quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

A difícil arte de educar hoje

Benedito Luciano Antunes de França*

Há uma falsa impressão de que o mundo contemporâneo proporciona muitas vantagens. De um lado, bens e serviços estão muito mais acessíveis do que há décadas atrás, decorrência das novas políticas econômicas, do processo de globalização e do incremento da produção em massa. Por outro lado, o emprego, e a garantia dele, além de justos salários, não acompanharam tais facilidades. Enfim, inovações comerciais e desvantagens empregatícias são uma constante, afrontando, diretamente, as eventuais propostas de ensino e de aprendizagem no Brasil.

Não admitimos, em razão de sua natureza epistemologicamente propedêutica, que a escola seja refém das forças intransigentes do “mercado de trabalho”, pois este é o filho caçula da relação entre “mercantilismo” e o “pensamento liberal”, fato consumado nos últimos cinco séculos. Anterior a ele, já existia a sociedade humana caracterizada pela vida coletiva, pelo respeito às regras, pela reflexão dos direitos e deveres, além das relações interpessoais garantidas pela cordialidade e pelo diálogo contínuo. Assim, sem estes condicionantes, a existência da escola torna-se ilegítima.

Ora, ensinar por ensinar, fundamentado em princípios especulativos, utópicos ou metafísicos, ilegítima a instituição escolar, porquanto há outras exigências pedagógicas que vão além destas. Sabemos, inclusive, que o aumento do número de matriculados no ensino médio brasileiro, nos últimos três anos, está condicionado a uma busca permanente de aperfeiçoamento profissional, sem o qual, muitas vezes, o emprego, a estabilidade empregatícia, uma melhor remuneração, não é mais possível.

Portanto, a escola deve, quando possível, adequar seus componentes curriculares e, por conseguinte, os seus conteúdos programáticos, a tais reivindicações; não como fim do processo pedagógico, mas como um meio. Visto que educar, desvinculando-se da realidade existencial e histórica, é projetar para o mundo social um sujeito alienado, inapto para o mercado e, sobretudo, para a existência social compartilhada.

5 comentários:

  1. Bastante presente suas reflexões. Realmente precisamos enquanto educadores pensar sobre o pensar que fazemos com nossos alunos em salas de aula por todo este país. Somente com uma Educação reflexiva iremos modificar a sociedade.

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  2. Visão condizente com o verdadeiro papel que a educação em nosso vem inculcando nas mentes dos mais incautos.

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  3. Muito boa a reflexão, me lembrei de cursos que só levam em conta o lado técnico do aprendiza, "despejando" no mercado um sujeito inapto a reflexões e escolhas próprias; levado por modismos e tendêndicias "mercantilistas".
    Thiago Carlos

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  4. Ótimo artigo, contextualiza a verdadeira realidade,trazendo á tona o verdadeiro sentido de uma Educação eficaz em relação ao Caráter do aprendiz no atual Mercado de trabalho .

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  5. Agora pega isso que você escreveu e aplique no SEU dia-a-dia.
    Já presenciei apresentações que você deu 10 para uma pessoa que não sabia sequer o que estava fazendo e 5 para grupos inteiros que provadamente passaram semanas pesquisando.

    Sua mania por perfeição te estraga, porque você não é perfeito, mas cobra a perfeição (muitas vezes nem sabe reconhecer ela)...

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