sexta-feira, 4 de julho de 2014

De infância e de saudades da terra

Nei Alberto Pies
“Minha mãe achava estudo a coisa mais fina do mundo. Não é. A coisa mais fina do mundo é o sentimento. Aquele dia de noite, o pai fazendo serão, ela falou comigo: “Coitado, até essa hora no serviço pesado”. Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente. Não me falou em amor. Essa palavra de luxo”.
(Poema Ensinamento, Adélia Prado)

            Muitos, como eu, nasceram e viveram a infância na roça. Eu sinto orgulho de ser um filho da roça, porque a vida no “interior” me ensinou valores muitíssimo finos e refinados. Na companhia de árvores frutíferas, animais, nascentes, riachos e lavouras, as pessoas que lá residem formam verdadeira comunidade. Comunidade quer dizer comunhão, integração, relação. Esta comunhão se perdeu na vida urbana atribulada e estressante. Todo o tempo na cidade tem que ser um tempo ocupado. Não temos mais tempo para curtir o próprio ritmo (do tempo).
Roça é um lugar de fartura, mas também de muito trabalho. Iludem-se aqueles que pensam que uma “chácara” é um lugar maravilhoso sem dar muito trabalho. Para quem não pode oferecer seu trabalho, terá de ofertar dinheiro para que alguém cuide, zele e organize o ambiente, para poder desfrutá-lo lindo, aconchegante e organizado. Neste sentido, não podemos romantizar o trabalho de quem cuida da terra; é preciso reconhecê-lo e valorizá-lo com a grandeza que ele merece.
            Quantos, como eu, matam saudades de sua terra visitando propriedades que ainda resistem em levar adiante um estilo de vida interiorano! Colhem, no inverno abundante das frutas, o sabor de suas saudades e recordações. Visitam matas, riachos, casas, salões comunitários, em busca de algo que um dia deixaram para trás: a simplicidade e a compaixão pela terra.
            Como ilustram os versos acima, os valores da roça confundem-se com as necessidades mais imediatas de quem lá reside e faz de seu trabalho e suor o próprio modo de vida. Os pequenos agricultores ou camponeses ainda preservam os valores da gratuidade e da reciprocidade que aprenderam na relação com os outros, com a natureza e com o mundo. Nem tudo na roça tem preço, mas tudo na roça tem o seu valor.
            As relações com a natureza, particularmente através das semeaduras, reservam ao homem e à mulher do campo a noção do tempo, que é a mesma noção da paciência. Quem espera colher, precisa saber esperar. Quem espera colher, precisa pacientemente acompanhar a renovação da vida em cada amanhecer e em cada anoitecer. Quem deseja recuperar a terra, precisa investir insumos, cuidados e tempo.
            Só podem sentir saudades aqueles e aquelas que já experimentaram a vida da roça. Para estes, são necessárias brechas em sua conturbada agenda urbana para cultivar flores, frutas, hortaliças, chás, verduras. Não há nada mais contagiante e gratificante do que o alvorecer de vidas que dependem de terra, de ar, de água e de cuidados pacientes e permanentes.
A natureza nos permite a compreensão da própria existência. A vida na roça nos fornece importantes aprendizagens sobre os próprios desafios do ser humano. Valorizando a terra, estaremos sempre valorizando a nossa dimensão de humanidade e dignidade.


Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos.

segunda-feira, 30 de junho de 2014

É possível utilizar o Facebook...

É possível utilizar o Facebook

como ferramenta pedagógica?

Prof. Arisnaldo Adriano da Cunha



O uso de celulares e do facebook prejudicam a memória, a atenção, a escrita e a aprendizagem dos estudantes? Por que os livros, o giz e a saliva não prendem mais a atenção? Por que não temos mais uma turma calada ouvindo o professor falando?

Adolescentes são os principais atores no uso de redes sociais, nesse sentido, pode ser estratégico utilizar tal ferramenta no contexto estudantil como plataforma de ensino e aprendizagem, uma vez que os alunos já estão familiarizados. Segundo estudos, sites de redes sociais como Facebook ajudam os alunos a praticar as habilidades que eles precisam para ter sucesso no século XXI; abrem a possibilidade para que os alunos compartilhem o que aprenderam não apenas com seus colegas, mas com todo o mundo. Os professores podem postar atribuições ou trabalhos extras apenas para os estudantes que estão necessitando, sem que haja uma maior exposição de alunos. Ao contrário de proibir, é necessário aprender a utilizá-lo como ferramenta de aprendizagem que informa, provoca a reflexão e a formação do senso crítico, desperta o interesse e a curiosidade de estudar e aprender, desenvolve a escrita e a leitura. Negar aos alunos o uso das redes sociais nos laboratórios de informática ou sala de aula, sem que se faça uma reflexão sobre estes espaços de concepção de conhecimento, parece algo vazio, sem sentido e sem propósito.

O uso da facebook na sala de aula deve ser utilizado como uma ferramenta que integra os alunos, uns com outros. Desta forma, as tarefas propostas pelo professor deve sempre ser em grupo e que as mensagens postadas devem ter mensagens no formato de texto, figuras, fotos, áudios e vídeos, postados pelos alunos solicitados pela disciplina, para que os colegas possam curtir, compartilhar e comentar. Uma vez escolhido o tema, os alunos começam a pesquisar e produzir mensagens, utilizando os recursos disponíveis no Facebook, e postando nas fan pages e nos grupos de estudos. Todas as contribuições devem contemplar aspectos entre duas ou mais disciplinas, trabalhando a interdisciplinaridade.

