quinta-feira, 12 de abril de 2012

O que torna possível em vida em Sociedade


Professor Ivo José Triches

A força de uma palavra capaz de tornar a vida em sociedade possível

Só eu sei o quanto eu não sei, mas do pouco que sei compreendi, nestes anos de estudo, que o principal conceito capaz de tornar a vida em sociedade possível é a confiança. É precisamente sobre isso que lhe convido a dialogar neste artigo.
 Começarei pela etimologia como é meu costume, depois a intencionalidade é demonstrar como essa palavra pode influenciar suas ações futuras. Notoriamente há um fim último, qual seja contribuir com esse escrito para que seus dias sejam os mais suáveis possíveis.

1 – A palavra confiança a partir de sua etimologia

     As palavras em nossa língua portuguesa com começam o prefixo co, traduz a ideia de “junto à”. Isso também ocorre com a palavra confiança. Essa é mais uma palavra de origem latina. Por exemplo: cooperação traduzindo a ideia de que é aquele que trabalha com o outro; Concórdia = no sentido de o meu “coração se aproxima do outro” e assim por diante. Já escrevi isso no artigo sobre o principal dos males: a inveja.
        No livro de Napoleão Mendes de Almeida, sobre Gramática Latina, o verbo confiar em latim está assim escrito assim: fido, is, fidere.
        No Dicionário Aurélio confiar também significa ter fé. Em latim fidis. Observe que são palavras com significado próximo.
        Numa certa feita um amigo traduziu esse conceito cofiança como sendo “os fios que estão juntos”. Em outras palavras: confiança designa à “ação de ter fé com o outro”. Palavras minhas.
Por isso no Dicionário Aurélio que foi editado pela Folha de São Paulo, essa palavra tem o seguinte significado: “Segurança íntima de procedimento. Segurança e bom conceito que inspiram as pessoas de probidade, talento, descrição, etc. Familiaridade”. Logo, nesta definição é necessário à existência de dois ou mais em processo de interação para que a confiança se estabeleça. Visto assim, podemos afirma que a mesma pressupõe a reciprocidade. Concordo que isso é absolutamente verdadeiro.
Há uma analogia – em Filosofia significa raciocínio por semelhança – que traduz ainda melhor o que é a confiança no meu entendimento. Imagine uma camisa. Notoriamente que tem manga. Depois imagine um casamento. O marido “pula a cerca” uma vez e mulher descobriu. Dá aquela confusão! Acabou abrindo um buraco na manga da camisa. Ele pediu perdão e ela perdoa. Pronto! O “buraco” foi fechado, costurado. Tudo volta ao normal.
Mais tarde esse marido apronta uma segunda vez, depois uma terceira. Na quarta não tem mais jeito. O “buraco” ficou tão grande que a manga cai. O que ocorreu? Acabou a confiança. Criou-se o quê? Um clima de desconfiança. É por isso que em latim desconfiar se escreve diffido, is. Portanto os “fios” já não estão juntos. Não há mais nada que possa segurar essa relação. No artigo que lhe escrevi sobre a inveja explicitei que as palavras que começam com o prefixo di ou de indicam separação, rompimento, etc. Lembra-se da deusa da inveja. Como era o nome dela?

