quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Filosofia, educação e cidadania numa sociedade em mudanças

Prof. Dr. Cipriano Luckesi

Dizer que vivemos uma sociedade em mudanças é repetir uma afirmação que qualquer sociedade poderia fazer, no momento em que se dá. Essa afirmação poderia ter sido feita em 1950 e la caberia muito bem, assim como em qualquer outro momento, devido todos os momentos históricos darem-se, por mínimo que seja, dentro de algum processo de mudança.
Por isso, prefiro falar de uma educação para o presente, que se encontra em mudanças aceleradas. Que caminhos poderia assumir uma duração para o presente, cuja filosofia norteada estivesse centrada na cidadania?
Para ensaiar responder esta questão, acredito que necessitamos de compreendermos por sociedade mudanças, por educação e por filosofia centrada na cidadania, articulando esses elementos.
Vivemos, no presente, processos acelerados em nossos modos de vida, em nossos conhecimentos, em nossos meios de comunicação, m nossos usos desses riquíssimos recursos de atuação do Ser humano, assim como vivemos a eclosão de novos entendimentos sobre a vida, a partir da abertura dos recursos da razão dialética e transdisciplinar. Além disso, nesse momento, no mundo, existe muita construção humana convivendo com muita miséria econômica, social, ética, espiritual.
É nesse contexto que nossa cidadania pode se dar e se realizar. Por cidadania quero compreender os direitos e os deveres de cada ser humano dentro da sociedade. Os direitos de existir, de sobreviver e de conviver necessitam de ser garantidos ou conquistados; assim como os deveres de respeito ao outro necessitam de ser ensinados e aprendidos. A cidadania está baseada na ética e, a meu ver, essa ética tem sua base no respeito ao direito de existir, com todas as suas nuances.
Uma educação para a cidadania numa sociedade em mudança exige uma formação do ser humano na integridade de suas dimensões e experiências, o que implica em corporalidade, psicologia e espiritualidade.
Isso exige uma visão dialética e transdisciplinar sobre o Ser humano, como pano de fundo da prática educativa.

II – Educação, Ética e Formação de Professores
O objetivo desse temas é abordar a formação de professores, que atual na educação, tendo como pano de fundo uma ética.
Assim, pretendo enfocar esse tema a partir da seguinte perspectiva: que ética pode estar na base da formação de educadores para uma prática educativa no presente?
O termo “formar” expressa a configuração daquilo que é. Aristóteles, no século IV a.C., colocou as bases das relações entre matéria e forma na constituição da realidade na qual e com a qual vivemos. No seu ver, forma é o elemento ontológico da realidade que expressa a essencialidade de cada ser. Deste modo, a idéia de formação do que é.
No caso, a formação do professor tem a ver com a constituição da qualidade do educador. Aristóteles pensava em uma “forma” metafísica, abstrata, mas nós podemos pensar numa forma constituída, forjada na história de desenvolvimento pessoal do educador; uma forma constituída existencialmente. Uma forma constituída pela ação, que, por sua vez, produziria uma ética ativa, uma ética em ação e não uma ética de princípios abstratos e absolutos.
Essa formação do educador necessita de dar-se no contexto de uma ética, devido o ser humano expressar-se como um ser que vive a partir de valores.
A ética constitui-se a partir de dois elementos fundamentais: o Eu e o Outro. O pano de fundo fundamental da ética é o respeito a mim mesmo, ao mesmo tempo que respeito ao outro. Sem respeito a mim mesmo, caio na baixa estima e, consequentemente, na autodestruição; sem respeito ao outro, chego na privação ou na promoção da invasão do outro. Assim sendo, a ética que deveria estar como pano de fundo na formação do ser educador, como, afinal, de todo ser humano, deveria basear-se no cuidado de si e na solidariedade com o outro o que daí decorre.
O educador para ser educador, necessita de reconhecer-se a si mesmo com suas necessidades reconhecer o outro com suas necessidades. Então, a partir daí, ele saberá e será capaz de atuar junto aos educadores estimulando a consciência de si do outro, o que vai implicar num modo de viver e conviver entre a singularidade e a pluralidade.

3 comentários:

  1. JUSSARA CRISTINA MAYER CERON14 de outubro de 2010 às 13:05

    A consolidação da ética pautada na dialética do eu e do outro precisa fazer parte das múltiplas relações cotidianas. Dinamizar, provocar e instigar esse processo é um desafio que nos cabe.

    Parabéns pelo texto.

    Ms Jussara Cristina Mayer Ceron

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  2. Jane Aparecida da Silva Lopes15 de outubro de 2010 às 21:22

    Olá,
    gostei muito da matéria, porque trás reflexões importantes e que precisam ser pensadas.
    Vivemos uma época onde precisamos refletir sobre nossos conceitos, e percebermos a necessidade de novos, ou seja, perceber que aquilo que eu pensava que era, não é mais. Como por exemplo, o conceito de educação, que até hoje é confundido com instrução. Hoje o que se percebe, é que educação é um processo que o Ser realiza em si mesmo, e que educador é aquele que realiza o processo em si e estimula o outro a fazer o mesmo, portanto, educar é educar-se. E essa educação deve ser estimulada ao meu ver desde a gestação, porque hoje já se constatou que a experiência vivida na gestação infuência o Ser no decorrer da vida. Percebe-se também a importância da fase infantil, onde deveria ocorrer a estruturação da personalidade do infanto, através de suas manifestações. "...Por isso,a atenção do educador (pais,e porque não os professores) necessita ser redobrada para que ele não condicione aquela inteligência, que está sobre sua responsabilidade, em uma criança "boazinha" e, sim, em alguém responsável pela vida que é no desenvolvimento da autonomia.
    Esta autonomia está baseada justamente no aprender a lidar com seu mundo íntimo (emocional, sentimental e psíquico), na relação com o meio exterior,etc., e isto precisa ser realizado através do envolvimento amoroso e do estímulo a superação inteligente das dificuldades que surjam na intimidade do educando, através da convivência e dos relacionamentos.
    Se o educador se mantiver como aquele que dita normas e aponta caminhos, estará fadado a experimentar a deceoção do educando ao seu respeito, ou então, viverá uma relação em que, até o final de sua existência, terá diante de si um dependente emocional e afetivo, que desconhece sua capacidade de amar e de superar as dores que certamente sentirá...." Desde pequenos, nós somos estimulados a negar a dor, como quando uma criança cai, e ai dizemos, não foi nada, passou, não chora, e ai deixamos de perceber que ela (a dor) é uma consequência e que precisamos investigar as causas.
    Agradeço pela oportunidade de escrever essa linhas, de me expressar.
    Jane

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