quinta-feira, 21 de março de 2013

Políticos: por virtudes ou oportunismos.


Prof. Nei Alberto Pies

 “Não somos anjos em voo vindos do céu, mas pessoas comuns que amam de verdade. Pessoas que querem um mundo mais verdadeiro, pessoas que unidas o mudarão”. (Gente, de A. Valsiglio/Cheope/Marati).

Muitos de nós gostaríamos que os políticos fossem anjos. Se assim fosse, estariam imunizados de todas as situações e oportunidades que não promovem o bem comum e a prática da bondade. Mas os políticos, assim como cada um de nós, não são anjos e sim, humanos, também não perfeitos. A política não é um espaço para a ação de anjos, mas o espaço de disputa dos mais diferentes interesses que estão em jogo na sociedade. A disputa destes interesses é legítima, desde que os mesmos estejam sempre bem explicitados, para que todos saibam o que move os candidatos quando se propõem a representar os interesses da população.

 As contradições no exercício do poder estão sempre presentes nos movimentos que operam a política. Os políticos posicionam-se a partir das conjunturas e contextos de cada momento, das articulações e negociações que são possíveis para aprovar os projetos que estão em pauta, das forças sociais que estão mobilizadas em cada momento histórico. É natural que joguem com seus interesses pessoais, mas é inaceitável, numa democracia, que estes interesses sobreponham-se aos interesses coletivos.

As agremiações partidárias (partidos) expressam e materializam os projetos de sociedade que estão em disputa nas cidades de nosso país. Estes projetos traduzem-se em propostas concretas de como governar, de como construir as políticas públicas, de como distribuir a renda, de como construir oportunidades de desenvolvimento das nossas cidades e da própria nação. Há então que se discernir a diferença entre votar em pessoas ou votar em projetos, que embora “sempre juntos e misturados”, traduzem-se em diferentes consequências. “O voto não tem preço, mas tem consequências”. Por isso mesmo, é possível contemporizar as posições e atitudes pessoais dos candidatos com os projetos que os mesmos representam, observadas as circunstâncias e as intencionalidades em que ambas acontecem.

Os candidatos não representam a si próprios, mas representam interesses que estão em disputa na sociedade. Talvez fosse melhor sermos governados por anjos, seres sobrenaturais imunes a qualquer interesse mundano. Como não é possível, cabe a cada um e cada uma avaliar o projeto com o qual cada um dos candidatos está comprometido. Neste projeto, o compromisso com a vida humana, com a sociedade e com as virtudes é o bem maior que deve ser resguardado, pelos candidatos e pela gente.



Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos

As discordâncias


As escolas e outros espaços públicos de manifestação popular e de discussão de ideias deviam saber lidar muito mais com as discordâncias. É lamentável conversar com alguém que não aprendeu ainda a aceitar controvérsias, críticas e coisas do gênero. Tem muita gente boa indo e vindo em gabinetes de repartições públicas; assumindo cargos de gerência; dirigindo escolas; lecionando em Universidades; pregando em púlpitos de igrejas; ou legislando os municípios; e até gerindo o executivo das cidades... Gente de todo e qualquer tipo que precisa urgentemente de uma lição de filosofia, a discordância!
         Se fôssemos mais flexíveis com as discordâncias, logo destruiríamos a soberba de que somos os donos da verdade e de que ninguém sabe mais do que nós. Não deveria ser tão estranho alguém discordar de nós, até porque ninguém é obrigado a concordar com tudo nem com todos. Ainda bem que o concordar é relativo à força da persuasão! Há de se convencer alguém a concordar com você, e isso não é tão simples assim. Posso até conviver com você, mas nunca estou obrigado a concordar com seus pensamentos. 
         Volta e meia, algumas pessoas se aproximam de nós – pelo menos eu já passei por experiência parecida – para dar uma opinião esperando apenas uma confirmação positiva acerca do assunto. Ou seja, o desejo de autoafirmação das pessoas é tão forte que o diálogo crítico e autêntico acaba se banalizando ou mesmo ficando em segundo plano. Muitas vezes, sufocamos o diálogo em virtude de uma acomodação simples e passiva às opiniões alheias, quando, na verdade, segundo Paulo Freire, o diálogo “é uma relação horizontal de A com B. Nasce de uma matriz crítica e gera criticidade (Jaspers). Nutre-se de amor, de humanidade, de esperança, de fé, de confiança. Por isso, somente o diálogo comunica. E quando os dois pólos do diálogo se ligam assim, com amor, com esperança, com fé no próximo, se fazem críticos na procura de algo e se produz uma relação de 'empatia' entre ambos”(FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. 12ª ed. São Paulo: Paz e Terra, p. 39).
         Conversar sobre futebol, novelas, religião, política, família e etc implica em temas que dividem a opinião da maior parte das pessoas. Muitas não têm argumentos plausíveis que fundamentem seus pontos de vista e acabam forçando os seus ouvintes a admitir, por bem da amizade, que estão certas. Mas é um equívoco e uma ilusão acharmos que preservamos nossas amizades ao não contra-argumentarmos a favor da verdade ou da riqueza de outros olhares. A minha visão é apenas uma em meio a outras tantas! Abrir-se ao novo é uma experiência irrenunciável!
         Somente uma educação com base na ironia socrática ou na humildade pode nos levar a descobrir o valor das discordâncias. Discordar eleva a discussão ao grau de maturidade intelectual em que ambos estão suscetíveis a mudar de opinião. Discordar, com isso, tira o ranço de autoridade que há no diálogo entre duas pessoas que se dizem civilizadas. Discordar fortalece os argumentos que se pretendem afirmar. Discordar nos permite ir além do óbvio. Discordar põe à prova algumas verdades estabelecidas. Discordar quebra o gelo num grupo, numa palestra chata ou numa reunião burocrática. Discordar é também saber aceitar as discordâncias e contradições no seu discurso, até porque ninguém está totalmente certo nem totalmente errado. Aliás, quando discordamos, aprendemos que não somos suficientes, e sim necessários.
         Aceitar, superar ou vencer as discordâncias é a meta de todo educador, pois é impossível continuar crescendo sem saber da sua incompletude, de que nunca se estará pronto. Educa-se educando, numa troca infinita de ideias que não se acabarão. “A educação crítica considera os homens como seres em devir, como seres inacabados, incompletos em uma realidade igualmente inacabada e juntamente com ela. Por oposição a outros animais, que são inacabados mas não históricos, os homens sabem-se incompletos. Os homens têm consciência de que são incompletos, e assim, nesse estar inacabados e na consciência que disso têm, encontram-se as raízes mesmas da educação como fenômeno puramente humano. O caráter inacabado dos homens e o caráter evolutivo da realidade exigem que a educação seja 'uma atividade contínua'. A educação é, deste modo, continuamente refeita pela práxis”(FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação: uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Cortez & Morais, 1979, p. 42).
         É essa sensação de inacabamento que resulta das discordâncias. Daí, serem elas tão importantes para a transformação dos valores e do modo como é visto o mundo, do modo como se contam as histórias, do modo como se falam novas coisas. Discordar, minha gente, não é ofender ninguém, mas falar de um outro modo o que ninguém, talvez, tenha falado, permitir-se ao risco de pensar novamente o que já foi pensado.

Prof. Jackislandy Meira de Medeiros Silva
Especialista em Metafísica, Licenciado em Filosofia, Bacharel em Teologia e Pós-graduando em Estudos Clássicos pela UnB/Archai/Unesco.

