“O pensamento é uma força e a palavra tem poder. O que
a mente produz, o universo realiza e o que verbalizamos tem capacidade de se
cumprir. Por isso, é preciso exercer vigilância firme e permanente sobre o que
pensamos e o que dizemos”.(Vera Pinheiro)
Moacyr
Scliar, sempre talentoso em suas crônicas, abordou de forma sábia e eloqüente a
situação duvidosa que paira sobre o contágio e a proliferação do vírus H1N1,
sobre a também chamada gripe A (ZH, 28/07/09). Scliar destacou a importância de
falarmos sobre esta epidemia como forma de construir conhecimento e
discernimento para as nossas ações de prevenção e enfrentamento a esta nova
epidemia. Mas, o que mais poderá nos ajudar para superarmos nossas angústias e
medos com relação a este vírus?
Como
seres em relação, torna-se imprescindível nossa linguagem. Como nunca antes
visto, falamos da prevenção como a melhor forma de enfrentarmos nosso tão
rigoroso inverno, e não contrairmos nenhuma gripe. Mas se é verdadeira a
afirmação de que a gripe comum mata tanto quanto a nova gripe, porque as
autoridades médicas e políticas não se posicionaram de forma mais contundente
frente à mesma? Não seria o caso da mesma ser tratada com mais intensidade e
seriedade?
O
medo tem a função de medir e mediar as conseqüências de nossas atitudes.
Através dele, vamos criando as noções de perigo e de limite que delimitarão
nossas vidas. O pânico, por sua vez, geralmente nos leva para a inação ou para
ações precipitadas ou desesperadas. Este carece de racionalidade, é levado
pelos nossos impulsos, e gera situações de grande insegurança.
São tênues as
diferenças entre medo e pânico. Mas é aí que podemos nos valer da expressão dos
gregos: “é preciso pensar bem, para viver melhor”. É bem verdade, Scliar, quanto
mais pensamos sobre as situações de nossa vida, maiores são as possibilidades
de encaminharmos soluções compatíveis com a nossa realidade, também agora com o
advento do novo vírus.
O que não
corrobora para a compreensão e discernimento do problema é o desencontro e o
conflito de informações. Acreditando no poder da prevenção, porque é que nem
todos, de forma cabal, aceitam a idéia de que é preciso evitar aglomerações,
por exemplo? É verdade que todos deverão passar por esta gripe? É notório que
os sistemas de saúde, pública e privada, não estavam preparados para esta nova
epidemia. Que medidas concretas estão sendo adotadas para que as estruturas
hospitalares e a internação, junto com o remédio, estejam disponíveis no
momento que qualquer um de nós precisar acessá-los? Quando estas e outras
perguntas estiverem respondidas, com certeza, continuaremos com medo da nova
gripe, mas não teremos mais pavor para enfrentá-la.
O que deve nos
contagiar é o espírito de cooperação, seja na esfera pessoal, coletiva ou
institucional. O que for bom para todo mundo, que seja amplamente divulgado e
disseminado a todos. O que aumentar nosso medo e pânico, que seja tratado nas
esferas do estudo, pesquisa e análise, nos ambientes próprios da medicina e da
política. Afinal, as dúvidas servem para nos estimular novos conhecimentos.
Nossas certezas servem para nos propiciar condições de “bem viver” e conviver.
Nei
Alberto Pies, professor.