quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Filosofar? Devemos e podemos



Prof. Dr. Silvio Wonsovicz*

                As palavras têm poder de convencer, mas são os exemplos e as ações que fazem a mudança. Vamos considerar isso à luz de um trecho da música Aloha, de Renato Russo – “A juventude está sozinha / Não há ninguém para ajudar / a explicar por que é que o mundo / é este desastre que aí está” – ao lado de um texto discutido em aula de filosofia (Discutir e construir um filosofar vivo - 3º ano Coleção NEFC). A conclusão é que podemos e devemos pensar melhor.
“Seja um sonhador: Ouse sonhar, pois os sonhadores veem o amanhã. Ouse fazer um desejo, pois desejar abre caminhos para a esperança, e ela é o que nos mantêm vivos. Ouse buscar as coisas que ninguém mais pode ver. Não tenha medo de ver o que os outros não podem. Acredite em seu coração e em sua própria bondade, pois, ao fazê-lo, outros acreditarão nisso também. Acredite na magia, pois a vida é cheia dela, mas, acima de tudo, acredite em si mesmo... Porque dentro de você reside toda a magia da esperança, do amor e dos sonhos de amanhã” (pág. 19).
                A partir das reflexões que o texto abre temos uma aplicação prática do ensino filosófico. Uma filosofia viva deve ser condizente com a idade, de acordo com as experiências pessoais, aberta à dúvida, à angústia, ao novo. Ela deve questionar as certezas, o instituído, a fim de capacitar os alunos à reflexão sobre posicionamentos tomados diante de fatos diversos e à leitura deles.
                Todos somos filósofos ao questiona nossos desejos, ideias e ações; ao questionar os outros, o que pensam e a forma como pensam, agem ou deixam de agir; ao questionar o mundo, a fim de entendê-lo e descobrir se ele pode ser diferente.
                Queremos que a sala de aula se transforme numa comunidade de aprendizagem investigativa. Como? Com a participação de todos nas atividades de aprender, discutir, investigar e agir. O conhecimento, além de ser um caminho pessoal de descobertas, é também fruto de atividades cooperativas.
                Como esse ensino filosófico deve ser? Ele deve partir do conjunto de conceitos e concepções que os indivíduos apresentam. A isso aliam-se conteúdos filosóficos com o objetivo de buscar uma nova visão de mundo por meio da investigação e da discussão. Desse modo, podem ser obtidos subsídios para a análise teórica e a compreensão do cotidiano.
                Um ensino filosófico de qualidade precisa ser dialógico e dinâmico em seu relacionamento com os demais conteúdos escolares. Mas não deve se limitar à interdisciplinaridade ou à interação com a realidade, com a experiência dos alunos ou mesmo com a definição da linha epistemológica do professor. É preciso levar em conta também os procedimentos metodológicos e os instrumentos e a visão de avaliação condizentes com a aprendizagem filosófica de crianças e jovens.
                Filosofar com crianças, adolescentes e jovens é capacitá-los para debater e confrontar ideias, é prepará-los para a dúvida, para o não conformismo diante dos fatos. É buscar participação no processo de formação do indivíduo, no estabelecimento de novas relações entre pessoas e instituições.
                Aprender a filosofar desde os anos iniciais requer do aluno abertura ao novo, mas também consideração pela experiência vivida por outros, sempre tendo presente uma tradição de pensamentos filosóficos. A mudança pela educação filosófica passa pelo esclarecimento e consolida-se pela relação íntima entre saber, poder, cultura e transformação, isto é, pela emancipação do indivíduo.
                A filosofia dever contribuir para a formação de uma consciência crítica, para abrir o entendimento sobre as formas atuais de dominação e opressão presentes em todas as relações sociais, manifestas nas ideologias, nas convenções e nas alienações. O aluno deve aprender a pensar de modo filosófico, o que se traduz numa critica constante à cultura dominante, a suas manifestações que levam a um pragmatismo reducionista da vida.
                Essas utopias e realizações presentes nos vinte cinco anos de trabalhos com escolas de todo País validam os esforços, enquanto Centro de Filosofia Educação para o Pensar e Editora Sophos. Inspiram as lutas pela presença, natureza e alcance emancipatórios da reflexão filosófica na escola. Trata-se da possibilidade de mudar ou de superar a própria identidade da filosofia em nossa sociedade. Queremos uma juventude que saiba, não apenas dizer porque o mundo está como está, mas propor soluções, pensar e realizar novos caminhos e relações.
Dia 21/11/2103 – Dia Internacional da Filosofia
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*Autor, professor, palestrante e presidente do Centro de Filosofia e Editora Sophos que há 25 anos faz uma filosofia viva e desenvolve trabalhos com escolas particulares e públicas em todo Brasil.

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