente, ele é de fato essencial?

Por ventura, ao desconhecer-se, o homem não se deixa levar por impressões externas e toma para si os sonhos que nada ou pouco lhe dizem respeito, acreditando lhe pertencerem legitimamente? Na falta de tal consciência, recorre-se, inconscientemente, ao sonho alheio? Curiosamente, pode-se pensar em pesadelo coletivo quando muitos se enganam e sofrem por motivos semelhantes? Querer um estilo de vida (por mais atraente que seja) fora dos moldes particulares pode causar algum desarranjo psíquico tal como o desgastante desvio das energias que devem sustentar a imagem do sonho que em algum momento não fará mais tanto sentido e perderá a sustentação outrora convicta? A frustração pode roubar a cena conforme o grau de desalinhamento entre o que perdeu o significado e a realidade construída?

É aqui, portanto, que se deve empreender uma profunda e intensa autoavaliação a fim de reduzir o equívoco, mesmo sob o enorme trabalho que se seguirá por força da mudança que se impõe cada vez mais vigorosa conforme se avança na aquisição da libertadora consciência. Porém, quem quer se libertar da própria inconsciência? O que você quer para si: sonho ou pesadelo social?


*Armando Correa de Siqueira Neto é psicólogo (CRP 06/69637), diretor da Self Consultoria em Gestão de Pessoas, palestrante, professor e mestre em Liderança pela Unisa Business School. Coautor dos livros Gigantes da Motivação, Gigantes da Liderança e Educação 2006.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Cidadania não se faz vazia


Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão”. (Paulo Freire)


A cidadania não é vazia. Ela reveste-se de conteúdos e práticas que traduzem, necessariamente, atitudes, vivências e oportunidades que todos realizamos em sociedade. Cidadania é a possibilidade concreta de todos e todas usufruírem das condições materiais, culturais e científicas produzidas por uma nação e pelo mundo. Para alguns poucos, talvez, cidadania não signifique mais do que reconhecimento. Para a maioria, no entanto, cidadania representa a possibilidade de participar do mundo, a partir de condições de uma vida na dignidade. A dignidade humana envolve questões elementares como educação, habitação, alimentação, saúde, lazer, trabalho, consideração e respeito.

            O Brasil promoveu, nos últimos anos, importantes avanços para combater a pobreza e as desigualdades sociais, mas ainda vivemos sob a regência de uma “cidadania de papel”. Gilberto Dimenstein, autor do livro “O cidadão de papel”, afirma que “cidadão de verdade é aquele que é respeitado e pode se sentir digno ao pagar impostos”. Ainda vivemos situações onde a cidadania não acontece por conta da própria burocracia estatal que se encarrega de dificultar o acesso aos bens e serviços básicos. A burocracia, o papel, atrapalha e dificulta muito a cidadania. A legislação brasileira, tida como uma das mais avançadas, não garante cidadania. Para tirá-la do papel, é preciso exigir e cobrar permanentemente a sua efetividade no cotidiano de nossas comunidades. Mas como cobrá-la se nem sempre temos pleno conhecimento de nossos direitos ou se não temos disponibilidade pessoal ou coletiva para cobrá-la?

A decadência do poder da cidadania leva as pessoas a apostar na sorte. Os direitos passam a ser vistos como possibilidades sujeitas a trocas ou favores e não como elementos de exigibilidade. Muitos brasileiros, infelizmente, são induzidos a crer que a sua vida sempre depende da bondade, conhecimento ou influência de alguém. Desta forma, vivem passivamente à espera de dias melhores, sem tomar as suas iniciativas.

