quarta-feira, 20 de abril de 2016

Geração Z, e a possibilidade da #filopolitikus





Prof. Victor José Caglioni

Um dos desafios mais urgentes na educação atual é desenvolver o progresso humano em seu aspecto social, de cidadania. No contexto escolar isso não é composto simplesmente com a presença das disciplinas de Ciências Humanas e Filosofia, é preciso haver uma contínua didática transdisciplinar, de formação crítica e reflexiva especialmente para com o tema.
Nesse sentido destacamos os trabalhos de uma consciência cidadã propostos pelo Programa “Educar para o Pensar: Filosofia com crianças, adolescentes e jovens” especialmente na abordagem sobre política, intensificada no 9º ano – Somos filhos da Pólis, livro da Coleção Filosofia o Início de uma Mudança e, nos livros de 6º ao 9º ano na Coleção Novo Espaço Filosófico Criativo e Filosofia Fundamental. Coleções da Editora Sophos e do Centro de Filosofia Educação para o Pensar, que seguem um fio condutor filosófico.
A filosofia proposta pela COM.A.I (Comunidade de Aprendizagem Investigativa) tem como base a investigação e a reflexão sobre os temas que aborda.  Partindo da premissa que “as pessoas não devem reproduzir pensamento, mas aprender a pensar para formar seu entendimento” (Wonsovicz, 2016: 95) nos deparamos com um mundo onde a adolescência e juventudes convivem intensamente nas redes sociais.
Comumente, os observadores vivem a dicotomia de dizer que essas redes sociais abstraem as pessoas da realidade, outros afirmam que as redes são muito benéficas e, claro há os que as consideram uma interseção entre o físico e virtual.
Nessa perspectiva cabe perguntarmos se essa geração Z (a do @ do # por nascimento) está sofrendo uma necessidade/indução a uma esquizofrenia social generalizada, com reflexos políticos negativos. Evidenciamos como um efeito principal da esquizofrenia como sendo uma psicopatologia, caracterizada principalmente pela alteração no contato com a realidade.
No que diz respeito à possibilidade de desenvolvimento de reflexão política nas redes sociais, podemos identificar que há algumas investigações sobre redes sociais e processos políticos, que indicam alguns pontos chaves, sobre essa tensa relação de abstração e emancipação.
Uma dessas pesquisas foi realizada pelos norte-americanos Keith Hampton e Lauren Session da Univerdidade da Pennsylvania, intitulada “Core Networks, social isolation, and new media” (Redes principais-centrais, isolamento social e novas mídias) revelam que a relação no uso das redes sociais, tem se caracterizado por uma forma de isolamento cada vez maior em relação à vida social e o mundo tateável (pensamos em não virtual), em que se detecta entre outras coisas que os norte americanos estão cada vez mais conectados com todo tipo de militância política, (ecológica, moral, militar etc...) e enterrados do que acontece (ainda que isso não signifique que seja um quadro de maioria e sim de tendência crescente, basta recordamos das eleições presidenciais de Obama em 2008). No entanto estes criam um espaço de isolamento social e imaginário à parte do comum.
A antropóloga argentina Rosália Winocur em seu estudo no México “Robinson Crosoe ya tiene celular: la conexión como espacio de control de la incertidumbre.” revela que o uso do celular e as redes sociais tem se baseado num forte sentimento de incertezas em relação ao mundo palpável por parte dos jovens e que através da rede estes  podem criar um mundo em que o sentimento de instabilidade social é amenizado, idealizado ou exaltado (assim vemos as convocatórias por movimentos políticos via redes socais em todo o mundo, especialmente na atual Europa em crise). Daí a urgência que alguns vêm em controlar a internet.
Já no Brasil em “Sociabilidades digitais e reconfiguração das relações sociais” da doutora em comunicação social pela PUC/Rio, Adriana Braga, detecta que nossa juventude está participando dos processos políticos de forma cada vez mais virtual, ela recusa a ideia de “falta de engajamento político” da juventude brasileira, uma vez que identifica entre outras coisas que existe sim o tal engajamento, mas o mesmo é realizado a partir de outra forma de pensar, por um sujeito típico de uma sociedade individualista, que se mobiliza na participação a partir de outras lógicas, em que estes articulam com seus interesses e seus modos de vida, diferente da política tradicional.
Recordamos que se anunciar “indiferente” também é entendido como parte de um processo político que deve ser detectado com consequências reais.
A convocatória para manifestações contra o fechamento de escolas no Estado de São Paulo, contou com ampla divulgação das redes sociais e resultou em ações concretas no mundo off-line.
Nessas perspectivas científicas obviamente simplificadas, surge uma dúvida, seria possível que a tese de necessidade de esquizofrenia coletiva seja uma realidade para este nosso caso? Possivelmente não, a julgar que as sociedades sempre trataram de condenar e por em dúvida os reclamos da juventude (estado psíquico e não de idade) quando ela se “rebela” em contra (sem fazer discernimento do que se proclama) ainda que isso seja uma das características que a funda, e que esse raciocínio parece estar mais conectado com a realidade que com a imaginação, embora use palavras que dizem o contrário, uma das características da ironia, certo?
A filosofia desenvolvida dentro da proposta de investigação e reflexão da COM.A.I (não meramente conteudista) é de grande importância para o desenvolvimento de um olhar mais aprimorado das relações dessa nova geração. O uso das redes sociais é parte do mundo da Geração Z e a forma como fazemos uso dela pode (ou não!) tornar parte do desenvolvimento da reflexão sobre vários temas (que não são restritos a rede e não devem somente permanecer nelas). Afinal o significado que a rede assume para essa geração é o de integração, de sentir-se parte de algo.
Pode-se, por exemplo, solicitar que grupos investiguem “mentiras” na internet de cunho politiqueiro e como elas afetam o verdadeiro sentido de política. As instituições de ensino podem fazer “n” tipo de usos das redes, é inegável que elas por si só não podem fazer refletir, mas podem ser uso em dinâmicas pedagógicas no ensinar filosofia de forma transdisciplinar ou pelo menos a identificamos como uma possibilidade.  


