quinta-feira, 19 de maio de 2016

Filosofando na Escola



Prof. Odair Gonçalves[i]


Fazendo um retorno à história da filosofia, fica clara a inquietação dos três principais filósofos gregos (Sócrates, Platão e Aristóteles) com os desafios enfrentados na convivência social de seu tempo. Para esses filósofos, viver na pólis significa ocupar-se com a vida coletiva de forma integral. Mediante os sintomas de crise que ameaça a qualidade da sociedade, pode-se identificar uma proposta educacional que visa à formação do indivíduo para o agir ético e para viver bem em sociedade.
Atualmente, as profundas transformações econômicas, sociais e políticas vêm ocorrendo aceleradamente nas últimas décadas, têm constituído novos paradigmas acerca da educação, da ética e das ideias de bem e de mal na convivência social. Fruto dessas alterações emerge a necessidade de abrir novas reflexões acerca da ressignificação dos valores éticos uma vez que a incidência de escândalos, a compra de privilégios, as manobras dos mais poderosos para aumentar seus benefícios sociais em detrimento daqueles que já são menos favorecidos, sem contar as jogadas realizadas pelos meios de comunicação de massa para manobrar os seus telespectadores a atenderem seus comandos imperam o cenário nacional.
Diante de uma realidade tão adversa e, por vezes, perversa, terreno onde impera a injustiça, muito se tem falado sobre o papel da reflexão filosófica no ambiente escolar, tendo em vista a busca pela formação de sujeitos que consigam olhar criticamente para a realidade social à qual estamos inseridos. Nós também nos sentimos indagados pelos muitos questionamentos e pelas muitas respostas que já foram dadas sobre esse assunto. Por isso sentimos a necessidade de criar meios para ajudar os nossos alunos a pensar criticamente a realidade vivida.
Em busca de viabilizar tal tarefa, propomos aos nossos estudantes, das turmas de 8º ano, discutirem sobre o papel da ética nas relações estabelecidas pelos indivíduos uns com outros, com a natureza e com as coisas criadas pelos humanos para e a partir dos conceitos construídos no processo reflexivo, produzir charges ou tirinhas, evidenciando os problemas recorrentes da ausência do exercício do pensamento crítico, ético e estético, tendo como princípios norteadores o bem comum e a justiça social. 
Seja utilizando aplicativos de internet, seja demonstrando suas habilidades artísticas com produções realizadas a punho, muitas charges e tirinhas, autorais, foram elaboradas pelos estudantes. E, como almejado, a abertura da escola e dos estudantes em acolher a proposta de trabalho permitiu que alcançássemos com êxito os objetivos propostos.






[i] Professor Odair José Gonçalves, Colégio Studium - O Pequeno Príncipe, Goiânia/GO.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Ligações entre o Programa de Filosofia “Educar para o Pensar” e o PNE



Pedro Lucino da Silva

O grande desafio do bem pensar é justamente compreender a “teia do conhecimento” nos seus detalhes mais peculiares. Assim a atividade filosófica está relacionada às experiências do dia a dia. Quero destacar a importância do fio condutor no Programa filosófico e pedagógico “Educar para o Pensar: Filosofia com crianças, adolescentes e jovens”.

Temos que considerar o que afirma Cláudio A. Dalbosco: “O processo formativo educacional não ocorre sem recursos a um conceito de racionalidade”. O Centro de Filosofia nasceu dentro do ambiente escolar e tem por princípios desenvolver as habilidades cognitivas e a preparação para uma cidadania consciente. Como? Usando os recursos de uma pedagogia filosófica que leva em consideração um processo gradativo na busca pelo bem e bom pensar através da Filosofia. O pensador J. Krisnamurti afirmava que: ”O Pensamento é o movimento da experiência, do conhecimento da memória”.  Temos que respeitar as etapas de cada um dos envolvidos na busca pelo saber e conhecimentos a partir da Filosofia.

O PNE (Plano Nacional de Educação), dentre outros encaminhamentos, deixa bem claro que “a Leitura deve ser o fio condutor no ensino”, estabelecendo uma agenda para a Educação Brasileira. O documento preliminar da Base Nacional Comum Curricular (BNC) passa pelo crivo da sociedade civil em processos de consultas públicas.

