Por Ivo José
Triches
A intenção deste
escrito é facultar uma reflexão capaz de lhe acrescentar novos conhecimentos.
Há outra
intenção, que você se sinta motivado (a) em partilhar este escrito com outras
pessoas, afim de que elas possam se beneficiar do mesmo, uma vez que o fim
último é contribuir para que cada um seja o fundamento do seu próprio
fundamento moral.
1 1-
O
que é a verdade?
Esse é um questionamento até
hoje feito por muitos filósofos, no entanto, não existe consenso, o conceito de
verdade estabelecido por Aristóteles (384 – 322 a.C.) é até hoje o mais aceito.
E qual é? A ideia de que a verdade é a concordância daquilo que há no meu
intelecto com o que existe na realidade.
Só há uma coisa que para em pé.
O quê? A verdade.
O provérbio veritas filia temporis (a verdade é
filho do tempo) vem ao encontro da minha afirmação acima. O que implica em
dizer que se você foi ou está sendo acusado (a) por algo que você não fez, não
sofra. Um dia a verdade aparecerá.
Outro provérbio significativo: in vino veritas (no vinho a
verdade). Dê bebida a uma pessoa e você a conhecerá. Ela poderá revelar suas
fissuras morais ou não. O que há de mais escondido poderá vir à luz...
2 – A relação entre verdade e sinceridade
Na obra Convite à Filosofia,
cuja autora é Marilena Chauí, o conceito de verdade é apresentado a partir de
sua etimologia. Lethes na mitologia grega era um rio onde as pessoas
necessitavam mergulhar para esquecer suas almas passadas. A letra “a” em muitas
palavras de origem grega designa a ideia de negação. Por exemplo: tomo = divisão. Átomo = não
divisível. Hora, se lethes é
esquecer, alethéia o que é? Aquilo que não se pode esquecer. E o que é
que não se pode esquecer? A verdade. Razão pela qual Chauí nos mostra
que alethéia (a verdade em grego) significa desnudar, por a nu...
Em 1986, Paulo Freire escrevia
artigos na Folha de São Paulo. Não me recordo qual era o dia da semana. Na
ocasião eu estudava no terceiro ano do antigo Segundo Grau. Estava no Seminário
em Ponta Grossa aqui no Paraná. Num daqueles artigos ele escreveu sobre a
diferença entre senso comum e consciência filosófica. Fez uma analogia que eu
nunca mais esqueci. Hoje eu entendo melhor. Ele estava escrevendo sobre o que é
verdade. E qual foi a analogia feita?
Paulo Freire disse que a pessoa
que vive a partir do senso comum é semelhante a alguém que está dentro de um
fusca no inverno. Imagine que seja um dia de inverno com muita neblina. A
pessoa que está no fusca consegue enxergar o que há lá fora, mas vê as coisas
de forma confusa. Ela se dá conta que há uma pessoa a sua frente, só que não
consegue distinguir se é homem ou mulher, por exemplo. À medida que o sol começa aquecer o clima o
que ocorre com a neblina? Ela se dissipa. Pronto, a pessoa que está dentro do
fusca começa a ver o mundo lá fora tal como ele é.
Algo semelhante ocorre com a
pessoa que estuda. Ela começa a tirar a “neblina” da frente dos seus olhos.
Chegará àquilo que Paulo Freire convencionou chamar de consciência filosófica.
Agora vamos à etimologia da palavra sinceridade.
Os soldados romanos quando
voltavam das batalhas que travavam com outros povos, eram recebidos com festa
pelos habitantes que ficavam em Roma. Só que nessas batalhas muitos eram
feridos. Em alguns, tais ferimentos era no rosto. O que eles faziam para
ocultar os ferimentos? Passavam cera. Então com o tempo as pessoas começaram a
perceber que a verdade aparecia. Por isso elas diziam: - sine cera (sem cera).
