quinta-feira, 27 de março de 2014

Como saber sem conviver?

Nei Alberto Pies
As palavras desejam pousar. Querem fazer-se passar pela metamorfose das ações humanas. Elas movem o mundo, movem as pessoas, movem os professores e as escolas. Neste movimento das palavras, enriquecem-se os conceitos e os ideais de vida, de mundo e de humanidade. Prazer maior não há do que compartilhar conquistas de um saber aprendido e apreendido, onde protagonizam educadores e educandos. O prazer maior nas relações de ensino-aprendizagem está na construção do conhecimento como algo útil, agradável e capaz de desencadear alegria e realização. Afinal de contas, para que serve o conhecimento senão for para a felicidade?
Viver para a dignidade parece ser a razão maior de nossas vidas. Mas a dignidade humana só será conquistada por cada ser humano quando cada um e cada uma compreender sua condição de sujeito de direitos e for protagonista de sua história. É o que também podemos denominar emancipação. É por isso que uma cultura em e para os direitos humanos se faz com base na democracia, no respeito às nossas diferenças e na vivência cotidiana de nossos direitos. E a emancipação só virá acompanhada pela educação. Já disse Paulo Freire que “se a educação sozinha não transforma o mundo, sem ela nenhuma transformação acontecerá”.
Ações educativas verdadeiras apontam o caminho para que as palavras tomem assento na vida de cada um e cada uma de nós. Como diz Cecília Meireles “as palavras precisam pousar”. Elas precisam encontrar âncoras para seu pouso, pois “palavras voam, às vezes pousam”. Nem todas as palavras precisam pousar, interessa que pousem aquelas capazes de nos ensinar a viver melhor.
Sempre é tempo de aprender desaprendendo. Desaprender racionalidade para entender emoções e sentimentos. Desaprender preconceitos para construir conceitos mais significantes. Desaprender quem somos para perceber que sempre somos um quase-eu. Desfazer racionalidades para gentificar-se, através das nossas relações de amorosidade. Desaprender falar, para aprender a ouvir, no silêncio e na solidão de cada um.
Eduardo Galeano, em seu poema O Mundo, desafia a cada um e cada uma de nós, na sua condição de sujeitos de sua história e de seres, na sua diferença. Conta em seu livro, “O livro dos abraços”, que “um homem da aldeia de Neguá, no litoral da Colômbia, conseguiu subir aos céus. Quando voltou, contou. Disse que tinha contemplado, lá do alto, a vida humana. E disse que somos um mar de fogueirinhas. - O mundo é isso – revelou. Um montão de gente, um mar de fogueirinhas. Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras. Não existem duas fogueiras iguais. Existem fogueiras grandes e fogueiras pequenas e fogueiras de todas as cores. Existe gente de fogo sereno, que nem percebe o vento, e gente de fogo louco, que enche o ar de chispas. Alguns fogos, fogos bobos, não alumiam nem queimam; mas outros incendeiam a vida com tamanha vontade que é impossível olhar para eles sem pestanejar, e quem chegar perto pega fogo”.
Nossa fome de saber deve traduzir-se, na prática, como busca para transformar ideias em ações. Ações em favor da humanidade que existe em cada um, em nós e em todo mundo. A nossa fome de saber é, igualmente, fome de humanidade. E o segredo de conhecer está muito ligado à necessidade de conviver. O egoísmo de não conviver gera a incompreensão de nós mesmos e dos outros. E diminui as oportunidades de felicidade, matando o desejo latente de vida, vida que morre quando não é compartilhada

Nei Alberto Pies, professor e ativista em direitos humanos.

sexta-feira, 21 de março de 2014

Um Filosofar VIVO junto com as pessoas


(Editorial do Jornal de Ideias da Filosofia com Crianças,
Adolescentes e Jovens – Corujinha nº75 – 1º trimestre / 2014)

