quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Desigualdade e Meritocracia escolar


Jéferson Dantas 1

          François Dubet (1946), sociólogo francês e herdeiro do pensamento sociológico de Alain Touraine 2 (1925) nasceu em Périgueux e é atualmente professor na Universidade de Bordeaux II, além de ser diretor de estudos na L'École des Hautes Ètudes en Sciences Sociales (EHESS). Autor de numerosas obras consagradas aos estudos da marginalização juvenil, à escola e suas instituições, Dubet nas duas obras aqui elencadas, procura compreender as categorias igualdade e desigualdade, tendo como parâmetros argumentativos o triunfo do Liberalismo e da Modernidade no século XVIII 3. Nesta direção, sua discussão se espraia na formulação do princípio de igualdade formal numa sociedade marcada, sobremaneira, pela desigualdade social.

          Para Dubet (2003, p. 23-24), as desigualdades devem ser analisadas como um “conjunto de processos sociais, de mecanismos e de experiências coletivas e individuais” e que os indivíduos na ‘modernidade’ são considerados cada vez mais iguais e suas “desigualdades empíricas não podem basear-se nem no nascimento, nem na raça, nem na tradição”. Logo, as desigualdades formais e jurídicas são substituídas pela atividade e o sucesso dos ‘atores’, o que não significa que sejam menores, já que são abertas e produzidas por indivíduos ‘fundamentalmente iguais’. Nesta direção e a partir da formulação jurídica burguesa, revela-se o “apelo a uma concepção heróica do sujeito igual”, ampliando a experiência da desqualificação e do desprezo, “pois a pessoa é despojada de estruturas sociais e culturais desiguais que a impedem de ser livre e responsável” (Idem, p. 57). No que tange aos processos de escolarização de crianças e jovens, esta premissa de Dubet é ainda mais evidente, principalmente para aqueles/as que ao entrarem no jogo da igualdade formal sempre têm a sensação de que sairão perdendo. Assim, “alunos decidem não trabalhar para que seu desempenho não comprometa seu valor, sua igualdade fundamental, eles ‘escolheram’ ser reprovados na escola, o que os poupa de serem atingidos por seu fracasso” (Idem, p. 59).

          Desse modo, a escola democrática de massa não conseguiu cumprir o seu pressuposto, ou melhor, continuou reproduzindo os arbitrários culturais existentes na sociedade capitalista. Na análise de Dubet não são mais as desigualdades sociais que selecionam os alunos fora de sua escolarização, “desde então são os próprios mecanismos escolares, as notas e as decisões de orientação que fazem o ‘trabalho sujo’. De fato, a escola não é mais percebida como um refúgio de justiça num mundo injusto” (2008, p. 32-33). Dubet também denuncia a ‘farsa meritocrática’, já que os resultados escolares dos estudantes estariam associados diretamente ao seu trabalho e esforço. Destarte, ‘falta de trabalho’, ‘falta de atenção’, ‘falta de seriedade’ (em outras palavras, o discurso da ‘carência’) “são as explicações mais banais das desiguais ‘performances’ dos alunos, em todo caso, aquelas atribuídas aos próprios alunos. [...]. Assim, o aluno que fracassa aparece como o responsável pelo seu próprio fracasso [...]” (Idem, p.40-41).

          A ‘igualdade das oportunidades’ tratada por Dubet não pode ser compreendida pela ‘crueldade das provações do mérito’ – e isto lembra em muito o princípio escolanovista no Brasil durante a década de 1930 -, mas ela é necessária na lógica da mobilização de princípios de justiça e exigências morais fundadas numa sociedade democrática. Assim, “a igualdade das oportunidades é consubstancial ao princípio de liberdade individual que dá a cada um o direito e o poder de mediar seu valor em relação ao dos outros e que a igualdade de acesso aos estudos é decisiva [...]” (2008, p. 49).  O sociólogo francês ainda faz uma importante e assisada observação em relação à ação dos professores em tal contexto marcado pela meritocracia e o insucesso escolar: “Os professores [...], sabem quem serão os eleitos e quem serão os perdedores [...]. Mas todos são levados a acreditar e a manter a ficção, pois, sem ela, o trabalho pedagógico não seria mais possível e toda a arquitetura da igualdade e da liberdade desmoronaria” (Idem, p. 53).

          Por fim, ainda que Dubet se debruce teoricamente numa perspectiva microsociológica, o autor não se esquece dos ensinamentos marxistas: “É preciso constatar que o marxismo não foi substituído por uma concepção estrutural homogênea [...] das desigualdades, explicando ao mesmo tempo as condutas dos atores e o funcionamento do sistema” (2003, p. 68). Todavia, Dubet procura ampliar o debate sobre as desigualdades sociais em contextos aparentemente democratizantes como é o caso da escola. Para tanto, demonstra como os mecanismos perversos de avaliação escolar e uma ‘inclusão desigual’ podem ser trágicas para crianças e jovens que não apresentam os códigos culturais esperados pela escola. Acima de tudo, o sociólogo escancara a lógica reducionista do aparato jurídico burguês que ao tratar ‘desiguais como iguais’ omite elementos fundantes de diferenças econômicas, de raça, de gênero e de classe, reforçando ideologicamente a prática meritocrática como um valor intrínseco, sem qualquer mediação histórica.

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1 Historiador e Doutorando em Educação (UFSC). Autor do livro Competências e Habilidades e a formação docente no contexto das Leis 5.692/1971 e 9.394/1996 em Santa Catarina (CBJE, 2009). E-mail: clioinsone@gmail.com

2 Responsável pela formulação teórica da ‘Sociologia da Ação e dos Movimentos Sociais’.

3 Modernidade que veio acompanhada de três importantes processos revolucionários: a Revolução Gloriosa na Inglaterra (1688); a Revolução Francesa (1789) e a Independência estadunidense (1776), além dos desdobramentos do capitalismo industrial entre os séculos XVIII e XIX.