Pedir a alguém que seja sincero
é pedir a esta pessoa que diga a verdade. Que tudo seja explicitado “sem cera”,
sem máscara. Se muitas pessoas tirarem a “cera” que colocam todas as manhãs em
sua face o que restará?
A imbricação entre verdade e
sinceridade é evidente. Não há como separar esse dois conceitos no meu
entendimento. Um ajuda a explicitar o outro. Agora voltemos ao que se propõe este
escrito.
3 – As razões...
Eu sempre me
questionei o que Jesus quis nos dizer com a expressão: conheça a verdade é ela
vos libertará. Ela nos liberta do quê? No meu entendimento do medo, da
ignorância, da dominação dos outros, entre tantas outras coisas. Logo abaixo
escreverei mais sobre isso.
Aristóteles
afirmou que a razão de ser da Filosofia é a busca do Bem. E o que é o Bem? Para
mim aquilo que potencializa a minha existência. O que permite melhorar o meu
endereço existencial. Aquilo que eleva o meu padrão-autogênico, como bem nos
mostra Lúcio Packter, criador da Filosofia Clínica.
Uma das definições mais lindas
que aprendi acerca da Filosofia é que ela é a busca amorosa da verdade, nunca a
sua posse definitiva.
A
seguir, em forma de tópicos, buscarei evidenciar algumas das razões que
justificam a importância de nos comprometermos com a busca contínua da verdade.
Vamos a eles:
· Buscar a verdade
é nos afastarmos de muitos religiosos que defendem a “Teologia do cangaço”. E o
que isso significa? Que existem líderes religiosos que são verdadeiros
empresários da fé. Exploram o fenômeno religioso que há nos atores sociais
impondo nesses o medo, a culpa. Assim conseguem mantê-los alienados,
tornando-os presas fáceis dos seus interesses;
· Se eu conheço a
verdade no que diz respeito às leis, conseguirei sofrer menos. O primeiro
benefício é que ao cumprir a lei não haverá penalidades;
· Outra razão é que
poderei fazer com que a lei aja ao meu favor. Um exemplo clássico que
dificilmente esquecerei. Nos últimos cinco anos eu e meus sócios trabalhamos
como escravos e ainda, de graça. Pagamos um valor exorbitante em impostos sem
necessidade. Sabe por quê? Porque não conhecíamos a verdade. E qual era? De que
poderíamos ter optado pelo Simples Nacional que é um regime tributário que beneficia
alguns segmentos da economia. Hora, quem presta serviço para todos os níveis da
Educação Básica pode optar por esse regime. Nós só tomamos ciência disso com
todos os esclarecimentos necessários depois de vários anos “trabalhando como
camelos”. Por isso a ignorância é a mãe de muitos sofrimentos;
· Uma pessoa que
busca estudar, de modo geral, sofre menos. Por diversos motivos, lógico. Creio
que o principal deles é que o conhecimento alargará seu pensamento. Com
isso se fortalecerá contra aqueles que se apropriam do edifício
técnico-científico com a intenção de fazer com que os outros se tornem meros
serviçais aos seus interesses. Vide empresários de fé, já explicitado acima,
entre tantos outros;
· Uma pessoa que se
amansa em literatura e conquista no laço a ciência terá mais condições de
acompanhar o desenvolvimento das forças produtivas. O que de pronto lhe manterá ativa no mercado
de trabalho. Do ponto de vista econômico, certamente, obterá muitas vantagens;
· Aquele que não
renuncia à busca da verdade, certamente, encontrará razões para não se esquecer
de si mesmo;
Notoriamente que
há outras razões, mas essas eu peço que sejam acrescentadas por ti. Digo isso
para evidenciar que intenção é não dar
esse assunto por encerrado.
Portanto, buscar
de forma amorosa a verdade é estar cônscio que sua posse definitiva não será
alcançada. Contudo, teremos a serenidade que ao nos aproximarmos dela, nossa
segurança aumenta à medida que nos damos conta que estamos mais próximos do
Bem.
A partir dessa busca,
desejo que seus dias sejam suáveis.
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