A história é feita de cotidianos e cabe a nós, eu e você, escrevê-la.
Assim tem sido o dia a dia na vida de muitos educadores por todo o País. Construindo pessoas dentro de um pensar crítico, criativo e criterioso, educadores, filósofos, “amigos da sabedoria”, sonham e realizam um filosofar vivo com as crianças, os adolescentes e jovens.
É preciso mais que uma boa ideia, é preciso acreditar.
Sim, somos hoje um grande ‘time’ de educadores espalhados por todo o País, educadores que acreditam e realizam uma escola reflexiva, que tem com e na Filosofia um caminho seguro na formação de cidadãos (desde a Ed. Infantil até o Ensino Médio), com postura ética e espírito comunitário. Eles acreditam no que fazem e tem têm resultados escritos na sua história de vida, da instituição que participam e nos 25 anos do Centro e Editora Sophos.
Resgatar os 25 anos de nossa história é parte do combustível que nos levará muito mais longe. Nunca conseguiremos nos afastar dos ideais, das lutas que educadores tem têm coragem de enfrentar e sonham realizar.
Por isso, este Corujinha que está em suas mãos faz parte das edições históricas que teremos neste ano. Nas págs, 5, 6 e 7, está o coroamento deste trabalho, com depoimentos de educadores, alunos, coordenadores, pais, direções de colégios da Região Sul que estão conosco há 25, 23, 20, 18, 15... 2 anos. No jornal do 2º trimestre, traremos os depoimentos das escolas da Região Nordeste, no 3º trimestre das escolas da Região Centro-Oeste e Norte e, no 4º trimestre, das escolas da Região Sudeste. Concretizando, assim, a frase do pensador Eduardo Galeano: “Quando está realmente viva, a memória não contempla a história, mas convida a fazê-la.”.
Fazer a compressão de 25 anos constitui tarefa árdua, mas, necessária.
O que posso dizer é que, quando instituições (como o Centro de Filosofia e Editora Sophos) atingem um quarto de século, independentemente de seus discutíveis méritos, é porque atendeu a muitas necessidades. Porque serviu a vários objetivos. No nosso caso, viemos ao mundo para servir a propósitos: fazer um filosofar vivo junto com as pessoas; transformar as escolas em espaços reflexivos; oferecer livros de filosofia e didáticos dentro de um Programa filosófico-pedagógico; oportunizar o diálogo filosófico, levando crianças, adolescentes e jovens ea serem autores de suas ideias...
Falar do passado é bom. E muito. Mas, divisar os contornos do futuro ainda é ainda melhor.
Traz muita alegria a presença de tantos que sonham conosco. Educadores bem informados que vão, cada vez mais, redefinindo os caminhos que vamos trilhando e trilharemos, especialmente no que diz respeito ao entendimento da nossa missão neste século XXI. Renova o sentimento pensar que a nossa trajetória possa servir, se não de exemplo, pelo menos de experiência. Registrar na história o que cada colégio está realizando (págs. 8, 9, 10, 11), os projetos que estamos implementando (pag.3), a Formação Continuada (pág. 4) e as novas Coleções Filosóficas que estão sendo produzidas, o livro “Escrevendo a história a várias mãos” (encarte), são nossos PRESENTES para todos os Colégios parceiros pelo País.
Você é parte da nossa história, pois caminha conosco na construção de uma Educação Reflexiva. Boas leituras!
Prof. Dr. Silvio Wonsovicz

