quinta-feira, 29 de novembro de 2012

ISSO PODE SER UM BÁLSAMO À SUA ALMA: multum, non multa, ou seja, muito, não muitas coisas.


Jeferson Ricardo S. Flores1 e Ivo José Triches2


O filósofo e político romano Plínio (Caius Plínius Caecillus Segundos), foi o autor deste provérbio que inspirou este nosso escrito. Tal provérbio foi extraído do Dicionário de máximas e expressões em latim, cuja autora é Christa Pöppelmann. No Brasil foi publicado pela Editora Escala.

Na ciência da Administração muito já se escreveu e se escreve até hoje sobre a importância do foco. Há inclusive livros com esse título. Contudo, lermos isso diretamente na língua da sabedoria – o Latim - é mesmo um bálsamo à nossa alma.

Isso, de certo modo, evidencia que escrever ou falar sobre essa temática, não é nenhuma invenção moderna. Que os antigos já haviam percebido o quanto é relevante nós não querermos “abraçar o mundo”. Que é melhor concentrarmos nossas energias em uma ou duas coisas. 

Uma das razões que enfraqueceu o império napoleônico, foi o fato dele ter iniciado várias frentes de batalha ao mesmo tempo. Há outros exemplos na história que evidenciam isso. 
Por que de modo geral quando assumimos muitas coisas ao mesmo tempo, não fazemos nada direito? Porque isso dispersa nossa energia, nossa concentração, nossa integridade. Ficamos energeticamente volúveis, vulneráveis, instáveis. Portanto, sujeitos às interferências, às falhas, aos equívocos. Ajustar bem o seu foco, mesmo que tenha mais de uma atividade para fazer é primordial. Isso te dá força concentrada, potência, fluxo energético.

Se você partir do pressuposto de que a principal de todas as escolhas é escolher-se, é fundamental que seu foco esteja nessa direção. Escolher uma profissão porque lhe fará ganhar mais dinheiro ou lhe proporcionará mais status, fará com que seja muito difícil você manter o foco nisso.  Isso porque ao longo dos dias compreenderá que o fardo é muito pesado. O custo será maior que o benefício à sua alma. 

Para que compreenda melhor o que estamos querendo dizer, lançaremos mão de uma analogia. Escolher-se é fazer aquilo que faz bem à sua alma. À medida que você começa a se especializar nisso, perceberá que é semelhante àquele que cava um poço. Quanto mais ele cavar, mais conhecerá desse poço, mas isso não significa que não possa também conhecer o que há ao redor desse poço, do lado de fora, etc. Em outras palavras, não dá para querer fazer mestrado, lecionar, coordenar um curso de graduação, ser presidente de partido político, ter filhos para cuidar e estar terminando uma especialização ao mesmo tempo. Notoriamente que isso não é uma ciência exata ou radical, 08 ou 80, mas saber com clareza o que se quer, como se quer chegar lá, do que devemos abrir mão é muito importante.

Para nós, tão difícil quanto escolher-se é sustentar a escolha, ou seja, é fazer as renúncias necessárias para que você realize o que quer, consiga o que quer conforme o foco inicialmente escolhido. A opção que se apresenta fora do foco é como se fosse um teste, uma “tentação” para verificar até que ponto você está ou não comprometido com aquilo que deseja. 

O que acontece, numa explicação do ponto de vista energético, é que o foco é uma concentração de energia em direção a determinada situação desejada e para isso, ganhamos impulso, potência e velocidade rumo ao que queremos.

1. Diante da escolha há dúvidas

Cremos que para você também seja assim: às vezes nos vemos em situações conflitantes, que geram crises ou dificuldades de escolha e posicionamento. Por diversas vezes entendemos que quando nos posicionamos, situações e oportunidades diferentes aparecem, o que faz com que fiquemos confusos. Como se fossem sinais de caminhos alternativos e nós, por imaturidade e pouca clareza destes processos, acreditamos que seja possível seguir os dois ou vários caminhos em paralelo sem maiores consequências. É a falta de uma consistência e clareza do foco principal em nossa vida que faz com que titubeemos e acabemos cedendo ao aceitar outras opções e escolhas que não são as nossas ou que estejam alinhadas ao nosso foco. 

Entendemos que é fundamental você perceber que há estradas que às vezes você precisará percorrer por tempos mais ou menos longos em paralelo, que serão compartilhadas com outros companheiros de jornada, mas que, em algum momento talvez você venha a se desligar desse comboio para pegar outra estrada, um atalho, enfim, um trevo que te leve a outro lugar existencialmente melhor.

Use sua energia para construir, nem que seja para se reconstruir, nem que seja para planejar, afinal, construção pressupõe também planejamento e projetos.  Veja o exemplo do leão: ele é manso, porque guarda todas as suas energias para o foco dele, aquilo que ele sabe fazer melhor do que ninguém: dar o bote no momento certo, rugir de forma estrondosamente potente, enfim, ser o rei da selva. Em quê você quer concentrar toda a sua energia?

2. Considerações finais

O fato é que não dá para “assobiar e chupar cana”. Estamos convencidos que é melhor nos especializarmos em uma determinada profissão, por exemplo, que nos faça bem e termos a coragem de dizermos não a tudo aquilo que serve como tentação de uma vida fácil. 
Saber dizer não é fundamental para aquele que deseja ter foco na vida. Se ao escolhermos fazer algo que seja bom para nós e bom para a humanidade, então nossas alegrias não serão egoísticas e passageiras. Ao servirmos a humanidade, qualquer que seja a forma e o tamanho da contribuição, nos eternizaremos no coração daqueles para os quais contribuímos para que pudessem escolher-se também.

Nosso desejo é que esse provérbio seja um encarte para sua alma. E o que isso significa? Aprendemos recentemente com Lúcio Packter – propositor e principal sistematizador da Filosofia Clínica, que isso é semelhante à casca de um ovo, ou seja, fazer um encarte na alma é envolvê-la com algo que sirva para evitar que ela se disperse com coisas que nos causarão dores existenciais. Por isso é bom ao menos uma vez por mês dizer a si mesmo: multum, non multa. Isso tem o efeito de um encarte e ajuda a manter-se no foco.



1 Jeferson Ricardo S. Flores é formado em Administração com MBA em Gestão Empresarial e Especialização em Inteligência Multifocal; atualmente cursa Filosofia Clínica no Centro de Cascavel Paraná.
2 Ivo José Triches é formado em Filosofia. Possui três Especializações e Mestrado. Atualmente é Diretor do colégio e da Faculdade Itecne de Cascavel. É também o Professor titular do Centro de Filosofia Clínica em Cascavel no Paraná.

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