Inauguramos assim um novo momento na história da Educação Reflexiva e do Ensino de Filosofia nas escolas, principalmente naquelas que têm uma preocupação com o SER.
Corujinha: O que levou o CENFEP ao desenvolvimento dos livros didático-reflexivos e, junto com a Editora, à criação do S.E.R.?
Professora Gígi: Há vinte anos o Centro de Filosofia Educação para o Pensar faz um trabalho voltado para a inserção da disciplina de filosofia nas escolas, defendendo a importância do pensar filosófico reflexivo no processo de ensino-aprendizagem, na formação de cidadãos autônomos e eticamente comprometidos com o ideal de uma sociedade mais justa e igualitária.
Ao longo desse trabalho com professores, estudantes e pais, nas experiências vividas nas salas de aula, nas conversas com as comunidades escolares e em discussões, nas universidades, com especialistas em educação, percebemos que seria enriquecedor ampliar o espaço do pensar reflexivo, tradicionalmente restrito às aulas de filosofia, levando-o a todas as disciplinas. Foi uma proposta que surgiu como fruto da reflexão sobre as práticas escolares, e fecundada pelas visões de educação de Kant, Adorno, Habermas, Dewey, Lipman, Schön, Zeichner, Alarcão, Freire, Saviani e Wonsovicz. Passamos a desenvolver esta possibilidade de abordagem reunindo educadores críticos com vasta experiência (atuando em sala de aula) em suas disciplinas e interessados em construir outra via para o ensino.
Corujinha: Em que as coleções dos livros didático-reflexivos do S.E.R. diferem das outras que estão no mercado?
Professora Gígi: A equipe de autores se propôs a elaborar livros didáticos que levem os estudantes a uma postura mais ativa na aprendizagem, fazendo-os construtores de seu conhecimento, tirando-os do papel de receptores passivos do saber acumulado que a pedagogia tradicional lhes reservara. Como isto se coloca na prática? Os conteúdos foram abordados de modo a correlacionar o conhecimento teórico com a experiência concreta, prática, dos estudantes. O conhecimento alcançado por cada um deverá ser tecido com base nos saberes produzidos pelos investigadores das diferentes áreas de pesquisa científica, mas de maneira crítica, refletida, relacionada ao viver, possibilitando a aplicação criativa desse saber na resolução de novos problemas ou questões urgentes que se apresentem. Conhecimento e ação, o pensar e o agir interligados, tornando o pensar em uma ação concreta no âmbito da vida particular e social.
Corujinha: E quem são os autores dos livros didático-filosóficos que o SER apresenta às escolas em 2009 (Alfabetização - 1o. ano e do 6o. ano - história, geografia, ciências, português e matemática), os quais terão continuidade nos próximos anos?
Professora Gígi: São professores-autores que pensam sobre o fazer pedagógico, sobre as ações pedagógicas e o conhecimento que as guia, procurando perceber mais claramente suas implicações, suas conseqüências, seu alcance. Querem levar os estudantes a distringuir alternativas teóricas e práticas e a criar novas proposições, a imaginar caminhos novos, seja desenvolvendo novas tecnologias, seja buscando práticas sustentáveis para uma sociedade livre, igualitária, fraterna e em harmonia com a natureza.
Em outras palavras, a abordagem dos conteúdos e atividades propostas pelos professores-autores (que estão em sala de aula) guia-se por uma pedagogica da autonomia, objetiva que o estudante torne-se um sujeito autônomo, capaz de auto-gestão de pensar por si mesmo, diminuindo o domínio das ideologias, das ideias alheias sobre si. Quando o homem pode pensar livremente, de modo crítico, investigativo e criativo, emocionalmente equlibrado, ele pode avançar em seu projeto de SER, de desenvolver suas qualidades essenciais, aquelas que o fazem indivíduo único e valoroso, aquelas que não pertencem à esfera do ter, das aparências, do adereço exterior que o dinheiro pode comprar. Neste sentido, há um projeto de ser humano que guia a proposta do nosso material didático e que está claro em todos os materiais da editora Sophos. Estamos comprometidos com dois aspectos da educação, a informação e a formação, com o conhecer e com o SER.
Corujinha: Como é a proposta didático-metodológica dos livros?
