quinta-feira, 26 de abril de 2012




O pior dos males: a inveja

        Assim como podemos afirmar que a mãe de todos os vícios é a preguiça e a das virtudes é à vontade, podemos, seguramente, afirmar que a fofoca é filha da inveja! E por quê? Tenha paciência. A resposta você encontrará no interior deste escrito.

1 - O conceito de inveja a partir de sua etimologia

     Como já lhe escrevi em outro artigo o prefixo in que aparece em muitas palavras da nossa língua portuguesa, indica um movimento que vai de fora para dentro. Contudo, em algumas palavras o sentido é de negação. Um exemplo apenas: indiscutível, ou seja, que acerca de tal proposição, não há mais como discutir.
        No caso do conceito da inveja que é o objeto de reflexão deste artigo, novamente o sentido vem ao encontro do que lhe escrevi no artigo sobre virtude e vício. Razão pela qual estamos novamente diante de uma palavra de origem latina. Inveja vem de invídia. IN = dentro e VIDIA = ver. Significando precisamente o seguinte: vontade de não ver o que está “dentro” do outro.
        Desse modo o invejoso é aquele que não quer apenas o que o outro tem. Ele deseja destruir o que o outro tem, e que somente ele tenha o que o outro conquistou. Mais adiante isso vai ficar mais claro. Agora lhe convido a ler o tópico a seguir e ver o quanto ele se aplica no seu cotidiano.

2 - A origem das palavras concórdia e discórdia e sua imbricação com a inveja.

        Na verdade essas três palavras remontam a mitologia romana. Antes uma informação importante. Até o cristianismo tornar-se a religião oficial do Império Romano no Séc. IV havia um deus para cada situação. É por essa razão que dizemos que eles eram politeístas.
        Quando as pessoas viviam em harmonia, diziam que a deusa Concórdia era a que reinava. Desse modo COM = junto à, COR = coração e IA = estudo. Tradução: estudo acerca dos corações que se aproximam.
        A deusa da inveja recebia o nome de Discórdia. Os cabelos  dela eram todos em forma de cobra. Em uma de suas mãos ela tinha uma cobra e na outra uma espada. Por que razão será? Então: DIS = “QUE SEPARA” e CORDIA? Esse sufixo você já sabe.
É por esta razão que existem inúmeras palavras em nossa língua portuguesa que derivam dessas duas. Apenas algumas para exemplificar: contrato = que está tratado com; distrato = quanto há a separação do que foi tratado; Eu concordo com você = no sentido que o meu coração se aproximou de ti; eu discordo de você = indicando que nossos corações (neste caso opiniões) se distanciaram. Sugiro que antes de continuar a leitura você tente lembrar-se de outras.
Você sabia que não havia nenhum templo erguido na Roma antiga para a deusa Discórdia? Certamente é porque os romanos sabiam que esse tipo de sentimento, que ainda existem em nossos dias, era um grande mal.
               
3 - A compreensão do que é a inveja a partir do tema das Paixões em Espinosa (1632-1677)
        Para Bach Espinosa as paixões são afecções, vibrações que o nosso CONATUS sente. E o que é o conatus para ele? É uma força intrínseca a todos os seres que nos chama para a vida. É a nossa luta pela existência. Todos os seres tem conatus. Ninguém deseja conscientemente morrer. Freud dizia que no inconsciente não havia o desejo da morte.
        Ele dividiu as paixões em dois grandes grupos: as da alegria que chamou também de paixões fortes e as da tristeza. Também conhecidas como paixões fracas porque uma vez existindo em nós, enfraquecerão o nosso conatus.
        As paixões são exteriores. Elas, portanto, vem de fora para dentro. Em última instância o que é a inveja? Imaginemos a seguinte situação: eu desejo muito um carro novo e que o mesmo seja vermelho. A cor do meu glorioso Internacional de Porto Alegre. Então em um belo dia eu sou convidado a ir ao casamento do meu irmão. Lá chegando, me deparo com um Fiat Uno vermelho. Pergunto para um dos meus irmãos: de quem é? Ele me diz: da sua irmã fulana de tal. Se o meu conatus começar a ter uma espécie de calafrios e ficar todo incomodado com aquela situação e disser ao irmão: - “só pode ter comprado em prestação. Quero ver como eles vão conseguir pagar tais prestações”! Ponto! Sinais de evidência que a inveja tomou conta de mim.
        Você já observou que geralmente nós escolhemos um parente para falar mal? Todas as famílias com as quais convivi, percebi que em alguns dos seus atores havia e há um forte sentimento de inveja em face de outros membros dessa mesma família.
Notoriamente, estou cônscio que a melhor maneira de se perder um argumento é generalizá-lo. Por isso insisto: a inveja não está presente em todos os membros de todas as famílias, mas de todas as que eu conheço, eu não vi uma, cujo sentimento de inveja esteja totalmente ausente.

