quinta-feira, 12 de maio de 2011

A Escola não se basta a si mesma

Jackislandy Meira de Medeiros Silva

Acreditar nisso é um dever. Não aceitar é uma tolice. Nem sequer pensar é uma loucura. Dever, tolice, loucura. Em qual das três você se encaixaria? Ah, não importa. O que importa de fato? Bem, “o nada se basta a si mesmo” é uma ideia forte, e se faz pertinente seja lá como for, pois estamos atolados até o pescoço na existência.
Olhem em volta. Olhem para cima. Olhem para baixo. Olhem para dentro. Simplesmente não olhem. Soltem-se e percebam essa estranha sensação, a de que estamos lançados na existência. Não era isso o que dizia Sartre no seu “O existencialismo é um humanismo”?
Quanto mais o tempo passa, mais e mais nos convencemos de que não sabemos tudo de nada. Ninguém, na verdade, se basta a si mesmo. Há coisas que importam e que não importam. Mas, como é fácil confundir as duas. Na vida, estamos sempre na linha do horizonte entre opiniões absolutas e opiniões relativas. Na área da Educação, tem muita gente confundindo as duas coisas, quando nem ainda se tornaram ideias, mas ainda estão no campo das opiniões, do achismo, do empírico. O problema é que somos facilmente levados ou tentados a traduzir estas opiniões, melhor dizendo, por ideias absolutas dentro da Escola, o que não é muito produtivo. Para mim, a palavra Escola, de semântica diferente, tem significado semelhante ao da palavra Universidade, onde reúne uma diversidade de ideias, de opiniões e de conceitos para experimentar o debate. Atitudes extremas, radicais e unilaterais não combinam com um ambiente eminentemente diverso da Escola.
Em se tratando de Educação, há muita gente tomando a parte pelo todo mais do que se imagina, pensando que suas ações são eternas e universais, com forças sobre-humanas até, ignorando muita gente boa que se desdobra por uma educação mais criativa. Mas, tudo muda também na Educação, não nos esqueçamos dessa verdade. A educação de 30 anos não pode ser mais a mesma de hoje. Os conceitos mudaram, o mundo mudou. A história também. As informações estão mais rápidas. As relações estão meio que instantâneas e imediatas, o que prova que não somos mais os mesmos. Como diz acertadamente a música de Lulu Santos, “Como uma onda no mar”, “Nada do que foi será igual ao que já foi um dia, tudo muda o tempo todo no mundo, não adianta fingir, nem mentir para si mesmo agora, há tanta vida lá fora... Num indo e vindo infinito”. Se observarmos com cuidado, todos estão em volta da ideia de mudança, mesmo que isso cause um desgosto danado.
Em média, um aluno passa de 14 a 15 anos mais ou menos na Educação Básica que compreende Educação infantil, Ensino Fundamental e Médio no Brasil, o que chega a ser um tempo bastante considerável em que a Escola poderá ajudá-lo a decidir melhor sobre a carreira ou a profissão almejada. Em relação ao Professor, o aluno fica pouquíssimo tempo na Escola; já o Professor permanece em média de 30 a 40 anos na Escola. Aliás, muito mais tempo que isso, admitindo seus anos de formação, da Educação Básica passando pela Universidade até ao término da pós-graduação. Junte tudo isso e verás que o Professor passa uma vida inteira dentro da Escola.
Por isso e por muito mais, o Professor deveria sim ser muito bem tratado nesse país, na sua cidade, na sua comunidade, e sobretudo, na sua Escola, despertando o apreço e o respeito de seus alunos.
Por entrar numa Escola, ninguém está obrigado a ser médico, professor, engenheiro, cientista, pedagogo, odontólogo, filósofo, físico, químico ou matemático, mas alguns o são, e isso é bom. Da mesma forma que há os que não querem ser nada disso, o que também é um valor, vai ser outra coisa na vida, sem necessariamente ter uma profissão específica, o que também é muito bom. Ou seja, a Escola não vai determinar nada para o aluno; simplesmente, irá apontar caminhos e alternativas, para depois ou durante o processo de aprendizagem, poder escolher conforme queira.
A Escola, como tudo na vida, é uma passagem, um caminho, um percurso, uma etapa importante de nossa breve existência. Ela, por isso, não se basta a si mesma. Ela não é suficiente em tudo. A Escola precisa do apoio e acompanhamento da família, das igrejas, do poder público, das instituições em geral, da sociedade para ampliar mais ainda o conceito de uma Educação que quer ser cidadã. Mas, para isso, é urgente a consciência de que não nos bastamos a nós mesmos, ao invés de nos revoltarmos contra os Profissionais da Educação, levantando possíveis suspeitas quanto à responsabilidade de suas atividades pedagógicas. Será que exigimos de nós mesmos o quanto exigimos dos outros?
Façamos do tempo de Escola, um período propício, oportuno e gracioso de aprendizagem. Aprender, sobretudo, a aceitar o diferente com toda estranheza que há nele, pois a Escola é o lugar por excelência do choque de ideias, onde as opiniões se encontram e se desencontram, onde nascem os novos conceitos, onde as várias cabeças se tocam e se conflitam para colocar em movimento pensamentos frios e envelhecidos postos alguma vez no papel.
A Escola não se basta a si mesma, mas é necessária: Sem as Escolas, como os conceitos iam nascer? Sem as aulas, como os pensamentos iam mudar? Sem os debates, como íamos aprender? Sem estudar, como iríamos saber errar?

4 comentários:

  1. Colega Jackislandy...
    O oitavo e nono parágrafo do seu texto resumem aquilo que nós profissionais(?) da Educação necessitamos desenvolver para que desse caos existencial não deixemos de apontar, primeiramente a nós mesmos e posteriormente àqueles a quem nos arvoramos a "ensinar", caminhos de compreensão mútua nossa única "arma", penso eu...
    Um abraço entusiasta.

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  2. concordo, e infelismente deixamos de fazer muitas ações na escola por medo da aceitação dos outros,isto por que,no meio social se formos muito ousados em um lugar que poucos o fazem, pode parecer loucura e ninguém vai te ouvir, tenho acreditado que viver é um risco e já que estamos aqui, jogados no mundo, é viver e agir ou viver e fugir.. Na escola não tem saída, mesmo que não me creiam eu já fiz a minha escolha.

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  3. Que texto bacana!

    Vou trabalhar com ele em sala de aula! Depois conto o que deu!

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  4. Colegas professores, muitíssimo grato por dedicar um pouco de seu tempo para ler e refletir algumas poucas palavras sobre o dilema de se trabalhar numa Profissão tão desvalorizada por isso mesmo desafiadora, que cobra de nós competência e autocrítica. O texto tenta mostrar que a Escola, por mais que seja um ambiente peculiar para educar, não é suficiente. Temos que ter consciência disso e procurar parcerias de toda ordem, inclusive da família. Não sei se me fiz entender, mas assumo a possibilidade do risco.

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