quinta-feira, 31 de outubro de 2013

De medo e de pânico

“O pensamento é uma força e a palavra tem poder. O que a mente produz, o universo realiza e o que verbalizamos tem capacidade de se cumprir. Por isso, é preciso exercer vigilância firme e permanente sobre o que pensamos e o que dizemos”.(Vera Pinheiro)
            Moacyr Scliar, sempre talentoso em suas crônicas, abordou de forma sábia e eloqüente a situação duvidosa que paira sobre o contágio e a proliferação do vírus H1N1, sobre a também chamada gripe A (ZH, 28/07/09). Scliar destacou a importância de falarmos sobre esta epidemia como forma de construir conhecimento e discernimento para as nossas ações de prevenção e enfrentamento a esta nova epidemia. Mas, o que mais poderá nos ajudar para superarmos nossas angústias e medos com relação a este vírus?
            Como seres em relação, torna-se imprescindível nossa linguagem. Como nunca antes visto, falamos da prevenção como a melhor forma de enfrentarmos nosso tão rigoroso inverno, e não contrairmos nenhuma gripe. Mas se é verdadeira a afirmação de que a gripe comum mata tanto quanto a nova gripe, porque as autoridades médicas e políticas não se posicionaram de forma mais contundente frente à mesma? Não seria o caso da mesma ser tratada com mais intensidade e seriedade?
            O medo tem a função de medir e mediar as conseqüências de nossas atitudes. Através dele, vamos criando as noções de perigo e de limite que delimitarão nossas vidas. O pânico, por sua vez, geralmente nos leva para a inação ou para ações precipitadas ou desesperadas. Este carece de racionalidade, é levado pelos nossos impulsos, e gera situações de grande insegurança.
São tênues as diferenças entre medo e pânico. Mas é aí que podemos nos valer da expressão dos gregos: “é preciso pensar bem, para viver melhor”. É bem verdade, Scliar, quanto mais pensamos sobre as situações de nossa vida, maiores são as possibilidades de encaminharmos soluções compatíveis com a nossa realidade, também agora com o advento do novo vírus.
O que não corrobora para a compreensão e discernimento do problema é o desencontro e o conflito de informações. Acreditando no poder da prevenção, porque é que nem todos, de forma cabal, aceitam a idéia de que é preciso evitar aglomerações, por exemplo? É verdade que todos deverão passar por esta gripe? É notório que os sistemas de saúde, pública e privada, não estavam preparados para esta nova epidemia. Que medidas concretas estão sendo adotadas para que as estruturas hospitalares e a internação, junto com o remédio, estejam disponíveis no momento que qualquer um de nós precisar acessá-los? Quando estas e outras perguntas estiverem respondidas, com certeza, continuaremos com medo da nova gripe, mas não teremos mais pavor para enfrentá-la.
O que deve nos contagiar é o espírito de cooperação, seja na esfera pessoal, coletiva ou institucional. O que for bom para todo mundo, que seja amplamente divulgado e disseminado a todos. O que aumentar nosso medo e pânico, que seja tratado nas esferas do estudo, pesquisa e análise, nos ambientes próprios da medicina e da política. Afinal, as dúvidas servem para nos estimular novos conhecimentos. Nossas certezas servem para nos propiciar condições de “bem viver” e conviver.
Nei Alberto Pies, professor.

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