sexta-feira, 27 de julho de 2012

Conheça a verdade e ela te libertará, mas libertará do quê?


Por Ivo José Triches[1]


Ao responder essa questão, sem floreio, a minha resposta é: nos libertará da ignorância, do medo e da dominação dos outros. É evidente que há outras razões a serem abordadas. No entanto, essas são as que considero nucleares quando o assunto trata da importância do conhecimento da verdade.
O que você lerá a seguir é a reflexão sobre cada um dos itens desta resposta. Sendo que o objetivo central deste escrito é facultar aos leitores do mesmo, as condições de possibilidades para termos uma vida sem tantas dores existenciais.

1.   Por que o conhecimento da verdade nos liberta da ignorância?

No artigo escrito por mim, cujo título é: “As razões que justificam ser a verdade um bem”, procurei detalhar a etimologia do conceito verdade. Por isso, farei um atalho e irei direto ao foco.
Gnose é uma palavra de origem latina. Traduz a ideia de conhecimento. Contudo, de modo geral é usada no sentido do conhecimento do Eu na relação com o Transcendente. A letra “I” no latim – semelhante ao que ocorre com a letra     “A” no grego clássico -, é utilizada em muitas palavras como prefixo de negação. Razão pela qual a palavra ignorância pode ser compreendida como o “não conhecimento”, ou seja, ignorante é aquele que não conhece.
Você concorda com a expressão: “todos nós somos ignorante em assuntos diferentes”? Lembro-me que li isso em 1987 e nunca mais deixei de pensar que isso é mesmo algo significativo. É por isso que termos a humildade perto de nós, faz toda a diferença em nosso dia-a-dia. O arrogante, por pensar que sabe tudo, não aceita o diferente. Pensa que ninguém pode lhe ensinar algo. Por ser assim, acaba sofrendo, entre outras coisas, com o isolamento social. Isso porque as pessoas, ao perceberem que suas ideias nunca são consideradas, acabam por se afastar dessa pessoa.
A filosofia é movimento. É a procura amorosa da verdade, nunca sua posse definitiva. Se estivermos abertos à possibilidade do novo, sofreremos menos.
No livro Convite à Filosofia da Marilena Chauí, de forma brilhante, ela responde à seguinte questão: por que o homem busca o conhecimento? Diz-nos que a principal razão de ser do conhecimento é o desejo humano de resolver seus problemas. Para ilustrar melhor essa questão lançarei mão de um recurso didático que gosto muito, que consiste em apresentar as ideias em forma de tópicos. São eles:
·       Karl Marx (1818-1883) teve cinco filhas e um filho. Quando seu guri tinha 14 anos foi acometido de forte infecção na garganta. Marx e seu grande amigo Engels estudaram mais do que os médicos da Inglaterra da época para encontrarem uma solução para o filho. Resultado: seu filho morreu. Isso lhe causou dores existenciais profundas. Claro que para sua esposa – Geni – também. Se fosse hoje, talvez, uma amoxilina poderia salvar seu filho. No século XIX não se conhecia esse remédio;
·       No campo da economia isso não é diferente. Aquele que conhece bem o funcionamento do mercado e atua com vendas, por exemplo, certamente sofrerá menos à medida que fará uma leitura melhor da conjuntura econômica, etc. Já escrevi em outro momento que eu e meus sócios, por não conhecermos muito do sistema tributário, acabamos pagando uma fortuna de impostos sem necessidade. Somente depois de fazermos um estudo exaustivo do Simples Nacional, percebemos que um bom planejamento tributário seria a solução para podermos continuar prestando um bom serviço à sociedade;
·       Outro exemplo que aconteceu recentemente comigo: hoje eu moro em Cascavel, no oeste do Estado. Estou me organizando para voltar a morar em Curitiba. Encontrei na internet o anúncio da venda de um terreno. Que nele a prefeitura autoriza construir prédios com até quatro pavimentos. O principal diferencial do anunciante foi destacar isso. Ao ligar para três amigos que moram em Curitiba, se valeria a pena investir nesse local para lá morar, um disse-me: “- Ivo, se você pretende fazer parceria com alguma construtora para depois do imóvel pronto você ficar com um apartamento é possível, mas eles só aceitam quando o terreno tem 17 metros de frente”. Ora, o imóvel anunciado só tem 10,4 metros. Portanto, graças a essa informação evitarei uma frustração amanhã. Uma simples demonstração do quanto o conhecimento da verdade é importante;
·       No que tange ao campo do direito isso fica ainda mais evidente. Quantos que sofrem por não conhecerem as leis que regulamentam a vida que o cerca? Se existe algo que me entristece nas relações humanas é quando alguém começa a me dizer: - “Isso você não pode fazer porque não é legal”! Quando você pergunta de que lei ela está falando, ela diz: “Eu não sei o número da lei, mas posso lhe garantir que não pode”! Barbaridade! Não aceite essa imposição. Estou agindo com tolerância zero em face disso. Chega de especulação!
Não aceite as coisas com base no ouvir dizer. Hoje, com o recurso dos portais de busca, basta você digitar a lei tal, que já aparece o número, de onde emanou, etc. Dessa forma, ao buscar as informações na fonte, nos livraremos dos atravessadores que, muitas vezes, aumentam o floreio para nos dominar. Convido-lhe a seguir essa leitura. Vou lhe apresentar meu entendimento acerca da questão do medo.