A Direção da Escola de Educação Básica Bertino Silva que outrora tinha o facebook bloqueado em suas imediações, resolveu apostar neste projeto, liberando o sinal para os alunos e professores com o objetivo de utilizá-lo como ferramenta pedagógica de aprendizagem. Após participar do Curso de Capacitação a distância “Facebook na sala de aula” realizado pelo Portal EAD Brasil (http://www.portaleadbrasil.com.br/corpoprincipal.asp), propomos à Direção e professores da Escola implementar o Projeto com os alunos do Ensino Médio. Com as turmas dos terceirões, pesquisamos a Copa do Mundo FIFA 2014, e agora sugerimos estudar e pesquisar no facebook sobre as Profissões e questões do ENEM. Divididos em quatro grupos de estudos: ciências humanas, ciências naturais, matemática e linguagens, alunos e professores de forma interdisciplinar e com interatividade procurarão adquirir e exercitar habilidades necessárias para realizar uma boa prova no ENEM.

É importante ressaltar que o facebook deve ser uma complementação do que está sendo trabalhado em sala de aula. O uso das tecnologias na aprendizagem deve provocar nos professores e alunos uma nova forma de ensinar e aprender, uma nova forma de trabalhar os conteúdos que deverão ser contextualizados com a realidade em que se vive, de forma que provoque motivação e curiosidade de pesquisar e aprender.



Referência Bibliográfica

MUSACCHIO, Cláudio de. Plano Estratégico do uso e manuseio das redes sociais. Disponível em: http://www.musacchio.com.br/facebooknasaladeaula/pdfs/corpoprincipalaula01c.pdf



quinta-feira, 29 de maio de 2014

QUAIS SÃO OS LIMITES DA ESTÉTICA?

Luana Prim
Micheli Bourdot
Tainara Cristina de Souza

“Não podemos nos iludir com o mundo das cópias, das aparências. Isso acaba nos cegando, perdemos a noção do bem e do mal”. (Platão)

Na busca desenfreada por um padrão de beleza, muitas vezes homens e mulheres deixam a saúde em segundo plano. Plásticas,cremes, dietas, são alguns dos meios usados para fins estéticos. Nessa busca da perfeição, surgem muitas dúvidas: por que a aparência é considerada tão importante na atualidade? O que pode ser considerado normal e o que é exagero em relação a estética? Quais os limites da busca pelo corpo perfeito? O que é o belo?
Atualmente a aparência prevalece sobre a essência, no mundo moderno a busca por um corpo perfeito está cada vez mais impulsionada pela mídia e o padrão modista. Essa valorização quando exagerada traz malefícios guiados pela obsessão e a busca de uma falsa felicidade. Desde a antiga Grécia, já estava presente o culto ao corpo humano, sendo considerado tão importante quanto o intelecto. Platão afirma que a Estética não nos ajuda a alcançar o conhecimento verdadeiro, ao contrário afastamos dele, pois distanciamos do mundo ideal.
É possível ter uma vida saudável e uma boa aparência sem abusar de cremes, escovas progressivas, plásticas e pílulas “milagrosas”. Uma boa alimentação e exercício físico é um bom começo. Cuidar da pele ao se expor ao sol, não consumir drogas, não exagerar nas bebidas alcoólicas são medidas indispensáveis para quem quer ser bonito, saudável e feliz. Especialistas afirmam que a busca excessiva pela estética leva o indivíduo a prática de atos nocivos contra a própria saúde. São freqüentes os casos de cirurgias mal sucedidas e doenças como anorexias, comprovando o que Platão diz a respeito de nos cegar diante do bem e do mal, do certo e errado. É necessário valorizar o caráter, o aspecto espiritual e intelectual das pessoas.
Existe o belo universal, mas a beleza é encontrada em cada pessoa, com suas qualidades e valores, e não é necessário arriscar a vida por causa de um padrão estético. Talvez é por isso que o Brasil é o terceiro maior consumidor de cremes antirrugas do mundo e o mercado de cosméticos tem avançado também para os homens. A mídia nos impõe uma ilusão na busca desenfreada de uma “beleza” padrão e mercadológica. Como os conceitos de beleza vem mudando com os anos, os costumes das pessoas também se modificam: crianças fazendo dieta, se produzindo com maquiagem e fazendo escova e chapinha nos cabelos. É preciso repensar nossos conceitos.

Referências
ARRUDA, Maria Lúcia de Arruda;MARTINS,Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução à filosofia.Ed. Moderna, 2009

http://foge.forum-livre.com/t2908-tema-supervalorizacao-do-corpo

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Brasil de quem?