Prosa filosófico pedagógica


Prof. Marta Bergamaschi

Para iniciar esta prosa, gostaria de buscar uma fala do professor Moacir Gadotti, pronunciada por ocasião de um Congresso na UnB (1999), onde se debatia a Filosofia na sala de aula, no Ensino Fundamental e Médio.
Ele dizia que considerando a importância dada ao conhecimento em todos os setores das sociedade, poderíamos dizer que a nossa era é a era do conhecimento; vivemos na sociedade do conhecimento. Para comprovar este fato, basta olharmos para o processo de informatização e da globalização das telecomunicações a ele associados. Decorrentes desse processo surgem algumas questões que merecem ser pensadas com um maior grau de atenção.
A primeira delas refere-se à grande parte da população excluída dessa sociedade informatizada e conseqüentemente marginalizada em relação à sociedade do conhecimento.
Outra questão marcante refere-se ao fato de nossa cultura ser ainda conteúdista, restando poucas oportunidades de renovação cultural. Temos pouco ou quase nenhum tempo para construir, para renovar e descobrir.
Como amenizar essa nossa condição, para que possamos participar mais dessa dita sociedade do conhecimento?
Uma das saídas que podemos sugerir encontra-se na efetivação de uma educação para o pensar, ao longo da escolaridade. Neste caso, no espaço escolar, a sala de aula caminha para a formação de uma Comunidade de Aprendizagem Investigativa, onde professor e alunos dialogam com respeito, criam questionamentos a partir do ponto de vista do outro; buscam boas razões para explicar modos de pensar; e ainda procuram identificar o que cada participante da discussão pensa, e como pensa.
A educação para o pensar vem rever o conceito de Filosofia na sala de aula, com vistas a novo modo de ensinar, de aprender e de construir conhecimentos com os jovens e as crianças. Parte-se do princípio que a postura do professor deve estar mais centrada nas relações do que nas informações.
Para saber informações, necessita-se apenas acessar qualquer objeto que seja capaz de grava-las, mas para construir idéias, necessita-se de seres humanos criativos, capazes de construir relações surpreendentes.
Como nos lembra Mattew Lipman, criador do Programa de Filosofia para Crianças, o ato educacional se manifesta no desenvolvimento da inteligência humana e a essência da inteligência reside não na faculdade de acumular informações, mas na capacidade de perceber o que é essencial e de agir eficazmente sobre as coisas.
Cabe então à escola abrir esse espaço de reflexão, apostando no desenvolvimento autônomo do sujeito, contra o automatismo da não-reflexão das estruturas tradicionais da educação.
Assumindo esta postura, a escola estará propriciando a seus educandos, oportunidades de desenvolverem-se, na medida em que os leva a tomar consciência de suas potencialidades, o que ocorrerá especificamente nas denominadas Comunidades de Aprendizagem Investigativa.
Parafraseando Lipman, em geral, temos pouca ou nenhuma consciência do número de idéias sobre as quais nosso espírito trabalha incessantemente. Nosso pensamento age espontaneamente, sem que nos demoremos para analisar, para aprofundar ou precisar seu conteúdo. A comunidade de aprendizagem investigativa, facilita a busca e a descoberta dessas idéias lógicas e pessoais.
Marilyn L. Sklar dá o seguinte depoimento.
“ Ensinar filosofia é exatamente como fazer jardinagem. Você toma as sementes do pensamento e planta no espírito fértil das crianças. Em seguida, você as enriquece com questões pertinentes e provocadoras. Pouco depois, você vê germinar, à sua frente, um indivíduo com um pensamento crítico que não apenas vai enriquecer sua vida e a dele próprio, mas a vida de todos à sua volta.” ( 1987, pg. 78)
Mas, para que as crianças e os jovens, possam ser livres para expressar suas idéias, devem sentir, no caso da escola, que o clima geral da classe (pares e o facilitador) é pleno de confiança e de respeito. Se o respeito transparece na relação professor- alunos, ele se amplia para todos os participantes da comunidade de aprendizagem. Quando esta condição é atendida, a criança ou o jovem se integram com toda confiança no debate. E à medida que ela ou ele tomam consciência do lugar que ocupam, esforçam-se para produzir idéias criativas e diferentes. Isto porque percebem que suas idéias são aceitas e que contribuem para a evolução da comunidade de aprendizagem.
Esse respeito exigido no grupo, amplia as possibilidades do educando, superar a si mesmo e ainda acentua a motivação individual. Como isto a discussão torna-se dinâmica, curiosa, aberta e conseqüentemente e rica em novas idéias, chegando a limites e proporções inacreditáveis.
A educação para o pensar contribui significativamente para o crescimento pessoal e interpessoal do educando. Ela ajuda a criança ou o jovem a se tornar uma pessoa moral; a criar relações autênticas com seus pares e consigo mesma. Eles aprendem a confiança e o respeito. Eles aprendem a participar ativamente no fortalecimento do bem comum e assim a elaborar relações sociais eficazes. Em outras palavras, a educação para o pensar garante experiências ricas em significados.
Conforme Matthey Lipmam e Ann Margaret Sharp, a escola que considera a educação como sua missão, se dedica a ajudar seus educandos a encontrarem significados relevantes para suas vidas. Eles não captarão esses significados simplesmente aprendendo os conteúdos do conhecimento adulto. Eles precisam ser incentivados e desafiados a pensar e em particular pensar por si mesmos. O pensar é a habilidade por excelência que nos habilita a captar os significados.