Opinião dos leitores
  1. Foram vários dias, quase um mês, pesquisando no passado, compilando dados, recordando acontecimentos, cutucando as emoções. Depois a escrita, o registro. Transformar em palavras o que se viveu, o que se sentiu. Escrever o ontem com a cabeça de hoje. Oportunidade de reviver, ressignificar o que não foi tão bom, ficar com a força do que foi bom e seguir em frente para viver outras histórias. São 25 anos presentes em nossa vida. (Profª. Sandra M.Albertino – Londrina/PR. - sanndra@sercomtel.com.br )
  2. Parabenizo o “Jornal de ideias da Filosofia com crianças, adolescentes e jovens - Corujinha” pelos vinte e cinco25 anos de empenho por uma Filosofia Viva, pois tem contribuído muito com o trabalho que faço com Filosofia na Rede rede pública do estado Estado de São Paulo, desde 1992. É uUm grande desafio o fazer pedagógico em Filosofia junto aos educandos, a comunidade escolar e os pais. Por isso, procuro envolver os estudantes com as situações do mundo atual, relacionando os problemas da própria vida escolar, como podem constatar no blog http://www.filosofiaemacao.blogspot.com.br, que tenta retratar o projeto Filosofia em Ação. O “Corujinha” veio materializar a vontade de sermos mais e melhores como pensadores. Parabéns! (Profa. Maria Terezinha Corrêa – São Paulo/SP - mtec@usp.br )
  3. É com carinho que escrevo aos amigos leitores do Corujinha para transmitir minha satisfação em acompanhar as belas e significativas reflexões publicadas no Jornal. Procuro seguir os passos da filosofia socrática: “"só sei que nada sei”". Estou sempre aprendendo e buscando novas possibilidades de interação com meus alunos (relação dialética de aprendizagem, em que os estudantes ajudam-me a não estagnar e a não ficar preso a modelos de educação). Acredito numa educação que parte da “"maiêutica”", pois o papel do professor é ser “"parteiro" ” de novas ideias. Acredito e desenvolvo a Pedagogia Empreendedora, educar é criar laços afetivos e efetivos na construção fascinante do conhecimento. Parabéns, continuem seguindo em frente com brilho nos olhos. (Dilson Neves – Diretor Escola SESI Abelardo Lopes – Maceió/AL - dilson.neves@al.sesi.org.br )
  4. Sou professora de Filosofia e gostaria de parabenizar pelo trabalho de vocês, coordenadores do S.E.R., pela reciprocidade que tem têm com os educadores, e mais ainda em divulgar as atividades filosóficas trabalhadas nas escolas. Gostaria de Aagradecer também pelo jornal Corujinha, que sempre recebo em minha casa e na Escola. (Profª. Conceição Figueiredo – Imperatriz/MA - ceissasf@hotmail.com )
  5. Filosofar vai além da reflexão, é um desvelamento do senso comum. Um convite para um pensar de ordem superior! É com esse objetivo que a ação de filosofar entra nas escolas e torna a sala de aula uma Comunidade de Aprendizagem Investigativa com o intuito de formar crianças e jovens cidadãos pensantes. (Profª. Marleide Breitenbach – Ibirubá/RS - marleideb31@hotmail.com )
  6. Trabalhar com crianças e adolescentes é sempre gostoso e surpreendente; e. Eles interagem muitas vezes como se tivessem profundo conhecimento daquele conteúdo específico, como também questionam e fazem suas colocações com a devida maturidade de quem já temns costume de fazer criíticas construtivas. (Profª. Valdirene Barbosa Ferreira – Teresina/PI - direnevb@yahoo.com.br )
  7. Um Filosofar Vivo com as pessoas. Na convivência com outras pessoas é possível dizer a palavra sobre determinadas coisas. Uma delas é que a Filosofia ajuda no discernimento das coisas, como também favorece em resolver algumas situações e problemas. Portanto, filosofar com as pessoas é saber ouvi-las também. (Fernancio Barbosa Carneiro – Fortaleza/CE - fernancyo@gmail.com )
  8. Afeto e limite -. Tenho pensado muito sobre a quantas anda a relação dos pais com seus filhos e o papel dos educadores nesse contexto. Será que é correto os pais amarem incondicionalmente seus filhos, repassando aos educadores a função de estabelecer normas e limites? Estabelecer limites também é uma forma de amar, também é uma maneira de mostrar preocupação e amor. (Bebete Alvim - Escritora – Belo Horizonte/MG - bebete.alvim@terra.com.br )
  9. Participei do lançamento da Filosofia no Col. São José, de Tubarão/SC, há alguns anos, e acredito que esse foi um fato de extrema importância para nossos alunos. É necessário que ensinemos a eles uma maneira de pensar que os levem ao desenvolvimento de suas ideias. Filosofar é preciso, já que a Filosofia é a busca constante pelo conhecimento. Nós, educadores, não devemos entregar o saber pronto às nossas crianças. Nosso compromisso para com elas é instigá-las a buscar o conhecimento. (Profª. Maria Dilú Nunes Angelo – Tubarão/SC)

quinta-feira, 13 de março de 2014

Podemos adiar a morte?


