Jéferson Dantas1
A história brasileira recente está longe de ser totalmente revelada. A tentativa por parte de organizações defensoras dos direitos humanos em se retomar as buscas dos corpos dos/a desaparecidos/as políticos na guerrilha do Araguaia (década de 1970), assim como a abertura de documentos sigilosos que comprovam o extermínio dos guerrilheiros por setores das Forças Armadas, representa ainda um vespeiro que muitos não querem trazer à tona. Os/as cientistas sociais são impedidos/as de ter acesso aos ‘documentos confidenciais’ produzidos pelas agências de repressão durante a ditadura militar em nosso país. Contudo, a história não pode ser negada às gerações que não vivenciaram os anos de silenciamento político e de mordaças compulsórias.
Nesta direção, uma das maneiras do conhecimento histórico se tornar atraente para crianças e jovens escolarizados/as é a tematização da história recente do Brasil e da América Latina, através de materiais didáticos que não privilegiem uma perspectiva historiográfica eurocêntrica e meramente conteudista. As questões do presente devem ser apontadas desde cedo para as crianças em processos de escolarização e, posteriormente, – com os cuidados de linguagem e categorias de análise empregadas – devidamente relacionadas com as dimensões históricas mais afastadas no tempo e no espaço. Os recortes temáticos são assim fundamentais para que um debate não se esgote em apenas uma aula ou uma atividade em grupo. O tema ‘ditadura militar’, por exemplo, é um assunto que demandaria muita pesquisa, busca por evidências históricas, análise de conjuntura, mapeamento das guerrilhas urbanas e rurais, aparelhamento do Estado a partir de agências de tortura, etc..
Categorias ou conceitos vagos, além do pouco dinamismo didático nos bancos escolares são muito recorrentes nas escolas brasileiras. Ainda mais quando determinadas instituições de ensino estão mais preocupadas em ‘formar’ fazedores de provas do que, propriamente, sujeitos históricos intervenientes. As permanências históricas estão mais vivas do que nunca, através de milícias particulares que assassinam pequenos agricultores e lideranças rurais a mando de latifundiários; do patrimonialismo e do clientelismo nos setores de serviços públicos; e do analfabetismo pleno e funcional alarmantes. Negar o acesso às fontes históricas – matéria-prima dos/as pesquisadores/as – também é uma forma de silenciar as falas dos dissensos e a constituição de novos espaços de disputa.
Muito bom o texto!
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