Jéferson Dantas *
A priori, poderíamos dizer que a Síndrome de Desistência do/a educador/a ou Síndrome de Burnout é um sintoma bastante presente na vida de qualquer trabalhador/a em educação. Deve-se perceber, todavia, que esta síndrome é multidimensional, ou seja, carrega consigo pelo menos três elementos essenciais: 1) Despersonalização; 2) Exaustão emocional e 3) Falta de envolvimento pessoal no trabalho. Logo, estes três elementos coadunados revelam uma “situação em que os trabalhadores sentem que não podem dar mais de si em nível afetivo e percebem esgotada a energia e os recursos emocionais próprios, devido ao contato diário com os problemas, endurecimento afetivo, ‘coisificação’ da relação e tendência de uma ‘evolução negativa’ no trabalho”, conforme pesquisa desenvolvida por Wanderley Codo no final da década de 1990.
Os/as educadores/as, embora tenham controle sobre o seu trabalho (todas as etapas do processo de produção do conhecimento), sofrem psiquicamente quando não conseguem atingir os seus objetivos pedagógicos. Este sofrimento quando não encontra um restauro imediato, tende a internalizar no/a educador/a uma sensação constante de impotência diante das demandas estruturais e conjunturais em seu ambiente de trabalho. Como nos ensina Paulo Freire, precisamos fugir do discurso fatalista dos governos neoliberais e acreditar numa força capaz de arregimentar uma “nova rebeldia (...) a ética universal do ser humano e não a do mercado, insensível a todo reclamo das gentes e apenas aberta à gulodice do lucro. É a ética da solidariedade humana”. Dizer isso é radicalizar o espírito dos/as educadores/as. Mostrar-lhes que os caminhos – embora áridos – dependem de organização pessoal e material.
Além disso, atender públicos escolares tão díspares, com perfis sociais tão diversificados exige dos trabalhadores em educação uma formação que vá além daquela recebida nos bancos de uma universidade (formação inicial). A formação continuada possibilita ao/à educador/a estar atento ao seu tempo, ser protagonista e ao mesmo tempo coadjuvante no momento das decisões coletivas. Diante disso, os/as educadores/as não podem se isolar. A criação é um processo muito rico, embutido nos planejamentos coletivos e em consonância com o PPP (Projeto Político Pedagógico) da unidade escolar. Um ambiente de trabalho criativo é dotado de possibilidades pedagógicas. Mas, acima de tudo, é um ambiente onde os trabalhadores em educação se sentem à vontade para trocar idéias; onde impera a construção do conhecimento e a ludicidade necessárias para se promover um espaço sadio de interatividade intelectual.
A Síndrome de Burnout, nesta direção, só poderá ser combatida de maneira orgânica. Atacar seus pontos fortes (despersonalização, exaustão emocional e falta de comprometimento) exigirá uma reorganização da classe docente, um sentimento de pertencimento ao ambiente escolar. Fundamental esclarecer, porém, que não são apenas os/as educadores/as que sofrem desta síndrome. Os orientadores educacionais sofrem quando não conseguem solucionar as dificuldades de aprendizagem dos/as estudantes com históricos de multirrepetência e a própria ansiedade das famílias; os supervisores sofrem quando não conseguem auxiliar de maneira adequada os educadores no seu planejamento diário; os diretores sofrem quando precisam cuidar e evitar a depredação do patrimônio público, tentando liderar de forma mais democrática possível as demandas da comunidade escolar e local.
Enfim, no epicentro de todos estes tensionamentos, uma das saídas possíveis para amenizar a síndrome, é compreender que a insatisfação do trabalho docente não pode ser desconectada de todas as demais instâncias deliberativas da escola e das políticas públicas educacionais implantadas até o momento (condições de trabalho, planos de carreira, salários dignos). O percurso é sinuoso, repleto de percalços e resistências. Mas pode ser menos doloroso psiquicamente se o/a trabalhador/a em educação puder ter momentos de discussão na escola, onde suas angústias possam ser canalizadas a partir de toda uma dinâmica dialética. A desistência sistemática dos/as educadores/as – e de educadores/as jovens, sobretudo – infelizmente, só agravará o quadro já caótico do ensino público no país.
Os/as educadores/as, embora tenham controle sobre o seu trabalho (todas as etapas do processo de produção do conhecimento), sofrem psiquicamente quando não conseguem atingir os seus objetivos pedagógicos. Este sofrimento quando não encontra um restauro imediato, tende a internalizar no/a educador/a uma sensação constante de impotência diante das demandas estruturais e conjunturais em seu ambiente de trabalho. Como nos ensina Paulo Freire, precisamos fugir do discurso fatalista dos governos neoliberais e acreditar numa força capaz de arregimentar uma “nova rebeldia (...) a ética universal do ser humano e não a do mercado, insensível a todo reclamo das gentes e apenas aberta à gulodice do lucro. É a ética da solidariedade humana”. Dizer isso é radicalizar o espírito dos/as educadores/as. Mostrar-lhes que os caminhos – embora áridos – dependem de organização pessoal e material.
