quinta-feira, 27 de junho de 2013

Por que uma Educação Reflexiva?

Por que uma Educação Reflexiva?

*Prof. Geverson Luz Godoy

Se você acha que educação é cara, experimente a ignorância.”
(Derek Bok)

Nestas últimas semanas assistimos em redes nacionais e internacionais uma grande prova que o nosso empenho, enquanto profissionais da Educação Reflexiva, tem surtido efeito.
Presenciamos não somente nas capitais de nosso País, mas em muitos municípios de todos os estados do Brasil. Cidadãos de todas as idades insatisfeitos com a forma injusta que o nosso país vem sendo administrado.
Podemos considerar estas manifestações frutos da democracia, mas algo me faz acreditar que é mais do que isto, é uma quebra de paradigmas, uma mudança da cultura do pensar, uma transformação. Isso me leva a acreditar que mais que um movimento da democracia, a maior demanda é fruto do que semeamos em nossas escolas, quando trabalhamos desde a Educação Infantil até a Universidade os conceitos de justiça, família, unidade, ética, moral, partilha, solidariedade, perdas, ganhos, cooperação, empreendedorismo, etc...
Faz diferença em uma sociedade, quando os educandos desenvolvem habilidades de raciocínio como “escutar, respeitar a opinião dos outros, investigar, dialogar, observar, verificar, descrever, inferir, formular questões, comparar, contrastar, contextualizar, contestar, interpretar, dar e pedir razões, identificar similaridades e diferenças, identificar causas e efeitos, ato e potencia, fins e consequências, estabelecer conclusões”, dentre outras habilidades de raciocínio.
Desenvolver estas habilidades com competência nos faz perceber que estas ferramentas da filosofia e da educação reflexiva fazem diferença na vida das pessoas e em suas relações com a sociedade.
Ainda percebo que em muitas escolas não se dê o devido valor para o desenvolvimento destas habilidades de raciocínio. Nós educadores sabemos que a disciplina de Filosofia ficou por muito tempo nos porões dos projetos políticos pedagógicos do mundo e, principalmente em nosso país, mediante ditaduras das mais variadas formas.
É justamente por esta causa, o despertar, a autonomia, o pensar por si mesmo..., que não se quer a Filosofia, a Educação para o Pensar e, que a educação reflexiva, aconteça nas salas de aula, pois, os nossos nobres governantes conhecem o tamanho de sua nação, e temem que este ‘GIGANTE’ desperte e saia para as ruas manifestando, protestando e reivindicando os seus direitos públicos de que foram privados. E de quem é a culpa?
Melhor continuarmos falando sobre educação!
Uma Escola Reflexiva tem resgatado os objetivos da Filosofia que é a construção do conhecimento, a discussão dos conceitos, a formação do ser humano com um todo. O investigar e o conhecer despertam para o pensamento autônomo. Ser autônomo não é o mesmo que ser auto-suficiente, o primeiro se desenvolve no seio de uma Comunidade de Aprendizagem Investigativa (C.A.I) sadia, onde se utiliza do diálogo, onde se aprende a ouvir tanto quanto se fala. O auto-suficiente aprendeu apenas a falar, não lhe cabe escutar o seu semelhante, não respeita a forma de pensar alheia e ainda quer impor aos outros o que pensa saber.
A pessoa que participa de uma Educação Reflexiva desperta para o autoconhecimento, desenvolve sua auto estima e cresce com autoconfiança, valores que engrandecem qualquer pessoa.
Ser reflexivo é observar o mundo de forma atenta percebendo as suas ações e compreendendo a modificação do processo da realidade. É ver tudo como um todo, e não segmentar a vida em partes como que gavetas em que organizamos nossos pertences pessoais. Ainda, pensar de forma reflexiva desperta para o entendimento das próprias ideias e das ideias dos outros levando ao respeito à própria vida, a vida dos outros e o mundo que nos cerca.
Para pensar de forma reflexiva é necessário organização, motivação e mediação para que haja um ambiente propício para o diálogo, a investigação e a construção do conhecimento.
Fazer educação reflexiva é Educar para o Pensar, onde se valoriza o ser humano como ser responsável, generoso, solidário, que quer e tem necessidade de ser feliz. É acreditar enquanto educador no desenvolvimento de todas as potencialidades do educando, incentivando-o para que participe efetivamente de sua comunidade. Assim perceberá a importância de saber trabalhar e aprender em comunidade, dialogar, discutir, falar, habilidades essenciais para a vida pessoal e profissional.
Educar para o Pensar é considerar cada estudante o protagonista de seu crescimento, incentivando-o à pesquisa, à argumentação e clareza de suas ideias. Além de estimular a estar aberto ao pensar do outro, prepará-lo para os avanços científicos, sociais, culturais, tecnológicos, antropológicos e filosóficos.
Para concluir e reafirmar a importância de uma educação de qualidade, filosófica, questionadora e reflexiva, concluo utilizando as palavras do Prof. Celso Antunes em entrevista ao “Jornal de Ideias da Filosofia com Crianças, Adolescentes e Jovens – Corujinha” Nº 72: “Não sei como será o nosso amanhã; mas não duvido que será da maneira como os educadores o esculpirem.”