“Que ferida jamais sarou, a não ser gradualmente?” (William Shakespeare)

Temos uma crise política ou não? É uma questão que precisa ser posta e discutida. O que está em questão, em nosso momento histórico, é a crise de uma visão de poder endêmica, que nasceu colonialista no Brasil: o patrimonialismo. Esta visão de poder concebe que o Estado, administrado pela classe política, é como se fosse “um bem da família”, portanto disponível para ser livremente usufruído sem escrúpulos.
Desde a colonização, são inumeráveis os atos políticos, secretos ou não, que demonstrariam facilmente como o Estado Brasileiro foi usado para beneficiar “poderosas famílias”, com poderosos interesses, muito antes de servir ao conjunto dos cidadãos brasileiros. As oligarquias políticas vem perdendo espaços de poder, embora, de maneira esperta e regenerada, continuem chamando os holofotes da imprensa, apresentando-se como “salvadores da moralidade”.
Nossa democracia ainda tem fragilidades, mas está operando profundas mudanças na forma de compreendermos o poder no Brasil. Quando conquistamos liberdade de falar, denunciar e acompanhar as medidas e atitudes adotadas por nossos governantes, comprovamos que poucos resistem ao constrangimento moral quando comprovadas evidências de uso do poder para benefícios próprios e de sua família. Muitos já caíram na imoralidade, alguns estão caindo e muitos cairão, se prosseguirmos vigilantes e crentes de que a política é a arte de governar e gerir a vida pública e o bem comum.
Mas o mal acima apontado não pode ser de todo atribuído à cultura dos políticos. A cultura brasileira é permeada de atitudes e conceitos que enaltecem a vivacidade e a esperteza como valores tolerados no acesso aos serviços e bens públicos. Muitos brasileiros revelam-se como se “fossem outros”. A corrupção e a vantagem pessoal, na vida cotidiana, constitui o famoso “jeitinho brasileiro”, uma forma de não observar regras claras e universais a todos. Então se os outros podem fazer isto ou aquilo, porque não posso também fazer o mesmo? Tem-se ainda a concepção de que o que público não é de ninguém, quando o que é público é tudo aquilo que é de todos.
O exercício do poder é sempre uma questão de força. Esta força não significa, necessariamente, coerção ou violência, nem, tampouco, dominação ou constrangimento. O poder é legítimo quando exercido pelo uso de forças criativas que atuam e movimentam as relações humanas. O poder, exercido democraticamente, tem a força de imprimir regras claras, transparentes e de conhecimento de todos, para a igualdade de oportunidades.
Se o presidente do Senado cairá ou renunciará a seu cargo não irá mudar nada no Brasil se os brasileiros não mudarem sua concepção de poder. A oligarquia de Sarney, a exemplo de outras, está em franco declínio. E este declínio favorece aqueles que sempre entenderam que política deve estar a serviço da coletividade, em detrimento dos interesses pessoais e familiares. Estes, historicamente lutaram para tornar o Brasil dos brasileiros, e poderão ser, vez por todas, a maioria.


Nei Alberto Pies, professor.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

PODEMOS VIVER SEM AMOR?


Ivana Beppler, Isabella Paloma de Andrade, Marina Engel França*

“Não se pode viver sem amor, já que é o amor que faz viver”. (Espinosa)
Podemos definir amor como um sentimento favorável da afetividade, deve ser recíproco e verdadeiro, intenso entre duas pessoas, que nos permite viver em harmonia, nos torna pessoas mais compreensivas e melhores. O amor possui um poder inigualável e todos nós necessitamos amar e nos sentir amados.
Para Immanuel Kant “o amor divide-se: em prático – gostar do próximo e desejá-lo o bem, conhecendo-o ou não; sentimento de generosidade, caridade. E amor patológico – gostar do próximo, mas envolver o desejo, a sexualidade, o bem da pessoa que amamos, e o prazer próprio e do outro.”
Amor, um sentimento que resume um turbilhão de outros sentimentos: ódio, alegria, dor, tristeza, felicidade...Vale tudo por amor? É para sempre? Quando o amor se torna um sentimento de posse?
É comum lermos ou assistirmos reportagens sobre namorados que assassinam seus parceiros, filhos que matam seus pais, jovens que morrem consumindo drogas, famílias desestruturadas, mentiras com a justificativa “foi por amor”, justificando um sentimento de posse, onde a pessoa deve ser apenas sua, considerando-a um objeto, e a mantém presa, e quando sai de seu domínio, ocorre o que é veiculado nos noticiários, ou motivado pela ambição, herança de família...
O amor é a base de tudo, é a necessidade de nos sentirmos importantes, estimados, amados e felizes, por isso, obrigatoriamente precisa ser externado através de um carinho, atenção, uma palavra de conforto.
Para Sócrates “amar é buscar o que nos completa, nos preenche interior e exteriormente”. Amor duradouro e verdadeiro é aquele que não está fundamentado apenas na estética da juventude, no materialismo, pois estes são passageiros. Não podemos entender o amor com algo descartável que você compra em qualquer lugar.
Ele é necessário a todo ser humano, e por isso ame, viva esse sentimento verdadeiramente e intensamente, e seja feliz.

*Alunas da E.E.B. BERTINO SILVA – Leoberto Leal/SC

Referências:
HTTP://cerimonialll.blogspot.com.br/2005/03/o-que-os-filosofos-pensam-sobre-o-amor.html
ARRUDA, Maria Lúcia de Arruda;MARTINS,Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução à filosofia.Ed. Moderna, 2009

sexta-feira, 4 de abril de 2014

EaD em Filosofia? – Formação da Comunidade de Aprendizagem Investigativa Virtual – C.A.I - V

Profs. Assessores Filosóficos

Analisando o atual quadro educacional, observamos que nossos alunos apresentam desempenhos escolares muitas vezes insatisfatórios. Notamos que a aquisição de novos conhecimentos é penosa. Muitos alunos apresentam enormes dificuldades nas áreas de Comunicação e Expressão e nas Matemáticas (ver resultados da Provinha Brasil, IDEB, ENEM...). Estas e outras dificuldades continuam por todo processo escolar e, muitas vezes, na vida profissional desses alunos.