          PARA SABER MAIS:

DUBET, François. As desigualdades multiplicadas. Traduzido por Sérgio Miola. Ijuí/RS: Ed. Unijuí, 2003.

DUBET, François. O que é uma escola justa? – A escola das oportunidades. Traduzido por Ione Ribeiro Valle. São Paulo: Cortez, 2008.



Jéferson Dantas também é um dos autores
do SER - Sistema de Ensino Reflexivo,
pela Editora Sophos.

Clique AQUI
para conhecer mais sobre o livro
Dialogando com a História

(Coleção Didáticos Reflexivos do SER).

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Somos nossa dignidade


"Não há democracia sem respeito aos direitos humanos, assim como não é possível garantir quaisquer direitos fora do regime democrático." (Margarida Genevois)

Festejar os 61 anos da DUDH (Declaração Universal dos Direitos Humanos) significa re-significar o sentido dos próprios direitos humanos. Nascidos num contexto de barbárie, após a II Guerra Mundial, a humanidade aspirou novos valores para conduzir a historia da humanidade: a paz, a dignidade humana, a justiça social, o desenvolvimento, a democracia. No atual contexto brasileiro, é preciso reconhecer que ainda precisamos ensinar e promover muito nossa cidadania, para promover direitos humanos.

Direitos humanos são uma construção histórica e se fazem através de muita organização e luta. A diversidade (da vida, dos pensamentos e das culturas) estão na base de sua construção. Somos iguais, e diferentes. E o reconhecimento das necessidades humanas significa reconhecer em cada um e cada uma a idéia de que todos somos "sujeitos de direitos". Somos sujeitos de direitos, capazes de nos reconhecermos nos outros, e com eles, na interação, agir para transformar realidades de discriminação, preconceito, privilégios, domínio ou exploração, exclusão.

As nossas maiores lutas, individuais ou coletivas, visam o reconhecimento de nossa condição humana e as nossas potencialidades. Por conta disso, direitos humanos pressupõe dignidade, esta palavra de tão difícil conceituação, mas de fácil percepção quando ausente nas vidas humanas. Reconhecidos, estamos em condições de realizar o nosso maior desejo humano: a felicidade. Sim, pois é para isto que vivemos, que lutamos e que sonhamos, a vida inteira.

A cultura brasileira, entendida como nosso modo de ser, pensar e agir coletivos, ainda carrega ranços que não nos permitem plena liberdade e plena cidadania. Muitos brasileiros entendem direitos como favores, ou como sorte. Como uma democracia recente, carecemos de habilidades políticas para vivermos bem a nossa democracia. Os gregos concebiam democracia como a arte de governar e ser governado. Neste contexto, compreende-se, de fundamental importância, o papel da educação. O cidadão, imbuído de sua condição de portador de direitos e o Estado promovendo os direitos humanos, através de políticas públicas, extensivas a todos e todas.

A educação em direitos humanos significa educar para a democracia, oportunizando que os cidadãos tenham noção de seus direitos e deveres e que lutem por eles. É papel da escola, e da educação, contribuir para a compreensão do mundo, para uma melhor inserção nele. A cultura de direitos humanos sugere condições em que ocorram a tolerância, o diálogo, a cidadania, a diversidade. Deve também permitir a liberdade de organização e luta aos grupos organizados em torno de seus direitos. Deve exigir um Estado protetor e promotor de direitos humanos, e não violador da vivência da cidadania e das liberdades.

A consciência, quando transformada em luta (diária, cotidiana, permanente) garantirá a exigibilidade de nossos direitos. Esta luta não é solitária, como ensina Gonzaguinha: "... aprendi que se depende sempre. De tanta, muita, diferente gente. Toda pessoa sempre é as marcas das lições diárias de outras tantas pessoas. E é tão bonito quando a gente entende que a gente é tanta gente onde quer que a gente vá. E é tão bonito quando a gente sente que nunca está sozinho, por mais que pense estar".

A dignidade, da qual todos somos portadores, abre horizontes para a necessidade do outro. Eu, você e nós só seremos felizes se pudermos compartilhar vida plena, na humanidade que reside em cada um e cada uma de nós, sendo iguais nas nossas diferenças

Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Qual diferença a partir de uma Educação Reflexiva?




Prof. Dr. Silvio Wonsovicz *

Sinto-me honrado por participar do encerramento da Semana da Educação do Município de São José com um tema tão importante para nós educadores que estamos nas escolas, que temos uma responsabilidade enorme enquanto cidadãos e, que passamos por tantas dificuldades. Nós que vivemos grande parte de nossa vida profissional e produtiva no ambiente ESCOLA. Lugar onde nos realizamos como indivíduos e realizamos muito com muitos outros indivíduos.

– “Dos Saberes Acadêmicos aos Saberes Cotidianos, uma Prática Possível” – Tema das conferências, palestras, oficinas, discussões aqui apresentadas. Objeto de nossas angústias, quando expressamos (e quem de nós um dia já não disse – “Na teoria é muito bonito, quero ver na prática”). Portanto fazendo parte de nossas discussões teóricas e práticas nos conselhos de classe, no dia a dia da sala de aula, da hora do intervalo, da nossa vida na escola enquanto profissionais da educação.

Quero iniciar minhas reflexões nessa Mesa de Encerramento que tem como tema: “A Diferença se faz pela Educação” com uma história chamada – “Faça o que eu faço” atribuída a Gandhi


Faça o que eu faço
Uma mãe levou o filho até Mahatma Grandhi e implorou-lhe:
- Por favor, Mahatma, diga a meu filho para não comer mais açúcar...
Depois de uma pausa, Gandhi pediu à mãe:
- Traga seu filho de volta daqui a duas semanas. 
Duas semanas depois, ela voltou com o filho. Gandhi olhou bem fundo nos olhos do garoto e lhe disse:
- Não coma açúcar...
Agradecida, porém perplexa, a mulher perguntou a Gandhi:
- Por que me pediu duas semanas? Podia ter dito a mesma coisa a ele antes!
E Gandhi respondeu-lhe:
- Há duas semanas, eu estava comendo açúcar.
Extraído do livro “Como atirar vacas no precipício”



Atribuir que A Diferença se faz pela Educação é colocar o ponto de transformação da sociedade em um elemento indefinido - Educação.