4 - Os efeitos colaterais da inveja

Por que eu afirmei no título deste artigo que a inveja é o pior dos males? Porque a partir das minhas vivências com diferentes atores sociais e ouvindo pessoas na clínica (sou filósofo clínico), pude perceber que muitas que estavam com seu conatus enfraquecido, a causa principal era a inveja que elas sofriam de outras pessoas cuja capacidade de resistência era menor.
        Você já percebeu que muitos que criticam de forma veemente o Lula é porque têm inveja? Não estou dizendo que ele esteja livre das mesmas.  Eu mesmo fiquei muito triste com ele essa semana. Assim que melhorou do seu câncer na garganta não mencionou nada sobre o vício que causou esse mal a ele. Foi o cigarro. Melhor dizendo: o charuto. Poderá ser um dos melhores garotos propaganda contra o tabagismo. Creio que ele ainda falará algo aos jovens a esse respeito. O fato é há muitos políticos que não se conformam. Como pode um “petrúquio” como o Lula, que não tem diploma de curso superior, pudesse se tornar o que é hoje.
Por isso que se diz que a inveja mata.  O primeiro a sentir os efeitos colaterais da inveja, é o próprio invejoso. A pessoa que é invejosa acaba gerando nela mesma a mágoa. Para o Espinosa é a má-água. A pessoa fica remoendo esse sentimento. Tenta a todo custo prejudicar aquele que é a causa de sua inveja.
Aquele que é invejado por sua vez, se não tiver uma espiritualidade forte. Se não conseguir “fechar o seu corpo” diante da inveja do outro, perceberá que seu conatus também de enfraquecerá.

5 – A fofoca como filha da inveja

        O que é a fofoca? No meu entendimento a mesma se caracteriza por ser uma comunicação não dialógica. Ela nasce da “rádio corredor” ou “radio cipó”. O invejoso por não se conformar que só o outro tem o que ele tanto deseja, começa a espalhar maledicências a respeito da vida do outro. Assim, as informações distorcidas vão se espalhando e o clima nas organizações, muitas vezes, fica péssimo.
        Como combater a fofoca? Pela ação comunicativa dialógica. Habermas que é o último pensador vivo da chamada Teoria Critica – também conhecida com Escola de Frankfurt - nos deixa esse legado. Qual? Se desejarmos resolver os problemas entre nós sem o uso da violência, o face a face é o melhor caminho. Pelo diálogo autêntico poderemos resolver os conflitos provocados pela filha da inveja, qual seja a fofoca. Tenho clareza que há mais coisas a serem ditas, mas que o espaço aqui não permite neste momento. 

6 - Como se proteger do invejoso

A primeira coisa que eu sugiro é que você faça o que Jesus nos sugeriu. O quê? Dê a ele a outra face. E o que isso significa? Não retribua com a mesma moeda. Se você puder coloque-se ao lado dessa pessoa para ajuda-lá a conquistar o que você já tem e que é a causa da inveja dela.
  Se você perceber que não há como ajudar, fique longe dessa pessoa. Procure amigas e amigos que fortaleçam o seu conatus. Procurem não ficar exibindo suas conquistas.
Eu sempre falo o seguinte para as minhas educandas e educandos: - “se você está conseguindo dar uma “brincada” com alguém, não fale nada para ninguém. Se você ficar contando, muitos  que estão no “jejum”, que estão com um “calorão”, terão inveja de você”. Então por que fazer os outros sofrerem? É melhor ficar calado. Neste caso o que os ouvidos não ouvem o coração também não sente.