É comum ouvirmos no meio escolar, que as crianças e jovens com problemas de leitura, provavelmente tenham dificuldades com o pensar. Acredita-se ainda, que se melhorarmos o modo de ler dessas crianças e jovens, certamente conseguiremos melhorar o modo como eles pensam. A tese dos pesquisadores na área da filosofia para jovens e crianças, e das teorias da aprendizagem, é de que a leitura e o pensamento são interdependentes. Um ajuda o outro. Conseqüentemente, ajudar as crianças e jovens a pensarem, pode muito bem ajudá-los a ler.
Não se trata aqui somente de ler as palavras e pronunciá-las, mas aprender a captar o sentido das palavras, das orações no contexto em que aparecem. Para descobrir o sentido do texto é preciso saber como inferi-lo ou extraí-lo. A inferência consiste em raciocinar a partir do que é dado literalmente para aquilo que é sugerido ou está implícito.
Quanto mais facilidade se tem para fazer inferências, mais significados é possível se extrair daquilo que se lê, o que, tornará a leitura cada vez mais satisfatória.
A comunidade de aprendizagem investigativa possibilita e encoraja a descoberta de sentidos e as inferências. O que é discutível é se o pensar pode ser ensinado, mas não há dúvida de que pode ser estimulado, encorajado.
Assim, a educação para o pensar, tem um importância crucial para estimular o pensamento e está pressuposto na psicologia cognitiva e social.
Vygotsky, em a “Formação Social da Mente”, apresenta tanto um suporte filosófico como psicológico para a tese de que o pensamento é a internalização do diálogo. Vygotsky reconhece clara e abertamente a existência de uma diferença entre a capacidade que as crianças têm para solucionar problemas individualmente e a capacidade para resolverem tais problemas com a colaboração de seus professores e colegas. Assim a oportunidade de dialogar e confrontar idéias levará os estudantes a pensarem e a alcançarem um desempenho mais alto do que eles poderiam alcançar individualmente.
Os professores deveriam ter em mente as poderosas relações que existem entre a leitura e a fala, por um lado e a escrita e a fala de outro. Existe também uma relação estreita entre falar e escutar, pois se não escutamos com atenção o sentido do que está sendo dito, provavelmente entenderemos mal o que está sendo falado. A comunidade de aprendizagem investigativa vem favorecer ainda mais estas aprendizagens, saber ouvir, aprender a construir a partir da fala do outro, aprender a captar o essencial da discussão na hora de registrar e etc.
A educação para o pensar além de incentivar as crianças e jovens a serem críticos, também os incentiva a pensarem de modo criativo. Eles são também desafiados a fazer perguntas. Não incentivar e alimentar a busca de nossos jovens por compreensão, introduzindo-os no diálogo filosófico, por meio do qual podemos nutrir sua curiosidade e esclarecer suas intuições, significa obrigá-los a aceitar a aridez da visão especializada do conhecimento como acontece na escola, hoje.
Infelizmente a filosofia tem sido tratada tradicionalmente, como disciplina reservada aos adultos. Existe uma crença de que as crianças e jovens não estariam interessados por temas tão abstratos e não seriam capazes de lidar com eles.
Pelo que temos visto e vivenciado, os temas filosóficos não são interessantes só para os adultos e nem precisam ser formulados de maneira tão técnica, que as crianças e jovens não possam lidar com eles. O que é maravilhoso na filosofia é que as pessoas de qualquer idade podem refletir sobre os temas filosóficos e discuti-los. As crianças ficam tão fascinadas quanto os adultos com noções de amizade, justiça, preconceitos etc. E tanto as crianças quanto os adultos podem reconhecer que ninguém ainda disse a última palavra sobre esses temas.
Obviamente o sucesso deste programa de Educação para o pensar na sala de aula, depende basicamente da formação oferecida aos professores, não só para que compreendam a dimensão filosófica das disciplinas que lecionam, mas também para que aprendam a alimentar e aguçar sistematicamente as investigações filosóficas realizadas com os alunos.
É importante lembrar que “pensar não é saber dar respostas”.
O psicanalista e educador Rubens Alves tem feito severas críticas às formas de se tratar o conhecimento numa visão tradicional, principalmente quando se pensa nos cursos preparatórios para o vestibular. Preocupa-se muito com as respostas, mas pouca importância é dada ao aprender a perguntar.
Os argumentos usados por Rubens Alves se apóiam no pensamento do filósofo Kant. Na “Crítica da Razão Pura” Kant coloca que “o conhecimento se inicia com perguntas que fazemos à natureza. Mas essas perguntas surgem quando contemplando a natureza nos sentimos provocados por seus assombros”. Conforme Rubens Alves, é este assombro que a preparação para os vestibulares destrói.
Acredito que a Educação para o pensar tendo como apóio a discussão filosófica, poderá alimentar esses assombros, ajudando-nos a pensar e a transformar o mundo.
Este modo de pensar pode ser utópico, mas o educador precisa sonhar porque “educamos em função de um futuro que achamos e julgamos melhor”. O sonho faz parte da nossa competência técnica, política e pedagógica, e essencialmente à nossa prática. (Moacir Gadotti – IV Congresso de Educação dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do D.F.)
Acredito que o programa de educação para o pensar deve ser conhecido não só pelas pessoas que se preocupam com a pedagogia, mas também por todas aquelas que se preocupam com a evolução da sociedade. O programa de educação para o pensar não é apenas mais um programa escolar. É um instrumento que possibilita o contato dos educando consigo mesmo, com os outros e com o mundo, ajudando-o a ser mais autônomo mais consciente e mais responsável.