Será que tais deficiências não estariam indicando a existência de outras anteriores e mais básicas? Será que o diagnóstico de tais dificuldades não estará na falta de habilidades de raciocínio? Na falta de espaço para o diálogo e a investigação?

Sabemos que as habilidades da leitura, por exemplo, são pré-requisitos para o desenvolvimento da própria vida do indivíduo dentro da sociedade. No entanto, a leitura pressupõe a capacidade de operacionalização de habilidades cognitivas previamente desenvolvidas, tais como: saber inferir, comparar, relacionar, classificar, definir, deduzir, etc... A leitura requer a instrumentalização dessas habilidades e desenvolvem outras que lhe são mais específicas. A compreensão de um texto normalmente é testada pela capacidade de poder parafraseá-lo, mas isso exige perceber e distinguir implicações válidas e verdadeiras.

Tradicionalmente, a Filosofia tem sido uma das únicas disciplinas capaz de cultivar as habilidades básicas do raciocínio, da investigação que estão por trás de todo desenvolvimento escolar dos alunos.

Almejando alcançar efetivamente uma educação reflexiva e filosófica desde a Educação Infantil e em todo processo escolar, um grupo de filósofos e educadores, por intermédio do Centro de Filosofia - Educação para o Pensar, forma, assessora e implanta o Programa filosófico pedagógico “Educar para o Pensar: Filosofia com Crianças, Adolescentes e Jovens”. Queremos que esse Programa aconteça em todas as disciplinas escolares.

Por experiências em escolas sugerimos que todo grupo de professores participe da formação semipresencial na EaD do SER. Dessa forma é possível realizar com os alunos, com certa segurança, com resultados práticos e uma caminhada dentro da própria realidade de educacional.

O pensar crítico, filosófico faz parte do cotidiano escolar? O que fazer para estimular o pensar dentro da escola e em todas as disciplinas? Como a filosofia pode contribuir com o currículo escolar? Como e o que motivar para que todos os educadores levem seus alunos a um pensar reflexivo?

Educadores e educandos buscando uma Educação para o Pensar com viés filosófico pedagógico, dentro de um Programa filosófico reflexivo (Ed. Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio)

Estamos em um tempo que carece de utopias, principalmente no momento em que as ideias do consumo, do culto hedonista da mercadoria, da alienação, da busca do prazer espetacular pelas sensações. Pensar e fazer pensar, nesta realidade, é sempre uma postura transformadora.

A história de duas décadas e meia de existência de nossas estruturas está repleta de muita atuação, reflexão e produção, junto às escolas, orientando e discutindo com milhares de professores, de todas as áreas do conhecimento, em várias centenas de cursos e assessorias filosóficas pelo país, com uma defesa contundente da Educação Reflexiva. Neste intento, a ênfase dada e como uma característica marcante, é a postura de que formamos e fazemos um trabalho em equipe, onde é de suma importância a socialização dos saberes para podermos construir um caminho próprio.

A defesa de uma Educação para o Pensar é hoje um tema que está presente na grande maioria das reflexões educacionais. Desta forma, quando iniciamos um trabalho de formação continuada com ênfase na investigação filosófica das ideias e ações, utilizando o nosso fio condutor, temos presente que aqueles que estão participando têm várias expectativas.

O que defendemos através de nossas estruturas, dos cursos de formação continuada e de investigações filosóficas, das assessorias sistemáticas aos colégios, é a implantação de aulas reflexivas (pela filosofia) em todos os segmentos e disciplinas do currículo escolar. Junto aos professores e, consequentemente dos alunos esperamos:
- Utilizem as habilidades de raciocínio (classificar, comparar, relacionar, deduzir, inferir, concluir...) tendo presente que não são aprendidas fora de contextos, isoladas, mas utilizando-as nas várias disciplinas e nas discussões filosóficas.
- Aprendam a fazer relações entre ideias, fatos, conteúdos, experiências e as diversas visões de mundo.
- Busquem constantemente apreender as relações implícitas e explícitas apresentadas nos assuntos e nas ideias.
- Valorizem o processo de investigação e a discussão do grupo relacionada aos assuntos apresentados e as ideias filosóficas, sem menosprezar o produto dela resultante ou os resultados.
- Desenvolvam a aprendizagem relacionada ao investigar, tanto individualmente como em grupo e, percebam as alternativas diante das possibilidades do conhecimento.
- Reconheçam a importância do questionar a si e ao grupo, levando em consideração os outros pontos de vista, colaborando desta forma para a construção da Comunidade de Aprendizagem Investigativa em sala de aula, transformando-a num espaço onde haja uma cultura do pensar.
- Entendam que o conhecimento da realidade tem três dimensões que precisam ser consideradas: A dimensão crítica, que leva ao perguntar o que é?; a dimensão criativa, que leva a perguntar como pode ser conhecido? e, a dimensão criteriosa, que  leva a perguntar o que pode ser construído? Com o uso do que se aprende sobre o mundo.
- Exercitem a dialética socrática, percebendo que todo nosso saber é provisório – “só sei que nada sei”, interiorizando os procedimentos de investigação.
- Valorizem a importância de cultivar em todos os momentos escolares, em todos os espaços a atitude proveniente da cultura do pensar – investigar, discutir, refletir, reconsiderar, agir.
- Prezem por adquirir uma postura ponderada (pondos – peso) e de bom senso diante dos fatos, das ideias e da ação.