Para vivermos uma cidadania ativa, precisamos construir condições de “empoderamento” através da informação, conhecimento, orientação e organização das pessoas em suas comunidades. Quem conhece seus direitos, participa de sindicatos, grupos ou associações, passa da apatia cidadã para uma postura de sujeito de direitos, tornando-se capaz de reclamar e atuar na defesa e promoção dos direitos, sem pestanejar. Ao perceber os limites de sua atuação individual, passa a ser também um sujeito social, capaz de buscar soluções de forma coletiva e organizada. A organização coletiva, para a conquista dos direitos, é a melhor forma de transformar “letra morta” (lei) em realidade.
Ao contrário dos valores individualistas e egoístas, a luta por direitos humanos se faz na cooperação, no amor e na solidariedade. Lutar por direitos é acreditar nas potencialidades humanas e na liberdade de cada um e cada uma realizar as suas escolhas.


Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

A Filosofia e o Bebê


Denilson Aparecido Rossi


No presente artigo pretendemos apresentar, em forma de diálogo, uma reflexão sobre a filosofia e o bebê. A conversa ocorrerá entre dois personagens, “philos” e “sophia”. Inicialmente, o intento destes personagens, será dialogar em torno de algumas considerações gerais sobre a filosofia e o bebê. Depois, será enfocar a questão antes da concepção, durante a gestação e após o nascimento do bebê.

1. Considerações Gerais sobre a Filosofia e o Bebê
Philos – Bom dia Sabedoria!
Sophia – Bom dia Amigo!
Philos – Muito se escuta dizer que filosofia é coisa inútil, é coisa de louco. Diz-se ainda que a filosofia “é a ciência com a qual, ou sem a qual, o mundo continua tal qual”. Do outro lado se escuta dizer também que filosofia é algo muito polido, de difícil acesso e que somente algumas mentes demasiadamente superiores podem praticar. Você concorda com isso Sophia?
Sophia – Evidentemente que não. A filosofia é sempre mais do que se pode dizer e/ou imaginar. Filosofia é uma palavra de origem grega: philosophia. Philos, em grego, significa amigo e Sophia, significa sabedoria.
Philos – Ah! Sê entendi bem, filosofia significa então, amigo da sabedoria?
Sophia – Isso mesmo! A filosofia se ocupa com o saber, com o conhecimento. O filósofo busca sempre saber mais... conhecer mais...
Philos – Como fazer para saber e/ou conhecer mais?
Sophia – Para tanto, a filosofia possui uma ferramenta, um método próprio. Trata-se de trilhar os caminhos da razão. A filosofia é a arte do pensar, indagar, querer saber o “por quê” das coisas. Filosofar é, portanto, buscar conhecer mais do que uma determinada coisa e/ou situação aparenta ser. Trata-se de buscar compreender de forma consciente e crítica as razões de ser e de viver no mundo. Longe de ser algo estéril ou inacessível a filosofia é o instrumento que nos possibilita a compreensão do sentido das coisas. A filosofia está diretamente relacionada ao cotidiano das pessoas. Sobre isso, Luckesi e Passos acrescentam dizendo que “a filosofia tem por objeto de reflexão os sentidos, os significados e os valores que dimensionam e norteiam a vida e prática histórica humana”1. Pode-se dizer, portanto, que viver sem filosofar é vegetar, é não-viver.

O homem em busca de sentido.
Pensar, indagar, buscar conhecer,
A própria razão de ser,
O que significa viver.
Isso é filosofia.
É sabedoria.
Os anos passam ligeiro.
Os fatos se sucedem.
O tempo inteiro,
Muitas coisas acontecem.
Mas, qual o sentido de ser?
Dos anos, dos fatos, do tempo, das coisas?
Perguntar o por quê?
Isso é filosofia,
É saber.

Philos – Se a filosofia está diretamente relacionada ao cotidiano das pessoas significa que ela também tem algo a ver com o bebê?
Sophia – Perfeitamente! O bebê é mais que um novo fato na história da humanidade. O bebê constitui-se num novo ser que interpela por si mesmo uma razão de viver. Portanto, a idéia e o surgimento de cada bebê é uma nova possibilidade para se filosofar, isto é, um sentido para a vida buscar. O bebê traz consigo muitas interrogações. Muitas são as perguntas que surgem antes da concepção. Outras tantas que emergem durante a gravidez. Outras mais que são suscitadas depois do nascimento. Indubitavelmente são inumeráveis as indagações... o que, de certo modo, demonstra existir uma relação direta da filosofia com o bebê.

