Jackislandy
Meira de M. Silva
É
muito sugestivo iniciar essa discussão com a tão ouvida música de Chico
Buarque: “Todo dia ela faz tudo sempre igual, me sacode às seis horas da
manhã. Me sorri um sorriso pontual e me beija com a boca de hortelã.” (Chico Buarque,
cotidiano, 1971). É preciso fazer as coisas como se as tivéssemos
fazendo pela primeira vez. Não é necessário fazê-las do mesmo jeito ou da mesma
maneira, mas fazê-las a seu modo. Aí me lembro de Heidegger quando afirmou em “Ser
e Tempo” o não dizer o mesmo sobre a mesma coisa não implica em trair o ser,
mas assumir o mesmo ser de outra perspectiva.
Ao ler “Um pequeno manual de Filosofia para sobreviver a um papo cabeça” de Sven Ortoli e Michel Eltchaninoff, deparei-me com problemas e conceitos de Filosofia que fluíam naturalmente numa conversa informal de ambiente de jantar. O comensal estava repleto de ironias; verdades e inverdades iam e vinham em volta da mesa cujo desfecho era sempre inusitado com gargalhadas e alguns goles de vinho em meio a garfadas e mais garfadas de comidas.
Ao ler “Um pequeno manual de Filosofia para sobreviver a um papo cabeça” de Sven Ortoli e Michel Eltchaninoff, deparei-me com problemas e conceitos de Filosofia que fluíam naturalmente numa conversa informal de ambiente de jantar. O comensal estava repleto de ironias; verdades e inverdades iam e vinham em volta da mesa cujo desfecho era sempre inusitado com gargalhadas e alguns goles de vinho em meio a garfadas e mais garfadas de comidas.
Logo
na primeira garfada, alguém toma a palavra: “o mundo foi encantado. As
primeiras civilizações acreditavam na magia. Recorriam às potestades
irracionais. O mundo era regido por forças atuantes, deuses, relâmpagos
misteriosos e trevas. Os sacerdotes, feiticeiros, xamãs e outros videntes
faziam o papel de telégrafos entre deuses e humanos. Mundo mágico, poético,
mitológico, e super-romântico!” (ORTOLI,
Sven. ELTCHANINOFF, Michel. Um Pequeno Manual de Filosofia para Sobreviver a um
Papo Cabeça. Rio de Janeiro: Agir, 2008. pp. 112-113). O papo
realmente vai ficando apimentado pela magia, até que...
Vem
a segunda garfada... “O mundo foi desencantado. Esse processo, denominado
Entzauberung pelo sociólogo Max Weber, e revisitado pelo filósofo francês
Marcel Gauchet, começou há muito tempo. Assim que os fiéis rechaçaram a magia,
qualificada de superstição, o desencantamento adveio. No início, os profetas
judeus abalaram o poder dos sacerdotes ao estabelecer uma relação pessoal com o
Todo-Poderoso. A magia não era mais uma técnica de salvação. Em seguida, o
movimento ganhou impulso inexorável com o protestantismo, no século XVI, que
pôs por terra todos os sacramentos tradicionais, manifestações sacralizadas do
divino. Assim, passou a prevalecer, sobretudo no calvinismo, a relação
individual e solitária com Deus. Ninguém precisava mais de padre para absolver,
para promover a redenção e a esperança de misericórdia. Essa atitude espiritual
estendeu-se a todo o universo humano. Max Weber mostrou que ela alimentou o
espírito do capitalismo e fez progredir o racionalismo no mundo moderno... A
partir do século XVIII, o cristianismo serviu apenas como peneira. Religião
menos sagrada, mais doce e mais humana, ela teria desembocado numa moral sem
Deus, nova religião dos direitos humanos identificada com a construção do ideal
democrático. Tudo está ligado: secularização e espírito democrático, economia
capitalista e racionalização do real. O homem, a sós consigo mesmo, precisava
apenas se virar, construir, sem padres, príncipes ou magos, seu próprio futuro.
Tarefa pesada”(Ibidem).
Quando
tudo parecia complicado demais, e o homem envergando-se cada vez mais sobre si
mesmo ao ponto de nos indicar um desprendimento de Deus para um apego a si...
Tome
uma terceira garfada, desta vez de torta de creme: PRECISAMOS REENCANTAR O
MUNDO!
“Polvilhar
nele um pouco de magia. O indivíduo contemporâneo chegou ao fim de sua
autonomia. Por acreditar apenas em suas próprias forças, destruiu seu planeta e
não suporta mais seus semelhantes. Sente saudade das religiões, que o ajudam a
pensar e a viver. Quer se volte para o budismo, a jardinagem, a leitura de
Paulo Coelho ou o Código Da Vinci, ele exprime uma necessidade de reencantamento.
Trata-se de reencantar o mundo sem voltar à superstição ou ao mero
fanatismo”(Ibidem).
Jackislandy Meira de M. Silva, Professor e Filósofo.
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