quinta-feira, 20 de setembro de 2012

De liderança e reconhecimento


“E que seria se nem os leões, nem as águias, nem os elefantes, nem as baleias se contentassem com sua grandeza e se quisessem comer uns aos outros para poderem ser mais e maiores? Isto é o que querem e fazem os homens, por isso os altos caem, os grandes rebentam e todos se perdem” (Pe. Antonio Vieira, em conto Se o rato não quer ser leão)

Vendem-se por aí pacotes com dicas e fórmulas para aqueles que desejam exercer liderança em diferentes grupos ou segmentos sociais. Estas propostas buscam despertar a liderança das pessoas ou buscam, tão somente, ensinar jogos e combinações de manipulação de outros em favor próprio? A capacidade de liderar é algo que pode ser ensinado? Os diferentes grupos sociais convivem com um mesmo padrão de liderança?
Existem outras questões que há tempo me intrigam: as pessoas nascem com o dom de serem lideranças? Dá para a gente querer impor um estilo de liderança para todo mundo ou cada um, a seu modo, vai criando formas de tornar-se influente sobre os outros? Em que medida é possível medir o grau de confiança entre lideranças e liderados?
Há que se entender que somos seres sociais, em busca de reconhecimento. A maioria das pessoas busca este reconhecimento através das habilidades e competências inerentes ao seu trabalho. Esperam um progressivo reconhecimento dos demais pares. Neste grupo majoritário, não existem jogos e tramas que procuram, sorrateiramente, usar os demais para benefícios próprios e escusos. Existe, sim, o desejo de mútuo reconhecimento, respeitando os diferentes papéis e responsabilidades de cada um. A ascensão das lideranças dá-se de forma quase natural, o que não gera tantas resistências e incompreensões.
Geralmente, as oportunidades da liderança surgem a partir de destaques pessoais, associados a oportunidades de exercício de poder. Exercer certa liderança sempre dá poder. Este poder sempre nos é delegado por alguém ou por um coletivo que acredita em nossas capacidades pessoais para representar os seus interesses. Se assim não for, o poder não é legítimo e não deve nem ser reconhecido.
A forma de exercermos liderança tem muito a ver com nossa personalidade, o nosso jeito de lidar com a vida e com o mundo. A agressividade, que muitos pregam como ponto forte para quem deseja liderar um grupo social, nem sempre é a melhor forma de interação coletiva. O carisma, ou a falta dele, por sua vez, é fator fundamental para consolidar uma liderança. A sensibilidade para a percepção das necessidades do grupo liderado é indispensável para o reconhecimento do papel que exercem os líderes. O diálogo é a melhor forma de reatar os laços de confiança, esclarecer dúvidas e incompreensões. A disponibilidade de servir, mais do que ser servido, é o gesto mais nobre e mais verdadeiro de uma grande liderança.
Muitos, ao ocupar certa posição social ou autoridade, personificam o próprio poder, tornando-se eles próprios a razão de ser do poder e da liderança. Distanciam-se da coletividade que representam, tornando-se uma grande ameaça à mesma. Quem exerce liderança deve ter a percepção do limite do seu poder. O lugar que ocupa sempre é transitório e se dá dentro de um contexto histórico. Sempre haverá alguém com mais poder do que ele, como também existe poder que vem de quem está abaixo de sua posição social. O fato é que nenhuma liderança se impõe, mas se conquista.
Não acreditamos que a liderança seja uma “capacidade nata”. Existem predisposições pessoais que podem colaborar para alguém exercer uma grande liderança. A capacidade de liderança pode ser aperfeiçoada por cada um de nós; ninguém é totalmente incapaz e ninguém está totalmente preparado para servir aos outros.


Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos.


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