7 - A teoria do ato e potência para compreender o fenômeno da inveja

        O grande desafio é fazermos com que a inveja só exista apenas em potência em cada um de nós.
Não sejamos hipócritas em pensar que a inveja só existe no coração dos outros. Há pessoas que me dizem: - “eu nunca tive inveja de ninguém”! A minha resposta: “menos”, “menos”!
        Eu mesmo já fui muito mais invejoso do que sou hoje. Posso lhe assegurar que a mesma está sob controle...rs! Nos raros momentos que eu me dou conta que meu conatus começa sofrer com afecções, vibrações que indicam a presença da inveja, começo a rezar e me concentro em pensar com um sentimento de admiração pelas conquistas dos outros.
Procuro me alegrar e celebrar com ele a respeito de suas vitórias. Assim ela passa e eu sofro menos. É melhor termos a sabedoria por perto. Os bons exemplos dos outros poderão evitar futuros sofrimentos meus.
        Portanto, no meu entendimento é bom administrarmos esse sentimento, afim de que o mesmo só exista em potência e nunca em ato. Espinosa foi um racionalista no sentido de que é possível nós compreendermos racionalmente quais as causas dos males que nos aflige e assim poderemos substituí-los por paixões da alegria. Exemplo: substituirmos a inveja pela admiração.

8 - O que ainda pretendo escrever sobre esse tema:
·      A inveja no ambiente de trabalho, principalmente entre os servidores públicos;
·      Porque muitos que vão à igreja assiduamente são tão invejosos;
·      As imbricações entre nosso lado saphiens e nosso lado demens com a inveja;
·      E por fim, mas não por último, escrever sobre as dores existenciais provocadas pela inveja.
Espero ter contribuído com sua formação e faço votos que você permaneça jovem a maior quantidade de dias possíveis.



Prof. Ivo Jose Triches


quinta-feira, 19 de abril de 2012

PROJETO FILOSOFAR? É só começar...

Educadores e educandos buscando uma Educação para o Pensar com viés filosófico-pedagógico, dentro de um Programa filosófico reflexivo, acontecendo em todos os segmentos escolares. Este é o mais recente projeto do Centro de Filosofia, que caminha para os 25 anos de existência.

Justificativa: 

Estamos em um tempo que carece de utopias, principalmente no momento em que convivemos com as ideias do consumo, do culto hedonista da mercadoria, da alienação, da busca do prazer espetacular pelas sensações. Pensar e fazer pensar, nesta realidade, é sempre uma postura transformadora.

A história de mais de duas décadas de existência do Centro de Filosofia e Editora Sophos está repleta de muita atuação, reflexão e produção, junto às escolas, orientando e discutindo com milhares de professores, de todas as áreas do conhecimento, em várias centenas de cursos e assessorias filosóficas pelo País, com uma defesa contundente da Educação Reflexiva. Neste intento, enfatizamos e assumimos como uma característica marcante a postura que adotamos ao fazermos um trabalho em equipe, onde é de suma importância a socialização dos saberes para podermos construir um caminho próprio.

O que defendemos através de nossas estruturas, dos cursos de formação e de investigações filosóficas, das assessorias sistemáticas aos colégios, é a implantação de aulas reflexivas (pela filosofia) em todos os segmentos. Por isso a utilização de livros das Coleções filosóficas pedagógicas que produzimos. Com o trabalho a partir dos livros e coleções sistemáticas esperamos:

  • A utilização das habilidades de raciocínio, tendo presente que não são aprendidas fora de contextos, isoladas, mas utilizando-as nas várias disciplinas e nas discussões filosóficas.

  • Aprender a fazer relações entre ideias, fatos, conteúdos, experiências e as diversas visões de mundo.

  • Buscar constantemente apreender as relações implícitas e explícitas apresentadas nos assuntos e nas ideias.

  • Valorizar o processo de investigação e a discussão do grupo relacionados aos assuntos apresentados e às ideias filosóficas, sem menosprezar o produto deles resultante ou os resultados.

  • Desenvolver a aprendizagem relacionada ao investigar, tanto individualmente como em grupo, e perceber as alternativas diante das possibilidades do conhecimento.

  • Reconhecer a importância do questionar a si e ao grupo, levando em consideração os outros pontos de vista, colaborando desta forma para a construção da Comunidade de Aprendizagem Investigativa em sala de aula, transformando-a num espaço onde haja uma cultura do pensar.