*Prof. Geverson Luz Godoy
Assessor filosófico e pedagógico do S.E.R.;
Filósofo e Psicopedagogo Institucional.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Adeus ao pão e o circo

Adeus ao pão e o circo
Armando Correa de Siqueira Neto*
O império romano, famoso por sua história singular, também mereceu destaque pela astúcia demonstrada no controle da população, utilizando-se da política do pão e circo (panis et circenses) para desviar a atenção popular das questões sociais de suma importância. Considerável número de dias era reservado aos espetáculos de corridas e lutas, além do pão que era distribuído. Assim, a cabeça ficava à mercê da distração ao invés de manter-se ocupada com a reflexão, sobretudo a política. O modelo de entorpecimento da massa resistiu ao tempo - diferentemente de tantas obras filosóficas que se perderam no pó do esquecimento – e chegou às culturas contemporâneas. A propósito, o Brasil mostrou-se bastante afeito ao jeitinho “inebriar para sossegar”, valendo-se especialmente do carnaval e do futebol.
Foi assim que muita falcatrua política caiu no esquecimento dos eleitores. Lembra-se? Vale a pena ver de novo: “Escândalo dos Correios” (2005); “Mensalão” (2005/2006); “Dólar na cueca” (2005); “Operação Dominó” (2006); “Caso Renan Calheiros” (2007); “Escândalo dos cartões corporativos” (2008) e “Operação Satiagraha” (2008/2009). Há inúmeros outros casos (poder-se-ia citar até o rombo do Banco do Brasil em 1821, quando D. João VI retornou a Portugal com algum no bolso), mas a idéia aqui foi a de mostrar que eventos considerados recentes escapam à consciência com extrema facilidade, e que apenas o pão e o circo conseguem turvar a claridade que sempre penetrou através de frestas e quase nunca por meio da janela totalmente aberta. Fotofobia moral?
Mas como tudo tem começo, meio e fim, assim também sucedeu ao tal jeitinho entorpecedor brasileiro. O seu encerramento, no entanto, não se deveu à melhora evolutiva na política. Não. Houve piora. Logo, é devido dizer adeus ao pão e o circo, que foram engolidos, sem qualquer esboço de reação, por uma nova e ainda mais eficaz maneira de atordoar os adeptos da autoilusão política. Trata-se da substituição de um escândalo por outro de modo contínuo e incessante. Ou seja, não há intervalo suficiente nem para piscar os olhos. Em suma, o show tem que continuar. E continua. As falcatruas vicejam. São safras abundantes. Mal dá para acompanhar as colheitas. Então, a zonzeira finca a estaca e permanece nos campos mentais sem dar o menor sinal de despedida. Porquanto emerge uma questão crucial para completar o cenário aqui descrito: Quem faz o papel de espantalho, cuja serventia há tempos inexiste tanto para os corvos quanto os maliciosos urubus?

*Armando Correa de Siqueira Neto é psicólogo (CRP 06/69637) e diretor da Self Consultoria em Gestão de Pessoas. É professor e mestre em Liderança pela Unisa Business School. Coautor dos livros Gigantes da Motivação, Gigantes da Liderança e Educação 2006. E-mail: selfcursos@uol.com.br

quinta-feira, 13 de junho de 2013

O Brasil tem jeito, acreditem: o Brasil é brasileiro

Quanto maiores são as dificuldades, maior é o sabor”.
(Dunga, ex- técnico da seleção brasileira)

