Ricardo Valim1
Geralmente quando em sala de aula falamos de filosofia ou da personalidade de um filósofo a primeira imagem que vem a cabeça de um jovem é a de um homem todo descabelado e com umas idéias que mais parecem coisas de maluco do que outra coisa. Na verdade este é um mito – por assim dizer – de tradição oral e, que passa de geração em geração, pelos corredores de nossas escolas. E com isso a filosofia vai ganhando descrédito com os alunos que vêem nestas “idéias de malucos” um “passaporte para o fracasso”. Visto que não achamos por aí um filósofo dono de uma multinacional com uma renda de milhares de cifrões ao ano.
O primeiro passo a ser dado para reverter este processo é tornar a filosofia acessível às crianças. Ou seja, é o ato de trabalhar filosofia e conceitos filosóficos com as crianças na linguagem das crianças. É basicamente a modelagem de uma nova forma de transmissão de temas e teorias de filosofia para as crianças. É preciso salientar que esta nova forma de educar filosoficamente não pretende anular ou fragmentar, abolir as correntes filosóficas que perpassaram os séculos. Mas sim, sem abandonar a tradição filosófica, proporcionar aos alunos uma filosofia que eles possam entender e degustar com facilidade.
Um segundo passo seria deixar as crianças falarem o que sentem e como vêem a filosofia no seu entendimento. Deste modo elas se sentiram importantes dentro de uma discussão e com isso poder-se-á fazer correções e de modo sorrateiro elas aprenderam por si mesmas o valor de sua opinião e como se portar diante de um conflito de idéias. Segundo o filósofo e educador norte americano Matthew Lipman em sua obra “A Filosofia vai à Escola”, não existe melhor método do que o da discussão em sala de aula porque a “... discussão, por sua vez, aguça o raciocínio e as habilidades de investigação das crianças como nenhuma outra coisa pode fazer” (LIPMAN, 1990, pag. 41).
E por ultimo, mas não menos importante é o exemplo do professor na sala de aula. As crianças, como se sabe, têm o habito de imitar os adultos nos seus gestos, palavras e ações. É basicamente uma forma primitiva de ingressar no circulo cultural adulto. Um professor em sala de aula que expõe seus conteúdos de forma clara, objetiva e apaixonada, obviamente os alunos vão se interessar e buscarão aperfeiçoar aqueles conteúdos, por que foram “cativados”. Já o contrário também pode ocorrer. As crianças por natureza são apaixonadas pelo conhecimento e é preciso cultivar, fortalecer esta paixão que brota de sua humilde e terna sinceridade. Diz-nos Lipman, “as crianças só acharam a educação uma aventura irresistível se os professores também a acharem...”.
A educação filosófica deve ser vista e ensinada em nossas escolas não mais como um “passaporte para o fracasso”, mas sim com uma forma criativa de ler e interpretar a realidade e a partir desta leitura transformá-la em um lugar mais humano para se viver. E tudo isso deve começar com as crianças, pois são elas o futuro da humanidade mais esclarecida que queremos para o nosso futuro.
1 Bacharel em Filosofia pela Faculdade São Luiz de Brusque /SC e Pós Graduando em Metodologia do Ensino de Filosofia e Sociologia pelo Grupo Uniasselvi Assevim de Brusque/ SC
Concordo plenamente com as suas colocações, contudo devemos pensar quanto aos fatores que fazem esses péssimos professores terem comportamentos inadequados em salas de aula ou fora dela. Pode ser pela falta de qualificação, pois é notório que a educação em nosso país não é de boa qualidade, principalmente na rede privada de Ensino Superior; pode ser pelos baixos salários e condições de trabalho ou até mesmo por falta de perspectivas. Quanto ao ensino de filosofia ficam muitas perguntas em aberto: o que ensinar? para qual fim? que método? Quais os pensadores? Dentre outros questionamentos, haja vista o ensino da filosofia para criança ser tão pouco discutidos no Brasil. Sabemos da importância do estudo da disciplina, todavia nossas autoridades e sociedade ainda não dá o devido valor nela. Tenho esperança que em um futuro não longinquo isso mude e propicie uma educação de qualidade aos nossos filhos ou netos.
ResponderExcluirEu sempre considerei que a educação infantil é a base que sustenta toda uma socialização secundária que a escola oferece. Precisamos sim inventir na educação infantil, entender que a Filosofia deve ser discutida em sala de aula com os pequenos. Torná-los pequenos cidadãos é a glória de um país.
ResponderExcluirAbraços,
Márcia Quadros
É de suma importância trabalharmos esses três passsos em sala de aula,pois se mostrarmos aos nossos alunos a importância da filosofia não só no ambiente escolar mas também para formarmos cidadõas criticos e reflexivos para uma sociedade cada vez mais exigente.
ResponderExcluirGostei do texto, parabenizo o autor por esclarecer a importancia da Filosofia na sala de aula. Infelizmente nas escolas que tenho conhecimento, a Filosofia está bem distante desta colocação.
ResponderExcluirMuito boa a reflexão do Ricardo. Concordo plenamente com seu ponto de vista a cerca do assunto abordado. Ano passado recebi a visita de uma colega, que foi chamada pela escola para ensinar a disciplina de Filosofia. Ela chegou preocupada, visto que, a primeira impressão que teve da turma foi que os alunos não iriam se interessar pela matéria. Tentando fazer com que ela minimizasse seu nível de ansiedade sugeri que na aula seguinte ela levasse para a escola o
ResponderExcluirviolão, escolhesse uma música que trabalhasse alguns temas filosóficos, pedisse a turma para sentar em forma de circulo e distribuisse uma cópia da música para cada aluno.Montamos a estratégia juntas e no dia "D" lá foi ela cumprir sua missão.Gente!!!Foi um verdadeiro sucesso.O texto foi lido, cantado e debatido. Daí por diante ficou combinado que cada aula ela faria um cenário diferente para que, os alunos fossem motivados a gostar da disciplina.
Mara Musa Soares Silveira
Filósofa-Psicopedagoga Clínica e Institucional.
Caros
ResponderExcluirDesde que formei busco este aperfeiçoar que foi colocado por voce meu caro aspirante a filósofo.
Na verdade sabemos que não é tão simples assim, literalmente temos que tocar no intocável e isso nos comete mesclar razão com emoção, Cabe a nós Aspirantes sabermos separar um do outro na hora certa. Mas no final vocês querem saber, quando eu toco, quando eu consigo fazer com que eles enxerguem, isso é o que realmente me importa.