quinta-feira, 28 de junho de 2012

Pedir a bênção aos mais velhos pode melhorar o processo ensino-aprendizagem



Por Ivo José Triches[1]


Lembre-se: não há nada sobre o que a Filosofia não possa se debruçar. É desse pressuposto que partirei para construir essa reflexão. Muito embora você perceba que o aspecto valorativo está presente no meu escrito, a dimensão moralista, que comumente envolve esse fenômeno, foi deixada de lado. Se não fosse assim seria doutrina e não Filosofia. Não é essa a minha intenção.
Pedir a bênção aos mais velhos é uma coisa boa ou ruim? Para mim, é boa. O próprio título deste artigo sugere isso. Razão pela qual penso que vale a pena continuar essa leitura.
Em Filosofia, analogia significa raciocínio por semelhança. Para ilustrar a importância deste hábito que há em muitas pessoas de pedir  a bênção aos mais velhos, principalmente aos nossos pais ou parentes, vou me valer desse recurso acima explicitado.
Ao olharmos para os galhos mais finos de uma árvore, mais precisamente nas extremidades deles, poderemos observar que vez ou outra saem folhas novas. Que esses galhos tendem a se expandir. Que enquanto existir vida nas árvores, novos galhos nascerão. Não há como existir um novo galho sem antes haver outra estrutura mais velha. Seja outro galho ou o tronco ou ainda, as raízes. Pois bem! Não há como existir um filho, uma nova criança, sem que houvesse antes algo que o antecedeu e que, portanto, seja mais velho.
Ao ler isso até aqui, talvez você esteja pensando: isso é lógico! O que isso tem de novidade? O que isso tem a ver com a questão da educação? Calma, tchê! Eu vou lhe explicar. Vamos em frente.
Para que exista uma folha nova na ponta de um galho novo, houve a necessidade da existência de uma energia. Essa por sua vez, partiu lá da raiz, depois passou pelo tronco, depois pelo galho, para finalmente chegar a essa folha nova. Da mesma forma, quando eu peço a bênção aos meus pais ou aos meus avós, por exemplo, eu estou buscando energia lá no “tronco”, nas “raízes”. Por que eu faço isso? Para ter força para ir adiante. Para que possamos nos energizar. Para termos nosso conatus fortalecido, como diria Espinosa (1632-1677).
Claro que quando eu faço isso por um simples hábito, sem compreender o real significado, é provável que isso seja apenas mais um gesto de cordialidade para com os mais velhos.
Da mesma forma como uma árvore, que para dar bons frutos necessita ser plantada em terreno fértil, ser bem cuidada, etc., nós, ao pedirmos a benção para aquelas pessoas que admiramos, que foram e são exemplo de consciência moral (pessoa que se esforça para ser ética), estaremos nos abastecendo das melhores coisas a fim de termos força para prolongarmos nossa existência.

