Prof.
Jackislandy Meira de Medeiros Silva
Nesses
dias dei-me conta de que estava a pensar sobre o quanto é importante
uma boa formação de opiniões, até mesmo para convivermos melhor
em sociedade, expressar com mais objetividade nossas ideias, ajudar
outros a formarem as suas, dirimir equívocos, afastar incoerências.
Paira sobre nós um certo relaxamento em relação a isso. A nossa
malemolência em lidar com o assunto é absurda.
Vejam que
alguns de nós passam anos a fio dentro de uma Universidade ou de uma
Escola tentando construir algo, uma carreira talvez, um arcabouço de
informações, uma base a mais para crescer na vida, enfim, mas
quando somos consultados simplesmente não temos o que dizer. No
entanto, quer entremos ou não numa Universidade, o certo é que
muitos de nós, senão todos, passamos a vida toda e não conseguimos
sequer formar, tampouco viver de nossas opiniões, o que mostra o
quanto não somos senhores de nós mesmos. Num ponto, Heidegger
estava certo: “A maioria dos homens não pensa por si mesmo; não
julga com a própria cabeça; não decide por conta própria: pensa,
julga, decide conforme ou vem dizer dos outros”. Creio que está
na hora de aprender a pensar com a própria cabeça. Ser cabeça bem
feita e não cabeça cheia, no dizer de Montaigne, uma recorrente no
pensamento de Edgar Morin.
Absortos
a uma cultura capitalista democrática de interesses meramente
econômicos que, de quando em quando, abandona seus ideais
democráticos e dá lugar as ditaduras mais toscas e aberrantes como
aquelas vistas recentemente em cadeia internacional com proporções
violentas na Tunísia, no Egito e agora, no Iêmen, tal como na
Líbia, nos sentimos seriamente vulneráveis quanto à solidez de
algumas opiniões enraizadas na ética, na tolerância e no amor. A
ditadura é a prova cabal de que “o controle da expressão leva
à morte da expressão”(Márcia Tiburi). Se com expressão a
democracia é o que é, o que dizer então sem ela!
Tão logo
nascemos, de imediato nossos pais descarregam sobre nós os mais
belos pensamentos, os mais velhos conselhos de respeito e de bons
costumes, fruto de uma tradição herdada por nossos avós ou pela
família inteirinha. O certo é que nem sempre se percebe a tradução
de velhos ensinamentos em vida. Refiro-me a velhos não por serem
menos ou mais importantes do que os novos, mas porque afirmam uma
tradição distante de nós. Não é por serem velhos ou antigos que
não prestam, mas por não virem acompanhados de ação, de vida, de
autenticidade. É aquela história, dar conselhos é razoavelmente
maravilhoso, mas vivê-los, aí são outros quinhentos. Não é em
vão que o corriqueiro ditado popular teima em vigorar: “As
palavras passam, mas os exemplos arrastam”. Quantas vezes não
ouvimos de nossos pais: “Meu filho, cuidado com as companhias, com
a bebida, com as drogas, ….” No entanto, quantos pais ou
familiares não têm os mesmos cuidados, o mesmo zelo, acabando por
errar muito mais.
Para a
maior parte de nós, pouco importa o que acontece embaixo de nossos
narizes ou em volta de nós. Na verdade, damos mais interesse para o
que há dentro de nós, da subjetividade, do nosso eu arranhado,
nossos recalques, culpas e ressentimentos. A atmosfera que nos
arrebata não é a que está fora, mas a que está dentro de nós.
Respondemos muito, mas muito mais aos estímulos da nossa
subjetividade e nos distraímos, voluntariamente ou não, para o que
responde o outro, para o que pensa o outro, para o que precisa o
outro, para o que sente o outro... Vamos destruindo aos poucos toda
uma construção ou desconstrução de valores dada às formas da
nossa mais inata causalidade. Segundo Kant, há, em nós, uma
intuição inata de ver ou perceber as coisas. É, portanto, esta
dimensão que a Escola, a Universidade, os pais, os amigos e
familiares, a sociedade e mesmo nós, cada um de nós, deve dinamizar
para melhor formar opiniões que visem ao diálogo e à desconstrução
de preconceitos. Resgatando, assim, a luminosidade de novas pessoas,
o fulgor de novos sujeitos que deem também importância ao que está
fora, perto e longe, a alteridade, o altruísmo, a caridade, o apreço
pelo diferente.
Na minha
opinião, a sociedade não pode ficar órfã de homens e mulheres
adeptos de uma boa leitura; afeitos à música; dedicados à família;
focados no trabalho; zelosos à cidadania; fiéis ao cristianismo;
compromissados com a verdade; fazedores da justiça; eleitores da
honestidade e não da força econômica; sabedores e cumpridores da
ética; protagonistas do amanhã; formadores de si mesmos. Qual a sua
opinião? Por que não tenta começar a expressá-la agora mesmo?
Prof.
Jackislandy Meira de Medeiros Silva
Licenciado
em Filosofia e Especialista em Metafísica pela UERN,
Pós-graduando
em Estudos Clássicos pela UnB/Archai/Unesco
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