Além disso, atender públicos escolares tão díspares, com perfis sociais tão diversificados exige dos trabalhadores em educação uma formação que vá além daquela recebida nos bancos de uma universidade (formação inicial). A formação continuada possibilita ao/à educador/a estar atento ao seu tempo, ser protagonista e ao mesmo tempo coadjuvante no momento das decisões coletivas. Diante disso, os/as educadores/as não podem se isolar. A criação é um processo muito rico, embutido nos planejamentos coletivos e em consonância com o PPP (Projeto Político Pedagógico) da unidade escolar. Um ambiente de trabalho criativo é dotado de possibilidades pedagógicas. Mas, acima de tudo, é um ambiente onde os trabalhadores em educação se sentem à vontade para trocar idéias; onde impera a construção do conhecimento e a ludicidade necessárias para se promover um espaço sadio de interatividade intelectual.
A Síndrome de Burnout, nesta direção, só poderá ser combatida de maneira orgânica. Atacar seus pontos fortes (despersonalização, exaustão emocional e falta de comprometimento) exigirá uma reorganização da classe docente, um sentimento de pertencimento ao ambiente escolar. Fundamental esclarecer, porém, que não são apenas os/as educadores/as que sofrem desta síndrome. Os orientadores educacionais sofrem quando não conseguem solucionar as dificuldades de aprendizagem dos/as estudantes com históricos de multirrepetência e a própria ansiedade das famílias; os supervisores sofrem quando não conseguem auxiliar de maneira adequada os educadores no seu planejamento diário; os diretores sofrem quando precisam cuidar e evitar a depredação do patrimônio público, tentando liderar de forma mais democrática possível as demandas da comunidade escolar e local.
Enfim, no epicentro de todos estes tensionamentos, uma das saídas possíveis para amenizar a síndrome, é compreender que a insatisfação do trabalho docente não pode ser desconectada de todas as demais instâncias deliberativas da escola e das políticas públicas educacionais implantadas até o momento (condições de trabalho, planos de carreira, salários dignos). O percurso é sinuoso, repleto de percalços e resistências. Mas pode ser menos doloroso psiquicamente se o/a trabalhador/a em educação puder ter momentos de discussão na escola, onde suas angústias possam ser canalizadas a partir de toda uma dinâmica dialética. A desistência sistemática dos/as educadores/as – e de educadores/as jovens, sobretudo – infelizmente, só agravará o quadro já caótico do ensino público no país.
PARA SABER MAIS
CODO, Wanderley (Coordenador) Educação: carinho e trabalho- Burnout, a síndrome da desistência do educador, que pode levar à falência da educação. 2ª Ed. Petrópolis, RJ: Vozes/ Brasília: CNTE: UnB: Laboratório de Psicologia do Trabalho, 1999.
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* Professor universitário e Doutorando em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). E-mail: clioinsone@gmail.com. Consultor e articulador pedagógico na comissão de educação do Fórum do Maciço do Morro da Cruz (CE/FMMC).
Jéferson Dantas também é um dos autores
do SER - Sistema de Ensino Reflexivo,
pela Editora Sophos.
Clique AQUI
para conhecer mais sobre o livro
Dialogando com a História
do SER - Sistema de Ensino Reflexivo,
pela Editora Sophos.
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Dialogando com a História
(Coleção Didáticos Reflexivos do SER).
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Excelente texto. Parabéns Professor.
ResponderExcluirTenho trabalhado, exaustivamente, esse tema e seu escrito veio contribuir com o que tenho desenvolvido pelas escolas que presto assessoria.
Um grande abraço
Raquel Mesquita
Este texto veio acalhar à atual situação em que nós profesores da rede paulista de ensino público enfrentamos. Depois de uma greve sem colher bons frutos, tendo somente descasos dos nossos políticos patrões somados a realidade de nossa clientela, entendo o porque de muitos professores estarem afastados.
ResponderExcluirParabéns professor pelo artigo,o qual veio a calhar sobre o que acontece comigo e com tantos colegas onde leciono...Somos vítimas do bullying,de violências diversas...É recomendado pela direção da escola não fazer B.O. e sim pegar licença-saúde.Pode isso?Até quando?É desumano o tratamento dado ao prof.Desse jeito,só desistindo de tudo mesmo e ir vender hot dog,ser camelô.Ninguém merece isso tendo um curso superior,pós e até mestrado.Brigado.Abraço.Prof.Miguel N.Silva
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