quinta-feira, 1 de novembro de 2012

O ENSINO MÉDIO EM DEBATE


Jéferson Dantas[1]



O Ministério da Educação (MEC) chegou a uma óbvia conclusão: poucos jovens no Brasil ascendem ao ensino médio, o que significa que esta etapa de escolarização representa pouco mais de 40% da população escolar que inicia o ensino fundamental. Aliás, ao se discutir com profundidade o ensino médio devia-se também analisar em que medida o ensino fundamental tem conseguido motivar a continuidade dos estudos de crianças e jovens, principalmente oriundos da classe trabalhadora com poder econômico restrito. Em Santa Catarina, após a divulgação dos últimos dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), houve certo alarde do poder público estadual em divulgar por meio de diversas mídias o quanto o estado apresenta uma educação de qualidade. Ora, ao se fazer tal análise, torna-se crucial que se quantifique e se qualifique tais indicadores, pois as metas a serem atingidas pelo IDEB ficam escamoteadas no interior de escolas públicas bem classificadas (que são poucas) e várias unidades de ensino com índices bem abaixo da média; isto se deve à elevada rotatividade de professores, péssimas condições de trabalho, salários aviltantes e ausência de formação continuada em serviço oferecida pelo Estado.

Nesta direção, recentemente o MEC sinalizou mudanças efetivas no currículo do ensino médio, antenadas com o que estava previsto nos Parâmetros Curriculares Nacionais de 1999, que recomendava que esta etapa da educação básica fosse dividida em três grandes áreas: 1) Linguagens, Códigos e suas Tecnologias; 2) Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias; 3) Ciências Humanas e suas Tecnologias. Teoricamente, tais mudançasque deverão estar atualizadas nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médioterão de incentivar e/ou fomentar a interdisciplinaridade e a pesquisa por parte dos estudantes, pois os conteúdos não estarão mais organizados de forma monodisciplinar. Isto implica numa mudança na organização da atividade docente, pois os professores precisarão se encontrar mais no ambiente escolar para planejarem de forma coletiva, o que é muito auspicioso. Há, contudo, receios nada infundados de que tal organização curricular se assemelhe àquele difundido pela Lei 5.692/1971 do período da ditadura militar (1964-1985), em que as Licenciaturas Curtas se alastraram em detrimento das áreas de conhecimento específicas. Em outras palavras, pode-se incorrer em generalizações epistemológicas.
O MEC, ao propor a unidade entre ciência, tecnologia e cultura, rebate os críticos de que isto criará mais divisionismos disciplinares nesta fase da educação básica. Defende-se, pois, que no ensino médio se privilegie uma educação atenta às demandas da juventude, quais sejam: o uso da tecnologia, comportamento ético, sustentabilidade e promoção dos direitos humanos. Além disso, as escolas teriam maior flexibilidade para alterarem seus currículos em conformidade com as especificidades regionais. Isto trará mudanças importantes para o ensino médio noturno (flexibilização da carga horária), apontado como ogrande gargalo, que grande parte dos/as estudantes está no mercado de trabalho, sendo mais suscetíveis ao abandono escolar.

Por outro lado, sabe-se que uma reorganização curricular não é independente de questões estruturais presentes nas escolas públicas brasileiras, notadamente. Se os planos de carreira continuarem sendo desmotivadores para os futuros professores, não será uma mudança curricular que demudará o status do ensino médio, pois a classe docente precisa ser respeitada e valorizada para se tornar agente desta mudança. Tais estudos provenientes do MEC vêm desde 2010, mas necessitam ser mais problematizados no interior das escolas. Caso contrário, será mais uma medida reformista e sem efeito prático. Desde a década de 1990 a educação básica vem se tornando cada vez mais um rol de enunciados de temas transversais do que, propriamente, uma etapa de apropriação dos conhecimentos científicos elaborados pela humanidade. Com estas modificações em curso, há a possibilidade de se melhorar o aumento de matrículas e o índice de aprovados no ensino médio, o que não significa, em princípio, que teremos estudantes capacitados para o mundo do trabalho ou mesmo para enfrentarem os processos seletivos de ingresso numa universidade.


[1]              Historiador e Doutor em Educação (UFSC). Articulador e consultor pedagógico na Comissão de Educação do Fórum do Maciço do Morro da Cruz (Florianópolis/SC). E-mail: clioinsone@gmail.com

3 comentários:

