quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Filhos humanizam



Nei Alberto Pies

 “Os anos deixam rugas na pele, mas a falta de entusiasmo
deixa rugas na alma” (Michael Lynberg)


A paternidade e maternidade estão permanentemente submetidos à avaliação e análises, feitas por todos nós. Somos homens e mulheres que assumiram um compromisso denso com filhos e filhas. E vivemos tempos em que se torna difícil compreender as mudanças culturais que operam neste mundo de ligeiras transformações. Ser pai e ser mãe é mais do que um ofício; é assumir uma missão, criando condições de aconchego e de vôo, como fala Padre Zezinho. Somos pais e mães menos presentes na vida cotidiana de nossos filhos. Por isso mesmo, a convivência com eles pode e deve ser, por excelência, um convite e uma oportunidade para a humanização (nossa e deles).

O ser humano não nasce lapidado, não nasce pronto. Faz-se no tempo, na experiência e na vida concreta. Esta vida concreta é feita de oportunidades. Umas nós mesmos as construímos, sobretudo em nossos espaços de convivência familiar. Outras, o mundo as oferece, de forma permanente. E acontecem longe do controle e da vontade dos pais e mães. Por isso mesmo, educar os filhos e filhas não é uma exclusividade das famílias. A educação das crianças, adolescentes e jovens deve ser também uma responsabilidade compartilhada por todos nós, por toda comunidade.

Certas coisas aprendemos a partir da experiência concreta. Quando éramos apenas filhos, não possuíamos noção da idéia de “pertença” e proteção, tão intrínsecas à vida dos verdadeiros pais e mães. Achávamos que éramos superprotegidos, que nossos pais "desperdiçavam" tempo e cuidado para com a gente. Finalmente, achávamos que o que nos faltava era a liberdade. Com a paternidade e a maternidade passamos a compreender o valor dos “investimentos” afetivos, culturais, emocionais e porque não econômicos que pais e mães fizeram e fazem em função de seus filhos. Filhos não tem mesmo condições para compreender estes valores, mas deveriam aceitar a idéia de que pais e mães só querem proteger, porque ainda os consideram seres frágeis e suscetíveis a muitos perigos que os rondam enquanto forem crianças, adolescentes ou jovens. E que estes perigos são reais, e existem.

 Por sua vez, a sabedoria popular encarregou-se de nos ensinar que “filhos a gente não cria para a gente. Filhos, a gente cria para o mundo”. Diz Padre Zezinho que “não dá para ninar um filho a vida inteira. Um dia a aguiazinha fica madura e precisa voar sozinha e fazer seu próprio ninho. Tem que haver mais do que asas de mãe naquela vida. Existe vento forte lá fora e alguém tem que empurrá-las para voarem sozinhas. Filho que não entende isso chega aos 32 anos dependendo da mesada do pai. Pai que não entende isso vai amar errado. Há um tempo para o aconchego e outro para o vôo para longe. Ou isso, ou não haverá mais águias..”.

 O ambiente familiar é um espaço privilegiado de promoção de vida, dignidade e de humanidade. Aqueles e aquelas que, convivendo, compõem um ambiente de relações afetivas e próximas, podem construir a mais rica experiência do amor. Mas há que se considerar ainda os filhos e filhas dos outros e outras. Aqueles que não possuem um ambiente familiar que os promova e os proteja. De quem a responsabilidade? Se filhos do mundo, também filhos nossos. São de nossa responsabilidade também.

Rugas no corpo são inevitáveis com o passar do tempo. Rugas na alma não colam naqueles que são entusiastas da vida, do amor e do ambiente familiar. Nossas famílias devem ser lugares de aconchego e de vôo. Aconchego e vôo são da essência humana; constroem felicidade.


Nei Alberto Pies,
professor e ativista de direitos humanos

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