É importante que os professores, desde o primeiro contato e, os alunos desde as primeiras aulas reflexivas, aprendam a importância das regras da boa investigação em grupo. As regras de boa educação (pedir licença, dizer obrigado...) ajudam a melhorar a convivência social, já as regras da boa investigação auxiliam para a melhor aprendizagem grupal. Por isso há uma insistência para que as crianças, os adolescentes e os jovens observem as regras básicas para poder haver uma discussão, uma investigação na Comunidade de Aprendizagem Investigativa, que no momento da discussão passa a ser uma espécie de assembléia que está deliberando sobre determinado assunto.

É notório, na época que estamos às modificações dos modelos, das visões de mundo. Os avanços tecnológicos, biológicos, de informações, começam a ocasionar mudanças na sociedade. Mudam-se os paradigmas, os modelos.

Uma educação centrada nos paradigmas reflexivos, a qual é a intenção da Educação para o Pensar, supõe uma busca por investigação, discussão, reflexão e ação. Alunos e professores questionam-se entre si, defende-se que os alunos pensam e todos participam da Comunidade de Aprendizagem Investigativa.

A realização deste projeto não há intenção de seguir uma proposta “moda” realizada em todo o mundo, propõe sim, desenvolver um trabalho de Filosofia com os educandos e educadores, que nas proporções respeita as especificidades da cultura e dos costumes de cada comunidade escolar.

OBJETIVO GERAL:

Proporcionar a todos os educadores da sua unidade escolar, a formação continuada (80 horas) e, preparação dentro do S.E.R., com seus conteúdos e fundamentações teóricas e filosóficas, tendo por objetivo desencadear um processo de reflexão e formação da COMUNIDADE DE APRENDIZAGEM INVESTIGATIVA Virtual, em cada sala de aula e nas Instituições.

Equipe de Assessores Filosóficos e Pedagógicos
Centro de Filosofia e Editora Sophos.

quinta-feira, 27 de março de 2014

Como saber sem conviver?

Nei Alberto Pies
As palavras desejam pousar. Querem fazer-se passar pela metamorfose das ações humanas. Elas movem o mundo, movem as pessoas, movem os professores e as escolas. Neste movimento das palavras, enriquecem-se os conceitos e os ideais de vida, de mundo e de humanidade. Prazer maior não há do que compartilhar conquistas de um saber aprendido e apreendido, onde protagonizam educadores e educandos. O prazer maior nas relações de ensino-aprendizagem está na construção do conhecimento como algo útil, agradável e capaz de desencadear alegria e realização. Afinal de contas, para que serve o conhecimento senão for para a felicidade?
Viver para a dignidade parece ser a razão maior de nossas vidas. Mas a dignidade humana só será conquistada por cada ser humano quando cada um e cada uma compreender sua condição de sujeito de direitos e for protagonista de sua história. É o que também podemos denominar emancipação. É por isso que uma cultura em e para os direitos humanos se faz com base na democracia, no respeito às nossas diferenças e na vivência cotidiana de nossos direitos. E a emancipação só virá acompanhada pela educação. Já disse Paulo Freire que “se a educação sozinha não transforma o mundo, sem ela nenhuma transformação acontecerá”.
Ações educativas verdadeiras apontam o caminho para que as palavras tomem assento na vida de cada um e cada uma de nós. Como diz Cecília Meireles “as palavras precisam pousar”. Elas precisam encontrar âncoras para seu pouso, pois “palavras voam, às vezes pousam”. Nem todas as palavras precisam pousar, interessa que pousem aquelas capazes de nos ensinar a viver melhor.
Sempre é tempo de aprender desaprendendo. Desaprender racionalidade para entender emoções e sentimentos. Desaprender preconceitos para construir conceitos mais significantes. Desaprender quem somos para perceber que sempre somos um quase-eu. Desfazer racionalidades para gentificar-se, através das nossas relações de amorosidade. Desaprender falar, para aprender a ouvir, no silêncio e na solidão de cada um.
Eduardo Galeano, em seu poema O Mundo, desafia a cada um e cada uma de nós, na sua condição de sujeitos de sua história e de seres, na sua diferença. Conta em seu livro, “O livro dos abraços”, que “um homem da aldeia de Neguá, no litoral da Colômbia, conseguiu subir aos céus. Quando voltou, contou. Disse que tinha contemplado, lá do alto, a vida humana. E disse que somos um mar de fogueirinhas. - O mundo é isso – revelou. Um montão de gente, um mar de fogueirinhas. Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras. Não existem duas fogueiras iguais. Existem fogueiras grandes e fogueiras pequenas e fogueiras de todas as cores. Existe gente de fogo sereno, que nem percebe o vento, e gente de fogo louco, que enche o ar de chispas. Alguns fogos, fogos bobos, não alumiam nem queimam; mas outros incendeiam a vida com tamanha vontade que é impossível olhar para eles sem pestanejar, e quem chegar perto pega fogo”.
Nossa fome de saber deve traduzir-se, na prática, como busca para transformar ideias em ações. Ações em favor da humanidade que existe em cada um, em nós e em todo mundo. A nossa fome de saber é, igualmente, fome de humanidade. E o segredo de conhecer está muito ligado à necessidade de conviver. O egoísmo de não conviver gera a incompreensão de nós mesmos e dos outros. E diminui as oportunidades de felicidade, matando o desejo latente de vida, vida que morre quando não é compartilhada

