quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Consciência ecológica vital

Armando Correa de Siqueira Neto*

Você conhece o seu papel na preservação da vida? Não podemos mais ignorar os problemas ecológicos atuais e futuros. Não. E para aqueles que já possuem algum conhecimento a respeito, não basta apenas saber, é preciso arregaçar as mangas e desenvolver a consciência ecológica, agindo em prol da preservação do que ainda resta na natureza. Saber, querer e fazer são os elementos desta importante receita da salvação. Se o ser humano soube tirar proveito do mundo natural que lhe ofereceu a possibilidade de existir e manter-se vivo até os dias atuais, é hora de retribuir, não apenas como uma forma de agradecer, mas pela imperativa necessidade de sobreviver, pois caso nada seja feito em maior escala para impedir o avanço da destruição dos recursos naturais, pouco nos restará em um porvir próximo. Não se trata de uma previsão, mas de um inevitável apocalipse ecológico que se avizinha. Você já pensou séria e profundamente sobre a questão?
Muito se tem debatido ao redor do mundo acerca da agressão contra a natureza e suas sinistras decorrências, mas poucos têm colaborado de verdade. É preciso discutir mais e empreender com afinco tanto no combate aos comportamentos inadequados quanto no estímulo à atitude que auxilia e preserva. (Reciclagem do lixo e economia da água são um ótimo começo.) A ecologia é um assunto que pertence a todos e não apenas a alguns especialistas. Quanto mais a estudamos (através da teoria e da prática), tanto mais significativos resultados emergem, gerando graus de consciência necessários ao aprimoramento da gestão ecológica. Pois sem a mínima consciência, muito pouco será possível de se obter.
Será preciso passar por experiências similares já registradas pelo passado? Onde está a nossa capacidade de análise e julgamento? Ou o nosso bom senso? Foram necessários oitenta anos para que se deixasse de poluir o ar com a mistura do chumbo à gasolina, por exemplo, substituindo-o pelo álcool, mesmo que se soubesse, há décadas, que o perigo causaria problema tal como a deficiência intelectual, conforme se constatou inequivocamente por meio de estudos em várias pessoas nos Estados Unidos. Hoje observamos passivamente o descarte irrefletido de montanhas de lixo e o desmatamento de imensas áreas verdes. Sim, assistimos à destruição, sentados confortavelmente em nossos sofás. É preciso lembrar que há quem faz e quem consente? Quem não se opõe, aceita. Se esconder atrás do sentimento de impotência não seria uma posição cômoda e infantil? Onde está a atuação política madura cuja organização cidadã é capaz de estabelecer pressão suficiente sobre os parlamentares que nos representam na democrática sociedade de convívio? Por que tamanho silêncio? E inércia. A omissão não isenta o seu autor da responsabilidade da culpa. Ignorar não justifica a falta de interesse. Sim, somos culpados, ainda que a maioria de nós não tenha indústrias que jorrem seus indecentes restos rio adentro ou céu afora, poluindo, sobretudo, a reduzida percentagem de água potável disponível, que é notoriamente conhecida como fonte de sobrevivência da nossa espécie (e de outras). Porquanto aceitamos que se destrua o bem mais precioso, e com isso encaminhamo-nos à própria destruição. Não acredita?
É um paradoxo e tanto frente à determinação genética de sobrevivência, aperfeiçoamento, adaptação e transmissão das informações à descendência. Não somos programados para a autodestruição. Mas dá para entender as razões da absurda contradição. Faz-se necessária a presença do perigo real e imediato para que o ser humano desperte do seu estado de torpor e passividade para tomar as providências defensivas. Poucos são previdentes e se antecipam aos riscos. Então, enquanto a desgraça não bater à porta de forma concreta e sem rodeios, pouco se fará para combatê-la. O aviso externo não nos estimula tanto quanto a dor interior. O mal-estar pessoal é sempre o ponto de partida das mudanças. Porém, talvez chegue a ocasião em que seja tarde para qualquer tipo de reação sem que se considere o extermínio de substancial número de vidas. Não é uma previsão, insisto. É um efeito do qual não se escapa se não houver modificação da causa. Afinal, o que lhe falta para que comece a refletir e agir sobre o assunto? Quando você pretende adquirir a consciência ecológica vital?

*Armando Correa de Siqueira Neto é psicólogo (CRP 06/69637), diretor da Self Consultoria em Gestão de Pessoas, professor e mestre em Liderança pela Unisa Business School. Coautor dos livros Gigantes da Liderança, Gigantes da Motivação e Educação 2006. E-mail: selfcursos@uol.com.br


segunda-feira, 23 de setembro de 2013

É preciso dizer a verdade apenas a quem está disposto a ouví-la?

