quinta-feira, 18 de outubro de 2012

QUE GIRE A RODA DA FORTUNA



Prof. Jackislandy Meira de Medeiros Silva

Circula no imaginário de cada um a noção de que fortuna é muito dinheiro, muitos bens, riqueza, prosperidade e coisa do gênero, até que é mesmo no vocabulário português, mas no italiano fortuna não tem nada a ver com isso, pois significa oportunidade, sorte ou destino, uma certa felicidade, digamos assim. Para alguns políticos, já começou o tempo da oportunidade, em que concorrerão a um lugar na câmara dos vereadores ou a um lugar exclusivo, cada vez mais vazio, na cadeira do executivo municipal. Há os que querem apenas tomar o lugar, mas há os que usarão o lugar para trazer outras oportunidades para o povo. Estes abraçam a carreira política como um serviço público de mão dupla. Ganham, mas fazem outros ganharem. Quando ganham, todos ganham. São os menos egoístas.
Vislumbra-se um tempo cheio de oportunidades. Subverter um pouco as coisas nesse tempo não é arte só dos políticos, mas também dos eleitores. Eleitores também precisam de oportunidades. Eis a hora da festa política, onde o povo saberá ou não fazer suas escolhas, saberá, acima de tudo, aproveitar cada tantinho de oportunidade.
Afinal de contas, a roda girando sinaliza ainda o caráter dinâmico da política, de modo que no regime democrático o poder é sempre rotativo, cheio de alternâncias. A roda da fortuna nos ajuda a entender o sentido da alternância do poder democrático. Essa é uma das façanhas da democracia.
Aproveitar as oportunidades não significa sair correndo loucamente atrás de uma destas vagas, mas respeitar obedientemente o momento certo de arriscar-se a isso, uma vez que o povo espera ver homens, cidadãos mergulhados na vida da sua cidade, sendo servidores do povo e de suas reais necessidades. Quanto a isso, não há dúvidas de que o serviço público se constitui um espaço único para o político - aquele que se identifica de fato com as leis, a ordem e a gestão da coisa pública - poder desenvolver sua aptidões na arte de governar e colocar à disposição do povo sua aplicação em coletividade e em cidadania.
Vale lembrar sempre que o político ou o candidato a político profissional deve ser o mais cidadão de todos os cidadãos. Certamente, caberá a ele ou a ela trabalhar mesmo num esforço natural de fazer o melhor para a gente da sua terra. Gente que suporta os mil sofrimentos com criatividade, sem nunca perder a esperança. Maquiavel, pensador italiano, não estava só do lado do Príncipe e de sua permanência no poder, mas concebeu em seus escritos filosóficos políticos um imenso desejo pela democracia: “(...) as ideias já democráticas aparecem veladamente também no cap. IX de O príncipe, quando Maquiavel discorre sobre a necessidade de o governante ter o apoio do povo, sempre melhor do que o apoio dos grandes, que podem ser traiçoeiros”(in ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofando. Introdução à Filosofia. São Paulo: Moderna, 2009. p. 299).
Voltando, pois, à fortuna, por que não nos remetermos aqui à mitologia? A Fortuna é uma deusa romana que representa a abundância e que também move a roda da sorte. Daí, fortuna vir identificada com ocasião, acaso, sorte que se liga com a ideia do político, em Maquiavel, não deixar escapar nunca a ocasião oportuna. Porém, de nada adianta ser oportuno sem virtù, virtude, para o político não deixar seu senso de oportunidade se transformar em oportunismo. Que o político saiba respeitar a oportunidade com virtude para não se transformar num tirano, ligado apenas em seus próprios interesses.
Que gire a roda da fortuna! Quem serão os felizardos? Quem serão os afortunados?

Um comentário:

  1. O desejo pela democracia ou o imenso desejo pela democracia consistem também na manutenção de uma liberdade individual que independe do povo e dos grandes, talvez por isto, por esta mínima e delicada responsabilidade a política não obtenha-se totalmente virtuosa, considerando que a fortuna seja a arte de distribuir a satisfação para o pequeno e para o grande: “(...) as ideias já democráticas aparecem veladamente também no cap. IX de O príncipe, quando Maquiavel discorre sobre a necessidade de o governante ter o apoio do povo, sempre melhor do que o apoio dos grandes, que podem ser traiçoeiros”(in ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofando. Introdução à Filosofia. São Paulo: Moderna, 2009. p. 299).

    ResponderExcluir