Dizer que um país só irá alcançar um bem estar social, econômico pela Educação é genérico e vago. Que Educação? Qual diferença? Para que? Com quem?

Somos nós educadores os responsáveis primeiros para que isso venha acontecer – só teremos uma diferença acontecendo na educação se ela realizar-se conosco em primeiro lugar. É Gandhi dizendo não coma açúcar com propriedade depois de duas semanas em que deixou de comer açúcar.

- Onde quero chegar com minha breve reflexão?

Na valorização e importância de nós educadores, tomarmos a escola e a Educação nas mãos e dizermos, com competência quais conteúdos, reflexões e ações queremos concretizar na Comunidade em que a Escola está inserida.

- Como isso?

Precisamos nos dar conta de que somos os agentes responsáveis para que nossa ação faça diferença. Como? Nos apropriando cada vez mais dos conhecimentos e saberes acadêmicos para entendermos e apoderarmo-nos dos saberes e entendimentos do cotidiano de nossos alunos e comunidade em que estamos. Em outras palavras – Estudarmos, estudarmos e estudarmos....

Precisamos, como educadores, ser cientistas, investigadores, leitores, construtores de idéias e teorias, escritores de nossa prática. Agora isso precisa ser feito em Comunidade de Aprendizagem Investigativa escolar – isto é envolvendo todos educadores e os saberes, sozinhos nossa teoria e prática passam a ser estéreis... não darão frutos ou esses podem não ter sementes... Aí voltamos as velhas colocações:
- O que fulano (a) quer com tudo isso?
- Você já faz demais pela valorização que lhe dão...
- Ele (a) está começando na carreira, por isso toda motivação...

Mas não é sobre isso que quero refletir nesse momento. Quero levantar questões para continuarmos a pensar no nosso dia a dia, na minha sala de aula, na minha escola, no conselho de classe, com o aluno ou pai que me afronta, na sociedade que não me valoriza e (muitas vezes eu mesmo não me valorizo) mas preciso perguntar:



O  Que é e como educar hoje?
Minha resposta, construída em cima de minha prática: Educar hoje é preparar indivíduos e grupos, dentro de uma Investigação Ética responsável.

Como?

  • Através de um Humanismo com espírito livre, isto é, com responsabilidade “Buscamos e sonhamos que nossos alunos participem desse mundo como autores”
  • Pensando melhor a linguagem e aprimorando o raciocínio;
  • Abrindo espaços para o diálogo constante;
  • Acreditando numa Educação que leve para a Reflexão...


Para que?
“Para nunca aceitar de imediato os fatos, a realidade como nos apresentam. Precisamos pensar maiores considerações para iniciarmos o processo de aceitá-las ou não.”

- A Diferença se faz pela Educação quando construirmos em cada sala de aula e na escola a Comunidade de Aprendizagem Investigativa.

A existência da Comunidade de Aprendizagem Investigativa vincula-se a alguns fatores essenciais:
* Escola, sala de aula..., aberta ao novo;
* Profissionais de educação efetivamente “habilitados”;
* Educandos como sujeitos aprendentes.

Objetiva-se nessa COMUNIDADE DE APRENDIZAGEM INVESTIGATIVA:
1. Ao invés de conteúdos, habilidades, participação, socialização dos saberes;
2. Ao invés das verdades prontas, hipóteses e reflexões;
3. Ao invés do ensino magistrocêntrico, o trabalho em equipe, a participação efetiva de todos.


Para encerrar uma história convidando a nos educadores fazermos diferença pela Educação


Você é uma maravilha
Cada segundo que vivemos é um momento novo e único do universo, um momento que nunca mais existirá... 
E o que é que ensinamos aos nossos filhos? Ensinamos a eles que dois mais dois são quatro e que paris é a capital da frança. 
Quando ensinaremos a eles o que eles são? 
Deveríamos dizer a cada um deles: sabe o que você é? Você é uma maravilha. Você é único. Em todos os anos que se passaram, nunca houve outra criança como você. Suas pernas, seus braços, seus dedos inteligentes, a maneira como você se move. 
Você pode se tornar um Shakespeare, um Michelangelo, um Beethoven. Você tem capacidade para qualquer coisa. Sim, você é uma maravilha. E quando crescer, como então poderá fazer mal a uma outra pessoa que, como você, é uma maravilha? 
Você deve trabalhar - todos devemos - para tornar o mundo digno de suas crianças. 
(Livro: Canja de galinha para a alma. De Jack Canfield & Mark Victor Hansen, Ediouro, 2002)

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* Artigo para Mesa Redonda no encerramento da Semana da Educação promovido pela Secretaria de Educação de São José/SC -  30 de julho de 2009.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Tudo realmente muda?



          É muito difícil dizer que conhecemos as coisas, pois, como já dizia Heráclito, "Tudo flui, tudo muda". As coisas já não são mais as mesmas quando as olhamos duas vezes. As pessoas mudam mentalmente e fisicamente a cada segundo. As coisas, os móveis de sua casa não são mais os mesmos que você comprou. Os rios, os mares, já não são iguais. Às vezes nem parece, mas o mundo todo está sempre mudando.


Então, como podemos dizer que conhecemos uma coisa, ou uma pessoa, se ela está sempre mudando?