Aluno Thiago Adolfo Scheidt
Agentes da Polícia Federal prenderam 28 pessoas acusadas de fraudes em licitações, superfaturamentos, desvio de verbas, além de pagamentos indevidos em contratos de serviços e compra de materiais no Espírito Santo (ou em algum lugar do nosso País – isso infelizmente é fato corriqueiro). Entre os presos está o prefeito da cidade de Presidente Kennedy, Reginaldo dos Santos Quinta.
Onde está presente a verdade? Qual o significado da verdade em sua vida? Como é lutar pela verdade? Como distinguir a verdade da mentira? Uma mentira não descoberta é uma verdade?
A aparência é ter políticos honestos, mas por trás deles a verdade se esconde. A verdade nesse caso é que nós cidadãos, eleitores estamos colocando políticos cada vez mais corruptos, para representar o povo brasileiro.
A maioria dos políticos que se elegem de alguma forma depois de eleitos vira corruptos e mentirosos. “Que vantagem tem os mentirosos? A de não serem acreditados quando dizem a verdade” (Aristóteles).
Aristóteles afirma que mentir não leva a pessoa em lugar nenhum, e que de tanto mentir, quando falarem uma verdade ninguém vai acreditar, pois sabem de que essa pessoa que esta falando é um mentiroso. Assim são muito dos políticos de hoje. Elegem-se através de mentiras, promessas e assim fazendo seus eleitores de bobos.
“E, afinal de contas, o que é uma mentira? / É apenas a verdade mascarada.” (George Gordon Byron).
Tudo não passa de uma verdade mascarada, isto é, são poucas as verdades transparentes e muitas as mentiras, começam desde as campanhas eleitorais, nas promessas de obras, empregos, nos projetos políticos, e assim por diante.
Verdade é aquilo que você pode acreditar efetivamente; seguramente; realmente; representação fiel; caráter próprio; conformidade do que se diz com o que é. Lutar pela verdade é você falar ela e a defendê-la, prová-la, de uma maneira transparente do que falou ou que vai falar.
A Verdade não precisa de máscaras, enquanto que a mentira se disfarça de diferentes formas, a verdade não deixa dúvidas, a mentira alimenta-se delas. É possível sim a maioria das vezes saber se é uma verdade ou mentira, olhar no olho do outro é a melhor coisa a se fazer, mas existem pessoas que são tão falsas, que sabem disfarçar.
A melhor coisa é você achar um grande argumento que põe em risco a mentira do outro e pegar todas as "erradas" possíveis para desmascará-lo, porque é impossível um mentiroso conseguir fazer tudo certinho sem deixar nenhuma pista de que está mentindo, nós é que não percebemos isso!
Uma mentira nunca vai ser uma verdade, e na maioria das vezes um dia vai ser descoberta. Uma mentira não descoberta não é uma verdade, pois quem pregou a mentira sabe que não é verdade e assim sendo não vai se sentir bem.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

A Escola: lugar privilegiado da Reflexão e Ação



(= local de protagonistas)

Equipe Filosófico pedagógica do Centro de Filosofia e Editora Sophos

A escola é um ambiente rico e amplo de diversas manifestações de inteligências e protagonismo entre crianças e adolescentes. A mudança de olhar dos educadores é fundamental em relação aos seus alunos. Cada aluno possui algumas ou várias potencialidades em determinadas áreas. O maior compromisso da educação é valorizar e assim oferecer aos alunos a oportunidade de arriscar em novos projetos, construindo uma sólida base de cidadania.

Desafios pedagógicos

Crianças, adolescentes e jovens não querem estar à margem, como aconteceu em vários momentos do processo histórico brasileiro. Querem, sim, que lhes sejam oferecidos espaços de discussão que impulsionem sua ação sociopolítica.
O grande desafio para a escola do nosso tempo é dar voz e vez a estes cidadãos. A missão do educador é a de ser um provocador constante do protagonismo. Mas são eles, crianças e adolescentes, que, interpretando o mundo que os rodeia, contribuem indicando rumos e praticando cidadania. E, neste sentido, quatro linhas de ação devem ser observadas:

· Apresentação da “situação problema”;
· Propostas de alternativas ou caminhos de solução;
· Discussão das alternativas de soluções apresentadas;
· Tomada de decisão. E, neste ponto, o educador deve observar sua postura para evitar condução, inibição ou incentivo na participação dos jovens.