  • Entender que o conhecimento da realidade tem três dimensões que precisam ser consideradas: a dimensão crítica, que leva ao perguntar o que é?; a dimensão criativa, que leva a perguntar como pode ser conhecido?; e a dimensão criteriosa, que leva a perguntar o que pode ser construído? Com o uso do que se aprende sobre o mundo.

  • Exercitar a dialética socrática, percebendo que todo nosso saber é provisório – “só sei que nada sei”, interiorizando os procedimentos de investigação.

  • Valorizar a importância de cultivar em todos os momentos escolares e em todos os espaços a atitude proveniente da cultura do pensar – investigar, discutir, refletir, reconsiderar, agir.

  • Prezar por adquirir uma postura ponderada (pondos – peso) e de bom senso diante dos fatos, das ideias e da ação.

Com a realização desse projeto, não há intenção de seguir uma proposta como uma “moda” realizada em todo o mundo. Propõe sim, desenvolver um trabalho de Filosofia com os educandos e educadores, que, nas devidas proporções, respeita as especificidades da cultura e dos costumes de cada comunidade escolar.


Objetivos:

- Desencadear entre os membros da comunidade escolar uma oportunidade de reflexão sobre a importância da presença de filósofos na sociedade, bem como dos símbolos e suas implicações em nossas vidas, a fim de que possamos entender o mundo em que vivemos e ajudar a transformá-lo, para que todos possam atingir o seu almejado “sonho” de dignidade e felicidade.

- Conseguir que na Escola sejam feitos projetos interdisciplinares para apresentação no dia da Exposição das Corujas Itinerantes e das palestras a serem ministradas pelo assessor filosófico-pedagógico.


Público alvo: Professores e alunos da Rede Pública - Ensino Fundamental e Ensino Médio.

Período de execução: Abril a Dezembro de 2012.


Como sua escola pode participar?

Encaminhando para o e-mail: assessoria@portalser.net o projeto que realizará junto aos seus alunos (segmentos: Ed. Infantil, Ensino Fundamental ou Ensino Médio) durante o período escolar (abril a dezembro de 2012).

Após análise e aprovação, pelo Departamento de Assessoria Filosófico-Pedagógica do S.E.R., a Editora Sophos irá encaminhar livros didáticos de Filosofia para auxiliar na execução do projeto. O Centro de Filosofia dará assessoria e acompanhamento ao professor e à escola.

Esse projeto pretende atender essencialmente às escolas públicas do nosso País. As inscrições terão um limite máximo para cada segmento. Ultrapassando esse limite, a Editora Sophos e o Centro avisam que ficam para outra ação que faremos em breve.



Departamento Assessoria do S.E.R. (Págs. 6 e 7 do Jornal CORUJINHA nº69 : clique aqui para ler online)

quinta-feira, 12 de abril de 2012

O que torna possível em vida em Sociedade


Professor Ivo José Triches

A força de uma palavra capaz de tornar a vida em sociedade possível

Só eu sei o quanto eu não sei, mas do pouco que sei compreendi, nestes anos de estudo, que o principal conceito capaz de tornar a vida em sociedade possível é a confiança. É precisamente sobre isso que lhe convido a dialogar neste artigo.
 Começarei pela etimologia como é meu costume, depois a intencionalidade é demonstrar como essa palavra pode influenciar suas ações futuras. Notoriamente há um fim último, qual seja contribuir com esse escrito para que seus dias sejam os mais suáveis possíveis.