Ao analisarmos o jogo da final da Copa das Confederações de 2009, fazemos dele uma referência para avaliar o comportamento dos jogadores em campo, de ambas as seleções. Apesar dos limites de uma análise feita por um torcedor e não por um técnico, esta poderá nos oferecer subsídios para a compreensão do momento histórico pelos quais passava e por que não passa o Brasil.
A expressão “Yes, we can” (sim, nós podemos), foi o mote da campanha que elegeu (e reelegiu) o presidente americano Barack Obama. Esta mesma expressão foi divulgada como inspiração da seleção americana para o jogo da final da Copa das Confederações, no domingo, dia 28 de junho de 2009. No Brasil, mesmo sem falar e assumir esta expressão máxima, o povo brasileiro tem demonstrado, ao longo dos últimos anos, que pode mais com suas habilidades, criatividade e ousadia.
Vamos então a retrospectiva do jogo. O primeiro tempo foi absolutamente dominado pela supremacia pragmática do futebol americano. Apesar das tentativas brasileiras jogando em direção à trave do adversário, os americanos é que souberam aproveitar ao máximo as duas únicas oportunidades do jogo, com dois gols. A seleção brasileira jogou apática. A seleção americana jogou soberana. No segundo tempo, as duas seleções mudaram radicalmente suas atitudes em campo. Por um lado, a seleção brasileira emergiu do marasmo e teve atitude altiva de quem almejava jogar para ganhar. A seleção americana, por sua vez, segurou-se para manter o resultado, mas cedeu ao empate e depois ao gol que consagrou o Brasil campeão.
Ora, a seleção brasileira, a exemplo de como age seu povo, jogou o segundo tempo com criatividade, persistência, ousadia e liderança, características próprias de uma nação emergente e com reconhecida capacidade política no cenário internacional. Tinha nos pés de seu maior líder e capitão Lúcio, a referência e a garra para as jogadas. Jogou com espírito de equipe, usando meio e laterais do campo como há tempo a seleção brasileira não ousava jogar. Dunga escalou uma equipe, mas contou novamente com o diferencial de jogadores como Kaká e Luis Fabiano.
A seleção americana, por sua vez, não sustentou o jogo com seu jargão. Não soube reagir diante das investidas dos brasileiros, rumo ao gol, no segundo tempo. Seu jogo pragmático e de resultados rendeu-se ao jogo da criatividade e persistência dos brasileiros. Os jogadores americanos foram incapazes de mudar seu comportamento em campo, dificuldade que também parece estar presente em sua nação, quando esta joga na economia e na política e precisa se recuperar.
Se Roberto Gomes escrevesse hoje seu livro “Crítica da Razão Tupiniquim”, ainda escreveria sobre a não existência de pensadores e filósofos que pensam o Brasil (parece que o Brasil ainda não é suficiente sério para ser pensado), mas já concordaria de que o Brasil construiu condições para a sua auto-afirmação: recuperou a credibilidade, joga como uma grande equipe e devolveu ao povo a esperança e a auto-estima. Ademais, amadureceu como nação e é uma prova que a democracia lhe faz muito bem.
Quando o Brasil joga com futebol, com esperança e com perseverança, ele pode muito mais. Pode, inclusive, virar o jogo da vergonha. É o jogo de uns poucos brasileiros que jogam com a corrupção e com escândalos que envolvem dinheiro público. O Brasil tem jeito, acreditem... O Brasil é brasileiro!
Nei Alberto Pies, professor e ativista em direitos humanos

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Política educacional civilizadora
Armando Correa de Siqueira Neto*
Ao viver em uma sociedade bastante idealizada em relação à realidade nua e crua dos seus membros, o ser humano paga um alto preço por tal discrepância. Informações genéticas obrigam-no a sobreviver e se aperfeiçoar a fim de tornar-se apto e a dar continuidade à espécie através da sua descendência. Logo, o choque é inevitável frente às normas e leis que tentam regular os comportamentos sociais. Duas poderosas forças se enfrentam e disso pode decorrer evolução, conflito e, nos casos extremos, significativos desajustes psíquicos.

A luta se inicia de forma sutil através do psiquismo e da funcionalidade cerebral. Tal combate se estabelece entre as funções mais antigas (anatomicamente, o sistema límbico e as emoções, por exemplo) e as mais recentes (neocórtex e o planejamento e o controle). Se há boa comunicação entre o antigo e o novo, ou seja, entre o lado original animalesco e o lado que busca a civilização, é possível resultar bons avanços. Do contrário, o mal-estar revelará a presença de discórdia que, se canalizada irrefletidamente para os comportamentos, pode gerar desacordo social. A brutal inconsciência nocauteia a mirrada consciência.


Vale destacar que é fundamental cobrar o desenvolvimento das potencialidades humanas, sobretudo a autonomia intelectual e a ética que levem a pessoa a observar o que é bom para si e para outrem. É assim que se pode extrair maiores e melhores resultados para o bem-estar do indivíduo e da comunidade. Pois se a acomodação reina, as trevas se sobrepõem à luz. No entanto, ao mencionar cobrança e extração do progresso humano, urge agregar outros itens cruciais: o adequado investimento na educação cuja aprendizagem demanda estratégias voltadas para a aquisição do saber e, notadamente, a prática da reflexão. Adquirir conteúdo apenas é ter a chave; processá-lo reflexivamente é abrir a porta.


Então, o que se percebe de forma gritante no convívio social é, de um lado, pesada exigência sobre o controle dos comportamentos, e, de outra parte, pouca oferta de qualidade educacional que valorize conteúdo, crítica e autonomia, que podem, gradativamente, formar gente com ideias próprias e a capacidade de assumir as inerentes responsabilidades cidadãs como o exercício político que atinja a democracia consciente e responsável em detrimento do ato eleitoral meramente mecânico e inconseqüente e a malfadada passividade, dentre outros aspectos.


Sem a educação civilizadora o homem permanecerá indefinidamente escravo de si mesmo e refém da manipulação ardilosa de outros homens. Porquanto se deve lutar voraz e incessantemente em favor das políticas que favoreçam a educação de qualidade para que os reflexos de tal empreendimento beneficiem futuras gerações que, ao olharem para o seu passado, entendam claramente que a intervenção madura é o caminho para libertar o homem e torná-lo um transformador pleno da sociedade.

*Armando Correa de Siqueira Neto é psicólogo, diretor da Self Consultoria em Gestão de Pessoas, palestrante, professor e mestre em Liderança pela Unisa Business School. Coautor dos livros Gigantes da Motivação, Gigantes da Liderança e Educação 2006. E-mail: selfcursos@uol.com.br