quinta-feira, 30 de agosto de 2012

ALGUMAS IDÉIAS QUE PODEM FAZER A DIFERENÇA NA ESCOLA ONDE VOCÊ TRABALHA


Escrito por Ivo José Triches[1]

Você encontrará neste artigo uma reflexão sobre o tema proposto e a partilha do que está ficando de bom depois de vinte e cinco anos de experiência como Educador.
 No fundo, minha intenção é socializar algo de muito bom que está acontecendo conosco em nossa escola, aqui em Cascavel, no Paraná. Se isso for considerado significativo por ti, faço votos que tais ideias sejam incorporadas no seu fazer pedagógico.
Antes propriamente de adentrar ao tema proposto é importante que se diga que não tenho a pretensão de dizer que são as melhores experiências ou ideias. Pelo contrário. É com espírito alterdidata que faço isso, ou seja, desejo guardar o que aprendi no coração dos meus amigos e amigas e nos demais educadores que lerão tal escrito.

1.  Qual é sua causa? Sua escola tem uma?
Estou seguro que a primeira coisa que precisa ficar clara é o entendimento dos atores sociais acerca de que qual é a causa da escola em que trabalham. Em outras palavras: qual é a missão? Todo tem claro qual é? Será que direção, professores, equipe pedagógica e os demais assimilaram essa causa?
Qual é a sua razão de ser como educador ou educadora? Isso fica evidente nas obras de cada um. Espinosa disse no capítulo V de sua obra denominada Tratado Teológico-Político, que só podemos conhecer alguém pelas suas obras. Nestes anos todos trabalhando com educação pude perceber que há, basicamente, dois grupos: existem aqueles que vivem para e da educação e outros que vivem somente da educação. Isso tanto nas escolas públicas, como naquelas cujo ensino é privado.
Portanto, se está claro para os atores sociais qual é a causa central da escola em que você trabalha o caminho a ser percorrido será mais leve. Neste sentido, Santo Agostinho disse numa certa feita: “Se houver um caminho entre aquele que marcha e o objetivo para o qual tende, há esperança de atingi-lo; se faltar o caminho, de que serve o objetivo?”
Para que a missão seja assimilada por todos, uma sugestão é que sejam confeccionados vários banners sobre a mesma e que também sejam definidos os principais valores que são preconizados pela escola.
Agora passemos ao passo seguinte. Nele enfatizarei a importância do APP – Assessor Pedagógico de Pátio.

2.  A razão de ser do Assessor Pedagógico de Pátio - APP
Esse neologismo foi criado por mim com clara intenção de substituir o velho conceito que se tem nas escolas, qual seja, a figura do inspetor de alunos.
Esse por sua vez, ao menos nas escolas em que trabalhei, faz até hoje o papel de disciplinador, que “entrega” os alunos pa ra a direção ou para as coordenadoras pedagógicas.
De modo geral, fica ocioso durante as aulas, e seu trabalho se resume aos horários de intervalo entre as aulas, e na entrada e saída dos alunos da escola.
Neste ano, estamos fazemos uma experiência diferente aqui em nossa escola. Depois de termos feito a capacitação do nosso APP, mudamos seu papel na escola. Ele precisa trabalhar o tempo todo. Fica circulando nos corredores. Os alunos só saem da sala com um cartão autorizado pelos professores. Ao saírem, ele os acompanha ao local de destino.
Está constantemente orientando os alunos. Faz mesmo o papel de pedagogo no sentido etimológico da palavra. Procura conduzir os educandos no caminho do bem.
Lembre-se: o ser humano precisa se acompanhado. Por que quando alguém está num grupo faz coisas que sozinho não faria? Porque no grupo a pessoa consegue dividir a culpa. Um vai tentar jogar a culpa sobre o outro. Em outras palavras: o Freud chamou isso de mecanismo de transferência, ou seja, projeto nos outros as coisas que são de minha responsabilidade.
De tal modo que se o APP está presente o tempo todo orientando, acompanhando o movimento dos educandos, eles, ao sentirem que estão acompanhados, não terão coragem de “aprontar”.
Ao menos até aqui os resultados vem sendo muito bons. São unânimes os comentários de aprovação dos professores e equipe de coordenação, em relação ao bem que está fazendo a presença contínua do APP do lado de fora das salas.
Estou cônscio que a presença de um bom APP diminui o custo fixo das escolas. Muitas vezes há excesso de pessoal nas equipes de apoio aos professores, sem produzir os resultados desejados. Aqui em nossa escola isso foi uma realidade.