Referências Bibliográficas:
  • A Filosofia na Sala de Aula – Ann Margaret Sharp – Nova Alexandria – S.Paulo;
  • DABRI, Emanuelle S. Comunidade de Aprendizagem Investigativa. Florianópolis, SC: Sophos, 2003;
  • DANIEL, Marie–France. A Filosofia e as Crianças. São Paulo: Nova Alexandria, 2000. Tradução de Luciano Vieira Machado;
  • Inteligências Múltiplas – IV Congresso de Educação dos Estabelecimentos Particulares de Ensino no Distrito Federal;
  • Revista Brasileira de Filosofia no Ensino Fundamental. Ano 09 – n.º 17 – Janeiro/Julho 2002.

quinta-feira, 14 de março de 2013

A IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA


Daniel Duarte
professor de filosofia e sociologia.


A filosofia como um conhecimento histórico de mais de dois mil anos, por si só já tem importância pela bagagem cultural e epistemológica que desenvolveu ao longo deste período.
É inegável a contribuição de filósofos como Aristóteles, Platão, Descartes, Rousseau, Kant, Hegel, Marx, Gramsci, e outros que com suas reflexões e suas teses ajudaram e ajudam a sociedade ocidental a seguir seu desenvolvimento.
No que se refere ao ensino de filosofia na educação básica, esta disciplina tem diversas possibilidades de contribuir para um melhor desenvolvimento da mesma. Muitas são as atribuições dadas ao ensino de filosofia e a sua importância na educação básica, alguns defendem que a filosofia é importante, pois ensina a pensar, ajuda a desenvolver o senso critico, ajuda na reflexão e que é importante para o exercício da cidadania, etc...
Menciono aqui apenas os pontos considerados positivos, mas, certamente existem raciocínios contrários que divergem da importância da filosofia na educação básica.
Estes pontos positivos por vezes podem gerar nos professores de filosofia certa sensação de superioridade da filosofia sobre outras disciplinas, ou então causar certa desconfiança sobre as reais possibilidades de a filosofia dar conta de tamanha responsabilidade.
Embora concorde em parte com estas afirmações, vou fazer algumas considerações que julgo pertinentes.
Se “todos são filósofos” como se refere Gramsci, penso que a primeira hipótese que a filosofia ensina a pensar não se confirma, justamente porque acredito que ninguém ensina ninguém a pensar, e se isto fosse possível não seria privilegio apenas da filosofia, pois qualquer disciplina se bem ministrada, com professores qualificados e que saibam contextualizar o objeto de estudo com a cotidianidade, poderia “ensinar a pensar”. Portanto, todas as disciplinas tem esta capacidade.
Ajudar a desenvolver o senso crítico e a reflexão e incentivar o exercício da cidadania, deveria ser tarefa de todas as disciplinas da educação básica, porém, talvez por incapacidade ou por acomodação na maioria das vezes este árduo trabalho fica como exclusividade das ciências humanas, sobretudo da filosofia e da sociologia.
Afinal qual a importância da filosofia na educação básica? Penso que a filosofia junto com outras disciplinas, através de um trabalho interdisciplinar pode sim dar conta destas atribuições a ela referida, porém, penso que a importância maior da filosofia esteja na fundamentação teórica de tais conceitos. O que é o pensar? Qual a diferença do simples pensar para o pensamento filosófico? O que é a reflexão ou atitude reflexiva? O que é cidadania?
A filosofia tem importância quando se preocupa em fundamentar as proposições, ou seja, através de uma investigação seria e também de um método rigoroso de busca do conhecimento, busca explicitar o porquê do por que. Se não realizar tal tarefa a filosofia corre o risco de tornar a critica pela critica, o simples pensar por pensar, o refletir por refletir.
De nada adianta exigir dos adolescentes determinados comportamentos, determinadas atitudes em relação à ética, politica, cidadania, se não leva-los a conhecer a fundo os conceitos e as proposições de tais temas.
Ao fazer este movimento de busca radical dos princípios, a filosofia se diferencia das demais disciplinas, pois se for bem trabalhada com professores habilitados ela pode ser capaz de ultrapassar o questionamento superficial e vir a se tornar um conhecimento útil.
Portanto, a importância da filosofia na educação básica vai muito além da mera instrumentalização do pensar, do refletir ou do criticar. A filosofia deve desvelar a gênese dos conceitos para que estes possam ser compreendidos na sua totalidade, e ao serem compreendidos possam ajudar na formação integral dos estudantes da educação básica.