          E eu mesma respondo. Outro grande filósofo, da mesma época de Heráclito, chamado Parmênides, afirmava que sim, tudo muda. Mas o que é importante, a essência das coisas, fica como é. Para ele, existia dois mundos. O mundo Sensível, onde vivemos, tudo realmente muda. Mas no mundo Inteligível, o mundo das ideias e dos pensamentos, o nosso Ser, nossa essência, é perfeitamente imóvel.


          Ou seja, podemos mudar o quanto quisermos, mas vamos continur sendo nós mesmos.

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Texto/trabalho da disciplina de Filosofia produzido em 14/07/2009
Colégio Centro Educacional Porto das Águas - CEPAVI - www.cepavi.com.br
Professor Everson - 9o. ano

Autora: Caroline Mallmann Becker
E-mail: carolmalbec@hotmail.com
Projetos pessoais: www.projetoadocao.com
Twitter: http://twitter.com/carol_mallmann
Orkut: http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=5016938490081018876

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Entre na área de contato de www.portalser.net ou www.editorasophos.com.br
e nos envie também seu texto ou trabalhos de seus alunos. Teremos muito orgulho de divulgar!
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2010 com Filosofia VIVA em seu Colégio!


O Centro de Filosofia Educação para o Pensar e a Editora Sophos, apresentam as três Coleções Filosóficas para o ensino da Filosofia com Crianças, Adolescentes e Jovens, atualizadas e didaticamente melhoradas:


(clique nos catálogos para acessar o site especial)

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quinta-feira, 19 de novembro de 2009

O Dia D: Reflexões Filosóficas Especial - CONVITE para participação nas Comunidades do SER!

Alguns tópicos inseridos pela comunidade na seção de fórum:
(clique na imagem para ampliar)



Algumas inserções dos blogs de participantes:
(clique na imagem para ampliar)



Clique abaixo em "ASSOCIAR-SE" 
e junte-se a nós!


quinta-feira, 12 de novembro de 2009

A FILOSOFIA É O ABSTRATO INALCANÇÁVEL


*Ivandilson Miranda Silva                                                                                        
                                                                      
Num mundo em que se prioriza mais o TER do que o SER, nós seres humanos, temos limitações para alcançar as coisas abstratas e dificuldades para valorizar aquilo que a priori não tem valor.


É lógico que precisamos ter casa, ter emprego, ter dinheiro para fazer determinadas coisas, pois estamos num sistema capitalista (o mérito da questão não é um debate político-ideológico sobre modos de produção). Mas, é fundamental ser amigo, ser irmão, ser amoroso, ser crítico, ser cético, ser utópico, ser...


Às vezes, ou na maioria das vezes, só valorizamos as questões que envolvem uma reflexão sobre a nossa condição de SER quando perdemos alguém próximo, quando a relação amorosa não vai bem ou já acabou, quando somos demitidos, quando o TER está ameaçado. Aí refletimos sobre nossas emoções, sobre o que estamos gostando de fazer, sobre como estamos tratando as pessoas em casa e no trabalho, sobre como estamos vivendo de forma tão dura, fria, pragmática e automatizada   


TER e não SER é estabelecer uma distância incomensurável com o abstrato, é não se predispor ao menos ao risco e a ousadia de cutucar o infinito. "Preciso aprender a ver o que não se vê, para me transformar no que o amor quiser." canta o músico Jorge Vercilo na música Invisível.


A Filosofia e a possibilidade do conhecimento crítico nos coloca diante dessa prazerosa missão de saber e ao mesmo tempo de reconhcer que nada sabemos. Sócrates, um dos primeiros filósofos que reconhceu essa dinâmica, nos deu uma grande lição com o SEI QUE NADA SEI e o CONHECE-TE A TI MESMO.


Merleau Ponty, pensador contemporâneo afirmava que "filosofar é reaprender a ver o mundo." Traduzindo em miúdos: precisamos perceber melhor a realidade, os dias passam e não são iguais e a necessidade de TER compromete a possibilidade de SER.


Ter é absoluto, concreto, imediato, temporal. O Ser é processo, atemporal, histórico, infinito. A Filosofia é o abstrato inalcançável e como canta Vercilo em sua música paradigmática: "Eu quero ver o invisível, prever o que está no ar.


Eu preciso SER para TER e não TER para SER.


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* Graduado em Filosofia Pela Universidade Católica do Salvador (UCSAL), Especialista em Metodologia do Ensino, Pesquisa e Extensão em Educação Pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Professor de Humanidades I e II na UNIME-PARALELA- SAVADOR, Professor e colaborador da Associação Educacional, Cultural e Ambiental Comunidade Universitária.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Espaços Sociais Como Experiências Libertadoras


          Em contraponto às utopias tradicionais, defendidas, principalmente, nos séculos 18 e 19 e tendo como teóricos fundantes Fourier (1768-1830), Owen (1771-1858) e Proudhon (1809-1865), o geógrafo britânico David Harvey enaltece o ‘utopismo dialético’. Sua obra Espaços de Esperança (2006, Edições Loyola) é uma referência teórica efetivamente libertadora nestes tempos de discursos hegemônicos, ou como dizia a ex-primeira ministra britânica, Margareth Tatcher, um momento histórico onde ‘não há alternativas’. Tal concepção político-ideológica (neoliberalismo) abrigada sob o espectro da globalização acomete um contingente populacional significativo à miséria ou à total indigência social.