O plano traz progressos em vários aspectos, mas dois se destacam: a promoção da leitura e a educação infantil como frente de investimento. A gestora educacional Patrícia Lacerda destaca o que o PNE propõe:

“Em primeiro lugar, a BNC assume nos preâmbulos a concepção de educação como um processo contínuo, considerando o desenvolvimento integral das pessoas. Em segundo, evidencia o letramento literário, isto é, a forma de apropriação da literatura como linguagem que oferece uma experiência estética, como um conhecimento relevante que se desenvolve ao longo de toda a vida”.

O Centro de Filosofia Educação para o Pensar juntamente com a Editora Sophos sempre defenderam a educação como um processo continuo que considera sim o desenvolvimento integral da pessoa. Os conteúdos estão relacionados com as outras disciplinas (interdisciplinares) e, com um viés filosófico crítico, criativo e criterioso. Para ser realizado em todos os segmentos escolares, da Ed. Infantil ao Ensino Médio. Oferecendo uma ética e estética capazes de motivar e transformar as salas de aula em Comunidades de Aprendizagem Investigativa (COM.A.I) para desenvolver conhecimentos relevantes ao longo de toda a vida.

Trabalho a vinte e três anos com a educação, posso afirmar com segurança que as crianças não precisam ser saturadas com conteúdos em demasia. Os materiais didáticos e filosóficos do Centro de Filosofia Educação para o Pensar e da Editora Sophos são organizados dentro de fio condutor que perpassa toda estrutura escolar (da Ed. Infantil ao Ensino Médio).

Junto com outros educadores pelo país, tenho orgulho dessa parceria colaborativa que estamos construindo nesse processo formativo, que leva com certeza muitos educandos e educadores a desenvolver uma rica investigação sobre o conhecimento. Sei que os desafios são enormes e, defendo como Paulo Freire, a ideia “que ninguém ensina ninguém, mas proporciona ao outro as condições de conhecer, de criar, de superar o próprio mestre”. Para ter este título de mestre muitos fatores são necessários, entre eles de ter o conhecimento e saber proporcionar pedagogicamente as condições de superar sua maestria.

Neste caminhar usando os recursos pedagógicos oferecidos pelo Centro e o fio condutor estruturado nos livros filosóficos, constatei em muitos alunos o desabrochar do pensar por si, de querer ir além da mera reprodução de conteúdos. Também significativo o envolvimento dos pais nessa investigação sadia por uma transformação integral do ser que pensa de modo reflexivo, crítico e transformador.

“Se a hora é de refletir sobre o que propõe a BCN, há que se considerar que o currículo escolar precisa contemplar a ideia de que a relação com a leitura não acaba quando somos considerados “plenamente alfabetizados” ou quando recebemos um diploma – ela deve ser estabelecida para o resto da vida” segundo Patrícia Lacerda.

O caminho ao investigar as ideias filosóficas é o de construir entendimentos gradativos e abertos para que as crianças, adolescentes e jovens tenham um conhecimento mais amplo do mundo, do outro e de si mesmos. Sempre apresentando argumentos e justificativas do seu modo de ser de pensar e de agir.

Quero sim poder ver em todos os educadores deste país o gosto por uma educação reflexiva que tem como fio condutor a leitura como decodificação e entendimento profundo da realidade social, econômica, política. Quero ver nas escolas públicas e particulares a aprendizagem filosófica sendo realidade e colaborando com a qualidade e atendendo ao PNE.



Fontes:

- A leitura deve ser o fio condutor do ensino – Patrícia Lacerda portal.aprendiz.uol.com.br/2016/01/11/leitura-deve-ser-o-fio-condutor-ensino/ (acessado 26/1)


- O cuidado com o conceito articulador de uma nova relação entre Filosofia e Pedagogia – Cláudio Almir Dalbosco  /www.scielo.br/pdf/es/v27n97/a03v2797.pdf (acessado 25/1/16)

- Diálogo entre Bohm e J.Krishnamurti www.youtube.com/watch?v=XZtJ1-boz2Q (acessado 25/1/16)