Por Ivo José Triches[1]
Ao responder essa questão, sem
floreio, a minha resposta é: nos libertará
da ignorância, do medo e da dominação dos outros. É evidente que há outras
razões a serem abordadas. No entanto, essas são as que considero nucleares
quando o assunto trata da importância do conhecimento da verdade.
O que você lerá a seguir é a
reflexão sobre cada um dos itens desta resposta. Sendo que o objetivo central
deste escrito é facultar aos leitores do mesmo, as condições de possibilidades
para termos uma vida sem tantas dores existenciais.
1. Por que o conhecimento da verdade nos liberta da ignorância?
No artigo escrito por mim,
cujo título é: “As razões que justificam ser a verdade um bem”, procurei
detalhar a etimologia do conceito verdade. Por isso, farei um atalho e irei
direto ao foco.
Gnose é uma palavra de origem
latina. Traduz a ideia de conhecimento. Contudo, de modo geral é usada no
sentido do conhecimento do Eu na relação com o Transcendente. A letra “I” no
latim – semelhante ao que ocorre com a letra “A”
no grego clássico -, é utilizada em muitas palavras como prefixo de negação.
Razão pela qual a palavra ignorância pode
ser compreendida como o “não conhecimento”, ou seja, ignorante é aquele que não
conhece.
Você concorda com a expressão:
“todos nós somos ignorante em assuntos diferentes”? Lembro-me que li isso em
1987 e nunca mais deixei de pensar que isso é mesmo algo significativo. É por
isso que termos a humildade perto de nós, faz toda a diferença em nosso
dia-a-dia. O arrogante, por pensar que sabe tudo, não aceita o diferente. Pensa
que ninguém pode lhe ensinar algo. Por ser assim, acaba sofrendo, entre outras
coisas, com o isolamento social. Isso porque as pessoas, ao perceberem que suas
ideias nunca são consideradas, acabam por se afastar dessa pessoa.
A filosofia é movimento. É a
procura amorosa da verdade, nunca sua posse definitiva. Se estivermos abertos à
possibilidade do novo, sofreremos menos.
No livro Convite à Filosofia da
Marilena Chauí, de forma brilhante, ela responde à seguinte questão: por que o homem busca o conhecimento?
Diz-nos que a principal razão de ser do conhecimento é o desejo humano de
resolver seus problemas. Para ilustrar melhor essa questão lançarei mão de um
recurso didático que gosto muito, que consiste em apresentar as ideias em forma
de tópicos. São eles:
· Karl Marx (1818-1883) teve
cinco filhas e um filho. Quando seu guri tinha 14 anos foi acometido de forte
infecção na garganta. Marx e seu grande amigo Engels estudaram mais do que os
médicos da Inglaterra da época para encontrarem uma solução para o filho.
Resultado: seu filho morreu. Isso lhe causou dores existenciais profundas.
Claro que para sua esposa – Geni – também. Se fosse hoje, talvez, uma amoxilina
poderia salvar seu filho. No século XIX não se conhecia esse remédio;
·
No campo da economia isso não é diferente. Aquele que conhece bem o
funcionamento do mercado e atua com vendas, por exemplo, certamente sofrerá
menos à medida que fará uma leitura melhor da conjuntura econômica, etc. Já
escrevi em outro momento que eu e meus sócios, por não conhecermos muito do
sistema tributário, acabamos pagando uma fortuna de impostos sem necessidade. Somente
depois de fazermos um estudo exaustivo do Simples Nacional, percebemos que um
bom planejamento tributário seria a solução para podermos continuar prestando
um bom serviço à sociedade;
·
Outro exemplo que aconteceu recentemente comigo: hoje eu moro em
Cascavel, no oeste do Estado. Estou me organizando para voltar a morar em
Curitiba. Encontrei na internet o anúncio da venda de um terreno. Que nele a
prefeitura autoriza construir prédios com até quatro pavimentos. O principal
diferencial do anunciante foi destacar isso. Ao ligar para três amigos que
moram em Curitiba, se valeria a pena investir nesse local para lá morar, um
disse-me: “- Ivo, se você pretende fazer parceria com alguma construtora para
depois do imóvel pronto você ficar com um
apartamento é possível, mas eles só aceitam quando o terreno tem 17 metros de
frente”. Ora, o imóvel anunciado só tem 10,4 metros. Portanto, graças a essa
informação evitarei uma frustração amanhã. Uma simples demonstração do quanto o
conhecimento da verdade é importante;
·
No que tange ao campo do direito isso fica ainda mais evidente. Quantos
que sofrem por não conhecerem as leis que regulamentam a vida que o cerca? Se
existe algo que me entristece nas relações humanas é quando alguém começa a me
dizer: - “Isso você não pode fazer porque não é legal”! Quando você pergunta de
que lei ela está falando, ela diz: “Eu não sei o número da lei, mas posso lhe
garantir que não pode”! Barbaridade! Não aceite essa imposição. Estou agindo
com tolerância zero em face disso. Chega de especulação!