2. A Filosofia e o Bebê antes da Concepção
Philos – Olá Sabedoria! Gostaria que soubesses o quão significativo me tem sido nosso diálogo.
Sophia – Que bom saber Amigo! Saibas que estou sempre aberta a dialogar. Muito me agrada o diálogo, pois, ele é a possibilidade de expressar o já compreendido bem como buscar compreender o que ainda se pode expressar.

Diálogo.
A arte de compreender
O que muito se deseja saber.
Aproxima o conhecimento distante
Possibilita visualizar um novo horizonte.
O estranho passa a ser conhecido
O obscuro torna-se esclarecido.
Essencial é dialogar,
Todo dia.
Isso é filosofar,
É sabedoria.
Philos – Mas, de fato, o que a filosofia tem mesmo a ver com o bebê antes da concepção?
Sophia – Pois bem, se compreendemos a filosofia como o exercício do pensar, a prática dos por quês e a busca do sentido, facilmente entenderemos que ela tem tudo a ver com a questão do bebê antes da concepção. Antes que um bebê seja concebido é possível que muitas perguntas sejam elaboradas, dependendo do contexto em que se dará a concepção.
Philos – Como assim, dependendo do contexto? E, quais são as perguntas mais comuns?
Sophia – Veja bem Amigo! São vários os contextos que precedem uma concepção: um contexto seria a situação de um casal, casados, que muito se amam e muito desejam ter um filho e planejam concebê-lo; outro seria a situação de um casal, ainda não casados, mas que muito se amam e desejam ter um filho; outro contexto pode ser o caso de uma mulher que deseja ser mãe e pensa em conceber um filho de modo independente; outro seria o caso do homem que deseja ser pai, mas que não pretende se casar; outro ainda seria o contexto de pessoas que desejam conceber filhos gêmeos; um contexto muito peculiar também seria no caso de um dos cônjuges possuir determinada doença, no entanto, desejarem ter filhos; e, assim por diante...
É notório que cada contexto suscite indagações próprias. Imaginemos, por exemplo, o contexto em que o casal, casados, que muito se amam e muito desejam ter um filho, planejam concebê-lo. Seria natural, neste caso, como conseqüência do pensar (filosofar), fazerem-se perguntas tais como: Será que já é o momento certo de termos um filho? Como será esse filho? Queremos homem ou mulher? Pretendemos que seja, ou não, gêmeos? Quando vai nascer? O que queremos com esse filho? E, outras tantas mais...
Pensemos em um outro contexto: uma mulher que deseja ter um filho de modo independente. Neste caso, ela poderia se perguntar: Será que tenho o direito de conceber um filho de modo independente? Ou, por que eu não posso gerar um filho, sozinha? Será que essa criança vai se desenvolver bem sem a presença do pai? Qual o melhor caminho para conceber um filho de modo independente? Vou procurar um banco de espermas e fazer uma inseminação? Vou procurar um homem que se disponha a colaborar comigo? Será que, depois, o pai não vai me tirar o filho? ...
Dentre essas, outras perguntas se poderia fazer de acordo com cada contexto. Independente da situação é importante ressaltar que, paradoxalmente, as indagações criam conflito e, ao mesmo tempo, abrem caminhos, descortinam novos horizontes. O que, portanto, constitui-se num processo filosófico. Razão pela qual podemos dizer que antes mesmo da concepção o bebê já nos faz filosofar.


