quinta-feira, 18 de março de 2010

Daquilo que nos motiva.

Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses.
(Rubem Alves)

Na sala de professores, de uma escola estadual, os educadores deparam-se, em mais um reinício de aulas, com grandes desafios: motivar-se para educar e motivar os alunos para estarem disponíveis para a aprendizagem, durante mais um ano. A espontânea pergunta de uma colega revela um drama que vem perseguindo os educadores ao longo dos últimos anos: quem e o que irá nos motivar. De qual fonte buscaremos forças e suporte para nosso trabalho de educar, em tempos em que a maior exigência e responsabilidade parecem sempre recair sobre a gente.

Na contramão do que os educadores esperam, surgiram receitas nada generosas por parte das autoridades que respondem pela educação em nosso estado. Prega-se paixão e comprometimento. Fala-se em nova gestão escolar e meritocracia. “Gestão, comprometimento, participação, paixão por aquilo que se faz” (Ervino Deon, secretário estadual de educação, ZH 28.01.2010) Lamentável é que passamos mais um ano sem sermos dignos de nenhum elogio, nenhum reconhecimento. Muito antes, pelo contrário, nossa missão continua dobrada: além do esforço cotidiano de fazer educação de qualidade, precisamos lutar para que as condições de nossas escolas e de nossa profissão não sejam cada vez mais desestruturadas.
 
Professores não são anjos, nem centopéias. Diferentes de anjos, constroem dignidade através de seu trabalho e de sua dedicação e precisam contar com o apoio e estímulos para realizarem bem o seu ofício de educar. Não fazem a educação de forma isolada, não podem ser cobrados individualmente para responderem pelos problemas dela.

Nem culpados, nem vítimas, os educadores precisam ser considerados como sujeitos de sua ação pedagógica e protagonistas nas soluções pelas quais a escola precisa passar. Novos livros, novos métodos, ampliação de tempo de aulas dos alunos, não substituem os já conhecidos problemas de falta de estrutura material e apoio pedagógico. Virtudes e habilidades como o diálogo, o convencimento, o respeito aos pensamentos alheios, a tolerância é que constroem caminhos de mediação. Estes exigem muita “coragem para fazer”.

A motivação da qual precisamos vem de dentro, mas também vem de fora. Os bons educadores não esmorecem diante das permanentes investidas governamentais que calejam suas esperanças. Para além de esperarem, lutam pelo agora, mesmo contra a correnteza dos muitos que acham que o tempo é eterno. Resistem escolhendo os mais nobres caminhos da sabedoria: a reflexão e a experiência, como já indicava Confúcio.

Nei Alberto Pies, professor e ativista em direitos humanos.

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8 comentários:

  1. DAQUILO QUE NOS MOTIVA toca em pontos cruciais da "missão" educativa. Aposentado por tempo de serviço, batalhei (como todos) a vida inteira por e em nossa profissão. Acreditem: quase nada mudou, a não ser o vocabulário. No entanto, é preciso continuar acreditando. Parabéns.

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  2. Ao kler o texto acima...fiquei pensando: Ser professor é uma profissão ou um sacerdócio?

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  3. COM CERTEZA SER PROFESSOR É UMA PROFISSAO, EMBORA AINDA CAREÇA DE RECONHECIMENTO POR PARTE POLITICA. DEVEMOS LUTAR POR NOSSA PROFISSAO, POIS SE ENCARMOS COMO SACERDÓCIO CORREMOS O RISCO DE NOS ACOMODARMOS COM A SITUAÇÃO EM QUE ESTAMOS EM NOME DE UM "MISSAO".
    joel prof. da rede estadual de sp

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  4. Precisamos de uma vez por todas parar com essa históra de sacerdócio. Devemos ser profissionais, com nossas características. Somente assim iremos romperer paradigmas arquitetados durante muito tempo.
    Prof Juvenal

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  5. Novamente chegamos ao mesmo ponto: o que nos motiva principalmente hoje para continuarmos a exercer a nossa profissão? Fico pensando que antes o que nos motivava era justamente o querer dos alunos em aprender, o salário nunca mudou, sempre abaixo das expectativas e da realidade do professor, mas a vontade, o desejo em aprender era o que motivavo o professor a ir em busca de mais aprendizagem e a preparar aulas cada vez melhores, dentro de suas condições, para ajudar no processo de aprendizagem. E hoje? Nem salário e nem desejo, querer estudar, se dedicar, se sacrificar, porque aprender não é só alegria , mas é também angústia, é quase sulreal para essa juventude. Que quer tudo pronto e mastigado e cada vez mais nivelamos por baixo o ensino. Uma vez ouvi dizer que a profissão que é quase impossível de se motivar é a do professor em cargo público, exatamente por não ter nenhuma perspectiva de ter alguma melhora, infelizmente. Apenas discursos bonitos e virtuais, nunca chegam a realidade. É impressionante como a carga recai sobre os professores como se eles fossem os únicos culpados dessa história. Mas impressionante ainda é ver colegas com 30, 35 anos de serviço dizendo que já passaram por todos os tipos de capacitação oferecidos pelo Estado e que sempre é assim, mudam o vocabulário e dizem, agora é diferente, daí a 4 anos tudo cai por terra e recomeça como se nada tivesse sido feito, o que não foi feito e não é feito é uma acompanhamento dessas implementações dos projetos lançados e melhorias nos mesmos para dar continuidade no que deu certo e para reestruturar o que não deu. Se ao invés da esperança tivesse restado na caixa de Pandora a educação, talvez teríamos outra história para contar.

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  6. Oi boa noite esta mensagem acima serviu para mim, estou um pouco desmotivada e voces conseguiram me dar um ânimo.
    Eu tenho blog também é aqui no blogspot, se voce quiser pode dar uma passadinha eu coloco mensagens, o meu blog chama poesias, eu estou seguindo voces, é um Hello Kitty, rss, uma brincadeira que fiz para todos que me conhece.
    Abraços.

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  7. Muito bem pontudo. Através das experiências vividas por muitos educadores, as quais sabemos que são puramente reais, eu diria que ainda precisamos cultuar o entusiasmo e não nos abatermos pelo negativismo. Este nos rouba até a nossa subjetividade. E lembrem-se: "Não somos anjos"...

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