1 – A palavra confiança a partir de sua etimologia

     As palavras em nossa língua portuguesa com começam o prefixo co, traduz a ideia de “junto à”. Isso também ocorre com a palavra confiança. Essa é mais uma palavra de origem latina. Por exemplo: cooperação traduzindo a ideia de que é aquele que trabalha com o outro; Concórdia = no sentido de o meu “coração se aproxima do outro” e assim por diante. Já escrevi isso no artigo sobre o principal dos males: a inveja.
        No livro de Napoleão Mendes de Almeida, sobre Gramática Latina, o verbo confiar em latim está assim escrito assim: fido, is, fidere.
        No Dicionário Aurélio confiar também significa ter fé. Em latim fidis. Observe que são palavras com significado próximo.
        Numa certa feita um amigo traduziu esse conceito cofiança como sendo “os fios que estão juntos”. Em outras palavras: confiança designa à “ação de ter fé com o outro”. Palavras minhas.
Por isso no Dicionário Aurélio que foi editado pela Folha de São Paulo, essa palavra tem o seguinte significado: “Segurança íntima de procedimento. Segurança e bom conceito que inspiram as pessoas de probidade, talento, descrição, etc. Familiaridade”. Logo, nesta definição é necessário à existência de dois ou mais em processo de interação para que a confiança se estabeleça. Visto assim, podemos afirma que a mesma pressupõe a reciprocidade. Concordo que isso é absolutamente verdadeiro.
Há uma analogia – em Filosofia significa raciocínio por semelhança – que traduz ainda melhor o que é a confiança no meu entendimento. Imagine uma camisa. Notoriamente que tem manga. Depois imagine um casamento. O marido “pula a cerca” uma vez e mulher descobriu. Dá aquela confusão! Acabou abrindo um buraco na manga da camisa. Ele pediu perdão e ela perdoa. Pronto! O “buraco” foi fechado, costurado. Tudo volta ao normal.
Mais tarde esse marido apronta uma segunda vez, depois uma terceira. Na quarta não tem mais jeito. O “buraco” ficou tão grande que a manga cai. O que ocorreu? Acabou a confiança. Criou-se o quê? Um clima de desconfiança. É por isso que em latim desconfiar se escreve diffido, is. Portanto os “fios” já não estão juntos. Não há mais nada que possa segurar essa relação. No artigo que lhe escrevi sobre a inveja explicitei que as palavras que começam com o prefixo di ou de indicam separação, rompimento, etc. Lembra-se da deusa da inveja. Como era o nome dela?

2 – As imbricações entre confiança e o tecido social

        Qual é a espinha dorsal que faz com que o exército e a policia consigam manter tais instituição em pé? A disciplina. Mesmo nessas a relação de confiança entre os atores nelas envolvidos é fundamental.
        Nas demais instituições existentes, a confiança é a coisa mais importante. Acabou a confiança os casamentos se desfazem. As empresas quebram, os amigos se separam, a relação professor X aluno fica insustentável, etc.
        A vida em sociedade, portanto, só é possível de fato se houver uma relação de confiança entre seus membros.
        Entretanto, a confiança só existe se houver conjuntamente outros valores.  É possível uma relação de confiança entre duas pessoas sem haver a honestidade? Creio que você concorda comigo que a resposta é não! Um exemplo disso é o que está acontecendo o nosso senador Demóstenes. Seus eleitores, na sua grande maioria, já não confiam mais nele. Por que será, não é mesmo?
        Uma vez eu li uma frase que permanece comigo até hoje. É essa: a confiança a gente não impõe, conquista. De fato me parece que tem fundamento.
        Para que eu me torne amigo de uma pessoa quanto tempo é necessário? Aristóteles respondeu isso ao seu filho dizendo assim: “para que eu seja amigo de alguém é necessário antes que eu coma o sal com ele”. Isso está no livro VIII da obra Ética a Nicômaco.
        Se eu pudesse lhe dar um conselho lhe diria para você não constituir sociedade com alguém sem antes comer um saco de sal com essa pessoa. Da mesma forma, só vale a pena casar com alguém depois de conhecer bem o outro ou a outra... rs!  Talvez seja por isso que em muitos lugares – principalmente no sítio – o namoro dura tanto. Lembro-me que quando era pequeno lá no sítio havia casais de namorados a seis anos juntos. Só que o calorão é grande... rs!
        Eu já errei muito neste sentido. As vezes uma pessoa parecer ser de extrema confiança. De repente ela tem uma atitude de inveja em face de ti, que abre um buraco tão grande na manga da camisa que parece não haver mais conserto...
        Sem confiança a vida em sociedade tornar-se-á um caos. A própria personalidade de alguém que vive em um ambiente que há falta de confiança é bem diferente daquela que convive em um ambiente onde a confiança reina. Você concorda comigo acerca disso? Pense nisso.
        O valor de uma marca é tanto maior, quanto maior for à confiança nela existente. Também é verdade que as vezes nome de alguém acaba sendo determinante no ato da compra um produto. O que estou querendo lhe dizer é que nosso nome não deixa de ser uma “marca” de maior ou menos valor. Dependerá da capacidade de confiança que ela inspira.
         A título de ilustração cito aqui a Filosofia Clínica. Quando ela surgiu no Brasil a cerca de 20 anos, muitos de pronto a rechaçaram! Contudo, hoje ela continua a aumentar o número de simpatizantes. 
        Só há uma coisa que para em pé! O quê? A verdade! Lembre-se desse provérbio: veritas filia temporis, ou seja, a verdade é filha do tempo. Interessante: essa é mais uma palavra que está intimamente ligada à confiança. Quanto mais verdadeiro eu for, maior a possibilidade dos outros terem confiança em mim.
        Novamente cabe aqui a filosofia de Espinosa. Quando que algo tende a permanecer na história? Quando é bom para mim e para o conjunto da humanidade. Assim é Filosofai Clínica.
        Dessa forma cabe a cada um de nós pensarmos qual é a qualidade das relações sociais que eu estabeleço com os demais atores. Para Habermas tais relações podem se dar no âmbito do mundo da vida ou no âmbito do mundo da ações estratégicas. A confiança plena está associada ao primeiro. Entretanto numa próxima ocasião lhe escrevei mais acerca disso. Razão pela qual voltaremos a essa tema.
        Estou terminando de lhe escrever esse texto no dia 06/04/12 as 2hs25. Já é sexta-feira santa para os cristãos. Poucas horas atrás os cristãos relembraram a cerimônia do lava pés. Para mim o gesto mais significativo que já conheci capaz de aumentar as relações de confiança entre as pessoas. O Lava Pés, que tem como pressuposto a  humildade como uma das virtudes importantes.
        Vou lhe escrever também em outro momento sobre a relação entre o perdão e a confiança. Na ocasião destacarei a importância da pintura do quadro “O Retorno do Filho Pródigo”, de Rembrandt (1606-1669). O original está no museu Hermitage, em São Petersburgo na Rússia.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Todas as religiões salvam?