  1. Olá meu amigo, sabias suas palavras quando afirma que índices comprovam que Santa Catarina evolui. Um alarde falou bem. Sou professora faz 18 anos e a educação catarinense nunca esteve tão ruim. Sim porque você sabe que o papel aceita tudo, você já esteve em uma sala de aula recentemente. Esse novo sistema educacional de aprovação de alunos, fora de série/idade, de transição do processo de 9 anos, de correção de fluxo que esse governo tanto se vangloria e se gaba, nada mais é do que histórias para bois dormir. O resultado já começará ser visto nas próximas provas Brasil que serão feitas. Estamos sendo obrigados a passar alunos, nem mesmos alfabetizados para frente porque não pode mais ocorrer a reprovação, alunos estão indo para o Ensino Médio, sem mesmo saber ler e escrever e digo mais, não vai demorar muito para inventarem um fluxo de Ensino Médio para mandar esses aluno embora de uma vez. O que está em questão não é a aprendizagem, o conhecimento científico que o aluno recebeu, é cumprir metas, manter índices. Se você concorda comigo, leva-se em média 10 anos para se conseguir uma mudança quando falamos em educação, sim porque temos que pensar no ciclo. Ano que vem ou no seguinte, começaremos ver esses índices caírem como se fosse uma reta que está seguindo e cai bruscamente. Educação de qualidade se faz com alunos que sabem que se não aprenderem no mínimo o básico, não serão aprovados, que é dever deles estudar, ir pra escola, é direito deles ter bons professores, inclusive que saibam ensinar o conhecimento científico e não estar lá apenas porque foram contratados e ganham um salário. Professor tem que ser valorizado e ao mesmo tempo cobrado dele a sua missão, não é simplesmente jogar alguns de paraquedas dentro das salas de aula, que mal sabem falar, para não deixar os alunos sem "professor". Educação fazia-se a alguns anos atrás que nossos alunos nos davam orgulho de cada simples coisas que fazia, mas sabia dar valor, hoje formamos alunos no Ensino Médio que não são capazes nem mesmo de formar opinião, porque é mais fácil concordar com algo que alguém falou ou fez e assim sendo não precisa pensar, afinal a internet e a tecnologia resolvem isso tão fácil basta apenas copiar. A e sem falar que ai de você professor que reclamar quando um aluno fizer isso, afinal de contas e fez, entregou o trabalho você tem apenas que reconhecer que o esforço foi muito grande. Sabe falaria muito mais. Mas penso que para sugerir-lhe uma pesquisa já que és um historiador talvez fosse fazer uma análise nas Escolas , principalmente as públicas de SC, uma pesquisa séria, só para saber quais alunos conseguem ler texto com fluência e voz alta ou após a leitura pedir-lhes o que entenderam, a penso que só com alunos de terceiro ano para tirar melhores conclusões afinal nos anos anteriores eles ainda podem aprender.E assim sendo se eles não souberem provavelmente a culpa é do professor que durante toda essa caminhada, não fez nada daquilo que era seu papel.

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  2. Quando toda a sociedade grita no mais alto brado que a EDUCAÇÃO é a ferramenta pela qual as mudanças mais que necessárias devem acontecer, não a coloca de forma prática neste mesmo patamar, e então adentramos na velha discussão, porém ainda não esgotada da TEORIA-PRÁXIS. Nas escolas as teorias não tem sido aplicadas como estabelece a teoria, há muito mascaramento da realidade de fato, ainda mais quando lidamos com corpos gestores despreparados para esta aplicação. profissionais tristemente despreparados para a juventude do século XXI, pois nao sabem lidar com a criticidade tão preconizada pelos Curriculos, PCN's, etc. Há uma total dissonância entre o que se diz e o que se faz daquilo que se diz que se faz. Os profissionais não estão preparados para reconhecer e administrar a criticidade apresentada por estes jovens, que ainda que o sistema educacional não favoreça através das relações que se estabelece na escola sua criticidade, ele a constrói de forma social fora do ambiente escolar e obviamente a carrega consigo onde quer que vá. Todo o sistema deve ser repensado, eu diria até que deveríamos parar tudo por pelo menos um ano , e entao reformular toda a estrutura educacional, iniciando pela estrutura fisica da escola, que não só não atende as necessidades dos jovens deste seculo, conforme observamos cotidianamente bem como, causa profundo desestimulo gerando total desinteresse por lá estar, sem mencionar as questões da "rede de obediência" promovida por regras que não traduzem em nada sua participação, muito pelo contrário geram insatisfação tanto para os jovens tanto quanto para os professores porque já as encontram pré-estabelecidas como determinação legal com consequência punitivas. Quem de nós honestamente, gostaria de frequentar um ambiente deste, a não ser por força de lei? Considero hoje a escola como está constituída um dos ambientes mais nocivos e perigosos para onde podemos enviar nossos filhos. A violência, o universo do tráfico de drogas não estão nas portas da escola, estão dentro dela. É muito complexo tudo isso,mas a solução e simples: porgue nao perguntamos a eles o que pensam a respeito, porque não os temos como parceiros na construção desse processo que beneficia toda a sociedade?? Honestamente, e longe de ações terroristas, mas acredito que deveriamos explodir todas as escolas , explodir toda as paredes que impoem fronteiras e estabelecem a segregação, o apartamento de ideias e da possibilidade de crescer junto, aprendendo junto, estabelecendo uma consciencia de alteridade a partir da prática diária na convivência. Em uma sociedade inderrogavelmente globalizada em que as fronteiras foram rompidas pela tecnologia, pela internet, como podemos falar sobre excelência na qualidade de relacionamento humano, quando isolamos nossos jovens em salas, separados por idade, e nas salas os isolamos nas carteiras, que alias mal os cabem sentados, porque as carteiras são as mesmas que eles sentavam aos 6 anos de idade? Sabe, penso que temos banalizado o óbvio por tempo demais......Sou profundamente otimista e vejo que tudo isso pode ser transformado, se os adutos educados educarem sua educação, e por ser uma incorrigel otimista, invoco aqui "um alguèm" com muita educação para nos orientar os passos - Paulo Freire quando nos alerta:"As mudanças são tão difíceis quanto possíveis" - Esta é uma teoria trazida da prática, que tal praticá-la??

    JÔ Santos
    Professora de Filosofia
    Filósofa Clinica em Formação

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  3. Jô, creio que estamos vivendo uma crise sem precedentes em relação à escola pública, o que corresponde à crise estrutural do sistema capitalista em que vivemos. Como diria Antonio Gramsci, diante do pessimisno da razão, que haja o otimismo da vontade! De fato, a escola pública que aí está, não atende às demandas dos professores e dos estudantes!

    Abraços,
    Jéferson Dantas

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