“Uma garotinha, perguntada onde era sua
casa, respondeu: onde minha mãe está” (Keith L. Brooks)
Escrever
sobre o amor de nossas mães é um grande desafio. O amor materno é sempre
sagrado, capaz de abarcar as dimensões humanas mais ricas e contraditórias. Sua
pureza se confunde com “amor radical”, nem sempre compreendido por sua incondicional
capacidade de perdoar, de re-atar, de re-considerar, de re-aprender a viver do
jeito que é possível, apesar dos pesares.
Somente
as mães conhecem realmente seus filhos e suas filhas. Por conhecê-los tanto e
tão bem, são capazes de reconhecer os seus desejos e potencialidades, mas
também os seus limites e fragilidades. Não raras vezes, são mal interpretadas
porque dedicam mais atenção e apoio para um dos seus filhos ou filhas que,
justamente, mais necessita de sua ajuda e presença.
Nossas
mães aprenderam e ensinaram que ser justo é dar a todos e todas as mesmas
medidas, as mesmas proporções, dividindo tudo em partes iguais. O bolo de mãe,
o melhor de todos, é sempre dividido em partes iguais para cada um de seus
filhos e filhas. Parece que esta é sempre a fórmula mais justa de dividir os
bens e artigos que possuem materialidade. Mas valerá esta mesma regra para
“distribuir” carinhos, afagos, apoio e atenções? Para as mães, não. Para os
filhos, sim.
Sem perceber,
nossas mães fortaleceram nossos egoísmos e caíram numa cilada que, não raras
vezes, volta-se contra elas na medida em que os filhos, sempre diferentes,
exigem que sejam tratados de maneira igualitária. Mas como tratar de forma
igual filhos tão diferentes, com diferentes necessidades de compreensão, de
apoio, de ajuda de todas as ordens, inclusive ajudas financeiras?
Em toda família
com mais de um filho há um que precisa de uma presença, vigilância e cuidado
maior do que o outro. Não é verdade que as mães amam diferente a cada um de
seus filhos ou filhas e amam em diferentes intensidades, mas é fato que as
mesmas dedicam-se aos filhos na proporção da necessidade que os filhos revelam
para elas. Por isso mesmo, não se justificam as birras e incompreensões para
com elas.
Não adianta a gente querer esconder de nossa
mãe aquilo que a gente é. A mãe da gente não precisa de faro nem de varinha
mágica para descobrir o que se passa com a gente. Seu olhar e sua presença
transpassam a nossa vida, tornando esta mesma vida como que uma extensão de si
mesmas.
Celebremos,
pois, o amor sagrado de nossas mães. Saibamos reconhecer que o bem maior, nossa
vida, foi gerado por elas. Saibamos reconhecer que, com a pureza de seu amor,
as mães jamais seriam capazes de atrapalhar os nossos planos, desde que estes,
uma vez verdadeiros, nos ajudem a ser o que a gente é.
Todas
as mães são únicas. São mães a seu modo por conta de nós, seus filhos. Elas nos
geraram, mas não puderam prever como a gente iria ser. Embora insistam em
dividir o bolo em partes iguais, por força do hábito, elas nos provam de que
fazer justiça não é dividir em partes iguais, mas dar a cada um e cada uma
conforme as suas necessidades.
Vida
longa e saudável a todas as mães brasileiras!
Nei Alberto Pies, professor e
ativista de direitos humanos.
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