As contradições evidenciadas entre capital e trabalho ou entre as forças produtivas e relações de produção, hodiernamente, ocultam-se sob os auspícios da flexibilização do capital e na busca de recursos humanos polivalentes, o que demanda ‘novas competências e habilidades específicas’. Todavia, as particularidades do mundo produtivo não podem ser compreendidas como ações meramente reativas à violência impingida pelo capital. Em outras palavras, os arbitrários culturais criados, alimentados e reproduzidos pelo modus operandi do sistema capitalista não devem ser encarados como algo ‘natural’ nas mais diferentes e diversas esferas sociais. A universalidade e as particularidades sociais encontram-se intimamente enredadas, pois os processos relacionais são dialéticos e não determinados a priori. A realidade concreta não é uma justaposição de eventos desconectados. Como bem assinala Harvey, temos de refazer os nexos históricos e geográficos que os pós-modernos fragmentaram. Mas, por que pensar a transformação da realidade? O que significaria um ‘utopismo dialético’ em tal estágio das forças produtivas materiais? Ora, antes de tudo, pensar em novas possibilidades de existência e de resistência nos espaços sociais atualmente conformados aos arbitrários culturais dominantes. Exige, sobretudo, que façamos a crítica – e não só – ao legalismo formal (com todas as suas regras, sanções e uma jurisprudência desmobilizadora); e ao Estado como um todo, que funciona como mediador privilegiado das tensões entre capital e trabalho. Não por acaso, espaços educativos são terrenos concretos e simbólicos onde impera a verticalização do poder; onde não há ‘tempo’ e nem ‘espaço’ para a criação e o planejamento. Os/as agentes de mudança ou os/as ‘arquitetos/as rebeldes’, como prefere Harvey, quando conseguirem se livrar das amarras do imediatismo produtivo e do mundo da aparência, poderão se conectar com outras redes colaborativas. São estas redes organizadas os germens disruptivos que farão frente ao estabelecido, gerando espíritos consistentemente politizados e atentos ao assombro acelerado da barbárie.

Nesta direção, a metáfora do literato português José Saramago na obra ‘Ensaio sobre a cegueira’, traduz de forma trágica e não menos real, que a espécie humana em situações-limite ou diante de tragédias comuns, comporta-se de forma irracional e brutalmente violenta. A cegueira coletiva da qual somos todos tomados, recrudesce quando não é compreendida de forma ampla. Logo, pensar a cidade e os territórios institucionalizados é pensar em alternativas litigiosas que vislumbrem espaços coletivos humanizados e harmonizados. Sobretudo, ultrapassar os limites espaços-temporais desenhados pela predatória lógica capitalista, onde o que está no horizonte é a especulação imobiliária, destruição de recursos naturais, poluição incessante de automotores e templos de consumo para um extrato social diminuto. David Harvey nos faz refletir sobre que espécie desejamos ser daqui por diante: predatória ou solidária? Bárbara ou socializadora?


PARA SABER MAIS


HARVEY, David. Espaços de Esperança. Tradução de Adail Ubirajara Sobral e Maria Stela Gonçalves. 2ª Ed. São Paulo: Edições Loyola, 2006.


Jéferson Dantas, 36, Historiador e Doutorando em Educação (Universidade Federal de Santa Catarina/UFSC). Pesquisador e articulador dos estudos do currículo na Comissão de Educação do Fórum do Maciço do Morro da Cruz na cidade de Florianópolis/SC. É ensaísta, compositor, letrista e consultor pedagógico. Autor de uma dezena de artigos. Publicou quatro livros, dentre eles Dialogando com a História em parceria com a historiadora Daniela Sbravati (SOPHOS, 2009).




Jéferson Dantas é  um dos autores
do SER - Sistema de Ensino Reflexivo,
pela Editora Sophos.

Clique AQUI
para conhecer mais sobre o livro
Dialogando com a História

(Coleção Didáticos Reflexivos do SER).

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Outro enfoque no ensinar e aprender - CONHECER E SER (entrevista - Jornal Corujinha)


A Professora Doutora Gígi Anne Horbatiuk Sedor é a coordenadora pedagógica do Sistema de Ensino Reflexivo e supervisora editorial das coleções de livros Didático-Reflexivos do S.E.R., livros que foram escritos por equipes de professores que estão em sala de aula, sob a orientação da Dra. Gígi, e que lançamos no 2o. semestre deste ano, em comemoração aos 20 anos do Centro de Filosofia e da Editora Sophos.

Inauguramos assim um novo momento na história da Educação Reflexiva e do Ensino de Filosofia nas escolas, principalmente naquelas que têm uma preocupação com o SER.


Corujinha: O que levou o CENFEP ao desenvolvimento dos livros didático-reflexivos e, junto com a Editora, à criação do S.E.R.?

Professora Gígi: Há vinte anos o Centro de Filosofia Educação para o Pensar faz um trabalho voltado para a inserção da disciplina de filosofia nas escolas, defendendo a  importância do pensar filosófico reflexivo no processo de ensino-aprendizagem, na formação de cidadãos autônomos e eticamente comprometidos com o ideal de uma sociedade mais justa e igualitária.

Ao longo desse trabalho com professores, estudantes e pais, nas experiências vividas nas salas de aula, nas conversas com as comunidades escolares e em discussões, nas universidades, com especialistas em educação, percebemos que seria enriquecedor ampliar o espaço do pensar reflexivo, tradicionalmente restrito às aulas de filosofia, levando-o a todas as disciplinas. Foi uma proposta que surgiu como fruto da reflexão sobre as práticas escolares, e fecundada pelas visões de educação de Kant, Adorno, Habermas, Dewey, Lipman, Schön, Zeichner, Alarcão, Freire, Saviani e Wonsovicz. Passamos a desenvolver esta possibilidade de abordagem reunindo educadores críticos com vasta experiência (atuando em sala de aula) em suas disciplinas e interessados em construir outra via para o ensino.


Corujinha: Em que as coleções dos livros didático-reflexivos do S.E.R. diferem das outras que estão no mercado?

Professora Gígi: A equipe de autores se propôs a elaborar livros didáticos que levem os estudantes a uma postura mais ativa na aprendizagem, fazendo-os construtores de seu conhecimento, tirando-os do papel de receptores passivos do saber acumulado que a pedagogia tradicional lhes reservara. Como isto se coloca na prática? Os conteúdos foram abordados de modo a correlacionar o conhecimento teórico com a experiência concreta, prática, dos estudantes. O conhecimento alcançado por cada um deverá ser tecido com base nos saberes produzidos pelos investigadores das diferentes áreas de pesquisa científica, mas de maneira crítica, refletida, relacionada ao viver, possibilitando a aplicação criativa desse saber na resolução de novos problemas ou questões urgentes que se apresentem. Conhecimento e ação, o pensar e o agir interligados, tornando o pensar em uma ação concreta no âmbito da vida particular e social.


