Escrito por Ivo José Triches [1]
“Ama-se o que se conquista com esforço”.
Aristóteles
O título deste artigo “fala” por si só. Contudo, antes de começar a refletir sobre o mesmo. Pretendo lhe dizer como cheguei a ele.
Eu e meu amigo – Marcelo A. B. Moraes que é professor em Campo Largo, Paraná – estávamos vivenciando a nona dimensão do conceito de práxis-orgânica, qual seja, o alterdidatismo. Sobre a semântica desses conceitos você encontrará muitas informações no meu segundo livro: Um caminho para viver melhor.
Naquele momento de formação compartilhada meu amigo pegou o livro que estava lendo, cujo título é: Qual é a tua obra? Do filósofo M.S. Cortela. Pediu-me para ler o penúltimo parágrafo do livro. Nele havia uma citação de outro Filósofo. Trata-se do Beneditino F. Rabelais. Esse por sua vez é do Século XVI. E que citação era? Rabelais disse assim em sua obra Gargântua Pontagruel: “conheço muitos que não puderam quando deviam, porque não quiseram quando podiam”.
Depois desse momento de diálogo com meu amigo, comecei a partilhar com outras pessoas o que havia aprendido. Todos ficaram mesmo pensativos. Diziam que tal citação se aplicava em algumas situações de sua vida. Nessa história toda acabei por mudar sua afirmação. Disse na verdade, a mesma coisa, invertendo o sentido da frase.
A RELAÇÃO ENTRE O QUE RABELAIS DISSE COM O QUE MEU PAI ME FALOU
Recentemente eu ouvi do Fernandão, hoje técnico do Internacional de Porto Alegre, a seguinte expressão: “inteligente é o que aprende com seus próprios erros, mas sábio é aquele que aprende com os erros dos outros!”. Isso me fez pensar muito. Eu comecei a associar essa sua afirmação como muitas falas do meu pai que já partiu. Seus acertos e erros ao longo dos seus 70 anos vividos marcou não apenas a mim, mas, certamente, meus quatro irmãos e as cinco irmãs que tenho.
Esta reflexão que hora lhe apresento versa basicamente sobre uma de suas afirmações que vem ao encontro do que aprendi com Rabelais como escrevi acima.
Faz dez meses que meu pai partiu. Uma semana antes da sua morte estive com ele. Ele encontrava-se fortemente abatido por uma doença de origem oncológica, teve um momento de pequena melhora.
Naquele momento ele ainda podia andar, mesmo de forma lenta. Então fizemos uma pequena caminhada a sós. Entre outros temas que fizeram parte do nosso diálogo, eu lhe perguntei: - “pai, existem mais mulheres ou homens viúvos”? Ele me respondeu: - “mais mulheres, claro” Então eu lhe fiz mais uma pergunta: - “e por que muitos homens partem antes das mulheres”? Eis a resposta: - “porque os homens facilitam em quase tudo”.
Querido leitor ou leitora, essas palavras não saem mais da minha memória. Depois de ter compreendido e sistematizado o que está hoje no título deste artigo, comecei a fazer as conexões entre ambas. Dei-me conta que há uma relação de semelhança entre o que meu pai disse e o escrito de Rabelais.
Ambas as afirmações podem ser aplicadas nas mais diferentes situações de nossa existência.
Compreendi que meu pai estava se referindo a ideia de que os homens, de modo geral, são mais viciosos do que as mulheres. Por quê? Porque muitos homens se deixam dominar pelos objetos mais facilmente. Como exemplo: a pinga, jogo, carne gorda, cerveja, mulheres, a gula, carro, etc.
Evidentemente que há mulheres viciosas, só que, de modo geral, elas se cuidam mais. Eu conheço homens que fetichizam carros. Compram carros potentes a preço alto. Pegam uma “bíblia” para pagar (o tal do carnê). Pior: do antigo e novo testamento. Pagam um seguro caro. No primeiro chiado diferente que ouvem, levam imediatamente para o mecânico. Ao passo que o seu próprio “carro” (seu corpo) está com a “lataria” e com o “motor” com problemas e ele nada de ir ao médico. Moral da história: depois vêm as consequências.
Lembro-me de uma entrevista que o ex-senador Vilson Kleinübing deu à Folha de São Paulo pouco tempo antes de morrer. O repórter perguntou o que ele pensava do cigarro. Disse: “foi a pior besteira que eu fiz”. Certamente essa sua fala se aplica nas duas frases acima explicitadas.
Creio que você já deve ter pensado que isso se aplica também em alguma circunstância de sua vida. Apenas para explicitar um pouco mais, penso que essa afirmação de Rabelais se aplica à vida de muitos que passaram pela escola. Quando podiam estudar, não quiseram. Fizeram pouco caso dos professores.
Estes por sua vez, tomados pela preguiça não estudaram. Depois na hora de um concurso público ou no momento de um processo seletivo para conquistar um bom emprego na iniciativa privada, não tiveram condições de passar.
A minha dor existencial como educador hoje é ver que muitos estão fazendo curso à distância do conhecimento, mesmo na modalidade presencial. Querem cursos rápidos. Sem grande esforço. Não há milagre. Se quisermos de fato ter muitos conhecimentos, o esforço é inevitável. Observe ao seu redor: aquele que escolhe o caminho mais fácil hoje terá o caminho difícil amanhã. Entretanto, aquele que escolhe o caminho mais difícil hoje, no dia de amanhã o caminho será mais leve. De modo geral é assim. Ao menos é o que constato de forma empírica.
Em relação à obesidade isso não é diferente. Quantos que hoje tomados pela preguiça e pelo vício da gula estão muito acima do peso? Claro que há pessoas que sofrem desse mal por questões orgânicas, mas o fato é que eu conheço inúmeras pessoas que simplesmente fizeram de vida um culto às emoções. Desejam o hedonismo imediato sem pensar nas consequências.
Em face deste assunto do parágrafo anterior, também me dei conta que estava errando. Como pretendo até 107 comecei refletir: como chegarei até lá se não mudar meus hábitos alimentares? E ainda, se não cuidar da lataria e do motor do meu carro? Ora, para cuidar do motor (coração) estou fazendo atividades aeróbicas. Para deixar “lataria” (restante do corpo) em bom estado de conservação, estou fazendo alongamento e musculação.
Por fim, mas não por último minha intenção central neste artigo é contribuir com sua formação. Que você cuide do seu corpo e de sua alma, desejando que isso que meu pai e que Rabelais afirmaram nunca se apliquem em sua vida. Sugiro que volte ao início e releia a frase de Aristóteles. Ela também é de grande valia. Vale a pena repetirmos a mesma aos nossos alunos e ou aos nossos filhos.
[1] Ivo José Triches
Especialista em Filosofia Pensamento Contemporâneo pela
PUC-Pr;
Em Filosofia Política pela UFPR;
Filosofia Clínica pelo Instituto Packter
Mestre em Mídia e Conhecimento pela UFSC.
Professor e membro do Conselho Gestor do ITECNE.
Boa noite.
ResponderExcluirExcelente texto. 'Ama -se o que se conquista com esforço." Diz tudo.
Parabéns, Ivo José Triches ,pela reflexão importante a todos nós, leitores, e às gerações futuras.
Um abraço,
Ana Maria