quinta-feira, 25 de março de 2010

O homem, a felicidade e o mundo moderno

Na filosofia tem uma corrente muito bonita sendo ligada ao pensamento cristão o homem considerado um mistério, apesar de certo irracionalista, esse conceito ainda é o que melhor se presta para explicar a realidade humana e o que mais nos aproxima da compreensão da utopia de uma sociedade melhor. O homem não é um problema, é um mistério, porque problema é algo que posso decifrar com a minha inteligência. O homem sempre fez isso: descobrir respostas para os problemas que desafiam sua inteligência e, como diria Aristóteles, lhe causam espanto, basta que se esforce um pouco. Mas o homem continua um mistério, algo que consegue penetrar com a inteligência, pelos métodos, pelos caminhos habituais da ciência. Podemos conviver anos e anos com uma pessoa, e não conhecermos realmente ela, do nada nos surpreende com um gesto inesperado. Não podemos conhecer o homem então? Um livro ficou famoso com este titulo: o homem, esse desconhecido. Mistério, não é algo, que a inteligência não pode conhecer, e é muito usado na linguagem religiosa. Se aceita a revelação, como critério de conhecimento. Homem também é um mistério, para ser conhecido precisa revelar-se. A sociedade em que vivemos inibe e até proíbe revelação de seus mistérios, assim, nossos vínculos são perfunctórios, dão-se pelo exterior do que somos não contribuem para fazer nascer entre nos laços de comunicação profunda. A sociedade moderna produz indivíduos e separa pessoas, tornando muito difícil a realização do projeto iluminista de felicidade. Sem comunhão real, a pessoa continuará sendo a personagem do teatro clássico, a voz do personagem oculto do que somos nós. E se isso é assim, o que nos impede afinal, de o conseguirmos? Prosseguindo no exame da idéia de felicidade como um direito, o cônego machadiano, de “prebenda inteira”, via, no “amor da gloria temporal” a “perdição das almas”, enquanto que o militar, no mesmo lugar da glória, “a coisa mais verdadeiramente humana que há no homem”. O homem moderno ama o mundo, nele está sua glória. O homem medieval se via uma criatura de Deus corrompida, porém pelo pecado, todo empenho, portanto, estava em negar-se a si mesmo. Ele deveria, neste mundo, padecer e sofrer, para poder gozar, no outro, da felicidade eterna, no convívio dos santos e na visão beatífica de Deus. O inicio do processo de laicização do mundo, se da a partir do século 12. O homem se descobre, numa visão mais otimista dotado, portanto de intrínseca dignidade. No humanismo esta o embrião da revolução cientifica do renascimento. Uma das características do iluminismo é a exclusão do elemento religioso do campo da moral. O mundo dos valores é laicizado e esses caem. É aqui na terra quê se devem realizar, os ideais de felicidade humana. Durante longos anos a sociedade trabalhou para a gloria do príncipe e impulsionada por um projeto de vida sobrenatural e eterna: agora, tratava-se de resgatar os direitos do individuo que emergia e pisava sobranceiro o território que julgava poder conquistar e submeter. É do individuo que se trata, quando a revolução francesa define os direitos do homem e do cidadão, mais especificamente: é da felicidade do individuo que se trata. O homem se descobre e se proclama dotado do direito de ser feliz. “Uma felicidade obtida a duras penas e mortificações nesta existência. No direito, cabe apenas lembrar como é onipresente, a figura dominante do individual e do privado. O principio do direito a felicidade individual, é a chave mais importante para a compreensão do discurso da modernidade, a idéia de felicidade, trata-se de algo novo não mais uma aspiração, mas um direito para cujo atendimento devem, ser organizados. “Cuidar da vida e da felicidade humanas e não de sua destruição” diz Thomas Jefferson. Quem de fato usufrui o direito a felicidade no mundo que o discurso liberal pode legitimar?

“O homem está ligado diretamente há filosofia até no ato de filosofar e em busca do saber, em indagar, questionar junto à filosofia o homem se idealiza”.

Thamário Everley Conrado Pereira é acadêmico de Direito, da Faculdade Alfredo Nasser e membro ativo do Pajupu (Programa de Assessoria Jurídica Popular Universitária)
Email: t.everley_stylenet@hotmail.com

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Um comentário:

  1. Que texto profundo e reflexivo. Me vi sentada na cadeira da faculdade de História tentando "adivinhar" estas palavras. Agora parece tudo mais claro e "fácil" o entendimento. Devem ser os anos a mais de vida, experiência...

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