Corujinha: E quem são os autores dos livros didático-filosóficos que o SER apresenta às escolas em 2009 (Alfabetização - 1o. ano e do 6o. ano - história, geografia, ciências, português e matemática), os quais terão continuidade nos próximos anos?

Professora Gígi: São professores-autores que pensam sobre o fazer pedagógico, sobre as ações pedagógicas e o conhecimento que as guia, procurando perceber mais claramente suas implicações, suas conseqüências, seu alcance. Querem levar os estudantes a distringuir alternativas teóricas e práticas e a criar novas proposições, a imaginar caminhos novos, seja desenvolvendo novas tecnologias, seja buscando práticas sustentáveis para uma sociedade livre, igualitária, fraterna e em harmonia com a natureza.

Em outras palavras, a abordagem dos conteúdos e atividades propostas pelos professores-autores (que estão em sala de aula) guia-se por uma pedagogica da autonomia, objetiva que o estudante torne-se um sujeito autônomo, capaz de auto-gestão de pensar por si mesmo, diminuindo o domínio das ideologias, das ideias alheias sobre si. Quando o homem pode pensar livremente, de modo crítico, investigativo e criativo, emocionalmente equlibrado, ele pode avançar em seu projeto de SER, de desenvolver suas qualidades essenciais, aquelas que o fazem indivíduo único e valoroso, aquelas que não pertencem à esfera do ter, das aparências, do adereço exterior que o dinheiro pode comprar. Neste sentido, há um projeto de ser humano que guia a proposta do nosso material didático e que está claro em todos os materiais da editora Sophos. Estamos comprometidos com dois aspectos da educação, a informação e a formação, com o conhecer e com o SER.


Corujinha: Como é a proposta didático-metodológica dos livros?

Professora Gígi: Todas as coleções pautaram-se pelo mesmo método didático, esse método aparece traduzido nos passos de abordagem dos conteúdos em cada capítulo dos livros: motivando a pensar, registrando e ampliando horizontes, aprofundando o pensar, conectando-me com o mundo, situando-me, finalizando sem finalizar e colocando a mão na massa; com alguns tópicos específicos em cada disciplina. Aliada a esses passos há uma constante estimulação à percepção de uma visão interdisciplinar do saber. Trata-se da reflexão crítica como instrumento de construção do conhecimento e ampliação da visão do mundo.

E parte central da proposta de ensino a insistência nas atividades investigativas, de pesquisa, discussão e construção conjuntas, desenvolvidas em grupos de estudantes, nas Comunidades de Aprendizagem Investigativa. Trabalhando em suas tarefas nos grupos os estudantes interagem entre si, dialogam criticamente, discutem as questões em pauta e testam  hipóteses de solução, desenvolvendo suas capacidades de expressão, atenção, partilha, cooperação, corresponsabilidade e senso democrático.

Para uma compreensão mais aprofundada desses passos metodológicos convido os leitores a conhecerem os livros, a experimentá-los.




Corujinha: Mudanças no material didático são suficientes para promover mudanças no processo de ensino-aprendizagem?

Professora Gígi: O material é muito importante, mas para que o ensino seja reflexivo é preciso que os professores, os estudantes e os pais, toda a comunidade escolar seja reflexiva, que pense antes de agir, durante a ação e após a ação, entretecendo teoria e experiência.

É preciso que a comunidade escolar planeje suas ações para a prática educativa, pense sobre quais são seus objetivos, que métodos ou caminhos serão os escolhidos, sobre a adequação dessa escolha ao contexto da escola e da comunidade em seu entorno, sobre os valores que serão reafirmados através de suas práticas.


Corujnha: O que o professor deve fazer ao utilizar esses livros didáticos com os alunos para que eles se tornem reflexivos?

Professora Gígi: É necessário que o professor pense sobre o que faz durante o processo de ensino-aprendizagem, que avalie, que reestruture, que reveja o recorte dos temas, a proposição de tarefas, os moldes de avaliação, a divisão do tempo, que tenha flexibilidade no agir e competência para criar opções de trabalho. E, para além disso, é importante que todos aqueles que participam da comunidade escolar possam pensar sobre as ações já implementadas, sobre os resultados alcançados. Baseados na avaliação de todos os participantes, em diversas formas de feedback recolhidas no processo, nos problemas que surgiram e soluções possíveis já postas em ação ou não, planejando novas ações em direção a um ensino de mais qualidade.

Crianças e adolescentes tornar-se-ão reflexivos, críticos, ativos, investigativos, criativos e emocionalmente ricos e equilibrados se os adultos com os quais convivem cultivarem essas características em suas vidas e, concomitantemente, oferecerem a eles ocasiões em que possam desenvolver essas qualidades. Esse é um caminho para sermos seres humanos emancipados, autônomos.

Emancipados porque saídos de um estágio de minoridade, de dependência em relação aos outros, de submissão às ideias e valores dominantes, porque capazes de escolher conscientemente que tipo de ser humano desejamos vir a ser, que crenças e valores desejamos adotar. Autônomos porque detentores do poder de pensar por nós mesmos, de propor e justificar nossas idéias, de agir com competência, de fazer o mundo ser diferente através de nossa ação no mundo.

E é bom lembrarmos de que humanos emancipados não excluem o outro, os outros seres humanos, pelo contrário, os indivíduos constroem sua identidade pecuilar relacionando-se com os outros, no exercício de abertura para com aqueles que são diferentes dele, no contato com o múltiplo e diverso é que se descobrem, se escolhem, delineando-se como seres únicos. Essa relação de partilha do processo de construção da própria identidade e de mútua interdependência implica uma relação de responsabilidade social, de preocupação com o outro, de ação socialmente comprometida.