Taíz Carmisini

Cada vez mais a morte está perto da nossa vida. Seja alguém da família, ou alguém conhecido, até mesmo alguém que nunca vimos. Sempre ao ligarmos a TV podemos ver a noticia de alguém que morreu. Crianças, adultos, jovens, idosos, dizem que a morte não escolhe nem hora, nem lugar. Sendo nessa situação, durante a notícia da morte que paramos para pensar sobre a morte. Principalmente quando é o caso de um jovem, por exemplo, quando um jovem morre por causa de acidentes causados pela falta de prudência, pelo consumo alcoólico, e o uso de alta velocidade. Isso provoca uma comoção da sociedade.
São nesses momentos que vem a nossa mente várias perguntas. Tão novo e agora morto? Se ele não tivesse bebido, não teria morrido? Será que era a hora dele? Será que isso vai acontecer comigo? Ele foi para o céu, pois era um menino bom? São essas perguntas que assombram a mente das pessoas. A morte causa pânico em algumas pessoas, algumas nem querem pensar nisso para não “atrair” a morte. Mas podemos ter certeza que se estamos vivos vamos a algum momento morrer. Só que ninguém sabe quando isso vai acontecer.
Como dizia Montaigne: “A vida em si não é um bem ou mal. Torna-se um bem ou mal segundo o que nela fazeis”. Para ele, não podíamos dizer que iríamos estar mal, que iríamos morrer bem ou mal, mas sim morreríamos pelo fato do que fazemos. Se nos comportamos com prudência, cuidando da nossa vida, não vivendo uma vida loca, sem limites, regras, vivendo como se hoje fosse o ultimo dia, teríamos uma vida boa e assim poderíamos viver bem até chegar a hora da nossa morte. Em outras palavras, o que fazemos durante a vida, reflete na nossa morte, sendo antecipada ou adiada.
Temos a concepção de que um dia vamos morrer, isso é um fato, mas podemos evitar, adiar a nossa partida, através de cuidados na nossa vida. Por exemplo: não sair dirigindo em alta velocidade, não beber, fumar ou usar drogas, não pensar somente no hoje fazendo qualquer loucura. Devemos nos preservar, cuidar com nossos atos, pois eles refletem diretamente na nossa vida. Cada um de nós é responsável pela nossa vida e pela nossa morte.
Mesmo com nossa morte física, que pode acontecer por acidentes, por doenças, por causas naturais, há pessoas que querem evitar ela, ou até mesmo algumas adiantar essa morte. Há casos de pessoas que são desenganadas pelos médicos, no qual a família opta por desligar os aparelhos que deixam a pessoa viva, matando-a, há casos de pessoas que sabem de sua morte, que são doentes terminais que só esperam conforto da família até na hora da morte.
O pior de todos os casos são as mortes simbólicas, no qual a pessoa esta viva, mas está se “matando” ou acha que não vai viver mais por causa dos problemas. Nesse caso há vários exemplos, desde a dor da perda, seja a morte de alguém como até mesmo a perda de um namorado, por exemplo, tem o descaso com a saúde que é uma morte lenta feita aos poucos, desistir de viver, de seguir sua vida isso tudo são formas de mortes comuns, mas não morte física, mas sim mental.
Não sabemos se ao morrer vamos para o céu, inferno? Não sabemos se ao morrer nossa alma continua vagando pelo mundo? A morte causa tantas duvidas que deixe as pessoas assustadas, com medo do desconhecido, pois a morte é algo que ninguém consegue explicar, que ninguém consegue saber. Cabe então a cada um de nós cuidarmos da nossa vida, cuidar da nossa saúde, vivendo o hoje, mas sem interferir no amanhã e nem prejudicando ninguém. Não importa seus problemas, sua idade, sua vida, todos nós devemos viver até o ultimo segundo possível e para isso só precisamos usar a prudência.

Aluna Taíz Carmisini
Terceiro Vespertino