quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Filosofia Viva

CARTA DE FLORIANÓPOLIS


Documento aprovado ao final
II Congresso Nacional de Educação para o Pensar.


  1. Nós, educadoras e educadores, num total de 756 participantes no II Congresso Nacional de Educação para o Pensar e Educação Sexual, reunidos de 22 a 25 de Julho de 2003, nesta cidade de Florianópolis, Estado de Santa Catarina, Brasil, manifestamos nossos princípios e propósitos, de modo a registrar aqui diretrizes e proposituras que venham fortalecer nossas convicções e revitalizar nossas esperanças e objetivos.


  1. Reafirmamos nossa crença na educação humanista, que considera o homem e sua condição subjetiva e social como o fundamento de toda educação. Afirmamos a educação que prepara para a vida, que vincula a comunhão da cultura e do conhecimento com o compromisso com princípios éticos emancipatórios, com a elevação estética da vida, com a responsabilidade social e a promoção da participação política democrática e libertadora.


  1. Manifestamos nossa escolha por uma educação e escola que procure formar a pessoa humana, em todas as suas potencialidades e identidades, buscando partir da realidade inalienável de cada ser, de modo a integrar todos os educandos nos mais elevados ideais éticos, cívico, culturais e políticos da humanidade.


  1. Num momento histórico aonde os valores de mercado afirmam-se como unilaterais, onde a corrida para a promoção de uma ciência e tecnologia sem parâmetros éticos, retomamos nossa convicção na formação para a cidadania universal, para a solidariedade, para o cuidado com a Terra e o zelo pela natureza e meio-ambiente, pela promoção da justiça social e prática da fraternidade humana.


  1. Diante da afirmação de uma economia globalizada sem freios ou limites, do engendramento de uma voraz e avassaladora máquina de produzir morte e violência para garantir bandeiras políticas em que se transformaram os estados e grupos políticos extremados, manifestamos nosso propósito de cultivar a educação para a paz, para a tolerância, para o diálogo, para a promoção da pluralidade cultural e política de todas as gentes, povos e nações.


  1. Destacamos nossa identificação com todo projeto social e político que busque superar a realidade difícil e injusta em que vive a grande maioria do povo brasileiro, herdeiros de uma tradição de exclusão, de exploração, de negação dos mais elementares direitos sociais, sobretudo no acesso à educação, e expressamos nossa intenção de promover uma educação que forma sujeitos históricos autônomos, críticos, esclarecidos, colocando o acesso à cultura e educação escolar como forma de humanização plena para a vivência das dimensões coletivas mais elevadas principalmente aquela que prepara para o trabalho criador e realizador.


  1. Escolhemos firmar o compromisso com a educação da criança para o pensar criativo, para a convivência solidária, para o respeito à alteridade, para a conquista da cultura e formação da pessoa emancipada, reflexiva, responsável e livre. Destacamos a convicção de que a formação filosófica na escola fundamental e média é o espaço do debate criativo, da apropriação pedagógica dos recursos da lógica, da aquisição subjetiva da linguagem e do pensamento criativo e investigativo, da produção da consciência curiosa e metódica na direção da formação para a plenitude da ação na escola e na sociedade. atual.


  1. Entendemos a sexualidade como a significação subjetiva e social inalienável da pessoa humana, a ser assumida como mediação para a felicidade, como expressão de nossa capacidade afetiva, amorosa e comunicativa, de viver e projetar ideais de comunhão, de trocas simbólicas, éticas e estéticas, para com a vida e a condição humana. A educação sexual que defendemos é aquela que busca superar o domínio operacional de técnicas reprodutivas ou de prevenção médico-biologista para tornar-se a construção de referências éticas e morais para as exigentes vivências do amor e da sexualidade responsável.


  1. Buscamos superar uma forma de pensar a sociedade, a cultura e a escola como determinações autoritárias, repressivas ou mediadas pelos valores do sucesso, da competição e da acumulação material. Optamos por uma concepção política democrática e pluralista, por uma concepção de conhecimento e saber que esteja a serviço da vida e da felicidade, por  uma filosofia e significação da sexualidade que almeje a emancipação e autonomia.


  1. Por fim, em todas as nossas utopias e proposituras, reflexões e críticas, debates e informações trocadas, conhecimentos e vivências nascidas da experiência rica e exigente do convívio coletivo e generoso neste II Congresso, onde comungamos esperanças e desafios, busquemos afirmar a cultura elaborada como matriz da humanização, o espaço da escola como lugar de formação para o agir consciente no mundo, de modo a anunciar a novidade institucional e histórica da cultura da emancipação e da pluralidade.


  1. Para tanto, reafirmamos nosso propósito de mantermos unidas as disposições para produzir mediações, para vivenciar a metáfora da ponte, a celebrar a beleza e originalidade da vida, a manifestar a cultura do diálogo, a constituir a ética da alteridade, a promover o pensamento que esclarece e sente, a constituir a educação que ama e, ao mesmo tempo, cultivar o amor que educa.


Florianópolis, 25 de Julho de 2003.


Carta-documento aprovada por unanimidade na sessão de encerramento do IIº Congresso Nacional.

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