Nei Alberto Pies, professor e ativista em direitos humanos.

sexta-feira, 21 de março de 2014

Um Filosofar VIVO junto com as pessoas


(Editorial do Jornal de Ideias da Filosofia com Crianças,
Adolescentes e Jovens – Corujinha nº75 – 1º trimestre / 2014)

A história é feita de cotidianos e cabe a nós, eu e você, escrevê-la.
Assim tem sido o dia a dia na vida de muitos educadores por todo o País. Construindo pessoas dentro de um pensar crítico, criativo e criterioso, educadores, filósofos, “amigos da sabedoria”, sonham e realizam um filosofar vivo com as crianças, os adolescentes e jovens.
É preciso mais que uma boa ideia, é preciso acreditar.
Sim, somos hoje um grande ‘time’ de educadores espalhados por todo o País, educadores que acreditam e realizam uma escola reflexiva, que tem com e na Filosofia um caminho seguro na formação de cidadãos (desde a Ed. Infantil até o Ensino Médio), com postura ética e espírito comunitário. Eles acreditam no que fazem e tem têm resultados escritos na sua história de vida, da instituição que participam e nos 25 anos do Centro e Editora Sophos.
Resgatar os 25 anos de nossa história é parte do combustível que nos levará muito mais longe. Nunca conseguiremos nos afastar dos ideais, das lutas que educadores tem têm coragem de enfrentar e sonham realizar.
Por isso, este Corujinha que está em suas mãos faz parte das edições históricas que teremos neste ano. Nas págs, 5, 6 e 7, está o coroamento deste trabalho, com depoimentos de educadores, alunos, coordenadores, pais, direções de colégios da Região Sul que estão conosco há 25, 23, 20, 18, 15... 2 anos. No jornal do 2º trimestre, traremos os depoimentos das escolas da Região Nordeste, no 3º trimestre das escolas da Região Centro-Oeste e Norte e, no 4º trimestre, das escolas da Região Sudeste. Concretizando, assim, a frase do pensador Eduardo Galeano: “Quando está realmente viva, a memória não contempla a história, mas convida a fazê-la.”.
Fazer a compressão de 25 anos constitui tarefa árdua, mas, necessária.
O que posso dizer é que, quando instituições (como o Centro de Filosofia e Editora Sophos) atingem um quarto de século, independentemente de seus discutíveis méritos, é porque atendeu a muitas necessidades. Porque serviu a vários objetivos. No nosso caso, viemos ao mundo para servir a propósitos: fazer um filosofar vivo junto com as pessoas; transformar as escolas em espaços reflexivos; oferecer livros de filosofia e didáticos dentro de um Programa filosófico-pedagógico; oportunizar o diálogo filosófico, levando crianças, adolescentes e jovens ea serem autores de suas ideias...
Falar do passado é bom. E muito. Mas, divisar os contornos do futuro ainda é ainda melhor.
Traz muita alegria a presença de tantos que sonham conosco. Educadores bem informados que vão, cada vez mais, redefinindo os caminhos que vamos trilhando e trilharemos, especialmente no que diz respeito ao entendimento da nossa missão neste século XXI. Renova o sentimento pensar que a nossa trajetória possa servir, se não de exemplo, pelo menos de experiência. Registrar na história o que cada colégio está realizando (págs. 8, 9, 10, 11), os projetos que estamos implementando (pag.3), a Formação Continuada (pág. 4) e as novas Coleções Filosóficas que estão sendo produzidas, o livro “Escrevendo a história a várias mãos” (encarte), são nossos PRESENTES para todos os Colégios parceiros pelo País.
Você é parte da nossa história, pois caminha conosco na construção de uma Educação Reflexiva. Boas leituras!
Prof. Dr. Silvio Wonsovicz