3. A Filosofia e o Bebê durante a Gestação
Philos – Prezada Sabedoria! Pode a filosofia interferir na vida de um bebê durante a gestação?
Sophia – E como pode Amigo! Mas antes de analisar a interferência da filosofia na vida do bebê, faz-se necessário compreender como pressuposto o que se entende por ser humano, considerando que o bebê já é, em potência e ato, um ser humano. Para tanto, podemos utilizar o conceito cunhado pelo filósofo brasileiro Henrique L. Vaz, para quem “o ser humano é constituído por estruturas (corpo, psique, espírito) e por relações (mundo, outro, absoluto)”.
Philos – Por primeiro, falas-me então da relação da filosofia e o bebê a partir da estrutura (corpo, psique, espírito) do ser humano.
Sophia – Pois bem! É natural que os pais, assim que recebam a notícia de que estão grávidos se ponham imediatamente a filosofar, isto é, a pensar e a fazerem-se muitas perguntas, tais como: Será que o coração dele já está batendo? Como pode desenvolver-se o corpo de um bebê dentro do útero da mãe? Que tamanho já tem nosso bebê? Será que seu corpo já está todo definido e é perfeito? Que cuidados precisamos ter na alimentação para não prejudicar a sua formação? Fumar e ingerir bebidas alcoólicas, que tipos de males causam no bebê?
O que se sabe é que até o terceiro mês, principalmente, qualquer coisa pode ser fatal para o bebê. E que durante toda a gestação o bebê é nutrido pela mãe. Portanto, o desenvolvimento do feto, em termos de corpo, depende diretamente do que e de como a mãe se nutre. São inúmeras as questões que se prestam em torno do desenvolvimento do corpo do ser humano ainda no ventre materno.
Em se tratando da psique não é diferente. Desde a concepção até o nascimento trata-se de um longo percurso no qual a mãe experimenta diferentes situações emocionais.
Faz-se necessário interrogar-se: nesse período, tudo o que se passa na psique da mãe não pode ser absorvido pelo filho? Quando a mãe está feliz será que o bebê também se sente feliz? Quando a mãe está triste o bebê se sente triste? Quando a mãe sente raiva, medo, insegurança, angústia, dor e outros tantos sentimentos de desconforto o bebê também os sente?
Por outro lado, quando a mãe sente paz, coragem, segurança, harmonia e outros sentimentos de conforto, o bebê também os sente? Os sentimentos ou estado emocional do pai também influenciam no bebê? Se o pai ou a mãe rejeitar o bebê que tipo de influência psicológica isso exercerá no filho? A questão da projeção de desejo com relação ao sexo pode interferir na psique do bebê? Se os pais desejarem muito uma menina e vir um menino, ou o contrário, como ficará a psique dessa criatura? Até aonde atinge a psique do bebê o que se passa na psique dos pais?
No que se refere ao espírito é considerável perguntar quando é mesmo que começa a vida? Qual é o momento e como o espírito da vida é insuflado no ser humano? De onde provém esse espírito? Que força de espírito tem o bebê já no ventre materno? Durante o período gestacional pode evoluir o espírito do ser humano?

Perguntar,
É desejo de saber,
É buscar conhecer,
É filosofar.

Philos – Muito bem Sabedoria! Mas, como fora me dito antes, além da dimensão estrutural o humano se caracteriza também como um ser de relações (mundo, outro, absoluto). Podes-me dizer mais sobre isso?
Sophia – Sim Amigo! Antes, porém, quero ressaltar que seu nobre desejo de muito saber e buscar conhecer é a razão pela qual me faz responder. De fato, o ser humano é um ser de múltiplas relações. Relações estas que se dão com o outro, com o cosmo, com o absoluto e, seguramente, consigo mesmo.
Pensando no bebê, durante a gestação, vale interrogar: as relações que os pais exercem com consigo mesmo, com o outro, com o mundo e com o absoluto até que ponto influencia o filho? Tudo o que a gestante escuta, vê e imagina pode ser escutado, visualizado e imaginado pelo bebê? Os pais podem ensinar o bebê a se relacionar com as pessoas, com o mundo e com o absoluto de modo respeitoso e amoroso, mesmo o filho ainda estando no ventre? E assim por diante...

Ser de relação
O homem é sem igual.
Relacionar-se é sua condição
De ser como tal.

