quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Para início de conversa Refletir sobre a Reflexão

Prof. Geverson Luz Godoy

Palavras chaves:
Refletir, espelhar, pensar, analisar, compreender, articular, administrar, clarear, flexibilidade, valores, ética, política, atitude, tomada de decisão, ser humano, tolerância, ser exemplo.

A cada ano que se inicia, fazemos um balanço sobre a vida, seus valores e acontecimentos. Começar bem é 50% da caminhada e, nada melhor do que iniciar com uma reflexão sobre a reflexão.

Ao refletir um pouco sobre alguns conceitos e a vida, cheguei num ponto em que pensei ser a reflexão algo bastante curioso. Tentarei fazer uma analogia entre o pensar enquanto reflexão e o reflexo do espelho, assim como o olhar de outras pessoas como nossos espelhos. Concluí que o pensamento, o espelho, o vidro e o olhar pertencerem ao mesmo grupo da reflexão.

O que me levou a esta analogia é que quando me vejo no espelho, e me deparo com a minha imagem refletida no mesmo, percebo que não me vejo da mesma forma que as outras me vêem, referindo-me apenas a condição física, considerando que os outros percebem em nós tantas outras dimensões além da condição física. Porém as duas formas possuem as suas individualidades e importância.

O olhar assim como a percepção, é algo subjetivo, ou seja, propriedade do sujeito, portanto o que o espelho reflete a mim, ocasiona-me uma percepção e concepção da minha imagem, que não é percebido da mesma forma pela leitura de outras pessoas.

Aqui temos dois instrumentais de devolução de imagem, e/ou comportamento, que mediam o conhecimento sobre a mesma. O espelho enquanto instrumento estático, reflete e representa a imagem fidedigna ao que é, já o olhar das outras pessoas nos devolvem as suas leituras da percepção de nossa pessoa, física ou comportamental.“Somos espelhos uns dos outros, pois as outras pessoas são quem nos transmitem aquilo que não percebemos em nós”. (Geverson Luz Godoy)

Assim como o contato com a nossa imagem devolvida pelo espelho, a descrição de outra pessoa, faz termos outra concepção de nós mesmos, que não teríamos se não nos conhecêssemos por estes meios, espelho e pessoas. Acredito até que este processo da contemplação de nossa imagem no espelho, ou sermos percebidos por outras pessoas, nos tornam um pouco mais humanos, pois através do processo de reflexo, podemos saber como estamos e representamos no mundo.

Vou falar um pouco da escola, que é o local de socialização onde nós educadores nos relacionamos a maior parte do tempo e onde todas as nossas dimensões: físicas, religiosas, políticas, pessoais, humana-afetivas, são analisadas por todos os que fazem parte desta comunidade, principalmente pelas crianças. Conforme for o comportamento do professor, pode ser um ótimo espelho aos seus formandos, enquanto algo a ser seguido, como bússola, paradigma, modelo a ser copiado.

Em um primeiro momento levei em consideração o olhar e percepção enquanto espelho e devolução de imagem e comportamento, neste segundo instante o espelho são os comportamentos dos adultos a serem seguidos pelas crianças, educandos. Isto nos revela que o ser humano é sujeito e objeto de sua própria educação. Nos espelhamos no olhar de outras pessoas, o que pensam sobre nosso comportamento, assim como espelhamos aqueles que desejam seguir nosso caminho.

Toda esta analogia é para enfatizar que a reflexão é um processo em contínua mutação, que sofre metamorfoses e que depende de nossos sentidos e percepção para a sua compreensão.

Até então falei de objetos externos de reflexão, daqui em diante, inicio outro processo de reflexão, na forma de compreender o homem em Pascal onde afirma ser o homem um caniço pensante. Quero olhar para dentro de meus pensamentos e perceber o que compreendo sobre o assunto do momento, Educação, Ética e Política, ou educação ética na política que é o que nos tem faltado.

Educação, Ética e Política, acredito que são três conceitos responsáveis pelo equilíbrio na convivência entre as pessoas e o cosmo. A Educação responsável pela tomada de posse do conhecimento de conceitos e das regras, a Ética responsável pela criação e manutenção das mesmas, dentro de um bom senso humanístico, e a Política pela garantia de manutenção e administração das regras, mantendo sempre o bom senso, garantindo uma boa convivência entre as pessoas na sociedade.

Penso que toda ideia exposta seja tendenciosa, voltada para uma ideologia, uma corrente, um sistema, uma metodologia, enfim, a ideia transmitida através da palavra escrita ou falada possui um ponto de partida em nossa formação de concepção das coisas, pois somos seres situados no tempo e espaço, de forma social, política, psicológica, antropológica, histórica, religiosa. Ninguém é neutro, todos possuímos conhecimentos e ignorâncias, a segunda em maior grau que a primeira.

“As avaliações positivas de outrem sobre nossa pessoa nutrem nossa autoestima, as avaliações negativas fortalecem nossa autoconsciência” (Geverson Luz Godoy)

Falando em ignorância, lembrei-me do grande filósofo grego Sócrates. O que sabemos sobre Sócrates foi-nos transmitido por outros filósofos que foram seus discípulos, como Platão por exemplo, que fala sobre a vida do mestre em seus diálogos.
A forma de Sócrates compreender o mundo foi espelhada em sua mãe, que era uma parteira. Espelhando-se então na metodologia da profissão da mãe, Sócrates criou o seu método filosófico chamado “maiêutica”, que significa tirar de dentro. O comportamento de Sócrates correspondia ao que pregava, pois na sua sempre busca pela verdade, dizia nada saber, “sei que nada sei”, afirmando que sempre temos o que aprender. Para alcançar o seu objetivo de busca pela verdade, o filósofo utilizava a dialética como metodologia.  Através do diálogo, Sócrates levava o seu interlocutor ao ponto de reconhecimento que não tinha posse do saber sobre o determinado assunto em questão.

