sexta-feira, 21 de junho de 2013

Adeus ao pão e o circo

Adeus ao pão e o circo
Armando Correa de Siqueira Neto*
O império romano, famoso por sua história singular, também mereceu destaque pela astúcia demonstrada no controle da população, utilizando-se da política do pão e circo (panis et circenses) para desviar a atenção popular das questões sociais de suma importância. Considerável número de dias era reservado aos espetáculos de corridas e lutas, além do pão que era distribuído. Assim, a cabeça ficava à mercê da distração ao invés de manter-se ocupada com a reflexão, sobretudo a política. O modelo de entorpecimento da massa resistiu ao tempo - diferentemente de tantas obras filosóficas que se perderam no pó do esquecimento – e chegou às culturas contemporâneas. A propósito, o Brasil mostrou-se bastante afeito ao jeitinho “inebriar para sossegar”, valendo-se especialmente do carnaval e do futebol.
Foi assim que muita falcatrua política caiu no esquecimento dos eleitores. Lembra-se? Vale a pena ver de novo: “Escândalo dos Correios” (2005); “Mensalão” (2005/2006); “Dólar na cueca” (2005); “Operação Dominó” (2006); “Caso Renan Calheiros” (2007); “Escândalo dos cartões corporativos” (2008) e “Operação Satiagraha” (2008/2009). Há inúmeros outros casos (poder-se-ia citar até o rombo do Banco do Brasil em 1821, quando D. João VI retornou a Portugal com algum no bolso), mas a idéia aqui foi a de mostrar que eventos considerados recentes escapam à consciência com extrema facilidade, e que apenas o pão e o circo conseguem turvar a claridade que sempre penetrou através de frestas e quase nunca por meio da janela totalmente aberta. Fotofobia moral?
Mas como tudo tem começo, meio e fim, assim também sucedeu ao tal jeitinho entorpecedor brasileiro. O seu encerramento, no entanto, não se deveu à melhora evolutiva na política. Não. Houve piora. Logo, é devido dizer adeus ao pão e o circo, que foram engolidos, sem qualquer esboço de reação, por uma nova e ainda mais eficaz maneira de atordoar os adeptos da autoilusão política. Trata-se da substituição de um escândalo por outro de modo contínuo e incessante. Ou seja, não há intervalo suficiente nem para piscar os olhos. Em suma, o show tem que continuar. E continua. As falcatruas vicejam. São safras abundantes. Mal dá para acompanhar as colheitas. Então, a zonzeira finca a estaca e permanece nos campos mentais sem dar o menor sinal de despedida. Porquanto emerge uma questão crucial para completar o cenário aqui descrito: Quem faz o papel de espantalho, cuja serventia há tempos inexiste tanto para os corvos quanto os maliciosos urubus?

*Armando Correa de Siqueira Neto é psicólogo (CRP 06/69637) e diretor da Self Consultoria em Gestão de Pessoas. É professor e mestre em Liderança pela Unisa Business School. Coautor dos livros Gigantes da Motivação, Gigantes da Liderança e Educação 2006. E-mail: selfcursos@uol.com.br

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