2.   Por que o conhecimento da verdade nos liberta do medo?

Se você já leu outros artigos meus, deve ter percebido que em quase todos eu cito Espinosa (1632-1677). No tocante a essa temática, não há como não cita-lo. Até porque pelo pouco que conheço da Filosofia, ele foi um dos filósofos que abordou essa questão do medo com muita propriedade. O que basicamente ele nos diz a esse respeito?
O homem teme a morte. Creio que você concorda com essa afirmação. Ninguém deseja conscientemente morrer. Nós nos esforçamos para prolongarmos nossa existência. Assim, vivemos uma dicotomia. Diante nós reinam duas forças: o medo e a esperança. Medo que algo possa vir a me acontecer e esperança de que tal mal não me aconteça.
      A título de exemplificação, vou citar algumas situações que vivemos hoje. Existem muitos consultores que primeiro vendem dificuldades para depois venderem facilidades. Eu mesmo conheço vários. Primeiro, começam fetichizando seus títulos acadêmicos. Depois, põem medo nas pessoas acerca de uma determinada situação. Por fim, dizem: - “eu tenho a chave de como resolver isso, só que meu preço é tanto”. Eu vivenciei uma situação análoga.
Por uma questão ética vou lhe contar o “milagre, mas não o santo”. Numa certa feita um ator social X dizia: - “olha isso, não dá para fazer, o MEC não deixa”! “A lei, X proíbe isso”. E assim por diante. Depois de colocar medo no seu superior que não conhecia as leis educacionais, ele começou barganhar um valor exorbitante para resolver tais problemas que ocorriam em sua instituição.
Devemos muito aos pensadores iluministas do século XVIII. O que se convencionou chamar de primavera árabe, nada mais é do que uma revolução francesa tardia. Os movimentos sociais no mundo árabe buscam entre outras coisas, libertarem-se do medo imposto pelos líderes políticos e religiosos ao longo de séculos. O desejo de liberdade, igualdade e fraternidade ecoam até hoje no coração de muitos seres humanos. Dos que não aceitam ser subjugados por aqueles que dizem ter o “sangue azul”.

3.   Por que a verdade nos liberta da dominação?

Em latim dominus significa senhor. Por isso, o conceito dominação pode ser compreendido como “ação do senhor”. Em outras palavras: aquele que exerce um poder sobre outrem. Daí que vem a palavra domingo, ou seja, dia do senhor.
Talvez você concorde comigo que é da condição humana a necessidade de termos líderes. E é incrível como isso é tão natural. Quem trabalha como educador ou educadora, pode comprovar o que escrevo. Basta às crianças irem crescendo que logo começam a se destacar alguns com espírito de liderança.
Ocorre que existem alguns líderes que desejam garantir privilégios a qualquer custo. Para tanto, criam uma ideologia. E o que isso significa? Constroem um corpo de ideias muito bem fundamentado, capaz de dar sustentação aos seus interesses. A partir disso começam a persuadir os outros através de uma comunicação perlocucionária, como bem nos mostra Habermas (1929...).
Recentemente eu ouvi um líder religioso falando pela TV. Para persuadir os outros dizia: - “isso está na Bíblia, portanto é legítimo que eu aja assim”! “Por que se pode usar o cartão de crédito em diversos locais e nós não podemos usar em nossa igreja”?, etc. Ao desconstruirmos o seu discurso poderemos chegar ao êidos do fenômeno, qual seja, de que sua verdadeira intenção é ver seu patrimônio aumentando, independentemente da situação em que os outros se encontram.
Portanto, o conhecimento da verdade é fundamental para todos aqueles que desejam construir uma vida pautada pela razão. Para aqueles que desejam ter uma espiritualidade desfetichizada, livre do medo e da imposição da pseudo verdade dos outros.
Se esta leitura contribuiu para o fortalecimento do seu conatus, meu objetivo foi alcançado. Sobre esse conceito em negrito, você encontrará mais informações no meu artigo “Como superar uma grande paixão”, disponível no meu blog: www.itecne.edu.br/ivo  Notoriamente, desejo que leia meus textos... rs!


[1]Ivo José Triches é escritor, palestrante, Diretor das Faculdades Itecne de Cascavel. Autor do blog www.itecne.edu.br/ivo  também é formado em Filosofia. Fez três Especializações e fez o Mestrado.

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