1.  A influência da benção no processo ensino-aprendizagem

Sou educador há 23 anos. Já exerci muitas atividades nos diferentes níveis da educação. Fui servidor público concursado como professor de Filosofia por dez anos. Nesse tempo fui diretor de escola pública por 04 anos, professor de diferentes disciplinas das humanidades em faculdade, fui professor da rede privada e hoje sou professor, diretor adjunto de uma escola particular. Por que estou lhe escrevendo isso? Para poder lhe dizer o seguinte: sabe qual foi a grande lição nesses anos todos? Que todas as vezes (todas mesmo!) que convivi com alunos indisciplinados, com pouca vontade de estudar, com problemas de dependência química e cujos pais foram chamados à escola e, ao tomarem ciência do que seus filhos estavam aprontando, tomaram partido do seu filho, o mesmo só piorou.
 Entretanto, todas as vezes que os pais, ao tomarem conhecimento, passaram a se unir com a escola em face das medidas necessárias a fim de que seu filho mudasse suas atitudes, o educando passou a ter um desempenho melhor nas atividades propostas, suas notas melhoraram etc.
Para fundamentar melhor minha tese aqui proposta, que consiste em demonstrar que aluno que pede a bênção aos mais velhos poderá ter um desempenho melhor no processo ensino-aprendizagem, vou lançar mão da seguinte afirmação de Émile Durkheim (1858-1917): ”as paixões humanas só se detêm diante de um poder moral que a ele respeite”. Isso está no livro de Raymond Aron, “Etapas do Pensamento Sociológico”, da Companhia das Letras, na parte que começa sua abordagem sobre Durkheim.
Como partilhei acima, minha experiência de 23 anos demonstrou-me que os pais que tomam partido dos seus filhos diante de uma situação de conflito, essa criança só tende a piorar. Por quê? Porque o filho pensa que pode fazer o que lhe der na “telha”. Que sempre haverá alguém que irá defendê-lo. Assim, pensa não haver limite para suas escolhas.
Contudo, aquela criança que pede a bênção, de modo geral, vai desde cedo aprendendo que há alguém a quem deve respeitar. Que colocará freio em suas escolhas. Que uma escolha só é boa se for baseada no seguinte pressuposto: eu só farei aos outros, aquilo que gostaria que fosse feito comigo.
Evidentemente que isso só tem sentido se essa bênção for solicitada àquele ou àquela que procura ter consciência moral, como já demonstrei na primeira parte deste escrito.
Outro aspecto que podemos destacar é que pedirmos a bênção é sinal de respeito aos mais velhos e por isso os tememos. Que temos receio de decepcioná-los. Isso pode implicar num esforço contínuo por parte daquele que é abençoado. Ele se esforçará para que suas atitudes sejam coerentes. Logo, um estudante pode ficar preocupado em proporcionar bons resultados nos estudos, tendo em vista a aprovação por parte daquele que o abençoou.
Por isso estou convencido de que, independentemente do grau de instrução que alguém possa ter, pedir a bênção aos mais velhos é uma atitude louvável, que tende a melhorar nosso endereço existencial.
Aquilo que convencionei chamar de espiritualidade desfetichizada, pode ser fortalecida pelo carinho e afeto que poderemos ter pelos mais velhos. Considerar suas experiências de vida para não repetirmos os erros que porventura eles tenham cometido, me parece ser um gesto de sabedoria.
Nesse sentido, esse gesto de pedir a bênção é beber no próprio poço. É uma oportunidade de lembrarmos que temos uma história e que poderemos tomar consciência do por que estamos na história. Isso é possível para aqueles que conseguem ver isso como um gesto privilegiado de nos conectarmos com a substância primeira de onde somos originários.
Conseguirmos compreender que tudo está imbricado, que somos interdependentes e que esse gesto de pedir a bênção pode ser mais uma oportunidade de nos fortalecermos, é próprio daqueles que escolheram a humildade como fonte de inspiração de sua conduta.

2.  Um pouco da minha história e da força da bênção em minha vida

Tudo o que lhe escrevi até aqui teve como fonte originária o que aconteceu comigo há poucos dias. Eu pude pedir a bênção ao meu único tio-avô com quem tenho forte ligação. Trata-se do meu tio Luiz. Ele tem 84 anos e vive no interior do estado da Bahia. Ajudou-me quando eu tinha dezesseis anos de idade.  Foi ele um dos que teve misericórdia de mim. Eu ainda não sabia ler direito, apenas soletrava. Já havia reprovado quatro vezes. Estava na quinta série e trabalhava em uma fábrica de carrocerias em Medianeira, Paraná, perto de onde moro hoje, Cascavel. O reumatismo tinha voltado. Eu já havia desistindo de estudar. Ele chegou e disse a minha mãe: - “Não adianta, ele não vai conseguir trabalhar no pesado. Terá que trabalhar em escritório”. O que foi que ele fez? Pagou-me um curso de datilografia e eu voltei a estudar à tarde. Com a ajuda dos meus pais, e de mais uma professora de português, a qual não esqueço, nunca mais eu reprovei.
Quando nesta semana eu pude falar pelo telefone com ele, quando pedi a bênção a ele, me energizei de tal forma que encontrei elementos para lhe escrever essas coisas.
Portanto, esse simples gesto que está sendo esquecido por muitos poderia ser revitalizado como uma forma de frearmos o vazio ético que toma conta de boa parte de nossas crianças e jovens em nossos dias.
Como há outros elementos a serem considerados, penso que essa reflexão poderá ser complementada por você e por outros profissionais da educação que vivem dias difíceis frente ao processo ensino-aprendizagem.


[1]Ivo José Triches é escritor, palestrante e Diretor das Faculdades Itecne de Cascavel. Autor do blog www.itecne.edu.br/ivo  também é formado em Filosofia. Fez três Especializações e fez o Mestrado.

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