quinta-feira, 7 de março de 2013

A Educação é feita com e pelo diálogo


Prof. Ricardo Valim

Não será com lousa digital, tablet e outras parafernálias tecnológicas que mudaremos a sala de aula como espaço de aprendizagem e partilha de conhecimentos e informações. Só iremos resolver problemas, encontrar espaços de convívio, aprender a investigar e propor ações, com e pelo diálogo (de preferência diálogo filosófico). A Filosofia desde a Educação Infantil é um caminho seguro para essa finalidade

Constantemente conversamos com outras pessoas, lemos e vemos por aí sobre a nossa realidade e como um simples diálogo poderia resolver muita coisa. Em nossa sociedade apesar dos esforços de ambos os lados ainda falta diálogo entre pais e filhos, governos e cidadãos, entre religiões e religiões. Como se pode notar o diálogo é base para muita coisa.
Mas como fazer tudo isso se a nossa educação contemporânea ou pelo menos sua metodologia, não está apta para tal feito? Se quisermos uma sociedade futura mais diversificada em pensamento e com grande capacidade de diálogo e criticamente esclarecida, teremos de começar a trabalhar estas situações ainda hoje em sala de aula.
No seio familiar aprendemos alguns princípios básicos para viver e se organizar socialmente. Porém, é em um contato social mais amplo – que é a escola – que se aprenderão novos valores e que serão aperfeiçoados os adquiridos apriori em casa.
E é justamente por isso mesmo que “Pensar a Educação é Pensar no Futuro”. O que queremos para o nosso futuro? O que esperamos d’ele? São perguntas que devem perturbar o espírito de um bom educador comprometido com a realidade.
A educação deve estar, e esta deve ser sua essência, voltada para a evolução de uma realidade que hoje não nos agrada.
A educação é o caminho mais seguro para a edificação de um novo mundo mais humano e solidário. A educação deve estar para além do comércio e das intenções de partidos políticos, ela deve ser a bandeira de esperança levantada ante os erros que agora são cometidos para que não se repitam em um futuro bem próximo. Se estivermos realmente fartos de tanta violência e corrupção, o que poderemos fazer então dentro de um plano educacional para reverter tal quadro? É isso que devemos pensar! Portanto, “Pensar a Educação é Pensar no Futuro e Pensar no Futuro é Pensar na Educação Hoje”.


Ricardo Valim – Bacharel em Filosofia, Pós Graduado em Metodologia do
Ensino de Filosofia e Sociologia.