quinta-feira, 22 de julho de 2010

Família: esta moda pega?


Numa época em que uma noção errada de liberdade, muito divulgada,
leva a não contrair vínculos e a quebrar com facilidade os vínculos
contraídos, é oportuno recordar que a liberdade é, na sua forma maior,
liberdade de nos amarrarmos. É esse o significado de “criar
laços
”.(Paulo Geraldo)





Somos, em maioria, movidos por modismos. Adesivar carros com desenhos
da família virou moda por afirmar família como nosso maior “porto
seguro”. Mas para esta idéia surtir efeitos para além da estética, é
importante perguntar sob quais condições estruturais, sociais e
culturais estão postas as nossas famílias, sob pena de frustrarmos as
nossas expectativas para com elas, as famílias, e para com a referida
moda.

A exaltação do amor pela família, por mais interessante que seja, por
mais sucesso e adesão que já tenha ou venha a ter, pode contribuir
para sobrecarregar a família, mais uma vez, com todo o peso da
desestruturação social que o nosso mundo está produzindo. Não
resolvemos mais os dramas das pessoas pelo discurso fácil da solução
de todos os problemas passarem pela família. É a própria família que
precisa ser resgatada e re-significada em seu papel e função social em
nossos tempos.

O que a sociedade tem feito, através de suas instituições, é cobrar da
família uma responsabilidade que ela sozinha não tem mais como arcar.
Por estar fragilizada, envolvida em imensos desafios de convivência, a
família reclama de cuidados, zelo e proteção, invertendo-se uma lógica
sempre alimentada e projetada por todos.

A revolução industrial gerou nas famílias o primeiro grande impacto na
medida em que homens, mulheres e filhos passaram a dedicar-se mais a
seu local de trabalho do que a sua própria casa. Com a revolução
tecnológica e da eletrônica, substituiu-se a convivência e o diálogo
entre os membros de uma família pela escuta passiva do rádio, da
televisão e da internet. Hoje, mais do que nunca, vivemos a afirmação
de nossas individualidades a partir de um vazio existencial e
histórico. Não contam mais a memória, a coletividade, a convivência.
Conta agora sermos livres: sem vínculos com nada e com ninguém.

A família não é um produto para a gente oferecer como solução para os
reais problemas do ser humano e da humanidade. Se ainda acreditamos
nela como um “porto seguro”, como referência para a vida pessoal e
comunitária, precisamos investir nosso melhor tempo e nossas melhores
energias para que ela possa cumprir com esta expectativa que
temos dela. Esta é uma opção que a sociedade precisa fazer, garantindo
todos os apoios, programas e investimentos que forem
necessários.

O amor é a mais revolucionária das armas que a humanidade já construiu
para gerar seres humanos livres, solidários, abertos, comprometidos
com a permanente defesa e promoção da vida. Não acreditamos na mera
verbalização deste nosso desejo de amar a família, mas acreditamos que
possamos, de forma individual e coletiva, adotar posturas que promovam
a convivência, a integração e a troca de saberes e de experiências no
nosso ambiente familiar.

Promovamos a família como o melhor espaço humano para nos fazermos
gente. Acreditemos que a família, ao ser vivenciada pela gente, também
é promovida. Adesivemos nossos carros com as caricaturas de nossa
família, mas não esqueçamos de comprometer o nosso coração, a nossa
alma, as nossas energias. A família não é uma “moda passageira”, mas é
o espaço que criamos para nos humanizar. Humanizar é nosso maior
trabalho humano.

Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos.

5 comentários:

  1. Adorei a reflexão sobre a família, acredito que a partir dela e por ela, está a solução de muitas mazelas da sociedade. Não há um fim sem um início,nem uma solução sem problema,sendo assim,a base de uma sociedade é a família é o início de um começo de tudo, do bem, do mal, dos valores, do abre e do fechar de portas. Tenho firmeza que a vida clama dentro de cada "últero" familiar por uma possibilidade de salvação. Luís.

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  2. Bom texto e reflexivo p era da cultura digital.

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  3. Muito importante a reflexão sobre a família. Acredito, assim como o autor do texto, que devemos investir mais em nossas famílias, para que elas não fiquem mais doentes do que já estão.
    Senti falta de referência aos novos formatos de família não-nucleares, que estão crescendo em proporções gigantescas na atualidade: filhos com avós, mãe e filhos, pai e filhos, irmãos mais velhos com irmãos mais novos, dois pais, duas mães etc.
    Devemos pensar a nova formação familiar como uma realidade concreta, da qual não podemos nos esquivar e com a qual deveremos buscar formas de convivência e aceitação, educando os nossos filhos e alunos no sentido do respeito e da tolerância aos colegas oriundos de famílias consideradas tradicionais.

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  4. oi mt m legal iso na escola vamos aprend na escola isso

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  5. oii achei muito interessante pois nossa familia e tudo que temos.e tamos deixando nos levar pelo modismo..

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