quinta-feira, 24 de março de 2011

A importância da Filosofia para a formação do pensamento dos alunos do Ensino Fundamental: Formação – Educação - Humanização

Profª. Ms. Sônia Siquelli1


Final da primeira década do século XXI, sociedade humana, sociedade da técnica bem elaborada, sociedade marcada pelas desigualdades sociais, políticas e econômicas. Marcada pelas preocupações planetárias da possibilidade (in) certa da continuidade de sua existência. Uma sociedade “manca” de seus passos. Evoluiu-se muito na técnica e muito pouco na sua condição humana. Somos capazes, através da Ciência, de conhecermos o universo fora do planeta, mas ao mesmo tempo somos incapazes de convivermos em grupos, de dialogarmos com o outro, de resolvermos os problemas humanos a partir de referências humanas.


Para abordar a importância da Filosofia, enquanto conteúdo e forma de ensino na formação de crianças e adolescentes do ensino fundamental partiremos do seguinte questionamento: Ensinar Filosofia para quê? E, por quê? Para isso façamos a seguinte reflexão a partir da conhecida tese de Heráclito de Éfeso, “Ninguém banha-se duas vezes no mesmo rio”. Segundo esse filósofo ninguém na segunda vez, nem a pessoa nem o rio serão os mesmos. As águas passam, a pessoa muda e, ao banhar-se novamente no mesmo rio, trata-se de uma outra pessoa em novas águas. Nada é para sempre e tudo se transforma. Nós imprimimos uma mudança ao rio e o mesmo nos traz também novas realidades. Assim é a vida biológica, emocional, orgânica e social de todos os seres humanos na elaboração de sua história, condicionamento pelo tempo.


Heidegger, filósofo alemão do século XX, em uma de suas obras faz uso de uma alegoria para explicar a origem do Ser e do Tempo, coloca o homem como fruto da Terra, do Céu e dos Cuidados, tendo como mediador desta existência o Tempo. Nessa alegoria há um embate entre Céu e Terra, sobre a existência humana, mas segue a interpretação de que o homem na sua condição material é fruto da Terra, na sua condição espiritual é fruto do Céu e, durante seu processo de vida precisa de Cuidados. Quando este homem morre seu corpo volta a Terra, a alma ao Céu e quem sustenta todo esse processo é o Tempo.


Para a compreensão da nossa existência pautamo-nos em modelos, paradigmas que nos revele a Verdade sobre nossa existência e a existência do mundo. Do modelo racional e contemplativo grego, ao modelo racional e dogmático medieval, ao modelo experimental da Modernidade acerca de seus conhecimentos acumulados ao longo da história até o paradigma contemporâneo da linguagem, percebemos que a existência humana, a história da sua humanidade se constrói no seio da cultura pelo processo educacional.


Há nesses modelos de interpretação da realidade aqueles que são pautados na essência do homem, no primado racional de que a resposta dos problemas humanos está no próprio conhecimento que o homem possui e acumulou. Em outro, essa resposta se encontra na interação do homem com sua realidade, na sua condição existencialista. Enfim, no embate cultural da produção de conhecimento atual percebe-se em muitas culturas o retorno à tradição, em outras o vislumbramento do novo, da inovação, da Ciência, da Religião, da Arte, da Filosofia e do próprio Senso Comum, lugar da maioria da sociedade humana. Na prática social, há modelos que buscam no econômico a justificativa do fetiche humano como mercadoria da sociedade capitalista e neoliberal.


Enfim, não há um consenso na sociedade humana atual sobre sua própria existência. Não há um consenso sobre a natureza humana e nem dos valores que permeiam essa existência. Podemos pensar que se perdeu algo ao longo da História ou preferimos pensar que é chegada à hora, diante do “caos” instalado nas relações humanas, de forjar valores sociais, políticos, econômicos e, principalmente humanos para conduzir esse Homem à significação de sua existência e da sua continuidade.
Mas, por onde começar? Uma das possibilidades reais é pela Educação desta sociedade. Entendemos e acreditamos que o ensino de Filosofia desde a mais tenra idade, no ensino fundamental, vem contribuir para a formação dessa criança, desse adolescente e jovem que ao ser educado para conhecer e refletir sobre conhecimentos filosóficos irá forjar sua identidade no seu agir ético, enquanto Ser Adolescente, enquanto Ser Social e na constituição enquanto Ser Humano
Essa verdade filosófica pode parecer utópica nessa sociedade atual onde somos valorizados pelo que Temos e não pelo que Somos, mas com certeza é uma verdade que clama por uma atenção formativa por parte das instituições escolares. A prática escolar, a prática educativa e, consequentemente, a prática humana posta na vivência do cotidiano da formação das crianças e adolescentes do ensino fundamental, como forma de contribuição pessoal a cada aluno na sua busca de realização e de felicidade.