Não aceite as coisas com base
no ouvir dizer. Hoje, com o recurso dos portais de busca, basta você digitar a
lei tal, que já aparece o número, de onde emanou, etc. Dessa forma, ao buscar
as informações na fonte, nos livraremos dos atravessadores que, muitas vezes,
aumentam o floreio para nos dominar. Convido-lhe a seguir essa leitura. Vou lhe
apresentar meu entendimento acerca da questão do medo.
2. Por que o conhecimento da verdade nos liberta do medo?
Se você já leu outros artigos meus, deve ter percebido que em quase
todos eu cito Espinosa (1632-1677). No tocante a essa temática, não há como não
cita-lo. Até porque pelo pouco que conheço da Filosofia, ele foi um dos
filósofos que abordou essa questão do medo com muita propriedade. O que
basicamente ele nos diz a esse respeito?
O homem teme a morte. Creio que você concorda com essa afirmação.
Ninguém deseja conscientemente morrer. Nós nos esforçamos para prolongarmos
nossa existência. Assim, vivemos uma dicotomia. Diante nós reinam duas forças: o medo e a esperança. Medo que algo
possa vir a me acontecer e esperança de que tal mal não me aconteça.
A título de exemplificação,
vou citar algumas situações que vivemos hoje. Existem muitos consultores que
primeiro vendem dificuldades para depois venderem facilidades. Eu mesmo conheço
vários. Primeiro, começam fetichizando seus títulos acadêmicos. Depois, põem
medo nas pessoas acerca de uma determinada situação. Por fim, dizem: - “eu
tenho a chave de como resolver isso, só que meu preço é tanto”. Eu vivenciei uma
situação análoga.
Por uma questão ética vou lhe contar o “milagre, mas não o santo”. Numa
certa feita um ator social X dizia: - “olha isso, não dá para fazer, o MEC não
deixa”! “A lei, X proíbe isso”. E assim por diante. Depois de colocar medo no
seu superior que não conhecia as leis educacionais, ele começou barganhar um
valor exorbitante para resolver tais problemas que ocorriam em sua instituição.
Devemos muito aos pensadores iluministas do século XVIII.
O que se convencionou chamar de primavera árabe, nada mais é do que uma revolução francesa tardia. Os
movimentos sociais no mundo árabe buscam entre outras coisas, libertarem-se do
medo imposto pelos líderes políticos e religiosos ao longo de séculos. O desejo
de liberdade, igualdade e fraternidade ecoam até hoje no coração de muitos seres
humanos. Dos que não aceitam ser subjugados por aqueles que dizem ter o “sangue
azul”.
3. Por que a verdade nos liberta da dominação?
Em latim dominus significa senhor. Por isso, o conceito dominação pode
ser compreendido como “ação do senhor”. Em outras palavras: aquele que exerce
um poder sobre outrem. Daí que vem a palavra domingo, ou seja, dia do senhor.
Talvez você concorde comigo que é da condição humana a necessidade de
termos líderes. E é incrível como isso é tão
natural. Quem trabalha como educador ou educadora, pode comprovar o que
escrevo. Basta às crianças irem crescendo que logo começam a se destacar alguns
com espírito de liderança.
Ocorre que existem alguns líderes que desejam garantir privilégios a
qualquer custo. Para tanto, criam uma ideologia. E o que isso significa?
Constroem um corpo de ideias muito bem fundamentado, capaz de dar sustentação
aos seus interesses. A partir disso começam a persuadir os outros através de
uma comunicação perlocucionária, como bem nos mostra Habermas (1929...).
Recentemente eu ouvi um líder religioso falando pela TV. Para persuadir
os outros dizia: - “isso está na Bíblia, portanto é legítimo que eu aja assim”!
“Por que se pode usar o cartão de crédito em diversos locais e nós não podemos
usar em nossa igreja”?, etc. Ao desconstruirmos o seu discurso poderemos chegar
ao êidos do fenômeno, qual seja, de que sua verdadeira intenção é ver seu
patrimônio aumentando, independentemente da situação em que os outros se
encontram.
Portanto, o conhecimento da verdade é fundamental para todos aqueles que
desejam construir uma vida pautada pela razão. Para aqueles que desejam ter uma
espiritualidade desfetichizada, livre do medo e da imposição da pseudo verdade
dos outros.
Se esta leitura contribuiu
para o fortalecimento do seu conatus,
meu objetivo foi alcançado. Sobre esse conceito em negrito, você encontrará
mais informações no meu artigo “Como superar uma grande paixão”, disponível no
meu blog: www.itecne.edu.br/ivo Notoriamente, desejo que leia meus textos... rs!
[1]Ivo José Triches é
escritor, palestrante, Diretor das Faculdades Itecne de Cascavel. Autor do blog
www.itecne.edu.br/ivo também é formado em Filosofia. Fez três
Especializações e fez o Mestrado.
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