“A bola na mão da galera”

Crianças, adolescentes e jovens elaboram projetos com metodologias de intervenção na realidade em que se encontram. Com ideias na cabeça e colocando a mão na massa, elaboram caminhos que traduzem os anseios. São projetos que mostram o protagonismo infantojuvenil, quando os objetivos, as justificativas, as atividades previstas, a avaliação, e os recursos para sua efetivação são definidos.
Afinal, dentro da lógica pedagógica do protagonismo, é importante ressaltar que ele é um exercício de erro e acerto. Portanto, é preciso que o mundo adulto não se julgue dono da verdade e não se imponha ao primeiro sinal de dificuldades ou de desafio.
Pensando bem, o protagonismo é capaz de gerar, desde já, indivíduos mais críticos na sua participação social. Portanto, é preciso desenvolver uma política orientada por novos significados, novos valores inspirados no que o mundo infanto-juvenil tem para oferecer. Temos condições para isto, o que é necessário é termos criatividade e sermos atuantes, trazendo para as discussões e decisões as crianças e os adolescentes.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Autopunição e autorrecompensação



Armando Correa de Siqueira Neto*
Tomar água para acabar com a sede é um comportamento desencadeado por uma motivação clara. Outros comportamentos, contudo, não possuem tal transparência para explicar o que os motivou. Agressão descontrolada advinda do conflito originado entre o ser primitivo que ainda somos e o controle social, por exemplo, demonstra a existência da inconsciência na psicologia humana.
Logo, em razão do controle civilizatório que a sociedade impõe aos seus, carrega-se no ensino das regras que regulam o convívio. (É oportuno lembrar que muitos buscam o apreço social e, portanto, se submetem melhor aos limites sociais por causa dessa dependência.) Na infância, a fiscalização é feita de fora para dentro através do ensino, reprimendas e castigos e, com o tempo, tal fiscalização tende a se introjetar e alcançar, de dentro para fora, o autocontrole. Mais: o biólogo evolucionista Marc Hauser, da Universidade de Harvard, publicou recentemente a pesquisa na qual afirma que o cérebro possui um mecanismo geneticamente determinado para adquirir regras morais. Não obstante, a demasiada carga do que se aprendeu sobre as regras de convivência pode promover um conflito bastante peculiar entre essa aprendizagem e um dado comportamento contraditório.
A desestabilização que se segue requer um ajuste correspondente. Assim, conforme o grau do conflito, introduz-se o reparo estabilizador em busca da superação e do decorrente avanço. A luta pela perfeição, argumenta o psicanalista Alfred Adler, “é inata no sentido de que faz parte da vida; uma luta, um impulso, um algo sem o qual a vida seria inimaginável.” Entretanto, só é possível dar cabo do ajuste pretendido aplicando-se uma ação concreta de igual teor e contrária ao motivo que desencadeou o conflito, na tentativa de neutralizar (ou minimizar) os efeitos da fonte provocadora, extraindo-se lucrativamente mais aprendizagem e aperfeiçoamento.
A ação concreta contrária e de teor semelhante diz respeito à autopunição ou autorrecompensação psíquica. O seu objetivo é ajustar o que se desajustou. É um processo sensível e sinaliza inteligência adaptativa, impedindo, pois, que ele seja rotulado de movimento meramente mecânico, embora haja uma correspondência quase matemática quanto à compensação do débito ou do crédito, quantitativa e qualitativamente mediante o que se descompensou. A ação autopunitiva ou autorrecompensadora se manifesta através dos comportamentos - motivados inconscientemente – de reparação, ainda que não se enxergue como tal. Encaminhamos-nos a tais condições para atender à determinação psicológica (quiçá genética) que incomoda e gera gasto de energia na sua manutenção enquanto houver qualquer tipo de pendência. Nos “atiramos” a várias situações “impensadas” e nos chocamos com os “esquisitos” resultados. Sentimos-nos injustiçados se perdemos algo, ou dotados de sorte se ganhamos algo com o qual não contávamos. É estranho, e nos faz perguntar intimamente: o que eu fiz para merecer isto? Mas, curiosamente, tal questão parece ter sido respondida há séculos por alguns pensadores. Há dois mil e setecentos anos Hesíodo escreveu: “nasce o castigo no momento mesmo em que nasce o pecado”. Epicuro declarou que “o primeiro castigo do culpado está em não poder absolver-se a seus próprios olhos”. Michel de Montaigne afirmou que “o mal recai em quem o faz”. E ainda, na exposição de Epcteto: “A maioria das pessoas não se dá conta de que tanto o auxílio como o prejuízo pessoais vêm de dentro de nós mesmos”. Autopunição e autorrecompensação?
 Cumpre-se lembrar que o processamento autorreparador encontra-se no grau de desenvolvimento pertinente ao nível de consciência do seu autor, permitindo assim justificar a sua inevitável e visível insuficiência (baixo nível de aprendizagem para fazer oposição conflitante ao comportamento contraditório; lentidão no processamento e consequente dificuldade de se fazer conexão causal e autoengano). E note-se com a merecida ressalva, o fato de os estudos acerca da inteligência emocional já terem revelado que a deficiente formação da empatia na pessoa (maus tratos na infância) pode levá-la à incompreensão e à típica dificuldade de se colocar sensivelmente no lugar do outro, resultando em descaso e frieza afetiva. Vale a pena pensar no assunto com prudência.