Bibliografia:

HAMPTON, Keith N; SESSIONS, Lauren F. Core Networks, social isolation, and new media. Information, Communication & Society, University of Pennsylvania 14:1, 130­155, 2011.
WINOCUR, Rosália. Robinson Crosoe ya tiene celular: la conexión como espacio de control de la incertidumbre. México. Universidad Autónoma de Metropolitana. Unidad Iztapalapa, 2009.
WONSOVICZ, Silvio. Somos cidadãos reflexivos: filósofos por natureza. 8ª ed. Florianópolis. Sophos, 2016. 
___________________. Somos filhos da pólis: investigação sobre política e estética. 17ª ed., Florianópolis: Sophos, 2015

quinta-feira, 7 de abril de 2016

A filosofia por meio do ombro dos gigantes




Prof. Weber Campos de Souza[1]

Para começar nossa reflexão gostaria de citar um pensamento levantado pelo Professor César Nunes no 1º programa “Café com Ideias: um espaço de diálogo” (ver em www.youtube.com/editorasophos). Ele mencionou um trecho de Bernard de Chartres que diz o seguinte: “Suba no ombro dos gigantes para olhar mais longe, mas ao olhar mais longe seja humilde. Referencie quem te segurou no ar para que pudesses ver”.
Ler essa citação e assistir ao programa pode nos levar para vários questionamentos como: Quem são esses gigantes? Qual a necessidade de subirmos no ombro desses gigantes? Para onde vamos ao enxergar mais alto e mais distante? Podemos perceber que se quisermos colocar mais perguntas sobre esse pensamento vamos ter inúmeras, mas vamos partir do principio dessas três perguntas. 
Quem são os gigantes para os nossos alunos?

Primeiramente devemos pensar que um gigante para os nossos alunos é aquele que vai conseguir trabalhar com crianças, adolescentes e jovens, uma forma que valorize os pensamentos dos seus alunos. Muitas vezes os próprios pequenos pensadores não acreditam ou acham seus pensamentos pouco razoáveis para serem abordados em uma sala de aula. O gigante, por apresentar uma posição maior, ter o domínio do conteúdo e ser o líder para aquele grupo deve estar atento que o ambiente de sala de aula é frequentado por pessoas que estão cada vez mais ligadas em tv, jogos e computadores, acessando sites e redes sociais e, muitas das vezes essas rápidas informações e/ou conhecimentos encontrados nem sempre são úteis ou verdadeiros.
Está aí muitas vezes o maior vilão para os gigantes: o conhecimento e informação digital. O perigo para esses gigantes se dá pelo fato de que é muito mais fácil e prazeroso um aluno ficar ligado em uma cena de novela, a ida a um show da banda do momento, uma gíria descolada e, ficar trocando mensagens via celular com os colegas da turma do que ter a consciência do que é um verdadeiro conhecimento. A ação principal desse gigante é ter como aliado o mesmo que Sócrates teve quando iniciou a Filosofia: a pergunta.
A partir do momento em que o aluno percebe que toda a sua circunstância existencial faz parte de um Programa Educar para o Pensar, ele já consegue relacionar que aquelas perguntas do tipo: O que é aquilo? Qual a importância do celular? Qual o sentido da vida? Por que as pessoas pensam diferentes? Devo gostar do que está na moda? Situações que até então eram pensamentos razoáveis, passam a ser as primeiras pontes para um caminhar filosófico. Podemos refletir então que para subir no ombro de gigantes, a pessoa começa por meio do atrativo da indagação e, a partir dai vem a segunda pergunta: Qual a necessidade de subirmos no ombro desses gigantes?
O aluno descobre assim com os primeiros filósofos, que a Filosofia se dá por meio de uma admiração entre homem e sua nova forma de ver e observar o mundo. Já no ombro dos gigantes o aluno percebe que a Filosofia não se restringe apenas nas perguntas, mas nas proximidades das respostas. Sabe que as respostas não estão prontas e acabadas, porém, já em cima do ombro dos gigantes, através do amor pelo real e verdadeiro conhecimento é possível passar a ter uma visão mais ampla de mundo. O aluno estará mais seguro em seus pensamentos, atitudes, opiniões e decisões para o futuro.
Com a evolução do indagar, do refletir, o pensamento filosófico parte de uma premissa mais concreta colocando sempre a política e as questões éticas do comportamento humano em uma proximidade da realidade, atingindo assim o bem estar e a felicidade do ser humano.  Enfim, para onde os alunos vão ao enxergar mais alto e mais distante?
Verdade é que quando eles estão caminhando juntamente com os gigantes e no ombro deles, percebem que não adormecem nem acordam. A nova visão faz com que o olhar perceba que, tendo sonhos ou pesadelos, estão seguros para um alvorecer de novas realidades, novas descobertas e teorias. Mas nesse alvorecer percebem também que a vida passa, mas quando estão no ombro de gigantes e com o olhar mais amplo, nada mais é do que dar continuidade a um mundo que sempre buscou para seus anseios.
Estar no ombro dos gigantes é perceber que vamos caminhando para continuar tecendo o fio da existência. Também a certeza de que somos ‘Filo Filósofos’, isto é, “amigos dos Amigos da Sabedoria”.


[1] Assessor filosófico