Além das questões acima abordadas com relação à filosofia e o bebê, durante a gestação, nota-se ainda a necessidade de considerar outras mais: quando o nosso filho vai nascer? Será que os resultados e previsões constatados nos exames de ecografia (ou ultra-som) são verdadeiros? Até que ponto os exames não falham? Como ele vai nascer? Nosso bebê vai nascer de parto natural ou será preciso fazer cesariana? Vai se parecer com o pai ou com a mãe, ou ainda, com os dois? Qual será a cor dos seus olhos? Vai nascer com saúde? Mais... ???
A cada pergunta um tempo desprendido para se pensar, com isto, percebe-se, portanto, que há um exercício constante: o filosofar.

Filosofia e bebê
Antes de nascer.
Tudo a ver.

4. A Filosofia e o Bebê após o nascimento
Sophia – Prezado Amigo! Com o nascimento do bebê dá-se o encontro com um novo ser humano e, conseqüentemente, com muitas respostas para as inúmeras perguntas até então elaboradas em torno desse ser. Sobretudo, em torno do corpo, muitas respostas são encontradas. Agora, já se sabe se o corpo é perfeito, com quem se parece, se é homem ou mulher, o tamanho, e outras mais... Todavia, surgem outras perguntas de acordo com cada situação.
Philos – Como assim, outras perguntas? Por quê, de acordo com cada situação?
Sophia – Isso mesmo! Uma é a situação na qual o bebê nasce perfeito. Outra quando o bebê nasce com alguma necessidade especial. Outra ainda quando nascem gêmeos, trigêmeos... E, podem ocorrer outras situações...
Philos – No caso do bebê nascer perfeito, por quê fazer perguntas?
Sophia – Porque viver é filosofar. A vida por si só se encarrega de novas questões apresentar.

O tempo passou ligeiro
O bebê acaba de nascer.
Por primeiro,
O que fazer?

Como esta há outras questões a serem elaboradas: pode um ser humano ser perfeito? O que se entende por perfeito? Ser perfeito significa ter todos os membros e órgãos?
Ah! O bebê está chorando, por quê? Está com fome? Está com dor? O que fazer? O leite materno será suficiente para o bebê nutrir-se saudavelmente? Será preciso medicá-lo? É necessário estabelecer rotina (horário de mamar, de banho, de dormir, etc.) ou é cedo para preocupar-se com isso? Onde encontrar respostas para estas e outras tantas perguntas relacionadas às necessidades básicas? Será que os pais têm as respostas? Será que as respostas estão com o filho? Ou ainda, as respostas podem estar na relação entre os pais e o bebê?
No que tange à afetividade e sociabilidade é conveniente interrogar-se também: o que é importante fazer para que o bebê seja uma pessoa integrada afetivamente? O que fazer para que ele se desenvolva e seja sociável? O modo como os pais lidam com seus sentimentos e emoções, até que ponto interfere na afetividade do filho? O comportamento dos adultos influencia muito no processo de socialização deste novo ser humano? Como fazer o melhor para que o bebê cresça feliz e seja amável? Como será o futuro do bebê?
Philos – Estimada Sabedoria! Considerando o que me fora dito acima tenho a impressão que em torno do bebê, além das interrogações apresentadas, existe uma infinidade de outros questionamentos. Isso procede?
Sophia – Indubitavelmente, sua impressão procede caro Amigo! Como vimos, muitas são as perguntas que se prestam em torno do bebê, seja antes da concepção, durante a gestação, bem como depois do nascimento. Disto decorre nossa compreensão de que o bebê nos faz filosofar necessariamente. As interrogações são importantes para descortinar novos horizontes. A bem da verdade há que se dizer ainda que a profundidade das indagações é proporcional à importância que se dá ao bebê.

O bebê.
Quem ele é?
Um novo ser?
O que a filosofia,
Com ele tem a ver?

Vale a pena pensar
Com ousadia.
Isso é filosofar,
É sabedoria.


1 LUCKESI, Cipriano Carlos; PASSOS, Elizete Silva. Introdução à Filosofia: aprendendo a pensar. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2004, p. 87.