FONTE: Este conteúdo é parte
integrante da Edição 64
do Jornal Corujinha,
seção "Entrevista", página 3.

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quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Informação X Conhecimento

Autor: Matheus Arcaro
(fonte no final do texto)

Há algum tempo o jornal “O Estado de São Paulo” anda veiculando um comercial (ver aqui) no qual o argumento de venda é a distinção entre conhecimento e informação. A diferenciação, em si, é pertinente. No entanto, cabe um aprofundamento na questão. Para isso, recorro a um pensador do século XVII, John Locke.

A teoria do conhecimento de Locke, exposta na obra “Ensaio sobre o Entendimento Humano” é empirista, ou seja, para ele todo conhecimento é, fundamentalmente, derivado da experiência sensível. O objetivo inicial da obra é, na verdade, político: expurgar o poder absolutista vigente na Inglaterra. O absolutismo era alicerçado no inatismo (que defendia que algumas idéias nasciam com os homens, gravadas na mente). Os soberanos, então, governavam por uma “concessão divina”; eram legítimos herdeiros daquele que criou o universo. “A mente humana é uma folha em branco, preenchida ao longo do tempo com a experiência”, afirmava Locke. Nessa perspectiva, todos nascem iguais. Demonstrado que o conhecimento deriva da experiência, o absolutismo alicerçado no inatismo cai por terra.

Entrando na questão do conhecimento propriamente dito: refutado o inatismo no início da obra, Locke vai mostrar como se dá o aprendizado, ou seja, como ocorre a passagem das impressões particulares para as idéias gerais e abstratas. São 5 passos:
1- Os sentidos recolhem o material que vai formar idéias particulares.
2- O entendimento vai se familiarizando com as impressões particulares decorrentes dos sentidos.
3- As idéias familiarizadas são alojadas na memória.
4- Para recuperar as idéias na memória, rotulam-se as mesmas, ou seja, emprega-se um nome aos conceitos (daí a importância da linguagem. Ela é o meio pelo qual as idéias exteriorizam-se).
5- Abstrai-se e criam-se nomes gerais, universais, que todos (ou quase todos) são capazes de entender.

A definição lockiana de conhecimento é: “percepção do acordo e conexão ou desacordo e oposição entre as minhas idéias”. O conhecimento é interno ao sujeito. É a capacidade de relacionar ou constatar o desacordo entre idéias. A informação (este não é um termo contemporâneo de Locke) é exterior. Pode virar ou não conhecimento.

Que benção! Se a informação pode virar conhecimento e vivemos na era da Sociedade da Informação, a possibilidade de conhecimento é grande, né? Não é bem assim. Recorramos novamente ao “Ensaio sobre o Entendimento Humano”. Locke nos fala de 3 graus de conhecimento:
Primeiro, o intuitivo que consiste na comparação imediata entre duas idéias, sem, portanto, necessidade de mediação. Mas não é sempre que conseguimos comparar sem mediação. Então surge o conhecimento demonstrativo, racional, que consiste na intermediação entre duas idéias para que haja a ligação. A matemática é um exemplo. Por fim, temos o sensitivo, que é a percepção das coisas particulares, limitado pelos próprios órgãos sensoriais. Este, só é válido para aquele momento. “Não é possível fazer-se ciência nesse grau de conhecimento”, diz Locke.
A informação está nesse grau.

A Sociedade da Informação não é, necessariamente, benéfica. Ao contrário, pode ser um obstáculo ao conhecimento. Conhecimento é um processo interno. É a possibilidade de aplicar o aprendido a outras situações, generalizar.
Conhecimento é “digestão”. Mas, hoje em dia, mal comemos uma informação, já temos outra sobre a mesa. Vorazes, devoramos. Engordamos, mas não estamos nutridos.

Repassar informação! Eis o que a maioria das escolas faz. Pressionadas pela necessidade de aprovação no vestibular, enxergam os alunos como “sacos” de depósito de conteúdo. Não ensinam a pensar, a fazer as conexões (como Locke aponta ainda em 1690).

Dicionários contemporâneos colocam conhecimento e informação como sinônimos. E, algumas pessoas tomam um pelo outro. “Menina, você não viu isso hoje no jornal?”, perguntam indignadas. Viram papagaios. Reproduzem o que ouvem ou lêem.

Voltando ao Estadão. O comercial é todo pautado pela oposição entre conhecimento e informação. Vejamos algumas colocações:
“Se hoje informação é de graça, qual o valor do conhecimento?”
Visão estritamente mercantil. Conhecimento, aqui, é mercadoria. O valor cognitivo seria aumentado pela gratuidade da informação. Que beleza!
“Conhecimento é difícil de achar.” Eis uma definição brilhante! O conhecimento não é “achável”. Como vimos, é um processo interno do sujeito.

Jornal, seja ele qual for, não traz em si o conhecimento. Mas se, por ventura, um trouxesse, todos trariam. Ilustro com manchetes desse domingo (18/09/09):
Estadão on line: “PM busca traficantes e corpos em quatro morros da zona norte do Rio
Folha on line: “Mais inocentes podem ter morrido no Rio, diz PM

Para usar como argumento de venda a distinção entre conhecimento e informação, ou a agência de publicidade do Estadão sabia que o jornal não fornece conhecimento e foi imoral, ou (o que é mais provável) só tinha informação e não conhecimento sobre o conhecimento.

Fonte: http://oqueinspira.blogspot.com
Publicado e divulgado sob autorização do autor.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Nós podemos mais.


“Quanto maiores são as dificuldades, maior é o sabor”.
( Dunga, técnico da seleção brasileira)

       Ao analisarmos o jogo da final da Copa das Confederações 2009, fazemos dele uma referência para avaliar o comportamento dos jogadores em campo, de ambas as seleções. Apesar dos limites de uma análise feita por um torcedor e não por um técnico, esta poderá nos oferecer subsídios para a compreensão do momento histórico pelos quais passam o Brasil e os Estados Unidos.