2 – As imbricações entre confiança e o tecido social

        Qual é a espinha dorsal que faz com que o exército e a policia consigam manter tais instituição em pé? A disciplina. Mesmo nessas a relação de confiança entre os atores nelas envolvidos é fundamental.
        Nas demais instituições existentes, a confiança é a coisa mais importante. Acabou a confiança os casamentos se desfazem. As empresas quebram, os amigos se separam, a relação professor X aluno fica insustentável, etc.
        A vida em sociedade, portanto, só é possível de fato se houver uma relação de confiança entre seus membros.
        Entretanto, a confiança só existe se houver conjuntamente outros valores.  É possível uma relação de confiança entre duas pessoas sem haver a honestidade? Creio que você concorda comigo que a resposta é não! Um exemplo disso é o que está acontecendo o nosso senador Demóstenes. Seus eleitores, na sua grande maioria, já não confiam mais nele. Por que será, não é mesmo?
        Uma vez eu li uma frase que permanece comigo até hoje. É essa: a confiança a gente não impõe, conquista. De fato me parece que tem fundamento.
        Para que eu me torne amigo de uma pessoa quanto tempo é necessário? Aristóteles respondeu isso ao seu filho dizendo assim: “para que eu seja amigo de alguém é necessário antes que eu coma o sal com ele”. Isso está no livro VIII da obra Ética a Nicômaco.
        Se eu pudesse lhe dar um conselho lhe diria para você não constituir sociedade com alguém sem antes comer um saco de sal com essa pessoa. Da mesma forma, só vale a pena casar com alguém depois de conhecer bem o outro ou a outra... rs!  Talvez seja por isso que em muitos lugares – principalmente no sítio – o namoro dura tanto. Lembro-me que quando era pequeno lá no sítio havia casais de namorados a seis anos juntos. Só que o calorão é grande... rs!
        Eu já errei muito neste sentido. As vezes uma pessoa parecer ser de extrema confiança. De repente ela tem uma atitude de inveja em face de ti, que abre um buraco tão grande na manga da camisa que parece não haver mais conserto...
        Sem confiança a vida em sociedade tornar-se-á um caos. A própria personalidade de alguém que vive em um ambiente que há falta de confiança é bem diferente daquela que convive em um ambiente onde a confiança reina. Você concorda comigo acerca disso? Pense nisso.
        O valor de uma marca é tanto maior, quanto maior for à confiança nela existente. Também é verdade que as vezes nome de alguém acaba sendo determinante no ato da compra um produto. O que estou querendo lhe dizer é que nosso nome não deixa de ser uma “marca” de maior ou menos valor. Dependerá da capacidade de confiança que ela inspira.
         A título de ilustração cito aqui a Filosofia Clínica. Quando ela surgiu no Brasil a cerca de 20 anos, muitos de pronto a rechaçaram! Contudo, hoje ela continua a aumentar o número de simpatizantes. 
        Só há uma coisa que para em pé! O quê? A verdade! Lembre-se desse provérbio: veritas filia temporis, ou seja, a verdade é filha do tempo. Interessante: essa é mais uma palavra que está intimamente ligada à confiança. Quanto mais verdadeiro eu for, maior a possibilidade dos outros terem confiança em mim.
        Novamente cabe aqui a filosofia de Espinosa. Quando que algo tende a permanecer na história? Quando é bom para mim e para o conjunto da humanidade. Assim é Filosofai Clínica.
        Dessa forma cabe a cada um de nós pensarmos qual é a qualidade das relações sociais que eu estabeleço com os demais atores. Para Habermas tais relações podem se dar no âmbito do mundo da vida ou no âmbito do mundo da ações estratégicas. A confiança plena está associada ao primeiro. Entretanto numa próxima ocasião lhe escrevei mais acerca disso. Razão pela qual voltaremos a essa tema.
        Estou terminando de lhe escrever esse texto no dia 06/04/12 as 2hs25. Já é sexta-feira santa para os cristãos. Poucas horas atrás os cristãos relembraram a cerimônia do lava pés. Para mim o gesto mais significativo que já conheci capaz de aumentar as relações de confiança entre as pessoas. O Lava Pés, que tem como pressuposto a  humildade como uma das virtudes importantes.
        Vou lhe escrever também em outro momento sobre a relação entre o perdão e a confiança. Na ocasião destacarei a importância da pintura do quadro “O Retorno do Filho Pródigo”, de Rembrandt (1606-1669). O original está no museu Hermitage, em São Petersburgo na Rússia.

Um comentário:

  1. Bom dia!

    Gostei muito do texto é muito bom fazer um exame de conciência desta forma.

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