Opinião dos leitores
  1. Foram vários dias, quase um mês, pesquisando no passado, compilando dados, recordando acontecimentos, cutucando as emoções. Depois a escrita, o registro. Transformar em palavras o que se viveu, o que se sentiu. Escrever o ontem com a cabeça de hoje. Oportunidade de reviver, ressignificar o que não foi tão bom, ficar com a força do que foi bom e seguir em frente para viver outras histórias. São 25 anos presentes em nossa vida. (Profª. Sandra M.Albertino – Londrina/PR. - sanndra@sercomtel.com.br )
  2. Parabenizo o “Jornal de ideias da Filosofia com crianças, adolescentes e jovens - Corujinha” pelos vinte e cinco25 anos de empenho por uma Filosofia Viva, pois tem contribuído muito com o trabalho que faço com Filosofia na Rede rede pública do estado Estado de São Paulo, desde 1992. É uUm grande desafio o fazer pedagógico em Filosofia junto aos educandos, a comunidade escolar e os pais. Por isso, procuro envolver os estudantes com as situações do mundo atual, relacionando os problemas da própria vida escolar, como podem constatar no blog http://www.filosofiaemacao.blogspot.com.br, que tenta retratar o projeto Filosofia em Ação. O “Corujinha” veio materializar a vontade de sermos mais e melhores como pensadores. Parabéns! (Profa. Maria Terezinha Corrêa – São Paulo/SP - mtec@usp.br )
  3. É com carinho que escrevo aos amigos leitores do Corujinha para transmitir minha satisfação em acompanhar as belas e significativas reflexões publicadas no Jornal. Procuro seguir os passos da filosofia socrática: “"só sei que nada sei”". Estou sempre aprendendo e buscando novas possibilidades de interação com meus alunos (relação dialética de aprendizagem, em que os estudantes ajudam-me a não estagnar e a não ficar preso a modelos de educação). Acredito numa educação que parte da “"maiêutica”", pois o papel do professor é ser “"parteiro" ” de novas ideias. Acredito e desenvolvo a Pedagogia Empreendedora, educar é criar laços afetivos e efetivos na construção fascinante do conhecimento. Parabéns, continuem seguindo em frente com brilho nos olhos. (Dilson Neves – Diretor Escola SESI Abelardo Lopes – Maceió/AL - dilson.neves@al.sesi.org.br )
  4. Sou professora de Filosofia e gostaria de parabenizar pelo trabalho de vocês, coordenadores do S.E.R., pela reciprocidade que tem têm com os educadores, e mais ainda em divulgar as atividades filosóficas trabalhadas nas escolas. Gostaria de Aagradecer também pelo jornal Corujinha, que sempre recebo em minha casa e na Escola. (Profª. Conceição Figueiredo – Imperatriz/MA - ceissasf@hotmail.com )
  5. Filosofar vai além da reflexão, é um desvelamento do senso comum. Um convite para um pensar de ordem superior! É com esse objetivo que a ação de filosofar entra nas escolas e torna a sala de aula uma Comunidade de Aprendizagem Investigativa com o intuito de formar crianças e jovens cidadãos pensantes. (Profª. Marleide Breitenbach – Ibirubá/RS - marleideb31@hotmail.com )
  6. Trabalhar com crianças e adolescentes é sempre gostoso e surpreendente; e. Eles interagem muitas vezes como se tivessem profundo conhecimento daquele conteúdo específico, como também questionam e fazem suas colocações com a devida maturidade de quem já temns costume de fazer criíticas construtivas. (Profª. Valdirene Barbosa Ferreira – Teresina/PI - direnevb@yahoo.com.br )
  7. Um Filosofar Vivo com as pessoas. Na convivência com outras pessoas é possível dizer a palavra sobre determinadas coisas. Uma delas é que a Filosofia ajuda no discernimento das coisas, como também favorece em resolver algumas situações e problemas. Portanto, filosofar com as pessoas é saber ouvi-las também. (Fernancio Barbosa Carneiro – Fortaleza/CE - fernancyo@gmail.com )
  8. Afeto e limite -. Tenho pensado muito sobre a quantas anda a relação dos pais com seus filhos e o papel dos educadores nesse contexto. Será que é correto os pais amarem incondicionalmente seus filhos, repassando aos educadores a função de estabelecer normas e limites? Estabelecer limites também é uma forma de amar, também é uma maneira de mostrar preocupação e amor. (Bebete Alvim - Escritora – Belo Horizonte/MG - bebete.alvim@terra.com.br )
  9. Participei do lançamento da Filosofia no Col. São José, de Tubarão/SC, há alguns anos, e acredito que esse foi um fato de extrema importância para nossos alunos. É necessário que ensinemos a eles uma maneira de pensar que os levem ao desenvolvimento de suas ideias. Filosofar é preciso, já que a Filosofia é a busca constante pelo conhecimento. Nós, educadores, não devemos entregar o saber pronto às nossas crianças. Nosso compromisso para com elas é instigá-las a buscar o conhecimento. (Profª. Maria Dilú Nunes Angelo – Tubarão/SC)

quinta-feira, 13 de março de 2014

Podemos adiar a morte?