1 Mestre e Doutoranda pela Universidade Federal de São Carlos-UFSCar. Professora de Filosofia do 6º ao 9º ano do Colégio Experimental Integrado, docente de Filosofia e História da Educação do Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos em São João da Boa Vista e da Fundação Euclides da Cunha de São José do Rio Pardo.

6 comentários:

  1. Diante desse mundo hiper materialista, muitos se perguntam:-o que vou fazer com filosofia.Mas a resposta melhor para esse é:-o que a filosofia vai fazer com você.
    É de suma importância a presença da filosofia desde a infância, pois ela, como disse a Profª. Ms. Sônia Siquelli1, será muito importante na formação dese novo ser.
    Parabéns pelo artigo, doutora.
    Jocilon@yahoo.com.br

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  2. O ensino de filosofia ensina a criança a pensar, filosofar, disciplina que já foi proibida há tempos atrás para "segurar" os estudantes.
    Recordo-me de uma frase pronunciada por um professor: "O filósofo tem a função de desasnar a plebe", e sabemos que é exatamente isso que o nosso sistema nunca quis de nós professores e de nossos alunos, pessoas críticas, pessoas pensantes.
    Transformar o senso comum em senso crítico-filosófico, essa é a nossa meta enquanto educadores.
    Excelente artigo professora Sônia!
    Abraços.

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  3. Muito bem! Acho que o primeiro passo é trabalhar a educação, matéria de todo tempo como diz Leci Brandão em sua Canção: Na sala de aula é que se muda um cidadão, n sala de aula é que se muda uma nação, na sala de aula não a idade, nem cor por isso aceite e respeite o meu professor.Fazer com que o aluno independente de sua idade, cor, classe social possa se reconhecer como parte integrante da nossa hstória fazendo com que ele pense, viva, sinta no seu modo de agir e ser no mundo. Este ano estou com um projeto Noite filosofica que fale sobre esses valores. O Tema é Educação: Valor que fundamenta a nossa vida e gostaria que vocês me enviasse sugestões de como trabalhar.
    Bjuus

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  4. Olá Sonia,
    Como estás? Como vai o seu doutorado? Quem a está orientando? Apareça para conversarmos. Um abraço. João.

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  5. Oi João, meu douotorado está na reta final, junho eu qualifico e até fianl do ano defendo. Cumprirei mais uma etapa da minha vida. Quem me orienta é a Cristina Hayashi. Vou aparecer sim, o tempo tá meio corrido, mas estarei na UFSCar no evento das políticas publicas em Maio, dai sentamos pra por a conversa em dia. Abraços e obrigada por se fazer presente sempre!!!!
    Sônia Siquelli
    Email/MSN: soniasiquelli@hotmail.com

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  6. Prezada professora Sonia,

    Meu nome é Felipe e sou professor de filosofia do primeiro grau. Leciono do primeiro ao nono ano.
    Estou bem no começo, faz duas semanas que adentrei ao colégio.
    Está sendo minha primeira oportunidade como professor de filosofia e estou como deveria estar qualquer outro filósofo: Espantando: daí que nasce a filosofia e, tenho certeza, que daí vai nascer o filosofar dos discentes.
    Me impressiono, por isso o "espantado", com o mundo pré-revolucionário que os adolescentes de hoje em dia se encontram. As todas formas de vida que eles encontramn em seus ipod's, iped's, google's e tv's não conseguem esconder quando suas verves reais se sobresaltam ao provocarmos filosofia a eles.
    Não quero e nem vou me alongar, estou convencido que a filosofia terá o papel transformador protagonista se quisermos ainda sonhar com pessoas decentes no futuro. Só ela vai tratar de dar um basta à guerra virtual consumista.
    Abraço,
    Felipe Mongruel ou, simplesmente,
    Magal.

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