Profª. Irene Reis dos
Santos
“Se você
tem uma mente calma, será uma pessoa bela.
Se você é
uma pessoa bela, criará um lar harmonioso.
Se o seu
lar está em harmonia, sua nação se encontrará em ordem.
Se em sua
nação há ordem, haverá paz no mundo.” Lao
Tsé
Se bem compreendida a profundidade das
palavras de Lao Tsé[1], é
possível começar a empreender verdadeiras mudanças na Educação. Pensemos:
quanto do tempo escolar é destinado atualmente ao desenvolvimento humano?
Somos
testemunhas impotentes de atentados protagonizados, em muitas ocasiões, por
pessoas com formação acadêmica, o que incita em nós espanto e perplexidade. Os
veículos de comunicação expõem cotidianamente feitos de criminosos que parecem
não valorizar suas vidas, menos ainda a alheia. Matam de maneira atroz e ainda
nos perguntamos retoricamente: por quê?
E para esta resposta que não se delineia
concretamente somam-se muitas outras, para muitas indagações que povoam nossa
mente: que padrão de beleza estamos criando?; até quando exaltaremos a beleza
construída nas academias, nas clínicas de estética, expostas em desfiles de
moda, a beleza exterior, enfim, sem observar de fato como está o interior de
cada indivíduo que nos cerca?
No mundo corporativo sempre se culpa a Instituição
pela permanência de ultrapassados modelos, como se ela fosse um ser abstratamente
personificado, a quem possa ser imposto um julgamento. Talvez,
confortavelmente, ignore-se que quando um indivíduo é diferente ou muda,
promove a diferença e as mudanças, desde que não se amolde antes ao velho. Foi
isto que se perguntou a antropóloga Margaret Mead[2]: “Quem disse que um pequeno grupo de pessoas
comprometidas não pode mudar o mundo?”
As pessoas têm sonhos, objetivos
pessoais? Como vão em busca deles? Quais são os modelos sociais de sucesso que
os jovens vão escolher imitar? Em que circunstâncias a escola os ajuda nessa
escolha? Os professores têm tempo (frente a todos os conteúdos elencados no
planejamento) para perguntar aos alunos quais são seus ídolos, quais são seus
modelos? Qual é para o aluno, o sentido da vida?
Sabe-se, por meio de ensinamentos do
mundo publicitário que, uma ação individual leva a um comportamento
contagiante. Por que, então, ainda não se investe fortemente em mudança de
comportamento? Por que, nas escolas, continuamos tendo como base fórmulas tão
antigas quanto entediantes? A quem convém que perdure este estado de coisas?
O sociólogo Jonathan Crane[3]
propõe a ideia de que há um ponto chave na sociedade que deve ser observado e
estudado de maneira crítica e atenciosa. Segundo ele, quando a quantidade de
pessoas que servem como modelos sociais fica abaixo de 5%, a comunidade torna-se
disfuncional, como demonstram os aumentos dos índices de gravidez na
adolescência, abandono escolar, envolvimento com drogas e violência. Por outro
lado, se o número de pessoas que servem como modelos (comerciantes, professores,
gerentes) está entre 5% e 40%, as comunidades mantêm-se estáveis e funcionais.
Entre
os jovens, quem hoje ousa sonhar em ser professor em países como Brasil ou Argentina?
Do que mais precisamos para chegar à conclusão de que, salvo poucas exceções,
vivemos em uma sociedade disfuncional? Coragem tem quem, diante de tal
realidade, ainda procria, contrariando a ideia machadiana: “não tive filhos,
não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.[4]
Apesar do esforço deste e de alguns em
não transmitir nem perpetuar a miséria humana, outros o fazem e aí está nosso mundo
com muitas crianças a serem formadas, conduzidas, preparadas. Assim, aos
educadores não há alternativas senão facilitar seu desenvolvimento saudável,
torná-las autônomas e capazes de trilhar seus próprios caminhos, respeitando o
de outros.
Mas urge começar por um desenvolvimento
pessoal, um investimento individual, reinventando-se, mudando e se transformando
em um modelo social positivo e belo, digno de ser imitado.
Se, além de refletir, a proposta aqui
fosse também responder as perguntas para nota de uma prova final, muitos de nós
– educadores – já estaríamos reprovados e carregaríamos o peso do fracasso
escolar. E, ainda que não valha nota, podemos nos livrar da sensação de
fracasso se não mudarmos nada?
Profª. Irene Reis dos Santos
LETRAS PORTUGUÊS/ ESPAÑOL - USP
Professora, tradutora, autora, revisora, leitora crítica.
LETRAS PORTUGUÊS/ ESPAÑOL - USP
Professora, tradutora, autora, revisora, leitora crítica.
[2] Margaret Mead foi uma
antropóloga cultural norte-americana. Nasceu na Pensilvânia, criada na
localidade de Doylestown por um pai professor universitário e uma mãe ativista
social.
[3] Jonathan
Crane, sociólogo da Universidade de Illinois
[4] Memórias Póstumas de Brás
Cubas é um romance escrito por Machado de Assis, desenvolvido em princípio como
folhetim, de março a dezembro de 1880, na Revista Brasileira, para, no ano
seguinte, ser publicado como livro, pela então Tipografia Nacional.
Nenhum comentário:
Postar um comentário