quinta-feira, 8 de agosto de 2013

De uma rede em construção



"Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro
dela. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência,
empedernidos e cruéis”. (Charles Chaplin)

        Parece que a palavra da moda se chama rede. Com o desgaste do uso de outras palavras, até a educação passará pelo crivo da rede, o que pode ajudar na atualização e afirmação do papel que a escola deve assumir para dar conta de sua função social. A questão está na própria compreensão de rede, uma vez que a mesma não existe sem os nós (amarrações) próprios que a constituem como tal.
Educar sempre foi e sempre será uma arte, adaptada aos diferentes momentos históricos. (Uma arte nunca está pronta e também não tem fórmula única para existir). Educar faz parte de um processo dinâmico da vida da sociedade. Educar sempre trouxe desafios imensos, sobretudo em momentos históricos de profundas transformações tecnológicas e de organização da produção e da sobrevivência. Educar, para uma mudança social, exige sempre a definição de sonhos e metas, concretizadas por grandes ideias, pois “quem conduz e arrasta o mundo não são as máquinas, mas as ideias” (Vitor Hugo).
A escola, no nosso tempo histórico, cumpre a função insubstituível de sistematização das informações, para transformá-las em conhecimento. É verdade que os alunos de hoje leem mais e que estão mais informados e integrados aos processos dinâmicos da vida social, mas também é verdade que escrevem menos, tem dificuldades de se comunicar e expressar, tem grandes problemas nos seus relacionamentos interpessoais, tem dificuldades de projetar seus sonhos e idealizar o seu futuro. Os adolescentes e jovens de hoje não conseguem, ainda, transformar a avalanche de informações que recebem em conhecimento, posturas e atitudes. Estar informado e conectado ao mundo virtual não é suficiente para decidir o que fazer com o mundo real, seja a partir de uma intervenção pessoal ou coletiva.
Vivemos a era da tecnologia e da informatização, mas não quer dizer que possamos suprimir a importância da oralidade e da escrita. Mais do que nunca, para a nossa humanização, precisamos comunicar e compreender melhor a nós mesmos e aos outros. Precisamos aperfeiçoar a nossa comunicação, para uma melhor compreensão de nós mesmos, dos outros e do mundo. Precisamos tornar as máquinas ferramentas que nos auxiliem na convivência social. Os “faces” não podem substituir as nossas “faces a faces”, respeitando as diferenças e as peculiaridades do ser que somos. Precisamos também produzir os nossos conhecimentos através da escrita, fazendo sínteses que nos orientem para uma vida alicerçada nos sonhos e metas que decidimos projetar.
Uma rede de ensino precisa articular os diferentes “nós” que a constituem: a comunidade, os alunos, os professores, a comunidade escolar, os gestores municipais, os conselhos de educação. A mediação entre estes diferentes “nós” precisa contemplar as condições para uma boa aprendizagem e a vivência de cidadania e de direitos das nossas crianças, adolescentes e jovens a partir das nossas escolas.
            O esforço do conjunto de escolas municipais ou estaduais e seus gestores constituem uma rede em construção. Esta rede, no entanto, não pode trabalhar isolada. Outras redes precisam ser articuladas e amarradas para que a vida social esteja garantida. A escola não pode nem ser uma ilha e nem uma rede isolada do contexto social da qual ela é parte.
Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos.

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