Professora Gígi: Todas as coleções pautaram-se pelo mesmo método didático, esse método aparece traduzido nos passos de abordagem dos conteúdos em cada capítulo dos livros: motivando a pensar, registrando e ampliando horizontes, aprofundando o pensar, conectando-me com o mundo, situando-me, finalizando sem finalizar e colocando a mão na massa; com alguns tópicos específicos em cada disciplina. Aliada a esses passos há uma constante estimulação à percepção de uma visão interdisciplinar do saber. Trata-se da reflexão crítica como instrumento de construção do conhecimento e ampliação da visão do mundo.
E parte central da proposta de ensino a insistência nas atividades investigativas, de pesquisa, discussão e construção conjuntas, desenvolvidas em grupos de estudantes, nas Comunidades de Aprendizagem Investigativa. Trabalhando em suas tarefas nos grupos os estudantes interagem entre si, dialogam criticamente, discutem as questões em pauta e testam hipóteses de solução, desenvolvendo suas capacidades de expressão, atenção, partilha, cooperação, corresponsabilidade e senso democrático.
Para uma compreensão mais aprofundada desses passos metodológicos convido os leitores a conhecerem os livros, a experimentá-los.
Corujinha: Mudanças no material didático são suficientes para promover mudanças no processo de ensino-aprendizagem?
Professora Gígi: O material é muito importante, mas para que o ensino seja reflexivo é preciso que os professores, os estudantes e os pais, toda a comunidade escolar seja reflexiva, que pense antes de agir, durante a ação e após a ação, entretecendo teoria e experiência.
É preciso que a comunidade escolar planeje suas ações para a prática educativa, pense sobre quais são seus objetivos, que métodos ou caminhos serão os escolhidos, sobre a adequação dessa escolha ao contexto da escola e da comunidade em seu entorno, sobre os valores que serão reafirmados através de suas práticas.
Corujnha: O que o professor deve fazer ao utilizar esses livros didáticos com os alunos para que eles se tornem reflexivos?
Professora Gígi: É necessário que o professor pense sobre o que faz durante o processo de ensino-aprendizagem, que avalie, que reestruture, que reveja o recorte dos temas, a proposição de tarefas, os moldes de avaliação, a divisão do tempo, que tenha flexibilidade no agir e competência para criar opções de trabalho. E, para além disso, é importante que todos aqueles que participam da comunidade escolar possam pensar sobre as ações já implementadas, sobre os resultados alcançados. Baseados na avaliação de todos os participantes, em diversas formas de feedback recolhidas no processo, nos problemas que surgiram e soluções possíveis já postas em ação ou não, planejando novas ações em direção a um ensino de mais qualidade.
Crianças e adolescentes tornar-se-ão reflexivos, críticos, ativos, investigativos, criativos e emocionalmente ricos e equilibrados se os adultos com os quais convivem cultivarem essas características em suas vidas e, concomitantemente, oferecerem a eles ocasiões em que possam desenvolver essas qualidades. Esse é um caminho para sermos seres humanos emancipados, autônomos.
Emancipados porque saídos de um estágio de minoridade, de dependência em relação aos outros, de submissão às ideias e valores dominantes, porque capazes de escolher conscientemente que tipo de ser humano desejamos vir a ser, que crenças e valores desejamos adotar. Autônomos porque detentores do poder de pensar por nós mesmos, de propor e justificar nossas idéias, de agir com competência, de fazer o mundo ser diferente através de nossa ação no mundo.
E é bom lembrarmos de que humanos emancipados não excluem o outro, os outros seres humanos, pelo contrário, os indivíduos constroem sua identidade pecuilar relacionando-se com os outros, no exercício de abertura para com aqueles que são diferentes dele, no contato com o múltiplo e diverso é que se descobrem, se escolhem, delineando-se como seres únicos. Essa relação de partilha do processo de construção da própria identidade e de mútua interdependência implica uma relação de responsabilidade social, de preocupação com o outro, de ação socialmente comprometida.
FONTE: Este conteúdo é parte
integrante da Edição 64
do Jornal Corujinha,
seção "Entrevista", página 3.
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Muito interessante a entrevista com a Profª Dr. Gigi A. H.Sedor. Realmente o material tem esta proposta. Podemos fazer recortes e adequar os exercícios reflexivos de acordo com as turmas. Eu e os meus alunos do 2º ano estamos adorando "O menino e a caboré".
ResponderExcluirProfª.Helisandra