Sandra Lucia*
Interessante como dois verbos pensar e punir tem sentidos opostos e muitas
vezes na prática tão próximos. Enquanto “pensar” significa raciocinar que é uma
operação lógica discursiva e mental. Neste, o intelecto humano utiliza uma ou
mais proposições, para concluir, através de mecanismos de comparações e
abstrações, quais são os dados que levam às respostas verdadeiras, falsas ou
prováveis. Das premissas chegamos a conclusões. “Punir” é punição, um processo
no qual se reduz à probabilidade de determinada resposta voltar a ocorrer
através da apresentação de um estímulo aversivo, ou a retirada de um estímulo
positivo após a emissão de determinado comportamento indesejado. Observo como se
destacam na prática cotidiana como paralelos no inconsciente dos grupos
escolares quando o assunto é pensar a filosofia.
Peguei-me outro dia lendo um artigo em uma revista da Supernanny que é psicóloga
e orienta os pais a forma de aplicarem disciplinas a seus filhos. Algumas orientações
são do tipo como: não gritar; dar uma advertência; não perder o controle e
colocar no “cantinho da disciplina” para pensar e refletir o que fez de errado.
No final orienta os pais a conduzir a criança a pedir desculpas pelo mal
cometido. Bom até aqui parece que está
tudo bem, mais algo me chama atenção. Como será a longo prazo a falta de diálogo
entre familiares quando essa criança já não couber no banquinho e não ter o
“cantinho da disciplina”, ou seja, a vida toda. Já dizia Sócrates “O conhecimento
está dentro das pessoas (que são capazes de aprenderem por si mesmas). Porém,
eu posso ajudar no nascimento deste conhecimento.”.
Penso que enquanto criança é mais fácil compreendê-lo a forma como pensam
entrando no seu universo, seu mundo e nas suas dificuldades e partir para um
diálogo sem reforçar essa noção de que pensar é ruim, imagino o quanto se
culpam pelo fato de errar, sabendo que a prática o levará a um banquinho ou
cantinho. Para quê? Para pensar.
E quando já adolescentes alguns pela primeira vez tem contato com a
filosofia outros não, ao descobrirem que podem pensar e refletir e que isso
traz prazer. Prazer? Como? Eu vou ter que pensar? Muitos duvidam, sim duvidam,
mas não como a arte do filosofar, mas sim em como sair do “cantinho da disciplina”
ou “das correntes que ainda os prendem na caverna” Aos poucos descobrem o
conhecimento dentro de si e se libertam ao perceber que é tudo muito simples e
que a filosofia faz parte do dia a dia de cada um.
Concluindo essa teoria quero enfatizar que é possível desde criança a
começar a refletir suas ações até porque a moral e a ética é trabalhada desde a
primeira infância. Uma das grandes áreas da filosofia trabalha justamente essa
questão da ética e da moral. Bom seria se fosse mais valorizado a filosofia no
dia a dia dos pais, educadores e educando, proporcionado leituras e imagens
para que os pequeninos vivenciassem de uma forma ampla, alegre e extrovertida a
reflexão e a curiosidade até a fase adulta. Ao contrário que observo, muitas
vezes existe uma espécie de parede entre a busca do conhecimento e o limite em
ultrapassar essa busca do “conhecer” e expor suas ideias. A inibição da
infância, aquela do “cantinho da disciplina” em que se falava o que deveria
falar para sair logo para brincar, se repita agora como ler por ler, estudar
por estudar, terminar logo para não ter de refletir. Se o diálogo substituir a
punição é possível que tenha continuidade dessa prática como um bem para todos.
*Professora de Filosofia e Sociologia na rede pública
e pós graduanda em Metodologia do Ensino em Filosofia e Sociologia pelo Centro Universitário
Leonardo da Vinci
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