*Armando Correa de Siqueira Neto é psicólogo (CRP 06/69637), diretor da Self Consultoria em Gestão de Pessoas, palestrante, professor e mestre em Liderança pela Unisa Business School. Coautor dos livros Gigantes da Motivação, Gigantes da Liderança e Educação 2006. E-mail: selfcursos@uol.com.br

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Um grito de identidade



Prof. Jackislandy Meira de M. Silva
Repare bem cautelosamente se você já se viu em alguém. Pode ser alguém da família, seus pares ou membros de um grupo; alguém com quem você desenvolveu seus afetos, sua intimidade, cuja reciprocidade fora aumentando pouco a pouco até não parar mais. Geralmente, além de pessoas, nos identificamos também com lugares, profissões, estudos. Mas, os que marcam mesmo nossas vidas, a bem da verdade, são nossos pais, irmãos, tios, tias e avós, sem desmerecer, claro, a descoberta de um amigo ou de uma pessoa amada.
Ver-se em alguém é identificar-se com este alguém, ultrapassando os limites da aparência. Via de regra, a aparência da identidade está fixa e inerte em registros de identidade, onde cada qual apenas estampa no papel sua face para fins burocráticos e sociais. A identidade não é simplesmente um documento de papel que carrega sua impressão digital e foto, bem como o nome bastante apresentável, aprisionada numa carteira ao bolso, senão guardada e abandonada em gavetas ou pastas.
Perder a identidade para a cultura grega significa perder a vida, equivale a estar realmente morto: “Para os gregos, o que caracteriza a morte é a perda da identidade. Os mortos são, antes de mais nada, sem-nome ou mesmo sem-rosto. Todos que deixam a vida se tornam anônimos, perdem a individualidade.(...) É essa despersonalização que caracteriza a morte aos olhos dos gregos(...)”. (In FERRY, Luc. A sabedoria dos mitos gregos. Aprender a viver II. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009, p. 145).
Descobrir seu eu no mundo, seu lugar no tempo/espaço da história é ver-se na mais translúcida imagem de sua subjetividade; é descobrir-se para si mesmo e habitar um mundo possível, crescente, dinâmico e infinito, movido pelo despertar semelhante ao do filho de Ulisses, Telêmaco, quando da sua busca incessante por notícias do pai que estava a vaguear pelo mundo, perdido e com saudades de casa.
As primeiras quatro partes ou capítulos da clássica obra de Homero, a Odisseia, revelam essa busca incansável do jovem pela confirmação dos belos feitos do seu pai, rei de Ítaca. A saída de Telêmaco da ilha ao encontro do pai representa sua saída ao encontro de si mesmo. Assim como Telêmaco, um homem precisa de aventuras ou precisa satisfazer o desejo da maravilha, da curiosidade de querer ver as coisas para forjar, no sofrimento e na nostalgia de casa, a personalidade, construir o caráter e, definitivamente, encontrar seu lugar mundo, quem você é e por que está aqui.
Todos temos uma identidade, quando sufocada e presa, grita de dentro de nós. É o grito da alma humana pelo reconhecimento de sua própria identidade.
Como não acenar aqui para a tão reconhecida obra de Milan Kundera, a identidade, em que Chantal, personagem central da trama, reclama repetidamente por identidade quando pensa: “Vivo num mundo onde os homens nunca mais irão se virar para olhar para mim”. Só que, ao saber quem, de fato, era Chantal, pouco antes de declarar que havia se enganado, Jean-Marc saboreia o prazer de olhar para ela e percebe que Chantal é o “seu único vínculo sentimental com o mundo”, pois “só ela, e mais ninguém, o liberta de sua indiferença. Só por intermédio dela é capaz de se compadecer”. Acordada de seu sonho, pelo “grito” de Jean-Marc, a bela Chantal não quer perder de vista a identidade de seu amor: “Não vou mais tirar os olhos de você. Vou olhar para você sem parar”.

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Especialista em Metafísica, Licenciado em Filosofia, Bacharel em Teologia e Pós-graduando em Estudos Clássicos pela UNB e Archai Unesco.