       A expressão “Yes, We Can” (sim, nós podemos), foi o mote da campanha que elegeu o atual presidente americano Barack Obama. Esta mesma expressão foi divulgada como inspiração da seleção americana para o jogo da final da Copa das Confederações, naquele domingo, dia 28 de junho de 2009. No Brasil, mesmo sem falar e assumir esta expressão máxima, o povo brasileiro tem demonstrado, ao longo dos últimos anos, que pode mais com suas habilidades, criatividade e ousadia.

       Vamos então ao jogo. O primeiro tempo foi absolutamente dominado pela supremacia pragmática do futebol americano. Apesar das tentativas brasileiras jogando em direção à trave do adversário, os americanos é que souberam aproveitar ao máximo as duas únicas oportunidades do jogo, com dois gols. A seleção brasileira jogou apática. A seleção americana jogou soberana. No segundo tempo, as duas seleções mudaram radicalmente suas atitudes em campo. Por um lado, a seleção brasileira emergiu do marasmo e teve atitude altiva de quem almejava jogar para ganhar. A seleção americana, por sua vez, segurou-se para manter o resultado, mas cedeu ao empate e depois ao gol que consagrou o Brasil campeão.

       Ora, a seleção brasileira, a exemplo de como age seu povo, jogou o segundo tempo com criatividade, persistência, ousadia e liderança, características próprias de uma nação emergente e com reconhecida capacidade política no cenário internacional. Tinha nos pés de seu maior líder e capitão Lúcio, a referência e a garra para as jogadas. Jogou com espírito de equipe, usando meio e laterais do campo como há tempo a seleção brasileira não ousava jogar. Dunga escalou uma equipe, mas contou novamente com o diferencial de jogadores como Kaká e Luis Fabiano.

       A seleção americana, por sua vez, não sustentou o jogo com seu jargão. Não soube reagir diante das investidas dos brasileiros, rumo ao gol, no segundo tempo. Seu jogo pragmático e de resultados rendeu-se ao jogo da criatividade e persistência dos brasileiros. Os jogadores americanos foram incapazes de mudar seu comportamento em campo, dificuldade que também parece estar presente em sua nação, quando esta joga na economia e na política e precisa se recuperar.

       Se Roberto Gomes escrevesse hoje seu livro “Crítica da Razão Tupiniquim”, ainda escreveria sobre a não existência de pensadores e filósofos que pensam o Brasil (parece que o Brasil ainda não é suficiente sério para ser pensado), mas já concordaria de que o Brasil construiu condições para a sua auto-afirmação: recuperou a credibilidade, joga como uma grande equipe e devolveu ao povo a esperança e a auto-estima. Ademais, amadureceu como nação e é uma prova que a democracia lhe faz muito bem.

       Quando o Brasil joga com futebol, com esperança e com perseverança, ele pode muito mais. Pode, inclusive, virar o jogo da vergonha. É o jogo de uns poucos brasileiros que jogam com a corrupção e com escândalos que envolvem dinheiro público. O Brasil tem jeito, acreditem... O Brasil é brasileiro!

(Nei Alberto Pies, professor e ativista em direitos humanos)

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

EDUCAÇÃO REFLEXIVA NO SÉCULO 21


O Centro de Filosofia Educação para o Pensar e a Editora Sophos compõem o Sistema de Ensino Reflexivo (S.E.R.). Há 20 anos realizamos um trabalho de ensino, pesquisa, produção e assessoria junto aos colégios e professores de todo o país.

Nossa preocupação maior nesses anos de trabalho com os professores e alunos foi a de possibilitar condições materiais para que a reflexão filosófica aconteça, tenha continuidade e ajude na vida das pessoas.

Buscamos, através do Programa Filosófico-Pedagógico "Educar para o Pensar: Filosofia com crianças, adolescentes e jovens", oportunizar que o filosofar, o ensinar e o aprender sejam vivos e cheios de vida. Que a reflexão seja constante em todos os momentos na vida das pessoas envolvidas no processo de ensino-aprendizagem.

Ao completarmos 20 anos (no dia 18/07) vemos a concretização de muitas reflexões, ações, projetos e partilhas. Nossa história está repleta de ações em prol de uma educação reflexiva. A experiência da existência nos dá maturidade e perspectivas para olhar mais longe, e projetar novos horizontes e ações propositivas.

Nada melhor do que comemorar 20 anos oferecendo vitalidade, foco na ação e presentes. Estamos, com este informativo, inaugurando um novo tempo de ações junto aos professores, alunos, colégios e pais. Primeiramente, a continuidade do Projeto "Autor da Escola", que a partir da metade de agosto deste ano está  sendo sendo realizado em diversas escolas do país. Começamos por Brasília. Serão eventos com professores, alunos e comunidade escolar para o lançamento de 21 livros novos e reformulados. Veja a cobertura completa nas páginas do < Jornal Corujinha online deste trimestre, aqui >.

Também significativas são as ações que realizamos, como a "Ganhe um livro e indique um amigo para receber outro", comemorando nosso aniversário. Relevante a criação da Comunidade do SER e da Comunidade Escola de Pais do SER (com centenas de participantes), no Orkut. Interação, socialização de reflexões, materiais, conhecimentos... Vamos, nos próximos meses, criar a Comunidade Professores de Ed. Infantil. Participe em www.portalser.net dessas iniciativas todas e usufrua dos nossos livros e coleções.




Boa leitura, boas reflexões,
acompanhe e participe conosco.





Prof. Dr. Silvio Wonsovicz
Presidente do S.E.R.







FONTE: Este conteúdo é parte
integrante da Edição 64
do Jornal Corujinha,
seção "Editorial", página 2.

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