3.  A importância de professores comprometidos
No tocante a essa ideia creio que há consenso entre nós. Por isso dispensa maiores comentários.
 Termos uma equipe de professores que vivenciam a práxis-orgânica[2], faz toda a diferença. Razão pela qual é fundamental que a escola invista continuamente na formação do seu quadro docente, mas entendo que é fundamental que eles sejam ouvidos acerca dos temas a serem abordados.
4.  A importância de um bom diretor (a) na escola
Em face dessa temática recordo-me de uma palestra que assisti de uma professora da UnB, em 1995. Ela foi a Curitiba falar sobre o paradigma da qualidade total. Trata-se de Cosete Ramos. Lembro-me que discordei dela na ocasião sobre essa questão, mas pula isso agora.
 Contudo, ela ensinou-me algo com o qual concordo. Disse: “a porta da qualidade de uma escola começa pela direção”. Hoje veja que isso é uma verdade. O (a) diretor (a) necessita ter liderança. Se ele/ela for um ator social que leva a sério a materialização da práxis-orgânica, os demais tendem a segui-lo.
       É dele a responsabilidade de cuidar do clima organizacional, entre outras tantas coisas. Sua forma de agendar na Estrutura de
Pensamento dos seus liderados fará toda a diferença.
       No livro Aprender a Viver, de Luc Ferry (ex-ministro da Educação da França), há algo que também me marcou. Que se quisermos ter um mundo mais sustentável, devemos lutar com tanto afinco, como se isso dependesse só de nós.
       Assim eu vejo o papel de uma direção de escola. Alguém tão comprometido com o fazer pedagógico que está sempre buscando se superar. Alguém que tenta fazer melhor aquilo que já está conseguindo fazer bem. Por conseguinte, sua equipe irá segui-lo. Ao menos é assim que o mundo me parece.
5.  Por que ter o xadrez na escola?
Há várias razões que justificam esse projeto nas escolas. Aqui, de forma breve, vou elencar algumas:
- o investimento é relativamente baixo;
- esse jogo é fundamental para a ginastia da inteligência, ou seja, da mesma forma que necessitamos exercitar nosso corpo para termos longevidade, nossa mente também necessita. O xadrez é ótimo no tocante a isso. Eu mesmo sou testemunho disso. Aos 16 anos, depois de ter reprovado por 04 vezes, uma das coisas que ajudou a melhorar minha aprendizagem foi o xadrez. Tornei-me um jogador razoável, e isso também foi fundamental nas aulas de lógica que tive na faculdade. Até hoje sinto os benefícios do xadrez em minha vida:
- nesse jogo aprendemos a conviver com pessoas de diferentes classes sociais;
- aprendemos que a disciplina e a concentração são fundamentais se quisermos atingir nossos objetivos.
Enfim, entendo que são tantos os benefícios do xadrez que uma escola que pretende ter bons educandos necessita ter esse projeto em suas dependências.
6.  A importância da valorização das múltiplas inteligências
Coloquei esse título para dar uma dimensão mais lato sensu ao que pretendo dizer. Ao tratar das múltiplas inteligências estou me referindo a tudo o que pode ser acrescentado às atividades da escola, além do ambiente da sala de aula. Notoriamente que o espaço onde ocorrem as aulas também é um momento privilegiado para que os educadores trabalhem essa temática.
Contudo, serei mais específico. Nós temos um projeto em nosso Colégio que é o do teatro. Os resultados estão sendo fantásticos. É visível o quanto alguns alunos amam o teatro. A grande maioria quer participar. Há vários momentos que chamamos os pais para assistirem às apresentações do que seus filhos prepararam. O contentamento dos pais também é enorme. Existem apresentações deste o maternal até o Ensino Médio. Os pais têm oportunidade de assistirem vários porque começamos a colocar as apresentações não de forma sequencial, mas intercalando os anos de ensino. Assim fica nítida a evolução no crescimento das crianças.  Havia vários alunos que sofriam com o isolamento social. Hoje com o teatro se soltaram, começaram a interagir com o grupo. Sua autoestima melhorou, e é claro o indicativo que teremos grandes artistas se destacando nas artes cênicas num futuro breve.
