Nei Alberto Pies
“O
amor é doação. Tudo o que contradiz a doação, machuca”.
O amor é uma das ideias mais
revolucionárias, capaz de garantir condições de vida em segurança.
O medo, valor tão propagado e vivenciado por conta da violência
cotidiana, não pode nos apequenar diante dos desafios de sempre
construir vida na dignidade, a partir de relações de respeito,
consideração e apreço de um para com o outro. O medo nos protege e
não irá nos desencorajar para a vivência e a convivência humana.
Nossa civilização “encaixotou”
o afeto. O afeto estimula a criarmos as condições para nossa plena
realização. O ser humano é um ser em construção, por isso mesmo
exige investimentos afetivos a vida toda. O cuidado, como algo
essencial e que constitui a nossa condição humana, deve ser
resgatado se quisermos devolver à humanidade o verdadeiro sentido de
sua existência.
Não sobrevivemos se não somos bem
cuidados. Na escala dos seres vivos, somos os mais dependentes de
todos. Saímos da barriga da mãe, caímos nos braços de uma
família. Aos poucos vamos crescendo e nos integrando aos grupos
sociais da escola, da vizinhança, dos amigos, dos colegas de
trabalho. E cada fase de nossa vida exige que sejamos cuidados e que
saibamos cuidar, da gente e dos outros.
A necessidade do cuidado e as
carências afetivas, próprias do ser humano, não constituem nenhuma
fraqueza. O que nos torna fortes e capazes de superar as contradições
é a coragem de assumirmos nossas carências, pois estas é que nos
desafiam para o crescimento e discernimento pessoal, afetivo e
social. As relações que se constituem na partilha, na compreensão,
na doação, na gratuidade e na confiança são oportunidades que
muitos constroem por acreditarem que sua realização depende da
integração, convivência e complementariedade a serem construídas
junto com os outros. São também excelentes oportunidades de
vivenciar a doação, pois vida existe se for compartilhada.
Redescobrir-se em permanente
relação com os outros é a grande contribuição que cada um pode
oferecer
para a elevação de uma consciência
de humanidade. Reconhecer e vivenciar valores como a solidariedade, a
amizade, o amor, a partilha e a alteridade pode nos possibilitar um
mundo com menos violentos e menos violentados.
A solução para os problemas de
convivência social não passa pela construção de novos presídios
e nem pelo endurecimento de nossas leis. A solução passa pela
promoção da vida e da humanidade, através do cultivo de relações
de respeito, amor e afeto. Passa também pela promoção da justiça.
Romantismo? Não para os que acreditam que o amor é sempre maior do
que o medo e a dor. O amor sempre foi a inspiração dos grandes
mestres como Jesus Cristo, Madre de Calcutá, Gandhi, Dallai Lama,
Chico Xavier e outros tantos mais. Aprendamos com eles se quisermos
sobreviver plenamente realizados e livres.
Nei Alberto
Pies,
professor
e
ativista de direitos humanos.
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