quinta-feira, 25 de novembro de 2010

PENSAR SOBRE O PENSAR

Gígi Anne Horbatiuk Sedor
Doutora em Filosofia, Coord.ª Pedagógica do S.E.R., professora na UDESC.

 
Uma boa metáfora para pensarmos sobre o pensar é tomá-lo como uma espécie de viagem, como o exercício de percorrer caminhos, de ver a paisagem que surge, de contemplá-la, de interrogar-se sobre o visto, de planejar um outro trajeto futuro...
Caminhemos com José Saramago1:
A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o viajante se sentou na areia da praia e disse:
“Não há mais que ver”, sabia que não era assim. O fim da viagem é apenas o começo doutra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se vira no verão, ver de dia o que se viu de noite, com sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre.
1 SARAMAGO, José. Viagem a Portugal. Lisboa: Editorial Caminho, 1984.


Bom também é lembrarmos que a Filosofia não é uma viagem que se faz sozinho, pelo contrário, ela é espaço do diálogo de muitas vozes, de muitos olhares, de tantos que percorrem seus caminhos, entrelaçando os saberes e ousando transcender o já sabido, o já vivido, construindo nova morada para o homem novo. Ouçamos o que nos conta João Cabral em seu poema “Tecendo a manhã”1:

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.

Obs.: Busque mais informações no livro O Meu quintal – 1º ano (do Ensino Fundamental) da
Coleção Filosofia o Início de uma Mudança – a explicação do Galo, da Coruja, do Beija-flor e do Quero-quero
como símbolos da Filosofia. Também poderá solicitar junto a secretaria@portalser.net
 
1 MELLO NETO, João C. de. A educação pela pedra. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1966.

Sejamos companheiros nessa viagem, viajemos juntos, em longa, atenta e saborosa conversação filosófica. Que em nosso diálogo possamos tecer um amanhã luminoso!


POR UMA FILOSOFIA VIVA NA ESCOLA!




3 comentários:

  1. Excelente!
    Que a cada manhã possamos a-cor-dar e pensar melhor a maneira como vamos entoar a canção do alvorecer de um novo dia: ao vou res(coisa) ser, ou melhor dizendo: alguma coisa eu vou ser neste dia que amanhece...

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