Prof. Dr. Silvio Wonsovicz*
As palavras têm poder de
convencer, mas são os exemplos e as ações que fazem a mudança. Vamos considerar
isso à luz de um trecho da música Aloha,
de Renato Russo – “A juventude está sozinha / Não há ninguém para ajudar / a
explicar por que é que o mundo / é este desastre que aí está” – ao lado de um texto
discutido em aula de filosofia (Discutir e construir um filosofar vivo - 3º ano
Coleção NEFC). A conclusão é que podemos e devemos pensar melhor.
“Seja um
sonhador: Ouse
sonhar, pois os sonhadores veem o amanhã. Ouse fazer um desejo, pois desejar
abre caminhos para a esperança, e ela é o que nos mantêm vivos. Ouse buscar as
coisas que ninguém mais pode ver. Não tenha medo de ver o que os outros não
podem. Acredite em seu coração e em sua própria bondade, pois, ao fazê-lo,
outros acreditarão nisso também. Acredite na magia, pois a vida é cheia dela,
mas, acima de tudo, acredite em si mesmo... Porque dentro de você reside toda a
magia da esperança, do amor e dos sonhos de amanhã” (pág. 19).
A partir das reflexões que o
texto abre temos uma aplicação prática do ensino filosófico. Uma filosofia viva
deve ser condizente com a idade, de acordo com as experiências pessoais, aberta
à dúvida, à angústia, ao novo. Ela deve questionar as certezas, o instituído, a
fim de capacitar os alunos à reflexão sobre posicionamentos tomados diante de
fatos diversos e à leitura deles.
Todos somos filósofos ao
questiona nossos desejos, ideias e ações; ao questionar os outros, o que pensam
e a forma como pensam, agem ou deixam de agir; ao questionar o mundo, a fim de
entendê-lo e descobrir se ele pode ser diferente.
Queremos que a sala de aula se
transforme numa comunidade de aprendizagem investigativa. Como? Com a
participação de todos nas atividades de aprender, discutir, investigar e agir.
O conhecimento, além de ser um caminho pessoal de descobertas, é também fruto
de atividades cooperativas.
Como esse ensino filosófico deve
ser? Ele deve partir do conjunto de conceitos e concepções que os indivíduos
apresentam. A isso aliam-se conteúdos filosóficos com o objetivo de buscar uma
nova visão de mundo por meio da investigação e da discussão. Desse modo, podem
ser obtidos subsídios para a análise teórica e a compreensão do cotidiano.
Um ensino filosófico de
qualidade precisa ser dialógico e dinâmico em seu relacionamento com os demais
conteúdos escolares. Mas não deve se limitar à interdisciplinaridade ou à
interação com a realidade, com a experiência dos alunos ou mesmo com a
definição da linha epistemológica do professor. É preciso levar em conta também
os procedimentos metodológicos e os instrumentos e a visão de avaliação
condizentes com a aprendizagem filosófica de crianças e jovens.
Filosofar com crianças,
adolescentes e jovens é capacitá-los para debater e confrontar ideias, é
prepará-los para a dúvida, para o não conformismo diante dos fatos. É buscar
participação no processo de formação do indivíduo, no estabelecimento de novas
relações entre pessoas e instituições.
Aprender a filosofar desde os
anos iniciais requer do aluno abertura ao novo, mas também consideração pela
experiência vivida por outros, sempre tendo presente uma tradição de
pensamentos filosóficos. A mudança pela educação filosófica passa pelo
esclarecimento e consolida-se pela relação íntima entre saber, poder, cultura e
transformação, isto é, pela emancipação do indivíduo.
A filosofia dever contribuir
para a formação de uma consciência crítica, para abrir o entendimento sobre as
formas atuais de dominação e opressão presentes em todas as relações sociais,
manifestas nas ideologias, nas convenções e nas alienações. O aluno deve
aprender a pensar de modo filosófico, o que se traduz numa critica constante à
cultura dominante, a suas manifestações que levam a um pragmatismo reducionista
da vida.
Essas utopias e realizações
presentes nos vinte cinco anos de trabalhos com escolas de todo País validam os
esforços, enquanto Centro de Filosofia Educação para o Pensar e Editora Sophos.
Inspiram as lutas pela presença, natureza e alcance emancipatórios da reflexão
filosófica na escola. Trata-se da possibilidade de mudar ou de superar a
própria identidade da filosofia em nossa sociedade. Queremos uma juventude que
saiba, não apenas dizer porque o mundo está como está, mas propor soluções,
pensar e realizar novos caminhos e relações.
Dia 21/11/2103 –
Dia Internacional da Filosofia
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*Autor,
professor, palestrante e presidente do Centro de Filosofia e Editora Sophos que
há 25 anos faz uma filosofia viva e desenvolve trabalhos com escolas
particulares e públicas em todo Brasil.
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