Parafraseando um pensador brasileiro, Mario Sérgio Cortela, traz-nos como regra de vida e título de uma de suas obras, “Não nascemos prontos”. Compreendendo isto, devemos rumar para a construção do ser humano, que é o que queremos ser. A vida humana é um tempo curto, mas o suficiente para a compreensão de que podemos ser melhores a cada dia. Nesta obra, Cortela diz que ao passar o tempo não ficamos mais velhos, muito pelo contrário, neste exato momento afirma o autor, que sou a versão reeditada, revisada e ampliada do novo eu. Não somos como os objetos, lápis, geladeira, calçados que nascem prontos e vão se acabando para a sua finalidade conforme sua utilização. Nós humanos vamos sempre acrescentando conhecimentos, experiências e vivências que vão tornando-nos cada vez mais humanos.

É sobre a construção do SER Humano que temos que trabalhar com mais afinco. Precisamos afirmar valores positivos, pois tenho percebido uma metodologia (espelho) enfraquecida nas abordagens governamentais quando se referem a assuntos de saúde pública, segurança e educação por exemplo. Um exemplo é o caso do tabagismo, onde nos finais das belas propagandas de cigarros, o ministério da saúde adverte que fumar é prejudicial a saúde. Nas carteiras de cigarros aparecem fotos de pessoas com câncer de pulmão, com enfisema pulmonar, impotência sexual, queda de cabelo, aborto e etc. A metodologia do ministério da saúde não deveria ser de forma positiva? Oferecer meios saudáveis as pessoas para manterem sua saúde física e mental ocupadas, de forma que não necessitem de uma substancia química que provoque vício e malefícios a sua saúde seria de bom grado, como por exemplo: Pratique esporte, exercício físico fortalece sua saúde cardíaca.

Para ajudarmos neste processo educativo democrático - Ético-político - é necessário que orientemos os educandos (que sejamos espelhos) desde a primeira infância para a compreensão do que realmente importa na vida humana. Valores como a felicidade, construção da identidade, ver o outro como extensão de mim, respeito, cordialidade, cooperatividade, auteridade, simplicidade, humildade, fidelidade, cumplicidade, critérios, esperança, acreditar nos próprios sonhos, verdade, companheirismo e saber tomar decisões, valores desenvolvidos pelo S.E.R. (Sistema de Ensino Reflexivo) dentro das comunidades de aprendizagem investigativas.

Ocupados com outros valores (contra-valores) e conceitos, as pessoas que não saboreiam os valores que apresentei acima tornam-se adultos individualistas. Nesta visão de mundo, o cigarro que fumam, pagam com o seu dinheiro, portanto ninguém tem o direito de lhes cobrar algo.

Pragmatistas a ponto de não valorarem sentimento de fraternidade, imediatistas  a ponto de fazerem política da mesma maneira que se torce para um time de futebol, hoje se torce para um partido, amanhã para outro, conforme conveniências pessoais, partindo ao meio seus próprios partidos, e diante deste todo, a democracia se torna uma ditadura da maioria que não sabe que rumo tomar, por não saber onde quer chegar... Como já dizia o filósofo poeta Sêneca “não há vento favorável para o marinheiro que não sabe aonde ir”. Este mundo imediatista, materialista, individualista, tem ensinado que somente nós (indivíduo) podemos ser felizes e que, não dependemos de mais ninguém para isto.

O que estas teorias não levam em consideração é que a felicidade se constrói com valores positivos, tolerância, ética, práticas educacionais consistentes e políticas adequadas a uma boa convivência na comunidade.

Através da filosofia, utilizando uma corrente humanista, fundamentada na escola de Frankfurt, com características metodológicas sócio-histórico-construtivista, há 22 anos fazemos um grande trabalho na educação, chamando a atenção de todos os educadores, pais, professores e alunos, para participarem de uma educação reflexiva (Educação para o Pensar, Filosofia com Crianças, adolescentes e jovens). Queremos que todos possam fazer parte de uma grande comunidade de aprendizagem investigativa construindo todos juntos, novas vivências e conceitos, enfatizando muito mais o processo de aprendizagem do que o produto, pois somos eternos aprendizes no que diz respeito ao objeto humano.

Esta é a importância de outras pessoas em nossas vidas, ajudar-nos neste processo de espelhamento, para que possamos ter a consciência do que e de quem somos perante o universo, e procurarmos cada vez mais sermos melhores para conosco, com os outros, com a vida e com o mundo.

Para isto, enquanto espelhos precisamos orientar nossos educandos, para um pensamento de forma correta, coerente, crítica, criteriosa, autentica, autônoma, lógica, ética, estética e politicamente correta.

Concluo meu pensamento dizendo que a demagogia, “Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”, é a melhor forma de se colocar a perder os valores humanos supracitados, ou seja, pode ser um espelho desfocado, quebrado e que apresenta imagens destorcidas.

Prof. Geverson Luz Godoy
Assessor filosófico pedagoógico do S.E.R
godoy@portalser.net

2 comentários:

  1. Muito bom a relação feita entre o Refletir do espelho e a Reflexão do Ser humano. Estamos no caminho com o S.E.R. fazer o reflexo da realidade tornar-se real em nosso pensar. Parabéns a todos que participam e querem estar mais proximos.

    ResponderExcluir
  2. Sadinei Rodrigo Bruschi17 de fevereiro de 2011 às 04:13

    Parabéns Geverson pela instigante reflexão! Quem diria que um dia estaríamos tão imersos no mundo das ideias.

    ResponderExcluir