       Razão pela qual penso que o ensino das artes em geral é fundamental no processo ensino-aprendizagem. Notoriamente que destaquei aqui o teatro por que é o que vem dando certo em nossa escola, mas há outros, como música, o trabalho com argila, etc.
7.   No tocante aos feitos: qual é a obra da sua escola?
Estou lhe escrevendo sobre isso para dizer que estou convencido que uma instituição de ensino que pretende ser séria necessita ter ações concretas. De nada adianta, por exemplo, falar do meio ambiente se não agir no ambiente. É preciso sujar as mãos no sentido gramsciano da palavra. Para ele isso significava a mão na massa. Ter obras faz toda a diferença.
Lembre-se: as palavras convencem, os exemplos arrastam. Esse provérbio chinês vem ao encontro do que defendo. Por isso concordo com Espinosa quando diz que é pelas obras que conhecemos alguém.
Neste sentido, Lúcio Packter sistematizador da Filosofia Clínica, sempre nos ensina que nossa história é nosso testemunho.
Dessa forma é preciso que consigamos envolver nossos estudantes em ações concretas. Demonstrar como é possível materializar o que falamos em sala, no que acreditamos.
Acerca disso lembro-me ainda, de que no ano de 2011, por ocasião do Dia Mundial do Meio Ambiente fomos com alguns educandos do Ensino Médio fazer a limpeza do principal rio que abastece a cidade de Cascavel. Depois desse feito os alunos deram testemunho do quanto aquilo havia sido importante para sua formação. Passaram a ver a questão ambiental de forma diferente.
Na época que estudei na vida religiosa, vários foram os formadores que contribuíram de forma decisiva na minha formação. Destaco aqui um deles, o Padre Mário. Ele era um homem de ação. Ele ia à frente. Não só falava, fazia. Vivia o que falava.
O que fica são nossas atitudes, nossas abras. Se as mesmas forem humanistas, nos eternizaremos no coração dos nossos educandos. Teremos o reconhecimento da sociedade. Vide a vida e a obra de Paulo Freire.
 Ao chegar ao final desse artigo, sinto-me em paz por poder ter partilhado contigo, o que estamos vivendo em nossa escola. Minha intenção central não foi lhe mostrar que o fazemos é melhor do que as outras instituições estão fazendo, mas sim, encorajar você a continuar suas ações como educador ou educadora. Isso na escola, em casa ou no local em que trabalha. Vale a pena a luta quando estamos cônscios de que não estamos sozinhos. Que há muitas pessoas tentando dar o melhor de si para ajudar a Educação do nosso país a ser melhor.
Quando fazemos o é que bom para nós e para o conjunto da humanidade, os resultados chegam. Por isso o provérbio patitentia est ars pacis (a paciência é a arte da paz) tem sua razão de ser.


[1] Ivo José Triches
Especialista em Filosofia Pensamento Contemporâneo pela PUC-Pr;
Em Filosofia Política pela UFPR;
Filosofia Clínica pelo Instituto Packter
Mestre em Mídia e Conhecimento pela UFSC.                        
Professor e membro do Conselho Gestor do ITECNE.
Diretor do Colégio e das Faculdades Itecne de Cascavel

[2] Esse neologismo foi criado por mim e está no livro Um caminho para viver melhor. Trata-se da relação dialética entre dez dimensões. A teoria, a prática, a tekne, o comprometimento, a sociabilidade, a poésis, o escolher-se, o humanismo, o alterdidatismo e a vontade. Tal livro  foi editado pela nossa Editecne.  Caso tenha interesse ele está à venda nas Livrarias Curitiba ou comigo pelo endereço ivo@itecne.com.br