Armando Correa de
Siqueira Neto*
O desejo é uma parte
importante da realização. Ajunte-se à lista, ainda, conhecimento, atitude
empreendedora, persistência e espírito crítico para mudar quando necessário.
Saber, querer e fazer são condições para se alcançar metas. A questão, contudo,
diz respeito à forma de se desejar. O que se espera comumente é que as coisas
aconteçam conforme a crença pessoal, sem se considerar o que cada objetivo
requer verdadeiramente. Embora a pessoa acredite que esteja plantando
corretamente, a semente não vinga e a colheita falha.
Um trabalhador, por
exemplo, se esforça por determinado período para chegar mais cedo, ser simpático
com os colegas, agradar o chefe, na expectativa de obter promoção e aumento de
salário. Mas não investe em si,
para adquirir mais conhecimento, autonomia e responsabilidade pessoal. Não se
leva em conta o que é imprescindível, mas o que é conveniente. E o resultado
esperado, porém, sequer passa perto das possibilidades. Então, a boa vontade
cai, fazendo elevar o descaso.
O aluno quer o
diploma e a festa de formatura. Todavia, não estuda e quer que seus exames
resultem favoravelmente com boas notas. Não é assíduo e protesta, julgando-se
injustiçado ao constatar as faltas registradas. Conversa durante a aula e
estranha o desconhecimento acerca do tema apresentado. Demora a iniciar um
trabalho e se diz vítima da falta de tempo. Atira pra baixo e reclama de acertar
o próprio pé.
Uma pessoa abre seu
negócio sem observar o mercado e perde informações que poderia lhe render a
sobrevivência, quiçá o progresso. Pouco se dispõe a mudanças, não se atualiza,
torna-se obsoleta e pouco competitiva. Não se mexe, apenas aguarda, e ainda se
lamenta da maré de azar. É como lançar o anzol sem a isca.
O esbanjador tropeça
na perna da imprevidência, mas se queixa da falta de dinheiro. Gasta sem se
preocupar com o futuro. No entanto, quando o porvir lhe chega, faz do seu
presente motivo de abominação. Usa o cartão de crédito livre e alegremente até a
fatura lhe causar tristeza.
De um jeito ou de outro, não basta querer
para obter. É preciso mais. Não há mágica. Mas pode existir ilusão. É possível
crer com veemência que dará certo aquilo que, se analisado à luz da consciência,
se mostra claramente improvável. O devaneio pinta o cenário com lindas cores o
esboço que mal saiu dos contornos de carvão. É crer que as parcelas do
seguro-desemprego não se acabam. O bolo não queima. A desculpa resolve. O tanque
reserva é suficiente. O tempo espera. A droga não vicia. Nada atrapalha. A saúde
é inabalável... A lista é interminável e cada um a escreve à sua
moda.
Eis o risco: se
auto-iludir na certeza de controlar a ilusão. Negar a existência do engano sem
percebê-lo em si mesmo.
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