Prof.
Victor José Caglioni
Um dos desafios mais urgentes na educação atual é
desenvolver o progresso humano em seu aspecto social, de cidadania. No contexto
escolar isso não é composto simplesmente com a presença das disciplinas de Ciências
Humanas e Filosofia, é preciso haver uma contínua didática transdisciplinar, de
formação crítica e reflexiva especialmente para com o tema.
Nesse sentido destacamos os trabalhos de uma
consciência cidadã propostos pelo Programa “Educar para o Pensar: Filosofia com
crianças, adolescentes e jovens” especialmente na abordagem sobre política,
intensificada no 9º ano – Somos filhos da Pólis, livro da Coleção Filosofia o Início
de uma Mudança e, nos livros de 6º ao 9º ano na Coleção Novo Espaço Filosófico
Criativo e Filosofia Fundamental. Coleções da Editora Sophos e do Centro de
Filosofia Educação para o Pensar, que seguem um fio condutor filosófico.
A filosofia proposta pela COM.A.I (Comunidade de
Aprendizagem Investigativa) tem como base a investigação e a reflexão sobre os
temas que aborda. Partindo da premissa que “as pessoas não devem
reproduzir pensamento, mas aprender a pensar para formar seu entendimento” (Wonsovicz,
2016: 95) nos deparamos com um mundo onde a adolescência e juventudes convivem
intensamente nas redes sociais.
Comumente, os observadores vivem a dicotomia de
dizer que essas redes sociais abstraem as pessoas da realidade, outros afirmam
que as redes são muito benéficas e, claro há os que as consideram uma
interseção entre o físico e virtual.
Nessa perspectiva cabe perguntarmos se essa geração
Z (a do @ do # por nascimento) está sofrendo uma necessidade/indução a uma
esquizofrenia social generalizada, com reflexos políticos negativos.
Evidenciamos como um efeito principal da esquizofrenia como sendo uma
psicopatologia, caracterizada principalmente pela alteração no contato com a
realidade.
No que diz respeito à possibilidade de desenvolvimento
de reflexão política nas redes sociais, podemos identificar que há algumas
investigações sobre redes sociais e processos políticos, que indicam alguns
pontos chaves, sobre essa tensa relação de abstração e emancipação.
Uma dessas pesquisas foi realizada pelos
norte-americanos Keith Hampton e Lauren Session da Univerdidade da
Pennsylvania, intitulada “Core Networks, social isolation, and new media” (Redes
principais-centrais, isolamento social e novas mídias) revelam que a relação no
uso das redes sociais, tem se caracterizado por uma forma de isolamento cada
vez maior em relação à vida social e o mundo tateável (pensamos em não
virtual), em que se detecta entre outras coisas que os norte americanos estão
cada vez mais conectados com todo tipo de militância política, (ecológica,
moral, militar etc...) e enterrados do que acontece (ainda que isso não
signifique que seja um quadro de maioria e sim de tendência crescente, basta
recordamos das eleições presidenciais de Obama em 2008). No entanto estes criam
um espaço de isolamento social e imaginário à parte do comum.
A antropóloga argentina Rosália Winocur em seu
estudo no México “Robinson Crosoe ya tiene celular: la conexión como espacio de
control de la incertidumbre.” revela que o uso do celular e as redes sociais
tem se baseado num forte sentimento de incertezas em relação ao mundo palpável
por parte dos jovens e que através da rede estes podem criar um mundo em
que o sentimento de instabilidade social é amenizado, idealizado ou exaltado (assim
vemos as convocatórias por movimentos políticos via redes socais em todo o
mundo, especialmente na atual Europa em crise). Daí a urgência que alguns vêm
em controlar a internet.
Já no Brasil em “Sociabilidades digitais e
reconfiguração das relações sociais” da doutora em comunicação social pela PUC/Rio,
Adriana Braga, detecta que nossa juventude está participando dos processos
políticos de forma cada vez mais virtual, ela recusa a ideia de “falta de
engajamento político” da juventude brasileira, uma vez que identifica entre
outras coisas que existe sim o tal engajamento, mas o mesmo é realizado a
partir de outra forma de pensar, por um sujeito típico de uma sociedade
individualista, que se mobiliza na participação a partir de outras lógicas, em
que estes articulam com seus interesses e seus modos de vida, diferente da
política tradicional.
Recordamos que se anunciar “indiferente” também é
entendido como parte de um processo político que deve ser detectado com consequências
reais.
A convocatória para manifestações contra o
fechamento de escolas no Estado de São Paulo, contou com ampla divulgação das
redes sociais e resultou em ações concretas no mundo off-line.
Nessas perspectivas científicas obviamente
simplificadas, surge uma dúvida, seria possível que a tese de necessidade de
esquizofrenia coletiva seja uma realidade para este nosso caso? Possivelmente
não, a julgar que as sociedades sempre trataram de condenar e por em dúvida os
reclamos da juventude (estado psíquico e não de idade) quando ela se “rebela”
em contra (sem fazer discernimento do que se proclama) ainda que isso seja uma
das características que a funda, e que esse raciocínio parece estar mais
conectado com a realidade que com a imaginação, embora use palavras que dizem o
contrário, uma das características da ironia, certo?
A filosofia desenvolvida dentro da proposta de
investigação e reflexão da COM.A.I (não meramente conteudista) é de grande
importância para o desenvolvimento de um olhar mais aprimorado das relações dessa
nova geração. O uso das redes sociais é parte do mundo da Geração Z e a forma
como fazemos uso dela pode (ou não!) tornar parte do desenvolvimento da
reflexão sobre vários temas (que não são restritos a rede e não devem somente
permanecer nelas). Afinal o significado que a rede assume para essa geração é o
de integração, de sentir-se parte de algo.
Pode-se, por exemplo, solicitar que grupos
investiguem “mentiras” na internet de cunho politiqueiro e como elas afetam o
verdadeiro sentido de política. As instituições de ensino podem fazer “n” tipo
de usos das redes, é inegável que elas por si só não podem fazer refletir, mas
podem ser uso em dinâmicas pedagógicas no ensinar filosofia de forma
transdisciplinar ou pelo menos a identificamos como uma possibilidade.
Bibliografia:
HAMPTON, Keith N; SESSIONS, Lauren F. Core
Networks, social isolation, and new media. Information, Communication &
Society, University of Pennsylvania 14:1, 130155, 2011.
WINOCUR, Rosália. Robinson Crosoe ya tiene celular:
la conexión como espacio de control de la incertidumbre. México. Universidad
Autónoma de Metropolitana. Unidad Iztapalapa, 2009.
WONSOVICZ, Silvio. Somos cidadãos reflexivos:
filósofos por natureza. 8ª ed.
Florianópolis. Sophos, 2016.
___________________. Somos filhos da pólis:
investigação sobre política e estética. 17ª ed., Florianópolis: Sophos, 2015