Taíz Carmisini

Cada vez mais a morte está perto da nossa vida. Seja alguém da família, ou alguém conhecido, até mesmo alguém que nunca vimos. Sempre ao ligarmos a TV podemos ver a noticia de alguém que morreu. Crianças, adultos, jovens, idosos, dizem que a morte não escolhe nem hora, nem lugar. Sendo nessa situação, durante a notícia da morte que paramos para pensar sobre a morte. Principalmente quando é o caso de um jovem, por exemplo, quando um jovem morre por causa de acidentes causados pela falta de prudência, pelo consumo alcoólico, e o uso de alta velocidade. Isso provoca uma comoção da sociedade.
São nesses momentos que vem a nossa mente várias perguntas. Tão novo e agora morto? Se ele não tivesse bebido, não teria morrido? Será que era a hora dele? Será que isso vai acontecer comigo? Ele foi para o céu, pois era um menino bom? São essas perguntas que assombram a mente das pessoas. A morte causa pânico em algumas pessoas, algumas nem querem pensar nisso para não “atrair” a morte. Mas podemos ter certeza que se estamos vivos vamos a algum momento morrer. Só que ninguém sabe quando isso vai acontecer.
Como dizia Montaigne: “A vida em si não é um bem ou mal. Torna-se um bem ou mal segundo o que nela fazeis”. Para ele, não podíamos dizer que iríamos estar mal, que iríamos morrer bem ou mal, mas sim morreríamos pelo fato do que fazemos. Se nos comportamos com prudência, cuidando da nossa vida, não vivendo uma vida loca, sem limites, regras, vivendo como se hoje fosse o ultimo dia, teríamos uma vida boa e assim poderíamos viver bem até chegar a hora da nossa morte. Em outras palavras, o que fazemos durante a vida, reflete na nossa morte, sendo antecipada ou adiada.
Temos a concepção de que um dia vamos morrer, isso é um fato, mas podemos evitar, adiar a nossa partida, através de cuidados na nossa vida. Por exemplo: não sair dirigindo em alta velocidade, não beber, fumar ou usar drogas, não pensar somente no hoje fazendo qualquer loucura. Devemos nos preservar, cuidar com nossos atos, pois eles refletem diretamente na nossa vida. Cada um de nós é responsável pela nossa vida e pela nossa morte.
Mesmo com nossa morte física, que pode acontecer por acidentes, por doenças, por causas naturais, há pessoas que querem evitar ela, ou até mesmo algumas adiantar essa morte. Há casos de pessoas que são desenganadas pelos médicos, no qual a família opta por desligar os aparelhos que deixam a pessoa viva, matando-a, há casos de pessoas que sabem de sua morte, que são doentes terminais que só esperam conforto da família até na hora da morte.
O pior de todos os casos são as mortes simbólicas, no qual a pessoa esta viva, mas está se “matando” ou acha que não vai viver mais por causa dos problemas. Nesse caso há vários exemplos, desde a dor da perda, seja a morte de alguém como até mesmo a perda de um namorado, por exemplo, tem o descaso com a saúde que é uma morte lenta feita aos poucos, desistir de viver, de seguir sua vida isso tudo são formas de mortes comuns, mas não morte física, mas sim mental.
Não sabemos se ao morrer vamos para o céu, inferno? Não sabemos se ao morrer nossa alma continua vagando pelo mundo? A morte causa tantas duvidas que deixe as pessoas assustadas, com medo do desconhecido, pois a morte é algo que ninguém consegue explicar, que ninguém consegue saber. Cabe então a cada um de nós cuidarmos da nossa vida, cuidar da nossa saúde, vivendo o hoje, mas sem interferir no amanhã e nem prejudicando ninguém. Não importa seus problemas, sua idade, sua vida, todos nós devemos viver até o ultimo segundo possível e para isso só precisamos usar a prudência.

Aluna Taíz Carmisini
Terceiro Vespertino

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Por que falar é viver?


Nei Alberto Pies

“A quem mais amamos, menos sabemos falar”
(Provérbio inglês)
           Todo tipo e forma de discriminação, além de ser um problema pessoal de quem os sofre, é também um problema social.  A gagueira, como outros tantos limites humanos, deixa marcas e imprime jeitos de resistir para sobreviver socialmente. Como eu, pelo menos 1.700.000 pessoas em todo o nosso país apresenta algum grau de gagueira na sua comunicação, conforme dados do Instituto Brasileiro de Fluência. A gagueira ganhou também um dia internacional: dia 22 de outubro.
A fala é o meio mais eficaz e mais utilizado para a nossa comunicação e interação social, porém não a única. Esta é a maior descoberta para alcançarmos reconhecimento social, através da comunicação. Se não falamos fluentemente ou temos algum grau de timidez, arranjamos jeitos de ser reconhecidos e valorizados socialmente por alguma outra habilidade ou virtude. Se não somos “experts” na fala, podemos ser bons na escrita, no canto, na representação, no estudo, na convivência ou nas relações. A qualidade da nossa comunicação depende da interação de todos, inclusive do apoio e compreensão que temos de dar àqueles que sofrem para se comunicar.
O ser humano é especialista na arte de compensar. Sem compensar não sobreviveria, porque se não é possível ser bom em tudo, é necessário ser bom e útil em alguma coisa. Por isso a gente se faz “agarrando-se” ao que tem de bom, àquilo que tem facilidade e àquilo que nos renda reconhecimento dos outros. A gente inventa e re-inventa jeitos e trejeitos para ser querido, amado e promovido pelos outros. O reconhecimento social é uma das maiores necessidades humanas, pois ninguém sobrevive se não comprovar para si mesmo o quanto é útil, importante, querido e estimado pelos outros.
O resgate da auto-estima e a auto-aceitação são preponderantes para a cura ou convivência com a gagueira. A gagueira é influenciada por fatores neurobiológicos ou emocionais. Conhecer-se, estudar o seu problema, procurar auxílio e terapias, aumenta as possibilidades de conviver socialmente, sem maiores traumas. É fundamental, ainda, assumir publicamente os limites da fala e da comunicação sempre que se puder. Assumir os limites da fala propicia discernimento e tranqüilidade interior para lidar com os desafios de se comunicar melhor. Quem fala se liberta!
Falar é a forma mais concreta de nos apresentar ao mundo. Por isso mesmo, falar pressupõe primeiro aceitar-se como se é para depois buscar o reconhecimento junto aos outros. A felicidade de “seres humanos falantes” alicerça-se tanto nos fracassos e limites como nos êxitos e nas conquistas, pessoais e coletivos. Uma boa convivência social pressupõe a aceitação de todos os limites humanos e a superação de todas as formas de discriminação.

Nei Alberto Pies
Professor e ativista de direitos humanos. - pies.neialberto@gmail.com