Profª.Cíntia Borher Soares
Tutora do Sistema S.E.R. de Ensino
Qual seria o ponto de partida para uma
boa prática pedagógica? Um trecho do texto de Rubem Alves fez como que minha
“máquina de pensar” fosse ligada
”Toda
experiência de aprendizagem se inicia com uma experiência afetiva. É a fome que
põe em funcionamento o aparelho pensador. Fome é afeto. O pensamento nasce do
afeto, nasce da fome. Não confundir afeto com beijinhos e carinhos. Afeto, do
latim "affetare", quer dizer "ir atrás". É o movimento da
alma na busca do objeto de sua fome. É o Eros platônico, a fome que faz a alma
voar em busca do fruto sonhado.”[2]
O educador deve provocar a fome em seus
alunos, para que o aprendizado ocorra da melhor forma possível e que o
despertar da necessidade venha acompanhado pelo prazer de saciá-lo.
O aroma que vem antes do prato chegar a
mesa, que invade o espaço e desperta o apetite é o melhor recurso que existe
para uma boa refeição. O educador deve ficar atento aos gostos e preferências
de seu público antes de servir o cardápio, pois alguns podem ter vivenciado
experiências não muito positivas, o que pode trazer uma rejeição, antes mesmo
da prova. Conhecer o aluno é um ponto importante para a realização de um bom
trabalho.
Em seguida, deve-se apresentar um prato
cheio de cores e sabores, pois antes de comer com a boca, comemos com os olhos.
O educador deve oferecer aos seus alunos um bom material, contextualizado com
sua realidade e com estratégias que podem detalhar os conceitos mais complexos,
simplificando assim o entendimento. É através do material disponibilizado que o
aluno terá contato com o conteúdo, por isso ele deve ser agradável e ao mesmo
tempo eficaz.
O momento da prova do prato também deve
ser cauteloso, pois a temperatura e o paladar diferenciam de pessoa para
pessoa. O educador deve levar em consideração que cada um tem uma maneira
própria de aprender e assimilar o conteúdo. Fazer generalizações pode
comprometer o desenvolvimento do grupo!
Fazer provocações e despertar o
interesse de provar o que, a princípio, não lhe agrada também é uma maneira de
desenvolver nos alunos novas habilidades para que não corra o risco de apenas
reforçar as aptidões que já foram desenvolvidas (novos
conhecimentos). Pedro Demo, diz que devemos estimular a produção de
conhecimento pelo próprio aluno, por meio da pesquisa, para que o aluno
torne-se autônomo. Deixar com que cada um expresse sua opinião sobre o prato
apresentado, é uma forma de fazer com que o aluno interaja e coopere na construção
e ressignificação do conteúdo. Vygotsky nos mostrou que é a través da fala e da
interação com o outro que chegamos ao pensamento, e que são os próprios alunos
que formam seus conceitos sobre as coisas. O educador deve então, propiciar a
negociação e a apropriação do significado, colocando o pensamento da turma em
movimento.
A escolha do tempero (técnicas
didáticas), a combinação dos ingredientes (domínio do conteúdo) e a temperatura
ideal do prato (mobilização do grupo) são técnicas fundamentais para chamar a
atenção para a degustação do prato (processo ensino-aprendizagem). Mas
como nem sempre se pode passar pelas mesmas experiências que os alunos, deve-se
tentar se “colocar verdadeiramente no lugar do outro, de ver o mundo como ele o
vê” (Rogers apud Capelo, 2000).
Fomentar o debate, auxiliar e estar
presente nos momentos que se faz necessário, incentivar cada um a tornar-se
responsável pelo seu desenvolvimento e pela motivação geral do grupo, estar
atento e sensível as variações que podem acontecer durante a ação e
principalmente estar consciente da mudança de paradigmas e condições do
ambiente dos alunos. O educador deve estar completamente envolvido com a turma
e com os conteúdos de forma que anteveja possíveis problemas e situações para
que possa (junto com o aluno) driblá-las. Para isso a confecção de um
planejamento flexível acompanhado de leituras pertinentes ao tema, pode somar
aos bons momentos de aprendizagem.
A distância existente entre os
participantes não pode ser uma limitação. Criar estratégias para que a
distância diminua, gerando laços de afinidades e afetividade com o aluno é
essencial para o envolvimento. Um convite para a degustação de um prato é uma
boa oportunidade para conhecê-los! E também uma ótima chance de trocar
receitas, pois com esse contato descobrimos que por mais que estudamos temos
sempre muitas coisas novas para aprender.
Cuidar para que essa distância não aumente no
dia-a-dia também faz parte do papel do educador, lembre-se que “Tu te tornas
eternamente responsável por aquilo que cativas”. Foi dessa maneira que conduzi
o Curso 2 : Crianças brincam, falam,
perguntam e pensam: filosofar desde a Educação Infantil e o 1º ano, na
modalidade a distância no Ambiente Virtual de Aprendizagem do S.E.R. (Sistema
de Ensino Reflexivo). Espero que meus alunos tenham saboreado tanto quanto eu. Desejo
um bom apetite a todos.
[1] Esse texto está em meu blog sobre Mediação Pedagógica
em EAD http://cintiamediacao.blogspot.com.br
[2] Texto de autoria de Rubem Alves intitulado como A ARTE
DE PRODUZIR FOME. Disponível em: http://www.magiadamatematica.com/uerj/licenciatura/02-fome1.pdf
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