Vanessa Pelicioli,  Nei A. Pies

“Cada alma tem o direito de escolher o seu próprio caminho,
e de procurar Deus à sua própria maneira”. (Swami Vivekananda)


“O rio atinge seus objetivos porque aprendeu
a contornar obstáculos”. (Lao-Tsé)

             Todas as religiões exercem um papel importante na sociedade, porém a salvação se encontra em nós mesmos. As pessoas estão sempre buscando algo que as conforte e a religião acaba se tornando uma importante saída para muitos de seus problemas.
E o que realmente chama a atenção é o tamanho da fraqueza humana. Ao perdermos a nossa fé interior, passamos a cultivar somente a idéia do ter, esquecendo-nos do nosso verdadeiro ser. Os verdadeiros valores simplesmente desaparecem, mas ainda assim achamos que a salvação encontra-se na igreja.
            Doamos o que temos e o que não temos para “ajudar” as tão “respeitadas” divindades, mas quando não obtemos o resultado que esperamos, culpamos os padres ou pastores com o argumento de que nos “iludiram”. Fazemos doações absurdas para alcançar o paraíso e, por isso mesmo, não podemos esquecer que nós mesmos é que fomos ao encontro disso, na busca desesperada de nossa salvação.
A religião vem sendo usada como refúgio para pessoas incrédulas e fracas de mente, numa tentativa de abrir as portas para suas constantes decepções. Mas afinal, a verdadeira salvação está em nós, em cada um de nós, e só a encontraremos quando deixarmos de ser materialistas para sermos mais humanos.
Deveríamos pensar mais na gente e nos outros, fazendo o bem sem esperar pelas recompensas. Deus, até aonde se sabe, não se coloca à venda. E, pelo que estudamos em aulas do ensino religioso, Deus mesmo não tem religião e nem nacionalidade. Para nos ensinar a amar, inspirou o aparecimento das religiões e se revela em todas elas, para nos dar a oportunidade de sermos melhores seres humanos.


Vanessa Pelicioli, aluna do Ensino Médio,
Instituto Estadual Cecy Leite Costa - RS. 

Colaboração Professor Nei Alberto Pies